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segunda-feira, setembro 01, 2025

#TOLERÂNCIA246 - É PARA SEMPRE: O MEU ÚLTIMO DIA DE FÉRIAS OFICIAL É HOJE

 #TOLERÂNCIA246 - É PARA SEMPRE: O MEU ÚLTIMO DIA DE FÉRIAS OFICIAL É HOJE

Acordei e levantei-me à hora do costume. Preparei-me o desjejum do costume. Como de costume, fui olhando pela janela o nascer do dia e o aparecimento do Sol. Publiquei no Facebook a fotografia do costume.

«Ah, hoje tenho de desfrutar de qualquer coisa... Já sei! Vou à Baixa, há muito tempo que não vou à Baixa.» Assim pensei, assim fiz.

À entrada do Metro, em Chelas, recebi uma chamada dum colega de escola. Ri-me porque já estava à espera de que ele me ligasse. Com muitas risadas à mistura, pusemos a conversa em dia.

Saí na estação do Rossio, tinha duas fisgadas: comer um pastel de bacalhau e tomar um cafezinho e fazer uma visita à Igreja de São Domingos. A tasca que tinha em mente, que pena!, já foi na voragem nas transformações para turistas endinheirados.

Entrei na igreja, o pastel de bacalhau comê-lo-ia do outro lado da Praça do Rossio. Todo o espaço de culto da igreja estava vedado logo ali à entrada, deduzi que ia começar a missa, era para proteger os fiéis das deambulações dos turistas. Nos bancos da igreja, duas pessoas, três, no máximo. Preparo-me para tirar uma fotografia, nessa altura oiço a tradicional saudação do fim da missa: «Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!» Afinal, a missa, vazia de fiéis, estava a acabar.

A igreja de São Domingos é, para mim, um dos lugares, ao mesmo tempo real e simbólico, da Intolerância. Por isso quis ir lá hoje. Foi com um muito nítido sentimento de satisfação que trouxe à consciência as vezes que levei lá os alunos. Sim, por aqui cumpri-me nas minhas funções de professor e

educador. À saída, quis que voltasse a ecoar na minha mente a saudação do padre celebrante da missa: «Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!»

Atravessei o Rossio, com rumo à tasquinha do primeiro troço da Calçada do Carmo. Olhei a montra, lá estavam os desejados. Entrei, pedi um pastel de bacalhau, mais nada. Só antes da última dentada pedi um café cheio. Que bem me soube! Há muito que eu também não saboreava esta combinação. Com o tempo, tinha-se tornado quase exclusiva da reentrada em Portugal quando saio de carro, logo na primeira oportunidade passada a fronteira para o lado de cá. Mas, que diacho!, hoje era dia especial! Muito especial! Na tasquinha, nenhum dos sujeitos do lado de dentro do balcão tem ar de lisboeta, ou sequer de português continental. 3 sujeitos indianos ou paquistaneses. Mas todos os fritos e sandes tinham o aspecto tradicional, que a gente gosta. Ai, aquelas pataniscas de bacalhau que passaram ali à minha frente, quentinhas!... Ainda pus a hipótese de trazer algumas para o almoço.

Paguei, saí, pus-me a subir. O meu fito era a Bizantina, a livraria alfarrabista que é a minha preferida. Ainda no segundo troço da Calçada do Carmo, chego-me ao passeio, uma grande carrinha de entrega de produtos ocupava metade do passeio. Avanço, já quase a encolher-me. Estou a já a meio da carrinha, e ainda antes de se chegar a ela pelo lado da frente, aparece um jovem turista, quase de certeza estrangeiro. Eu estugo o passo, para não o fazer esperar, mas ele não me quis dar a deferência de que eu passasse. Levantou altivamente o queixo e avançou decididamente no pedaço de passeio em que eu já mal cabia. É claro, tive de me encostar à parede. Perante aquela manifesta falta de civismo, olhei-o sempre de frente, nos olhos, e sorri-lhe. Mentalmente, e rindo-me da sobranceria imperial do rapaz, fiquei a desejar que ele fosse dali direitinho à igreja de São Domingos, a levar um oportuno e proveitoso baptismo de Tolerância.

Reparem o que comprei na Bizantina: a lembrar-me de tanta faiança regional de Coimbra que vendi no estabelecimento, ali nas Escadas de São Tiago, do meu avô Pinto, com o estudante de capa e batina no lado esquerdo da fonte, de guitarra na mão, e a tricana, de cântaro ao colo, do lado direito da fonte, comprei "A Tricana no Folclore Coimbrão", de Octávio Sá, numa edição da Comissão de Turismo, de 1942.

A seguir, a lembra-me da Pintalhada, a canção da família que vem dos anos 40 do século passado, comprei o "Cancioneiro" edição do significativo ano, na minha família, de 1962 (ano de nascimento da minha irmã), uma edição do Gabinete de Etnografia da FNAT (que é falada em versos da Pintalhada!), com selecção e prefácio de Fernando de Castro Pires de Lima. São muitas quadras ao jeito das quadras da Pintalhada.

Depois comprei um pequeno opúsculo de título "Primeiro Congresso (Apontamento)", de 1964, da União das Comunidades de Cultura Portuguesa, sobre o 1.º Congresso das Comunidades Portuguesas. Foi mentor e Presidente o Professor Adriano Moreira, que na altura foi apresentado como "Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa; Director do Instituto Superior de Ciências Socias e Política Ultramarina; antigo Ministro do Ultramar". Fiquei impressionado com a imensa diversidade geográfica dos participantes, espalhados por todo o mundo. Vou ler tudo com muita atenção. Outra data familiar: a 1.ª Sessão do Plenário aconteceu no dia 8 de Dezembro de 1964. A minha irmã celebrava 2 anitos, eu estava há 2 meses na escola dos Quinchosos, em Abrantes; e o nosso pai fazia a sua primeira comissão militar em Angola, na Guerra do Ultramar.

Finalmente, comprei, numa edição de 1957, um livro de contos do autor surrealista suíço Maurice Sandoz, "O Limite". A edição original do livro é de 1952 e ele suicidou-se em 1958. Terá sofrido muito, física e psicologicamente, ao longo da vida e a grande fortuna que tinha não conseguia trazer-lhe qualquer alívio.

Finalmente, desci ao Largo Barão de Quintela, a meio da Rua do Alecrim, para dar um abraço ao meu querido aluno de há muitos anos, o Vasco Lopes, lá mesmo do começo do meu magistério de professor do secundário, era uma espécie de abraço simbólico de envolvimento de todos os meus alunos ao longo destes 35 anos na Eça de Queirós, agraço de muita amizade e de muita gratidão. O rapaz não estava, está de férias, mas ainda hoje vai conhecer este texto no Facebook. Noutro dia lhe darei o abraço, que fica, para já, adiado. Talvez para o dia em que me chegue a carta de alforria.

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