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terça-feira, julho 15, 2025

#TOLERÂNCIA198 - TOLERÂNCIA E TEMPERANÇA

#TOLERÂNCIA198 - TOLERÂNCIA E TEMPERANÇA

Jean-Pierre Demange é um psicólogo francês, especialista em adictologia, com uma longa carreira na intervenção clínica médico-social. Conheci-o durante a pandemia, participando em webinares internacionais animados por ele e, em Portugal, pelo psiquiatra Luís Patrício.

O nosso contacto foi-se aprofundando e foi-se enchendo de afecto que ambos prezamos. Ele tem um sentido de humor desarmante que obriga os seus interlocutores a pensar e... e a rirem-se. É exigente consigo mesmo e também com os outros "psi's", sejam do lado da Psiquiatria ou da Psicologia.

Assume que as suas referências teóricas são W.R. Bion, D.W. Winnicott, J. Bergeret e F. Roustang. Conheci-o já ele era presidente da rede europeia T3E (Toxicomanies-Europe-Echanges-Etudes).

É cidadão de intervenção activa, e fez parte do grupo internacional que o dr. Luís Patrício conseguiu juntar em Mação após os trágicos incêndios de 2017, com o objectivo de chamar a atenção dos governantes portugueses, e do Mundo, para a bem sofrida região; e, por outro lado, foi também uma maneira de promover a revitalização de algumas actividades económicas locais, nomeadamente as ligadas à hotelaria e à restauração. Nessa altura, a rede T3E, já liderada por Jean-Pierre Demange, envolveu-se nessa iniciativa, que foi designada por "I Encontro Internacional de Solidariedade Intergeracional", que teve lugar, então, em Mação, em Setembro de 2018. Depois aconteceu o II Encontro em Setembro de 2023.

Por último, teve lugar o III Encontro de Solidariedade Intergeracional, que acaba de acontecer, nos dias 11 e 12 deste mês.

Foi neste Encontro que, como deixei escrito nos 3 últimos relatos desta saga, fui falar da Pedagogia da Tolerância. Jean-Pierre Demange já tinha feito parte do pequeno grupo que, num dos webinares em francês que à volta da T3E se têm vindo a realizar, me ouviu falar da Tolerância.

Já nessa altura, o meu colega psicólogo falou da sua preferência do conceito de Temperança em vez da centralidade do conceito de Tolerância. Agora, em Mação, no dia 12, depois de outra vez me ouvir, outra vez me sugeriu especial atenção à ideia da Temperança. No jantar celebrativo que ainda nesse dia fizemos, prometi-lhe que tão depressa quanto me fosse possível, me ocuparia da Tolerância e da Temperança. Aqui estou a cumprir a promessa.

De acordo com o "Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa", de José Pedro Machado, a raiz de "temperança" (uma virtude ou qualidade) encontra-se no verbo latino 'tempĕräre', que entre os seus significados incluía os de "moderar, temperar, equilibrar".

Quanto à Tolerância (uma qualidade), mesmo que numa das primeiras etapas desta viagem eu tenha parado na estação da etimologia da Tolerância, e de maneira a facilitar a comparação entre ambos os conceitos, junto o que o mesmo dicionário de José Pedro Machado diz acerca da Tolerância: s. Do lat. 'tolerantĭa', «constância a suportar, resistência; paciência»

Vamos então fazer a abordagem exploratória, a primeira, acerca da Temperança e da Tolerância e do que uma pode ter a ver com a outra; e, finalmente, o que as distingue ou contrasta.

A temperança e a tolerância são "qualidades" que se caracterizam pelo equilíbrio e moderação que ambas exigem — esta é, portanto, a primeira forma por que se relacionam. O que as distingue ou contrasta será o domínio de actuação: a Temperança é uma qualidade que a pessoa faz actuar de si para si-própria, ao passo que a Tolerância é (nesta altura da viagem já sabemos que estou a falar apenas da forma mais elementar de Tolerância) uma qualidade que a pessoa faz actuar de si para os outros. Podemos dizer "autodomínio 'versus' relacionamento".

A Temperança refere-se ao controle sobre os próprios apetites, desejos e impulsos, especialmente em relação a prazeres excessivos (como comida, bebida ou luxúria); e das emoções e sentimentos.

    A Tolerância refere-se à capacidade de aceitar diferenças nos outros, mesmo quando discordamos ou nos incomodam.

    A moderação é o princípio que desafia a Temperança e a Tolerância. No caso da Temperança, procura-se moderar o excesso, o desbragamento; ou a repressão excessiva, espartana e inibidora de motivações, desejos e apetites legítimos. No caso da Tolerância, procura-se moderar as reacções impulsivas de rejeição de opiniões, comportamentos, pessoas e grupos de pessoas (assim promovendo a discriminação e a exclusão); ou de aceitação absolutamente passiva, permissiva e conivente, sem sentido crítico, da arbitrariedade e os excessos dos outros.

      Pode-se dizer que sem temperança uma pessoa pode reagir com raiva, sarcasmo ou intolerância. Entretanto, com temperança a mesma pessoa consegue conter a impulsividade, reflectir, escutar — e, assim, praticar a tolerância com mais autenticidade.

      Como primeira conclusão da primeira incursão, exploratória, na estação da relação entre a Temperança e a Tolerância, proponho assumirmos que a temperança é um alicerce do equilíbrio psico-afectivo, interno, da pessoa, alicerce que tem em si o precioso potencial de fortalecer a expressão da tolerância na dinâmica sócio-afectiva, externa, da pessoa com os outros.

      Sem a moderação da temperança, a tolerância torna-se um esforço muito mais difícil. Será que o meu estimado amigo Jean-Pierre Demange concorda que eu diga que a temperança é a disciplina interna que capacita a aceitação externa que é a tolerância?

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      sábado, julho 12, 2025

      #TOLERÂNCIA195 - "EDUCAÇÃO PARA A TOLERÂNCIA": 1.ª APRESENTAÇÃO PÚBLICA INTERNACIONAL

      #TOLERÂNCIA195 - "EDUCAÇÃO PARA A TOLERÂNCIA": 1.ª APRESENTAÇÃO PÚBLICA INTERNACIONAL

      Hoje, em Mação, no III Encontro Internacional de Solidariedade Intergeracional (Educação e Saúde, Valores de Transmissão Intergeracional), fiz parte do painel "Humanidade", que foi presidido pelo senhor Bastonário da Ordem dos Médicos, o dr. Carlos Cortes. Os comentários estiveram a cargo de Aimé Charles-Nicolas, o muito conceituado Professor de Medicina, Psicologia Médica e Psiquiatria na Faculdade de Medicina das Antilhas-Guiana, francês nascido na Martinica; presidente da Association FIRST CARAÏBES; e que foi agraciado com a Legião de Honra francesa em 2008.

      Partilhei muito honrosamente e com grande satisfação o painel com o notável Augusto Consoli, neuropsiquiatra infantil e presidente da Sociedade Italiana das Toxicodependências (Torino, Itália), que

      apresentou uma comunicação com o título "Prolongation, quality of life and ‘humanization’ of medicine: the challenges of bioethics in the contemporary world" (Prolongamento, qualidade de vida e “humanização” da medicina: os desafios da bioética no mundo contemporâneo).

      Foi uma apresentação muito interessante, a convidar-nos a uma profunda reflexão, direi que com carácter obrigatório para quem se ocupa do cérebro, da mente, dos processos afectivos e cognitivos, da consciência, da capacidade de tomada de decisão; do livre-arbítrio e do valor da liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos.

      A base da minha apresentação foi a apresentação que fiz anteontem, na Amora. Traduzi-a para francês e introduzi uns acertos tendo em conta as diferenças entre as duas audiências.

      Procurei animar a apresentação pondo toda a audiência a fazer a primeira fase do método da triagem sucessiva, pedindo-lhes que associassem à tolerância conceitos que considerassem pertinentes, na tradicional lista de 6 palavras simples.

      A audiência colaborou, parecia uma Babel de línguas, tive respostas em 7 línguas diferentes! Amanhã darei conta dos resultados que colectei.

      O debate no final da apresentação foi muito participado, com questões pertinentes colocadas a ambos os elementos do painel.

      No que à minha apresentação diz respeito, recebi comentários bastante elogiosos, que muito satisfeito me deixaram. Quanto às perguntas que me colocaram, destaco 3 delas:

      1) A perversidade da tolerância assenta na presunção, inconsciente e não assumida, de que nós somos o centro e o outro é a periferia, logo a igualdade e a equidade estarão sempre condenadas ao fracasso. Respondi que, neste caso, a tarefa da Educação da Tolerância será a de promover a tomada de consciência e a aceitação de que, na verdade, nós não somos o centro. Somos periferia como o Sistema Solar, não obstante todo a sua grandeza e o seu brilho, é periferia da Via Láctea.

      2) A questão da intolerância da intolerância, como enfrentá-la, o que fazer? Comecei por relembrar o Paradoxo da Tolerância de Karl Popper. Depois defendi que a Educação da Tolerância deve promover a liberdade de decisão, individual e de grupo; deve promover a coragem de dizer «Não!» e «Basta!» e libertar os indivíduos da dúvida, do receio e da auto-censura que recrimina o que parece ser uma imposição arbitrária pessoal, dictatorial, contrária ao respeito pelo Outro. «E se eu estiver errado?» Sim, pode acontecer, não posso é ficar bloqueado, infinitamente paralisado na acção enquanto a intolerância continua a acontecer.

      3) Duas reflexões me foram propostas, uma que me sugere uma importância especial da Temperança sobre a Tolerância; a outra que considere a Celebração. Sim, comprometi-me a fazer essas reflexões, e delas darei testemunho aqui nesta saga. Sim, em breve visitarei esses lugares.

      4) Abdelaziz Benharkat, sempre activo e vibrante, rematou a sessão afirmando bem convictamente: «Nul ne doit pas considérer l'autre comme un sauvage!» (Ninguém deve pensar no outro como um selvagem!) A sessão acabou quase em apoteose, mas não impediu que me viesse à consciência a elaborada sofisticação ideológica nazi que produziu a desumanização do Outro, os outros que foram vítimas da indústria de morte humano dos campos de concentração e extermínio da 2.ª Guerra Mundial.

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