segunda-feira, junho 25, 2012

Não concordo com José Mourinho, nem com Nelson Mandela - 2/2

Hoje também fui "obrigado" a dedicar um pouco de atenção a Nelson Mandela. Por causa da Academia Ubuntu. Nelson Mandela disse -  e alguém depois escreveu - as seguintes palavras:
"No one is born hating another person because of the colour of his skin, or his background, or his religion. People must learn to hate, and if they can learn to hate, they can be taught to love, for love comes more naturally to the human heart than its opposite."
A Wikipédia traduziu assim as palavras de Mandela:
"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."
Nelson Mandela, senhor presidente, com todo o respeito, o oposto, ou o contrário, do amor não é o ódio. O contrário do amor é a indiferença.
É importante dizer isto porque a razão do ódio é uma, e a fonte da indiferença é outra. Ora isto tem implicações importantes na educação das crianças e dos jovens.
Não quero que o meu desacordo desvie a atenção do mais importante que diz: que para odiar é preciso aprender. Isso é essencialmente verdade! E o crescimento ou ou apaziguamento do ódio gere-se na relação educativa. Só que para que os educadores (pais, professores, líderes sociais) possam ter comportamentos  positivos no campo da educação da vivência do ódio é preciso que saibam bem o que está realmente em causa quando se sente ódio.
Voltarei a este assunto em breve.

Não concordo com José Mourinho, nem com Nelson Mandela - 1/2

Hoje, nem sei eu bem porquê, dei atenção a um dos vários anúncios do Millenium em que aparece José Mourinho. Diz ele, a certa altura, que o objetivo é ser o melhor entre os melhores.
Nada de mais errado! Do ponto de vista de formação dos jovens, nada de mais errado! No fundo, no limite, ser o melhor entre os melhores pode não ser grande coisa... basta que os outros não sejam suficientemente bons. Neste caso, posso ser o melhor entre os melhores, mas, no fundo, não sou nunca sufucientemente bom.
Por mim, continuo a acreditar mais na cooperação do que na competição. Com a ajuda dos outros, com o diálogo com os outros, eu posso ser melhor... e os outros também. Serem todos melhores, esse sim, é o objetivo que vale a pena!
Por exemplo, quando jovens como George Sampson criam as suas escolas, o objetivo deles não é serem os melhores de todos. O objetivo deles é serem por que gostam, é serem cada vez melhores, é partilharem com os outros o que sabem, para que os outros também sejam bons.

sábado, junho 23, 2012

A natureza da vida e a natureza da morte

Nos textos que Baptista-Bastos reuniu no livro " A cara da gente, há um deles, "O caçador da grandeza humana", que o cronista alfacinha abre com versos de Jorge de Sena:
De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos
........................................................
A morte é natural na natureza. Mas
nós somos o que nega a natureza.
Sou de opinião que não devemos concordar com o poeta autor destes versos. Nós somos mais que natureza, mas somos, antes de mais, natureza. Negar a natureza é impedir-nos definitivamente de nos encontrarmos connosco próprios, no ser integral, completo que cada um de nós é. É reduzir-nos a uma incompletude que nos afasta constantemente da fruição da sensação de bem-estar pleno.
Se somos natureza, porquê negá-la? Aceito que a desafiemos; que tentemos ir para além dela, juntando-lhe algo mais, que a nossa condição gregária (que nos foi dada precisamente pela nossa própria natureza) e a nossa inteligência criadora nos ajudam a alcançar. Não concordo que a neguemos.
Mais do que pensar na morte e entristecermo-nos com ela, revoltarmo-nos contra ela, ou resignarmo-nos a ela, temos é de pensar viver a vida, todos os seus momentos, de forma intensa. Dessa maneira sim, não negaremos a nossa natureza, nem a morte. Em vez de a negarmos, vamos sublimá-la, indo para além da condição biológica, vital, a que a natureza nos limita. Negar a morte no homem não é apenas negar a natureza, é negar o próprio homem.
Aceitar a morte é, em certo sentido, vencê-la na sua inexorabilidade; e nem é simplesmente porque se acredita que para além da vida que conhecemos há outra a que chegamos depois de morrermos.
Muito do que fazemos hoje de errado tem a ver com o esforço que fazemos para fugir da morte, sobretudo da nossa morte, não tanto a morte dos outros.
Pensar na vida, vivê-la intensamente, creio eu que nos realiza na nossa natureza e nos afasta, em sentido metafórico, mas também em sentido literal, da morte e da sua natureza.
É por pensar assim que escrevo este apontamento no espaço de escrita da escola. Quero mostrar aos meus alunos que, na minha ideia, os primorosos versos de Jorge de Sena são sereias que nos afastam da fruição do prazer de viver e o diminuem com o sabor, sentido como amargo, do que parece ser o contrário à vida: a morte.

Os versos completos do poema de Jorge de Sena:

A Morte, O Espaço, A Eternidade

De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos,
não foi só para a morte que dos tempos
chega até nós esse murmúrio cavo,
inconsolado, uivante, estertorado,
desde que anfíbios viemos a uma praia
e quadrumanos nos erguemos. Não.
Não foi para morrermos que falámos,
que descobrimos a ternura e o fogo,
e a pintura, a escrita, a doce música.
Não foi para morrer que nós sonhámos
ser imortais, ter alma, reviver,
ou que sonhámos deuses que por nós
fossem mais imortais que sonharíamos.
Não foi. Quando aceitamos como natural,
dentro da ordem das coisas ou dos anjos,
o inominável fim da nossa carne; quando
ante ele nos curvamos como se ele fora
inescapável fome de infinito; quando
vontade o imaginamos de outros deuses
que são rostos de um só; quando que a dor
é um erro humano a que na dor nos damos
porque de nós se perde algo nos outros, vamos
traindo esta ascensão, esta vitória, isto
que é ser-se humano, passo a passo, mais.

A morte é natural na natureza. Mas
nós somos o que nega a natureza. Somos
esse negar da espécie, esse negar do que
nos liga ainda ao Sol, à terra, às águas.
Para emergir nascemos. Contra tudo e além
de quanto seja o ser-se sempre o mesmo
que nasce e morre, nasce e morre, acaba
como uma espécie extinta de outras eras.
Para emergirmos livres foi que a morte
nos deu um medo que é nosso destino.
Tudo se fez para escapar-lhe, tudo
se imaginou para iludi-la, tudo
até coragem, desapego, amor,
tudo para que a morte fosse natural.

Não é. Como, se o fôra, há tantos milhões de anos
a conhecemos, a sofremos, a vivemos,
e mesmo assassinando a não queremos?
Como nunca ninguém a recebeu
senão cansado de viver? Como a ninguém
sequer é concebível para quem lhe seja
um ente amado, um ser diverso, um corpo
que mais amamos que a nós próprios? Como
será que os animais, junto de nós,
a mostram na amargura de um olhar
que lânguido esmorece rebelado?

E desde sempre se morreu. Que prova?
Morrem os astros, porque acabam. Morre
tudo o que acaba, diz-se. Mas que prova?
Só prova que se morre de universo pouco,
do pouco de universo conquistado.

Não há limites para a Vida. Não
aquela que de um salto se formou
lá onde um dia alguns cristais comeram;
nem bem aquela que, animal ou planta,
foi sendo pelo mundo este morrer constante
de vidas que outras vidas alimentam
para que novas vidas surjam que
como primárias células se absorvam.
A Vida Humana, sim, a respirada,
suada, segregada, circulada,
a que é excremento e sangue, a que é semente
e é gozo e é dor e pele que palpita
ligeiramente fria sob ardentes dedos.
Não há limites para ela. É uma injustiça
que sempre se morresse, quando agora
de tanto que matava se não morre.
É o pouco de universo a que se agarram,
para morrer, os que possuem tudo.
O pouco que não basta e que nos mata,
quando como ele a Vida não se amplia,
e é como a pele do ónagro, que se encolhe,
retráctil e submissa, conformada.
É uma injustiça a morte. É cobardia
que alguém a aceite resignadamente.
O estado natural é complacência eterna,
é uma traição ao medo por que somos,
áquilo que nos cabe: ser o espírito
sempre mais vasto do Universo infindo.

O Sol, a Via Láctea, as nebulosas,
teremos e veremos até que
a Vida seja de imortais que somos
no instante em que da morte nos soltamos.
A Morte é deste mundo em que o pecado,
a queda, a falta originária, o mal
é aceitar seja o que for, rendidos.

E Deus não quer que nós, nenhum de nós,
nenhum aceite nada. Ele espera,
como um juiz na meta da corrida
torcendo as mãos de desespero e angústia,
porque nada pode fazer nada e vê
que os corredores desistem, se acomodam,
ou vão tombar exaustos no caminho.
De nós se acresce ele mesmo que será
o espírito que formos, o saber e a força.
Não é nos braços dele que repousamos,
mas ele se encontrará nos nossos braços
quando chegarmos mais além do que ele.
Não nos aguarda – a mim, a ti, a quem amaste,
a quem te amou, a quem te deu o ser –
não nos aguarda, não. Por cada morte
a que nos entregamos ele se vê roubado,
roído pelos ratos do demónio,
o homem natural que aceita a morte,
a natureza que de morte é feita.

Quando a hora chegar em que já tudo
na terra foi humano — carne e sangue —,
não haverá quem sopre nas trombetas
clamando o globo a um corpo só, informe,
um só desejo, um só amor, um sexo.
Fechados sobre a terra, ela nos sendo
e sendo ela nós todos, a ressurreição
é morte desse Deus que nos espera
para espírito seu e carne do Universo.
Para emergir nascemos. O pavor nos traça
este destino claramente visto:
podem os mundos acabar, que a Vida,
voando nos espaços, outros mundos,
há-de encontrar em que se continui.
E, quando o infinito não mais fosse,
e o encontro houvesse de um limite dele,
a Vida com seus punhos levá-lo-á na frente,
para que em Espaço caiba a Eternidade.

Assis, 1 de Abril de 1961, sábado de Aleluia

quarta-feira, junho 20, 2012

«Mourinho é um grande comunicador que esconde bem a sua mediocridade como treinador» - Zeman

«Mourinho é um grande comunicador que esconde bem a sua mediocridade como treinador» - Zeman
Por Redação (jornal A Bola, edição on line, 20 de junho de 2012)

«José Mourinho é um grande comunicador que esconde bem a sua própria mediocridade como treinador». As declarações foram proferidas pelo novo treinador da Roma, Zdenek Zeman.
As críticas ao Special Onde prosseguiram.

«Salvo algumas exceções como o Barcelona de Guardiola e a seleção espanhola, o futebol evoluiu pouco nos últimos anos. A grande maioria das equipas entra em campo apenas com vontade de neutralizar o adversário, como o Chelsea que este ano ganhou a Liga dos Campeões ou o Inter (aludindo ao período em que o técnico português orientou a formação italiana)», apontou Zeman citado pela gazzetta dello sport.
17:20 - 20-06-2012«Mourinho é um grande comunicador que esconde bem a sua mediocridade como treinador» - Zeman

Caros alunos,
reparem como as palavras são, entre outras coisas, algo que serve os interesses, as motivações, os objetivos, de quem as profere; e servem também para representar, corretamente ou não, as realidades a que se referem.
Diz a cultura popular que "contra factos não há argumentos". Por isso, apenas aqui alinho, em jeito de lista, os factos futebolísticos, profissionais, do autor das palavras, Zdeněk Zeman, e o visado dessas palavras, José Mourinho. Fui buscar estas listas à Wikipédia. No fim de as observar, perguntar-se-á:
O que quererá Zeman verdadeiramente?... Será só protagonismo?... Atrair as atenções sobre si?...
Recomendo-vos: não se deixem ir atrás das emoções... passem por cima da tentação de chamar nomes feios ao senhor da República Checa... tentem apreciar o funcionamento psicológico do treinador, e do homem que (também) é.

Zdeněk Zeman

Títulos

Licata
Foggia
Pescara

José Mourinho

Títulos

Portugal FC Porto
Inglaterra Chelsea
Itália Internazionale
Espanha Real Madrid

[editar]Prêmios individuais

segunda-feira, junho 18, 2012

Economia tradicional e economia ecológica

Porque só estava com meio olho e um quarto de ouvido na televisão (isto é aquela coisa de que falei ontem no Facebook sobre a atenção flutuante), só dei mesmo atenção às últimas frases da entrevista que o programa "Sociedade das Nações", da Sic Notícias, transmitia às 15h45 de hoje.
Foi mais ou menos assim (a conversa estava mesmo no fim):
Entrevistado: Mas o que nós dissemos agora, já dissemos antes, por exemplo, em 2008, para [os governos] não investirem mais na economia tradicional, que comecem já a investir na economia ecológica, os resultados começam a ver-se pouco a pouco...
Entrevistador: Mas isso é os governos [os políticos], e as empresas?
Entrevistado: As empresas tanto se lhes dá que a economia seja tradicional como seja ecológica. As empresas querem é ter lucro. E a responsabilidade disso é dos governos! Se os governos legislarem nos impostos, nas regulamentações, etc., de modo a que as empresas possam claramente ver como obter lucros, as empresas farão certamente a economia da Ecologia.
Ora, isto parece-me que responsabiliza mesmo os políticos, não é verdade?... Esta exigência podem legitimamente os eleitores reclamar dos políticos que são eleitos e governam, seja no poder executivo (o Governo), seja no poder legislativo (os Deputados), ou mesmo nos outros poderes, não é verdade?
Provavelmente isto dá sentido às palavras que já aqui transcrevi de D. Januário Torgal Ferreira, o Bispo de Setúbal, e da sua sugestão de se ir para a rua para fazer a Democracia.

domingo, junho 17, 2012

Carta aberta de José Mourinho à Seleção Portuguesa de Futebol

José Mourinho enviou uma carta à Seleção Nacional onde pede empenho aos jogadores e apoio por parte dos portugueses.
(se não estou errado, a carta foi inicialmente publicada no sítio da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, em Outubro de 2010)

«Sou português há 47 anos e treinador de futebol há dez. Sendo assim, sou mais português do que treinador. Posto isto, para que não restassem dúvidas, vamos ao que importa...

As Selecções Nacionais não são espaços de afirmação pessoal, mas sim de afirmação de um País e, por isso, devem ser um espaço de profunda emoção colectiva, de empatia, de união. Aqui, nas selecções, os jogadores não são apenas profissionais de futebol, os jogadores são além disso portugueses comuns que, por jogarem melhor que os portugueses empregados bancários, taxistas, políticos, professores, pescadores ou agricultores, foram escolhidos para lutarem por Portugal. E quando estes eleitos a quem Deus deu um talento se juntam para jogar por Portugal, devem faze-lo a pensar naquilo que são - não simplesmente profissionais de futebol (esses são os que jogam nos clubes), mas, além disso, portugueses comuns que vão fazer aquilo que outros não podem fazer, isto é, defender Portugal, a sua auto estima, a sua alegria.

Obviamente há coisas na sociedade portuguesa incomparavelmente muito mais importantes que o futebol, que uma vitória ou uma derrota, que uma qualificação ou não para um Europeu ou um Mundial. Mas os portugueses que vão jogar por Portugal - repito, não gosto de lhes chamar jogadores - têm de saber para onde vão, ao que vão, porque vão e o que se espera deles.

Por isso, quando a Federação Portuguesa de Futebol me contactou para ser treinador nacional, aquilo que senti em minha casa foi orgulho; do que me lembrei foi das centenas e centenas de pessoas que, no período de férias, me abordam para me dizerem quanto desejam que eu assuma este cargo. Isto levou-me, pela primeira vez na minha vida profissional, a decidir de uma forma emocional e não racional, abandonando, ainda que temporariamente, um projecto de carreira que me levou até onde me levou.

Desculpem a linguagem, mas a verdade é que pensei: Que se lixem as consequências negativas e as críticas se não ganhar; que se lixe o facto de não ter tempo para treinar e implementar o futebol que me tem levado ao sucesso; por Portugal, eu vou!

E é isto que eu quero dizer aos eleitos para jogar por Portugal: aí, não se passeia prestigio; aí, não se vai para levar ou retirar dividendos; aí, quem vai, vai para dar; aí, há que ir de alma e coração; aí, não há individualidades nem individualismos; aí, há portugueses que ou vencem ou perdem, mas de pé; aí, não há azias por jogar ou por ir para o banco; aí, só há espaço para se sentir orgulho e se ter atitude positiva.

Por um par de dias senti-me e pensei como treinador de Portugal. E gostei. Mas tenho que reconhecer que o Real Madrid é uma instituição gigante, que me «comprou» ao Inter, que me paga, e que não pode correr riscos perante os seus sócios e adeptos. Permitir que o seu treinador, ainda que por uns dias, saísse do seu habitat de trabalho e dividisse a sua concentração e as suas capacidades era impensável.

Creio, por conseguinte, que o feedback que saiu de Madrid e chegou à Federação levou a que se anulasse a reunião e não se formalizasse o pedido da minha colaboração.
Para tristeza minha e frustração do presidente Gilberto Madail.

Mas, sublinho, agora já a frio: foi e é uma decisão fácil de entender. Estou ao leme de uma nau gigantesca, que não se pode nem se deve abandonar por um minuto. O Real decidiu bem.

Fiquei com o travo amargo de não ter podido ajudar a Selecção, mas fico com a tranquilidade óbvia de quem percebe que tem nas suas mãos um dos trabalhos mais prestigiados no mundo do futebol.

«Agora, Portugal tem um treinador e ele deve ser olhado por todos como «o nosso treinador» e «o melhor» até ao dia em que deixar de ser «o nosso treinador». Esta parece-me uma máxima exemplar: o meu é o melhor! Pois bem, se o nosso é Paulo Bento, Paulo Bento é o melhor.

Como português, do Paulo espero independência, capacidade de decisão, organização, modelagem das estruturas de apoio, mobilização forte, fonte de motivação e, naturalmente, coerência na construção de um modelo de equipa adaptada as características dos portugueses que estão à sua disposição. Sinceramente, acho que o Paulo tem condições para desenvolver tudo isso e para tal terá sempre o meu apoio. Se ele ganhar, eu, português, ganho; se ele perder, eu, português, perderei. Mas eu também quero ganhar.

No ultimo encontro de treinadores que disputam a Champions League, quando questionado sobre o poder dos treinadores nos clubes, ou a perda de poder dos treinadores face ao novo mundo do futebol, sir Alex Fergusson disse (e não havia ninguém com mais autoridade do que ele para o dizer!) que o poder e a liderança dos treinadores depende da personalidade dos mesmos, mas que depende muitíssimo das estruturas que os rodeiam. Clubes e dirigentes fragilizam ou solidificam treinadores.

Eu transponho estas sábias palavras para a selecção nacional: todos, mas todos, neste país devem fazer do treinador da selecção um homem forte e protegido. E quando digo todos, refiro-me a dirigentes associativos, federativos e de clubes, passando pelos jogadores convocados e pelos não convocados, continuando pelos que trabalham na comunicação social e terminando nos taxistas, políticos, pescadores, policias, metalúrgicos, etc. Todos temos de estar unidos e ganhar. E se perdermos, que seja de pé.

Mas, repito, há coisas incomparavelmente mais importantes neste país que o futebol. Incomparavelmente mais importantes¿ Infelizmente!

Aproveito esta oportunidade para desejar a todos os treinadores portugueses, aos que estão em Portugal e aos muitos que já trabalham em tantos países de diferentes continentes, uma época com poucas tristezas e muitas alegrias.

Ao Xico Silveira Ramos, manifesto-lhe a minha confiança no seu cargo de Presidente da ANTF.
Um abraço a todos.
José Mourinho»

quinta-feira, junho 14, 2012

Educação Física não conta para a média - Portugal - DN

Educação Física não conta para a média - Portugal - DN

Esta medida do Ministério de Educação da República Portuguesa é, no meu entender, uma medida que nos permite formar opinião sobre a consistência da cultura civilizacional e científica dos decisores que a tomaram; e a sua estreiteza de perspetiva, quando as verdadeiras soluções, não apenas na área da educação, mas também no desenvolvimento geral do País, reclamam sabedoria, rasgo e valorização de todas as dimensões das competências e capacidades humanas.
A médio ou longo prazo, é uma medida perfeitamente reversível, o que me deixa mais descansado. A curto prazo, parece-me uma medida muito infeliz, que vem distorcer a formação de um punhado não negligenciável de jovens.
Não é apenas a negação da velha máxima grega, que avisa que a mente sã se constroi sustentada no corpo são, é também a negação do que hoje em dia se sabe sobre a importância das actividades do corpo no desenvolvimento do cérebro, das capacidades abstrativas da mente; do autocontrolo e da autorregulação emocional; da estimulação e da aprendizagem da regulação da sociabilidade, da competição e da gestão dos conflitos.
Sinal dos tempos, esta medida mostra quanto as preocupações oficiais com a educação dos jovens vai a reboque das necessidades e das motivações pequenas do "desenrasca"  económico, mercantilista; e que todos nós, com os nossos governantes à cabeça, andamos a reboque de quem manda (os poderosos do dinheiro) e os que pensam que têm verdadeiro poder (os provisórios governantes).
Admito perfeitamente que haja alunos (não são todos, seguramente, os que há pouco quis referi no "punhado não negligenciável de jovens") e encarregados de educação em número não negligenciável que apoiem este medida, mas, infelizmente, a minha experiência, enquanto professor e enquanto psicólogo, tem-me mostrado quanto a pessoa (no fundo, pessoas concretas que eu conheço) perde quando se sobrevaloriza as coisas da mente, ou as coisas do corpo, pondo-se em causa a integridade da pessoa. É, sobretudo a felicidade pessoal e a felicidade das famílias que é posta em causa.

quarta-feira, junho 13, 2012

Santo António, Baptista-Bastos e Vasco Graça Moura - que caldo!


Não é fácil encontrar-se o jeito de dizer certas coisas que tantas vezes se sentem, mas ainda são difíceis de pensar porque não se encontraram as palavras certas, e, menos ainda, se as arrumaram umas a seguir às outras. Volta e meia repito isto, com estas palavras ou com outras parecidas.
Enquanto professores, seja de que saber técnico ou científico seja, devemos estar disponíveis para falar aos nossos alunos de coisas que lhes tocam como pessoas e os podem respeitar ou ofender na sua condição de cidadãos.
Neste espantoso texto de Baptista-Bastos, que encontrei na edição on line de hoje do Diário de Notícias, destaco duas ideias muito bem expressas com as tais palavras tantas vezes tão difíceis de encontrar:
"O niilismo moderno oculta-se na ideologia que domina a Europa, e os aparentes equívocos não são exercícios de estilo ou miniaturas verbais: constituem peças para aumentar a confusão geral. A Imprensa pouco ou nada esclarece do que se passa no interior da superfície; as televisões são caudais de frivolidades; os comentadores somente glosam e, na maioria, anotadores sem risco e sem reflexão. Alguém tem de sacudir esta inércia que nos está a liquidar como povo e a destruir, visivelmente, a nossa democracia - se é que a democracia alguma vez foi nossa."
A segunda ideia é esta:
" Quando D. Januário Torgal Ferreira declara: "Apetece-me dizer: vamos todos para a rua! Não vamos fazer tumultos, vamos fazer democracia"; diz, afinal, que nos devemos saber defender, que aprendamos a nos precaver contra o ovo da serpente. E, sobretudo, nos insurjamos perante as pequenas limitações de liberdade e de justiça, que nos aplicam em nome da "inevitabilidade" e do "equilíbrio do sistema." "
As palavras do bispo - Opinião - DN
Na edição on line do Diário de Notícias podemos encontrar, ao lado do artigo de Baptista-Bastos, um outro, também de opinião, de Vasco Graça Moura.
Neste artigo, VGM, mais uma vez destila o seu asco praticamente visceral a certos grupos de pessoas, muitos jovens, que, desta vez, cometeram o "pecado mortal" de irem ver o Rock in Rio; e fá-lo mais uma vez a partir de ideias preconcebidas, que ele próprio denuncia resultarem de se deixar levar pelas aparências: "E pelo aspecto, muitos deles integram as hordas de indignados que aparecem por aí noutras ocasiões."
É pena que ele faça assim, o texto, no essencial, é duma clareza e duma acutilância que saúdo, na mesma linha do que no outro artigo Baptista-Bastos faz também:
"É neste clima de fuga à realidade e amplificações ensurdecedoras que o verdadeiro rock da pesada muda de nome e de cenário. Passa a chamar-se Euro 2012. Agora, não lhe faltará o singular empenhamento da comunicação social, engendrando expectativas desmesuradas de triunfo e criando em todas as almas verdadeiramente lusitanas o frisson patriótico daquelas manhãs de nevoeiro em que uma redenção colectiva nos há-de chegar pela biqueira ágil dos craques, pondo termo às nossas angústias."