#TOLERÂNCIA213 - NÃO HÁ TOLERÂNCIAS SEM TOLERÂNCIA
A ideia que hoje trago é a de que que não se tolera isto, ou aquilo, ou aqueloutro. Tolera-se isto e aquilo e aqueloutro. A tolerância não é disjuntiva, é copulativa.
Pedro Adão e Silva é colunista do diário Público, e assina na edição de hoje do jornal um artigo a partir do livro de memórias do jornalista [britânico] Daniel Finkelstein, em que relata as vidas dos seus avós, resistentes dos campos de concentração Nazis e da Sibéria, que encontraram uma nova vida na Inglaterra do pós-guerra. Diz Pedro Adão e Silva que «o livro inscreve-se numa tradição intelectual renovada, na qual descendentes de sobreviventes do Holocausto recuperam vivências familiares e, com isso, cumprem o dever moral de memória da memória. Nesse sentido, [o livro ] "Hitler, Stalin, Mum and Dad -A Family Memoir of Miraculous Survival" não difere de outros exercícios memorialísticos que, através das singularidades de histórias familiares, resgatam o passado e ajudam a impedir que este se repita.»
«a certo momento, Finkelstein reflecte sobre o processo de esquecimento do genocídio de judeus, iniciado logo em 1945. Os sobreviventes dos campos, muitas vezes, preferiam não falar, e, para os demais, a consciência do sucedido era colectivamente ingerível.
»Subitamente, poucos compreendiam a necessidade de estudar ideologias racistas ou de fixar a memória dos crimes do Holocausto. Aliás, assim que a guerra terminou, Wiener - cujo trabalho fora financiado pelos governos norte-americanos e britânico - perdeu o essencial do seu apoio. No entanto, com
financiamento privado, a biblioteca manteve-se viva e o seu mentor compreendeu que o seu propósito
não deveria limitar-se à compreensão do antissemitismo, pois este não podia ser isolado das outras formas de intolerância, ódio e racismo.
»Perdoem-me a longa digressão, mas, perante o que se passa em Gaza - um território marcado por um horror que recorda aquele que vitimou milhões de judeus nos campos de extermínio -, é inquietante pensar na manifestação de esquecimento destes actos. Como é possível que o Estado de Israel, erigido para resgatar o povo judeu do seu martírio histórico, seja capaz de infligir um terror absoluto ao
povo martirizado da Palestina?»
Tive curiosidade e fui procurar o livro. Sim, lá encontrei esta passagem:
«Por volta de 1960, a saúde de Alfred [Alfred Wiener (1885-1964), judeu alemão, intelectual e activista anti-nazi; avô materno de Daniel Finkelstein]começou a deteriorar-se. Reformou-se da Biblioteca – na
verdade, uma semi-reforma, pois só a morte poderia realmente pôr termo à sua vida laboral – em 1961, aos setenta e seis anos. Ao anunciar a sua decisão, enfatizou a necessidade de combater o problema mais amplo do racismo:»"Sempre acreditámos que não adianta isolar o antissemitismo de todas as outras formas de intolerância e ódio nas relações humanas, e que não se pode combater com sucesso o preconceito antijudaico ignorando a barreira racial ou outras manifestações de racismo. Na Biblioteca, hoje, prestamos atenção não apenas ao antissemitismo e ao nazismo, mas também aos movimentos fascistas e racistas."
»Passado um ano ou dois, só conseguiu contribuir para este trabalho por correspondência. Cada vez mais acamado ou, quando muito, capaz de se sentar numa poltrona a ler.
»A 4 de Fevereiro de 1964, Alfred faleceu, pouco antes de completar setenta e nove anos, com Lotte e os meus pais ao seu lado. A notícia apareceu na maioria dos principais jornais da Grã-Bretanha, dos EUA e especialmente da Alemanha. "Alfred Wiener, o Homem que Arquivo os Dados Nazis", foi o título do artigo do The New York Times. O Presidente da República Federal da Alemanha, Heinrich Lübke, agradeceu-lhe publicamente pela sua "magnanimidade". O Chanceler Ludwig Erhard afirmou que Alfred seria longamente recordado na Alemanha e que fora um dos emigrantes mais importantes de sempre.
»Quando se reencontrou com as filhas em 1945 e elas lhe disseram que tinham deitado as suas condecorações de guerra ao mar, perto da Estátua da Liberdade, Alfred ficou perturbado. Isto parece desconcertante. Porque haveria ele de querer algo alemão, quanto mais insígnias militares? Certamente compreenderia que, naquelas circunstâncias, não valia a pena correr sequer o mais pequeno risco por uns pedaços de metal alemães.
»Mas deitar fora as suas medalhas negava duas coisas que eram fundamentais para Alfred. Ele acreditava no poder da verdade. Descobrir a verdade, revelar a verdade, ajudar as pessoas a compreender a verdade – esse fora o trabalho da sua vida. Em 1945, ainda aguardava a vindicação dessa crença. Não é difícil perceber porque é que este homem, com a sua fé na verdade, achou deprimente que a verdade do seu serviço e das suas condecorações de guerra fosse algo que tinha de ser escondido.
»No entanto, embora isto explicasse parte da sua reação, era a parte menor. O que terá pesado mais para Alfred, mais até do que a negação da verdade, foi a negação da sua identidade alemã. A indicação de que, no que lhe reservava o futuro, ser alemão era algo que seria melhor ser deixado nas profundezas.»
A proposta da reflexão de Daniel Finkelstein pede uma discussão bem objectiva: aprofundando a Educação da Tolerância, automaticamente estaremos a educar o combate ao anti-semitismo, ao racismo e a outras dinâmicas comportamentais de repulsa, discriminação e exclusão. As implicações para a escolha de focos de acção pedagógica são importantes.
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