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domingo, setembro 14, 2025

#TOLERÂNCIA259 - A MEDITAÇÃO E A TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA259 - A MEDITAÇÃO E A TOLERÂNCIA

A minha curiosidade acerca da meditação vem já da adolescência, e já disse por aí muitas vezes que a última hesitação que venci para comprar um computador foi quando vi, num revista do Expresso, fotografias de monges budistas sentados em frente a computadores.

Atravessei quase todo o percurso universitário mantendo um regime alimentar macrobiótico, e foi, de certeza, alguma prática de meditação que já nessa altura me impunha, a ajuda preciosa que tanto necessitava para ir às aulas, estudar e, ao mesmo tempo, trabalhar — ainda por cima, com o extra de funções directivas numa escola de ensino especial, que me obrigava a uma disponibilidade de praticamente 7 dias por semana, 30 dias por mês, só com algum alívio no meses de Agosto.

Há alguns anos frequentei um seminário com um monge budista, o [Precioso] mestre Yongey Mingyur (Porquê ele? Porque ele também fez formação em Psicologia num país do Ocidente, o que lhe dá outra abertura mental e competência científica; e tem colaborado em estudos de imagiologia cerebral ligados

à prática da meditação), em Lisboa. Praticamente todos os dias tenho dois pequenos momentos de meditação (habitualmente faço 2 de um pequeno conjunto de 3 exercícios), e não sei dizer quando cheguei a esta prática de forma sistemática. Fazendo uma busca rápida aos meus registos na Net, pelo menos desde 2018.

O que faço comigo é tão simples que todos os anos, logo numa das primeiras aulas de cada novo curso de Psicologia, partilho com os meus alunos um dos exercícios, que eles podem facilmente fazer em casa, para isso se servindo do metrónomo 'on-line' que os telemóveis disponibilizam.

O foco principal da meditação é a atenção, o domínio da atenção. No tipo de meditação que pratico o conceito central é "atenção plena". Não vale a pena falar em atenção plena aos alunos, tende a complicar, a motivação deles é maior se lhes falarmos em domínio da atenção.

A revista "Notícias Magazine" da edição do Jornal de Notícias de hoje traz um artigo extenso sobre a meditação nas empresas portugueses, como era tabu falar dela e deixou de ser.

Lê-se no artigo o seguinte parágrafo: «Na área das lideranças, os benefícios são muitos, segundo a psicóloga [Ana Osório de Castro]. Desde logo porque os altos cargos estão associados a grande pressão e a poucos momentos de paragem, o que significa muito stress e ansiedade. A prática permite aumentar a tolerância ao 'stress' e a resiliência, "porque se ganha mais perspectiva, mais clareza mental, o que ajuda a sermos menos impulsivos e reactivos". Na mesma linha, permite gerir melhoras emoções, o que ajuda "a criar mais conexão com as pessoas, a ouvir melhor, a ter mais empatia, a reduzir os conflitos". Por criar espaços de maior calma, em que a mente não está assoberbada com medos ou como que tem de se fazer a seguir, "também ajuda a ter ideias". "Muitos destes benefícios são aplicáveis a toda a gente. Sobretudo numa era em que somos bombardeados de 'emails', de 'whatsapps', de reuniões, de um turbilhão de informação, além da vida familiar."»

Querem as rocambolescas vicissitudes ligadas à obtenção da minha carta de alforria do ensino que amanhã volte, ainda mais uma vez, a iniciar aulas, só que desta vez, só com turmas dos 7.º e 9.º anos. Não vou leccionar Psicologia, isso sim, Cidadania e Desenvolvimento. Nas primeiras aulas das 4 turmas lá constarão 2 pequenos exercícios de meditação, de atenção plen..., perdão!, de domínio da atenção.

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sábado, setembro 13, 2025

#TOLERÂNCIA258 - TOLERÂNCIA AOS ERROS, TOLERÂNCIA À CORRUPÇÃO

 #TOLERÂNCIA258 - TOLERÂNCIA AOS ERROS, TOLERÂNCIA À CORRUPÇÃO

Já há alguns anos, um jornalista (tenho ideia de que era italiano...), vendo que todos os especialistas se tinham enganado com as previsões económicas e financeiras e o mundo sofreu um forte abalo com o curso que a evolução económica e financeira, afinal, de facto teve, esse jornalista reclamou para si o direito de opinar, já que não iria, de certeza, errar mais que os especialistas.

Hoje sinto-me assim, com o direito à opinião de um não-especialista. É a propósito de a Comunicação Social em Portugal ter trazido muito recentemente resultados de sondagens que colocam o partido Chega, pela primeira vez, no primeiro lugar das intenções de voto.

O líder, os deputados e os adeptos do partido Chega continuam a ser apanhados em 'gaffes', erros, "esquemas" e crimes. Entretanto, parece que adesão de cidadãos continua forte e as intenções de voto no partido Chega, repito, parece que continuam a subir.

Talvez ajude a entender o que se passa se se olhar para o que tem dominado as notícias na Comunicação Social. A percepção que se tem é de que um mandatário ligado ao Chega provoca incêndios; outro elemento do Chega rouba malas no aeroporto; o líder confunde, com grande espectáculo, festa de cidadãos com festa de hamburgueres; e mais outras coisas deste tipo. Num certo sentido, são coisas episódicas, a cada um o seu erro ou patacoada.

Do lado dos partidos tradicionais (o PS, o PSD, o CDS — essencialmente, os partidos tradicionalmente ligados à governação desde o 25 de Abril de 1974; mas também, por, digamos, omissão e consentimento, os outros partidos mais pequenos, sobretudo o PCP e o BE), tem-se a ideia de que fizeram crescer o "Polvo da Corrupção", que se mantém bem vivo e que escapa a toda e qualquer acção

da Justiça. O último caso será o da anulação da multa de 200 milhões de euros ao cartel dos principais bancos portugueses: provou-se que houve cartel, provou-se a culpa merecedora de multa, mas... mas com a fina engenharia judicial que os partidos tradicionais foram montando na Justiça Portuguesa (a partir da Assembleia da República, ao longo dos 50 anos que decorreram desde o 25 de Abril), excedeu-se o tempo de aplicação da justiça e a multa foi anulada.

Outros casos são o eterno julgamento de José Sócrates e seus apaniguados; e, por exemplo, também o chamado "caso Spinumviva", que envolve directamente o actual 1.º-Ministro, homem do PSD. Ora estes casos (o dos bancos, o de José Sócrates do PS, o de Luís Montenegro do PSD; e outros...) não são episódicos, são continuados, arrastam-se no tempo, e tem-se a percepção social de que sugam o erário público, prejudicam a redistribuição justa da riqueza do País, exigem mais esforços fiscais aos contribuintes, reduzem a retribuição justa dos trabalhadores, e constantemente aumentam os lucros dos bancos e das grandes empresas.

Penso que a percepção dos cidadãos em relação aos danos e delitos que a classe política comete depende, em geral, da natureza do dano (ou delito), da visibilidade que comporta (neste caso, por exemplo, a corrupção tende a ocultar-se atrás de burocracias e “favores”, gerando nos cidadãos a sensação de impunidade), o julgamento moral segundo a cultura tradicional dominante (em países europeus, a infidelidade matrimonial continua a provocar demissões, em Portugal há muito que não).

A corrupção tende a ser vista como falta grave contra a cidadania (mesmo que em contextos de crise ou “costumes enraizados”, poder ser relativizada como “mal menor” ou necessária para “desenrascar"). A corrupção de "topo" (líderes políticos e governativos; directores de bancos e grandes empresas) deixa a imagem de que se apropria dos recursos públicos (assim prejudicando os cidadãos) e retira aos cidadãos a confiança no Estado, no fundo, o efeito de tanta corrupção de "topo" manifesta-se em perdas para toda a comunidade nacional.

Não me quero alongar, vou escrevendo enquanto vou caminhando. Sim, parece-me que os cidadãos toleram melhor os erros e as 'gaffes' do que a corrupção, que tende a ser vista como permanente, sistémica, estrutural. E não se vêem esforços e acções claras dos partidos tradicionais para alterar estas percepções.

Exemplificando: o líder que "denunciou" a ida do Presidente da República à "Festa dos Hamburgueres" teve de se desdizer; o mandatário incendiário foi logo afastado; mas os Ricardos Salgados, os Josés Sócrates, os Luíses Montenegros continuam desfrutando de condições de vidas e protecção dos seus bens patrimoniais a que nunca na vida a generalidade dos cidadãos, honestos trabalhadores cumpridores, nunca chegarão.

Repito, esta será a percepção social. Para agravar as coisas, vê-se por esse mundo fora que as coisas não acontecem apenas no nosso País. Dizem que é o tempo do neoliberalismo capitalista ávido e desenfreado... respaldados nas regras de funcionamento democrático das sociedades! Que ironia...

Se calhar, a ruminação de hoje [ligada à percepção social] é ainda parte da de ontem, a da estação da ira, ou raiva, ou cólera [ligada à vivência emocional]. É, aceito que sim. E também tem a ver com a estação dos jogos de resignação, negociação e cedência [ligada à pedagogia da interacção social]. Que os educadores não deixem de fazer a sua parte.

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sexta-feira, setembro 12, 2025

#TOLERÂNCIA257 - O LADO SAUDÁVEL E DEMOCRÁTICO DA CÓLERA

 #TOLERÂNCIA257 - O LADO SAUDÁVEL E DEMOCRÁTICO DA CÓLERA

O francês Eric la Blanche é apresentado hoje, no "Le Monde", no artigo que assina, como ensaísta, filósofo e conferencista; e autor do livro "Osons la colère. Eloge d’une émotion interdite par temps de crise
planétaire" (Ousemos a cólera. Elogio duma emoção interdita em tempos de crise planetária). O livro é deste mês.

No "Le Monde", o artigo tem o título "Eric la Blanche, sem cólera, nunca houve progresso social; e subtitula: "o ensaísta e filósofo defende a cólera, distinta da violência, como uma emoção legítima e essencial para o bom funcionamento democrático". Transcreverei a seguir a seguir uma boa parte dele, mas antes convém que faça uma pequena clarificação conceptual, a propósito das emoções.

Tradicionalmente, considera-se um grupo de 5 ou 6 emoções básicas no ser humano: a alegria, a tristeza, o medo, o nojo e a raiva; e a surpresa — quantos vídeos não são hoje em dia publicados nas redes sociais com expressões de surpresa nos bebés? O autor hoje em dia mais célebre no campo das emoções é Paul Ekman, e ele não sido sempre igual no que diz das emoções. Por exemplo, ele recentemente juntou à sua lista de emoções universais o desdém ('contempt'). Quanto à raiva, em língua portuguesa é pacífico chamar-lhe "raiva", "cólera" ou "ira". Portanto, quando falamos de cólera (ou raiva, ou ira) estamos a falar duma emoção universal do ser humano que faz parte da matriz de expressão emocional com que ele nasce, não é aprendida por influência social. Mais! Muitas vezes é desaprendida, infelizmente, por procedimentos educativos muito frequentes nas nossas sociedades (que cada vez mais evitam lidar com as emoções negativas), errados!, mas isso é tema para outro texto, não é para agora.

Agora, então, a transcrição: «Neste período propício a movimentos sociais, muitos receiam o inflamamento. Como é habitual, os responsáveis políticos e alguns comentadores procuram desqualificar a cólera: seria irracional, perigosa, arcaica. Má por natureza. Mas este processo permanente de ilegitimação oculta uma verdade fundamental: sem cólera, nunca houve progresso social.

»Certamente, a cólera pode assustar. Mas não é violência. Nunca confundamos. A primeira é uma emoção, a segunda um passo para a ação. Confundir as duas é desconsiderar antecipadamente a mensagem que ela transporta. A cólera é uma emoção profundamente democrática; basta recordar o destino que as ditaduras reservam aos movimentos contestatários para disso nos convencermos.

»Em democracia, a cólera é um indicador, um sinal de alarme. Soa quando um limite foi ultrapassado, quando um limiar de injustiça foi atingido. É a sentinela dos desequilíbrios sociais. Recusar considerá-la é negar o próprio princípio da democracia, que consiste em permitir aos cidadãos exprimir o seu descontentamento e traduzi-lo em acção política.

»Hoje, porém, as injustiças acumulam-se: crise ecológica e social, degradação dos serviços públicos, aumento das desigualdades. Paralelamente, a fé no futuro e a natalidade enfraquecem consideravelmente. Tudo contribui para alimentar cóleras que o poder teima em tratar como desmandos ou caprichos, a golpes de anátemas ou de munições de defesa.

»No entanto, não se apaga uma casa em chamas atirando-lhe gasolina. Reprimir, criminalizar, deslegitimar só reforça a cólera, endurece-a, radicaliza-a.

»Cegueira das elites - O paradoxo é este: o que ameaça as nossas democracias não é o excesso de cólera do povo, mas a cegueira das elites perante injustiças que a população, na sua maioria, começa a considerar intoleráveis. Continuar como se nada fosse face ao colapso ecológico e às injustiças sociais e fiscais: eis a verdadeira irracionalidade. A cólera não é o problema; é, pelo contrário, a condição para um sobressalto colectivo. Os grandes avanços sociais e políticos nunca surgiram, como por magia, da apatia, mas sempre de iras (cóleras) colectivas transformadas em força de acção.»

A Educação da emoção básica da ira (ou cólera, ou raiva), para que ela não seja desaprendida, inibida ou abafada para níveis não saudáveis, impedindo o bem-estar das crianças e dos jovens, é um desafio enorme para educadores e professores. Qual não é o encarregado de educação ou professor que não deseja que as crianças e os jovens sejam dóceis e disciplinados e silenciosos e obedientes e que não contestem e que aceitem as ordens das figuras de autoridade? Que nunca se revoltem? Sim, há excepções, mas são mesmo muito poucas! Das coisas que mais as crianças e os jovens "prevaricadores" ouvem, tanto em casa como na escola, é o «Pois, mas quando disseste isso à professora perdeste toda a razão!» É isso que os adultos querem: é ficar sempre com a razão do lado deles.

Todas as emoções básicas têm valor de sobrevivência e contribuem para o bem-estar pessoal. Essa é uma das mensagens principais do filme de animação "Divertida-mente".

É desafio para todos os educadores saberem lidar com as expressões de cólera das crianças e dos jovens. Os seres humanos precisam da cólera (ou ira, ou raiva) para construírem sociedades mais justas. E todas, mesmo todas, as emoções necessitam da educação da sua expressão adequada; mas nenhuma deve ser desconsiderada, desvalorizada ou especialmente reprimida.

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quinta-feira, setembro 11, 2025

#TOLERÂNCIA256 - QUANDO MAIS NÃO SE PODE, CADA UM FAZ O QUE PODE

 #TOLERÂNCIA256 - QUANDO MAIS NÃO SE PODE, CADA UM FAZ O QUE PODE

Atravessamos dias de pico no sentimento de aflição, angústia e tragédia com o que nos entra pela casa dentro nos noticiários dos canais de televisão dedicados às notícias dos acontecimentos nos países e do estado do mundo: mais um país soberano, o Catar, foi bombardeado por Israel; drones de guerra russos caíram em solo polaco e provocaram danos (a maioria foi interceptada pela Defesa polaca); um 'influencer' muito chegado a Donald Trump foi assassinado a tiro num 'campus' universitário — ironia do destino, tal 'influencer' tinha afirmado «Acho que vale a pena ter um custo, infelizmente, de algumas mortes por armas de fogo todos os anos, para que possamos ter a Segunda Emenda para proteger os nossos outros direitos concedidos por Deus. É um acordo prudente. É racional.»

Sobretudo a seguir ao encontro entre Trump e Putin no Alasca, surgiram muitas expressões de paralelismo com a esperança oca que o encontro entre Chamberlain e Hitler em 1938 trouxe. Chamberlain, à saída do avião, em Londres, acenava, com grande contentamento a carta de compromisso assinada por Hitler. Mas depois foi o que foi, no ano logo a seguir: a maior tragédia mundial na História da Humanidade.

Não sou analista político, nem comentador televisivo "especialista" destas coisas. Ao tempo de Chamberlain e Hitler também os havia. Não sei qual ou quais estavam a pensar bem, agora também não sei quais são.

Andamos com o credo na boca temendo o pior, mas não podemos ficar paralisados. Por isso me pareceu especialmente inspirador este trecho duma notícia do "Le Monde" de hoje. O artigo tem por título "O Santuário Americano dos Livros Banidos", e dá destaque a esta afirmação que, no meu entender, traz uma proposta lúcida, mobilizadora e, apesar de tudo, tranquilizadora: «Sei que não consigo mudar tudo, mas consigo transformar radicalmente pequeninas coisas se concentrar nelas todas as minhas forças.»

A primeira quinta parte do texto diz assim: «Lauren Groff nunca chorou tanto como na noite de 5 de Novembro de 2024 e no dia que se seguiu. «Foi terrível», recorda ela, durante um encontro em Paris no início do Verão. «Acho que assustei os meus filhos, que nunca me tinham visto num estado de tal abatimento e pavor.» Mas como não entrar em colapso, naquela noite eleitoral presidencial tão

crucial?
Como não estremecer perante a ideia de que se abria então uma página funesta da história dos Estados Unidos?
«Porque eu sabia! Eu conhecia o racismo, o sexismo, a crueldade e a sede de vingança do campo que chegava ao poder. Eu conhecia os ataques ao direito, à ciência, ao conhecimento, à livre expressão. Eu conhecia a prevaricação e a corrupção generalizadas. Havia realmente motivos para ficar devastada.»

»A escritora consagrada — cinco romances de sucesso, três vezes finalista do National Book Award, eleita pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes de 2024 — tinha votado alguns dias antes, impaciente por fazer ouvir a sua voz. E no fim de semana anterior, tinha animado, no centro de Tampa Bay (Flórida), a duas horas de carro de sua casa, um encontro com Hillary Clinton, que veio apresentar o seu último livro.

»A antiga candidata à Casa Branca tinha detalhado longamente as consequências previsíveis da eleição de Donald Trump, e Lauren Groff tinha regressado a casa extremamente angustiada. Mas mantinha a esperança. Os americanos já tinham experimentado um primeiro mandato de Trump, não iriam certamente atirar-se novamente à boca do lobo. Quanto aos seus amigos progressistas que torciam o nariz à candidata democrata, acusada de complacência para com Israel, eles compreenderiam que Trump era a pior das soluções e que não se devia, de modo algum, boicotar as urnas. «No entanto, foi exactamente o que fizeram», diz ela hoje, com amargura.

»A noite do dia 5, portanto, tinha sido atribulada. Depois, à medida que as sondagens e os resultados anunciavam a vitória provável de Trump, tornou-se francamente dramática. Então, depois de uma noite em claro, Lauren Groff dirigiu-se ao único sítio onde sabia que encontraria consolo: a livraria que ela e o seu marido, Clay Kallman, tinham aberto alguns meses antes no centro de Gainesville, uma localidade de 140 000 habitantes situada no norte da Flórida, sede da sua maior universidade, rodeada de florestas, pântanos e… jacarés.

Uma livraria concebida como «um farol de tolerância e liberdade» num dos estados mais reacionários dos Estados Unidos e que tinha assumido a missão de acolher os milhares de livros banidos das escolas e bibliotecas públicas da Flórida. O seu nome: 'The Lynx' [o Lince], o nome deste felino selvagem comum na região. «Eu queria algo feroz», diz, sorrindo, a mãe de dois adolescentes já crescidos. «E gostei do trocadilho com 'links' [ligações], porque o nosso projecto é construir em torno da livraria uma verdadeira comunidade.»»

Fiz uma pesquisa rápida na Internet (servi-me do 'chatbot' Perplexity.ai), que me fez uma pequena lista das vezes que, ao longo da História da Humanidade, os livros foram considerados perigosos e por isso foram destruídos porque reinava a intolerância e coartava-se a liberdade:

Dinastia Qin na China (213 a.C.): o primeiro Imperador ordenou a queima de obras ligadas à moral e à tradição dos antigos, eliminando pensadores contrários à sua ideologia; o faraó Akhnatón no Egito (c. 1350 a.C.): queima massiva de papiros, extinguindo cerca de 75% da literatura então existente; Biblioteca de Alexandria (várias destruições entre 48 a.C. e século VII): incendiada em diferentes épocas, desde Júlio César até a conquista árabe, resultando na perda de milhares de manuscritos insubstituíveis; destruição da Biblioteca de Bagdad (1258): a invasão mongol devastou a biblioteca central, consumindo vastos acervos científicos e literários islâmicos; queima do Talmude em Paris (1244): manuscritos judaicos foram queimados publicamente, após disputas teológicas; Inquisição Espanhola em Granada (1499): foram destruídos cerca de 5.000 manuscritos árabes considerados heréticos.

Na Era Moderna, fogueira das Vaidades em Florença (1497): livros, obras de arte e cosméticos foram recolhidos e incendiados em praça pública por seguidores de Savonarola; Henrique VIII 'vs' Papa (1536–1550): o conflito religioso resultou na queima de cerca de 300.000 textos católicos na Inglaterra; destruição de Manuscritos Maias e Astecas (Século XVI): conquistadores espanhóis destruíram registros históricos e religiosos dos povos indígenas das Américas; livros de Wilhelm Reich (1956): nos EUA, livros do autor foram queimados por ordem governamental, sob acusação de pornografia; queima de livros por nazis (1933): mais de 20.000 livros considerados “não alemães” foram queimados por estudantes nazis em cerimónias públicas na Alemanha.

Ataques ainda mais recentes e modernos: Biblioteca de Jaffna, Sri Lanka (1981): incendiada por forças paramilitares, destruindo 100.000 volumes e registros raros[tâmil]; Guerra da Bósnia (1992-1995): bibliotecas e arquivos culturais muçulmanos foram queimados em ataques de busca de destruição identitária; queima do Alcorão no Afeganistão (2012): exemplares do livro sagrado islâmico destruídos por soldados estrangeiros; livros comunistas na Era McCarthy, EUA (década de 1950): bibliotecas destruíram publicamente livros ligados ao comunismo; Ditadura de Pinochet no Chile (1973): livros censurados foram queimados após o golpe militar.

Outros Episódios: escritos Budistas nas Maldivas (1153): conversão ao islamismo resultou na destruição de livros budistas e execução de monges; Recaredo I, Rei dos Visigodos (c. 587): ordenou a queima de livros arianos após a sua conversão ao catolicismo.

Fernando Lopes Graça tem nas suas canções heróicas o poema de Carlos Oliveira que diz que «Não há machado que corte a raiz ao pensamento». É, mas, infelizmente, as machadadas tendem a não acabar.

Apetece-me repetir a frase de Lauren Groff: «Sei que não consigo mudar tudo, mas consigo transformar radicalmente pequeninas coisas se concentrar nelas todas as minhas forças.»

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quarta-feira, setembro 10, 2025

#TOLERÂNCIA255 - QUANTA AGRESSÃO O MUNDO TOLERA MAIS?

 #TOLERÂNCIA255 - QUANTA AGRESSÃO O MUNDO TOLERA MAIS?

Ouvi de manhã esta carta. Quando pude, fui procurá-la na Net. Traduzi-a depois no DeepSeek para português de Portugal.

O título do texto é mesmo este: "A Última Mensagem de Bertrand Russell: A Guerra Israel-Palestina"

Esta declaração sobre o Médio Oriente tem a data de 31 de Janeiro de 1970 e foi lida a 3 de Fevereiro, no dia seguinte à morte de Bertrand Russell, numa Conferência Internacional de Parlamentares, no Cairo:

«A última fase da guerra não declarada no Médio Oriente baseia-se num profundo erro de cálculo. Os bombardeamentos profundamente em território egípcio não vão persuadir a população civil a render-se, mas vão fortalecer a sua determinação para resistir. Esta é a lição de todos os bombardeamentos aéreos. Os vietnamitas, que suportaram anos de intensos bombardeamentos americanos, responderam não pela capitulação, mas por abater mais aeronaves inimigas. Em 1940, os meus próprios

compatriotas resistiram aos bombardeamentos de Hitler com uma unidade e determinação sem precedentes. Por esta razão, os actuais ataques israelitas irão falhar no seu propósito essencial, mas, ao mesmo tempo, devem ser vigorosamente condenados em todo o mundo. O desenvolvimento da crise no Médio Oriente é simultaneamente perigoso e instrutivo. Durante mais de 20 anos, Israel expandiu-se pela força das armas. Depois de cada etapa desta expansão, Israel apelou à "razão" e sugeriu "negociações". Este é o papel tradicional do poder imperial, porque deseja consolidar com o mínimo de dificuldade o que já tomou pela violência. Cada nova conquista torna-se a nova base da proposta de negociação a partir da força, que ignora a injustiça da agressão anterior.

»A agressão cometida por Israel deve ser condenada, não apenas porque nenhum estado tem o direito de anexar território estrangeiro, mas porque cada expansão é uma experiência para descobrir quanto mais agressão o mundo tolerará. Os refugiados que rodeiam a Palestina às centenas de milhar foram recentemente descritos pelo jornalista de Washington I.F. Stone como "a mó moral à volta do pescoço do judaísmo mundial". Muitos dos refugiados entram agora na sua terceira década de existência precária em assentamentos temporários.

»A tragédia do povo da Palestina é que o seu país foi "dado" por uma Potência estrangeira a outro povo para a criação de um novo Estado. O resultado foi que muitas centenas de milhares de pessoas inocentes foram permanentemente tornadas sem-abrigo. A cada novo conflito, o seu número aumentou. Por quanto tempo mais está o mundo disposto a suportar este espectáculo de crueldade gratuita? É abundantemente claro que os refugiados têm todo o direito à pátria de onde foram expulsos, e a negação deste direito está no cerne do conflito continuado. Nenhum povo em qualquer parte do mundo aceitaria ser expulso em massa do seu próprio país; como pode alguém exigir que o povo da Palestina aceite um castigo que mais ninguém toleraria? Um reassentamento justo e permanente dos refugiados na sua pátria é um ingrediente essencial de qualquer acordo genuíno no Médio Oriente.

»Dizem-nos frequentemente que devemos simpatizar com Israel devido ao sofrimento dos judeus na Europa às mãos dos Nazis. Não vejo nesta sugestão qualquer razão para perpetuar sofrimento algum. O que Israel está a fazer hoje não pode ser desculpado, e invocar os horrores do passado para justificar os do presente é uma hipocrisia grosseira. Israel não só condena um vasto número de refugiados à miséria, não só muitos árabes sob ocupação são condenados ao governo militar; mas Israel também condena as nações árabes, que apenas recentemente emergiram do estatuto colonial, a uma contínua empobrecimento, uma vez que as exigências militares têm precedência sobre o desenvolvimento nacional.

»Todos os que querem ver um fim ao derramamento de sangue no Médio Oriente devem garantir que qualquer acordo não contenha as sementes de um conflito futuro. A justiça exige que o primeiro passo para um acordo seja uma retirada israelita de todos os territórios ocupados em junho de 1967. É necessária uma nova campanha mundial para ajudar a trazer justiça ao tão sofrido povo do Médio Oriente.»(1)

Esta carta tem mais de 55 anos, quase 56.

Repito: "A tragédia do povo da Palestina é que o seu país foi "dado" por uma Potência estrangeira a outro povo para a criação de um novo Estado." A conivência dos poderosos continua a prevalecer sobre o concerto das nações e o desejo da Paz e Justiça mundial. Quanta agressão, imperial e colonialista, o Mundo aguenta mais?

(1) https://abdelmoumenchouichi.medium.com/bertrand-russells-last-message-israel-palestine-war-694eb7a7a99e

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terça-feira, setembro 09, 2025

#TOLERÂNCIA254 - AFECTOS: BARALHAR E VOLTAR A DAR

 #TOLERÂNCIA254 - AFECTOS: BARALHAR E VOLTAR A DAR

Estou a falar de afectos, de emoções e sentimentos. Penso que é salutar a gente, de vez em quando, fazer um 'check up' ao que sentimos, ao que pensamos, ao que dizemos deles; e ao que fazemos com eles. Não deixar a coisa assentar em registos e concepções que, aos poucos, com o tempo, se vão viciando, perdendo clareza e saúde.

É por isso que o texto que o Miguel Esteves Cardoso assina hoje no Público, na coluna "Ainda Ontem", com o título "Tratemos-nos como elefantes" me parece um texto especialmente feliz porque leva-nos ao remanuseamento das concepções dos afectos, ao tal 'check up' que considero útil, muito saudável. p MEC que não me leve a mal transcrever o texto na íntegra.

Imaginem a conversa que o texto não dará numa das nossas sessões de reflexão e troca de ideias acerca da Tolerância e dos afectos, valores e atitudes a que habitualmente a Tolerância se associa.

«Dizem que amar faz bem e odiar faz mal, mas amar também faz mal. Todas as emoções extremas fazem mal. Separá-las artificialmente não engana ninguém.

»Veja-se o amor. Esquecemo-nos de dormir, de comer, dos amigos, da família, e dos nossos próprios interesses enquanto seres independentes e humanos. Odiar faz muito mal. Adoece e mata. Envenena e entristece. É um triunfo não odiar. Custa, mas vale a pena. O coração é pequeno e não cabe lá nada: para quê enchê-lo do que não presta?

»O que faz bem não é amar. Mas também não é a indiferença. A indiferença é o contrário da vida. O que faz bem é uma indiferença que se enternece. É um encanto passageiro, uma compreensão dos

outros, um não ligar e deixar viver: um não querer impingir a ninguém o que pensamos.

»O objectivo é tentar pensar nos outros seres humanos como pensamos nos elefantes. Temos pelos elefantes um misto de respeito, ternura e de tolerância. Deixamo-los ser como são, mesmo quando são maus, por sabermos que dali por pouco serão espantosamente bons.

»Já fomos maus com os elefantes — e muitos de nós ainda somos. Mas estamos a melhorar, a sentirmo-nos cada vez mais abençoados por vivermos no mesmo mundo que eles.

»Amamos os elefantes? Não, quase nunca pensamos neles. Só quando os vemos é que nos lembramos do muito que gostamos deles. Mas gostar também dá para o torto. As pessoas de quem gostamos desiludem-nos.

»É muito melhor a indiferença fascinada, a curiosidade que consente, a aceitacão fácil, o sentirmos que andamos todos ao mesmo, e que estamos todos no mesmo barco. Ninguém tem o direito de se achar melhor do que os outros — ou, então, toda a gente tem.

»Se um elefante aparecer no cimo da rua, deambulando em direcção a nós — digamos, uma manifestação de extremistas, gritando em favor de uma coisa que abominamos — arranjamos sempre maneira de deixar que o elefante passe.

»Fazemos bem. Temos um bocadinho de medo, mas também um bocadinho de respeito e de compreensão.»

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segunda-feira, setembro 08, 2025

#TOLERÂNCIA253 - SÃO TODAS AS RELIGIÕES INTOLERANTES?

 #TOLERÂNCIA253 - SÃO TODAS AS RELIGIÕES INTOLERANTES?

O Instagram trouxe-me hoje de volta este pensamento cuja autoria é comummente atribuída ao famoso Arthur Clarke (1917-2008), autor e inventor britânico: «Uma das grandes tragédias da humanidade é que a moralidade foi sequestrada pela religião. Por isso, as pessoas agora assumem que a religião e a moralidade têm uma ligação necessária. Mas a base da moralidade é, na verdade, muito simples e não requer de todo uma religião.»

Seja qual seja o autor, sim, penso que é preciso fazer pedagogia que separe o que tanto está incrustado nas mentes culturais dos Povos, sobretudo, arrisco-me a dizê-lo, de credos religiosos essencialmente monoteístas, como é o caso do nosso País.

Ao princípio da tarde, li uma notícia no The Times (edição de hoje, sendo autor Kaya Burgess), com o título "Pessoas não-religiosas mantêm a fé em Deus e na vida após a morte — algumas até rezam.", que diz o seguinte:

«Um estudo concluiu que nem todos os britânicos que afirmam não seguir qualquer fé religiosa podem ser classificados como não-crentes totais, constatando que um terço acredita numa vida após a morte e um quarto acredita num deus. Quase metade da população, 46%, pode ser classificada como 'não

afiliada religiosamente', mas menos de metade deste número não possui crenças espirituais, de acordo com um relatório que analisa especificamente as opiniões daqueles que não pertencem a qualquer fé, descritos como 'religious nones' (não-religiosos). [...]

»[...] O Reino Unido tem a quarta proporção mais alta de ateus entre os países estudados, atrás da França, Suécia e Austrália. Tem a sexta maior proporção de pessoas não-religiosas, atrás do Japão, Países Baixos, Suécia, Austrália e Coreia do Sul. As pessoas não-religiosas no Reino Unido estão entre as mais propensas no mundo a afirmar que a religião 'encoraja a intolerância', ocupando o quinto lugar globalmente, em conjunto com os Países Baixos e a Grécia.

»No censo de 2001, 15% da população afirmou não ter religião. Em 2011, este número aumentou para 25%. Em 2021, atingiu 37,2%. Foi predominantemente o aumento de pessoas não-religiosas durante este período que fez com que a proporção de cristãos caísse abaixo de metade pela primeira vez.

»Os investigadores afirmaram: 'Apesar de o ateísmo ser comummente entendido como não acreditar em Deus, pequenas percentagens de inquiridos em muitos locais dizem ser ateus em resposta a uma questão de identificação religiosa, mas afirmam acreditar em Deus ou outras crenças religiosas ou espirituais noutras questões. Alguns académicos da religião argumentam que a inconsistência ou "incongruência" é na verdade a norma, e não a excepção, quando se analisa a fundo as identidades, crenças e práticas religiosas das pessoas em todo o mundo.'» [...]

Como tenho provavelmente um preconceito contra as religiões monoteístas, já que as considero as mais intolerantes de todas (as que têm na Bíblia e na Torá os textos sagrados fundamentais), fui fazer uma pesquisa rápida na Net, que me falou de intolerância religiosa na China e no Japão contra... os católicos. Imediatamente imaginei os missionários cristãos a tentarem a conversão dos gentios, de todos os gentios e de todos os poderosos, à fé monoteísta.

Independentemente de eu estar certo ou não, o que parece que é certo é, como mostra o estudo, a ideia de que a religião encoraja a intolerância afasta as pessoas dos credos e dos templos. Curiosamente, pessoas que querem acreditar em Deus e na vida depois da morte, só que querem viver a sua crença numa ambiência de tolerância que não encontram nas igrejas e templos tradicionais.

Entre as igrejas monoteístas, há alguma que não mantenha permanentemente o fito da conversão dos "infiéis"? Há alguma que não mantenha permanentemente o fito da obediência total? Obediência, mais do que a Deus, aos chefes religiosos bem terrenos? Para mim, um dos reptos mais desafiantes para os que creem em Deus é o dito que encontrei logo na primeira página dos "Ditos e Feitos dos Padres do Deserto": "Dizia o abade Mios: «Obediência por obediência. Se alguém obedece a Deus, Deus obedece-lhe.» Uau!... O dito reflecte uma relação pessoal, individual, entre Deus e o crente: «Deus obedece-lhe», o que é isto?

Seja o que seja, o que ressalta é a necessidade da Educação: informar, ajudar a pensar, a conversar, a trocar ideias e pontos de vista; a tomar decisões, a fazer opções; a aceitar a naturalidade dos erros e das inflexões que eles sugiram ou determinem.

Num tom de brincadeira, a chamar a atenção para a importância da "catequização" (mais educação, menos catequização, esta aqui entendida como inculcação ideológica), hoje também vi no Instagram um pequeno vídeo em que o autor explicava como os japoneses se tornaram profundos apreciadores de café. Muito arreigados à tradição do chá, os japoneses resistiram a todas as estratégias de introdução do café nos hábitos de consumo na sociedade japonesa. Resistiram a todas menos a uma: a da Nestlé. Que fez a Nestlé? Diz o senhor (Atenção! Não fui ainda verificar se é verdade ou não, talvez um dia, quando for ao Japão, confirme a tese do senhor do Instagram) que a Nestlé apostou na distribuição de gomas, rebuçados, caramelos e quejandos com sabor a café entre as crianças. Estas, quando cresceram, estavam "viciadas" no café. Verdade ou mentira, o que este caso anedótico mostra, mais uma vez, é o valor da Educação. De pequenino é que se torce o pepino, não é?

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domingo, setembro 07, 2025

#TOLERÂNCIA252 - TOLERAR O DESAFIO DA MODERAÇÃO

 #TOLERÂNCIA252 - TOLERAR O DESAFIO DA MODERAÇÃO

Em declarações recolhidas por Cécile Cazenave et Nabil Wakim, publicadas na edição de hoje do "Le Monde", François Sarano, antigo membro da tripulação do comandante Cousteau, é presentemente um cientista e mergulhador que defende a multiplicação de reservas marinhas, numa conversa centrada no presente e no futuro do Mediterrâneo.

A última frase da publicação do Le Monde é a seguinte: «Podemos viver felizes neste planeta se renunciarmos a um consumismo extractivista que não tem limites.» A que abre a entrevista, em jeito de subtítulo diz assim: «O Mediterrâneo pode voltar a ser rico, é preciso dar-lhe tempo.»

No caderno de apontamentos, para memória futura, escrevo: "#PEDAGOGIA252, como fazer a pedagogia da renúncia".

A certa altura da entrevista, os jornalistas perguntam a Sarano: «Quais são as consequências das alterações climáticas no Mediterrâneo?»

Ele responde: «Uma atmosfera muito quente provoca uma grande evaporação. A água torna-se muito

mais salgada e muito mais pesada. Vai afundar-se e circular por todo o Mediterrâneo a 400 ou 500 metros de profundidade, para depois sair pelo estreito de Gibraltar. É, portanto, todo o sistema de circulação oceânica que é modificado devido ao aumento da temperatura atmosférica.

»A vida marinha, por outro lado, é diretamente afectada pelo aumento das temperaturas oceânicas. Todos os organismos marinhos – baleias, tartarugas, tubarões, holotúrias, estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, atuns-rabilhos, sardinhas – passam, de facto, durante a sua vida, por um curto período nas águas superficiais, na forma de ovos e larvas que não toleram a mais pequena variação de temperatura ou salinidade.

»Nos últimos dois anos, as águas superficiais do Mediterrâneo, até aos 70 metros de profundidade, sofreram episódios de calor extremo terríveis. Não são apenas os animais fixos – corais, gorgónias, esponjas – que sofrem o impacto deste aquecimento, mas todos os organismos planctónicos. Estamos a redefinir por completo o mapa dos ecossistemas.»

O Deus de Einstein não brincava aos dados, mas parece que o Ser Humano está constantemente a fazê-lo. Penso que conscientemente ou inconscientemente muitos de nós — incluindo os que se assumem como estando alertados e pensam-se como praticando comportamentos amigos dos ecossistemas e do Planeta — se deixam levar pelo «É só mais esta vez...», pelo «No meio de tantos milhões, que diferença faz mais um ou menos um...», ou por outras desculpas que denunciam que, na verdade, não estamos mesmo dispostos a renunciar ao excesso e a optar pela moderação.

Tolerar ou aceitar que não podemos querer tudo, que temos mesmo de moderar os consumos, não é fácil. Cá está: pede renúncia. Verdadeiramente, nunca abandonámos o mito da abundância. Nem a terrível máquina da publicidade e propaganda empresarial e económica nos deixa reduzi-lo um pouquinho que seja.

Uma conjugação, por muito difícil que seja, entre as acções da Educação e da Política é necessária. Passa-me pela cabeça chamar ao esforço a Teoria dos Jogos, que ela aprofunde a consciência, a sensibilidade, a habituação a que quem ganha é quem renuncia ou que quem renuncia é quem ganha.

Fui "falar" com um dos 'chatbots' habituais e pedi-lhe que inventasse um jogo de renúncia para ser jogado em sala de aula. Esta primeira abordagem deixou-me satisfeito, bastante satisfeito! Tão satisfeito (espremi-o bem!) que a seguir "falei" com os outros. Tenho agora 4 jogos de sensibilização pedagógica ao valor da renúncia individual num ambiente em que não se conhecem as atitudes dos outros (competitiva ou cooperativa) e em que todos correm o risco de perder se não cooperarem satisfatoriamente.

Inspirei-me na ideia que tenho do que era a tradição cooperativa dos produtores de conhaque ao tempo do pai de Jean Monnet, e que tanto inspirou este obreiro central do Ideal da União Europeia. Não será fácil aos jovens, sobretudo em experiências pontuais, saberem onde começam e acabam a Tolerância, a Aceitação e a Renúncia para um bem comum quando é indispensável o uso de recursos (naturais ou outros; finitos, embora renováveis) necessários a todos, mas que precisam ser geridos com moderação também por todos, inibindo as tentações de "Salve-se quem puder", ou as de uso tão intenso que mata, as galinhas de ovos de ouro.

Depois de testar os jogos, arranjarei maneira de os partilhar publicamente.

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sábado, setembro 06, 2025

#TOLERÂNCIA251 - TOMA LÁ, DÁ CÁ. O ATLÂNTICO PELO MEIO

 #TOLERÂNCIA251 - TOMA LÁ, DÁ CÁ. O ATLÂNTICO PELO MEIO

Hoje foi um daqueles dias em que a oportunidade para a escrita se ficou pelo mínimo dos mínimos. À pressa, dei uma olhadela pelos jornais, os nacionais e os estrangeiros.

Chamou-me a atenção a ocorrência de um jornal francês (Le Monde) ter duas notícias acerca das turbulências ligadas à intolerância da liderança de Donald Trump, e um jornal norte-americano (edição norte-americana do FTWeekend) ter uma notícia sobre o radicalismo político, intolerante, que aumenta

na Assembleia Nacional Francesa.

Como não tenho tempo de aprofundar, hoje, estas leituras, vou guardar os jornais para ler calmamente, mais tarde, quando tiver tempo.

Mas fica o pensamento acerca da maneira como cidadãos, Povos e países se vêem ao espelho e como vêem os outros. Mais uma vez tomo contacto com a necessidade de produzir materiais que ajudem a tomarmos consciência dos estereótipos e preconceitos duns em relação aos outros.

Também tomo consciência de que é importante cada um saber mais acerca da organização política dos outros países e como funcionam as instituições oficiais ligadas aos poderes legislativo, executivo e judiciário do nosso e dos outros países. E a cultura de cidadania, mais activa aqui, mais passiva ali.

Pronto, fica este registo guardado no bloco-notas.

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sexta-feira, setembro 05, 2025

#TOLERÂNCIA250 - OS RECURSOS DA IA AO SERVIÇO DA PEDAGOGIA DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA250 - OS RECURSOS DA I.A. AO SERVIÇO DA PEDAGOGIA DA TOLERÂNCIA

Hoje, na escola, aprendi coisas muito interessantes com o meu querido colega Miguel Simões acerca dos recursos da Inteligência Artificial nas escolas, no ensino.

Cheguei a casa e fui logo experimentar duas delas, ambas com muito sucesso. Criei 3 canções de embalar para o elemento mais novo da família, o Henrique, que está à beira de fazer 6 meses.

A outra foi o NotebookLM. Peguei nos textos que escrevi sobre a Tolerância até ao dia 24 de Junho (ou seja, 177 textos. Serão 366) e pedi-lhe que os analisasse e fizesse um resumo em vídeo. Aqui está o que ele produziu.

Fico satisfeito, muito satisfeito! Se um dos meus grandes objectivos é partilhar pensamentos, perspectivas, opiniões, práticas, tentativas-e-erros, tudo isto à volta da Pedagogia e Educação da Tolerância, sim, acho que estou a consegui-lo — o que me dá um alento muito grande para o terço que falta da viagem.

O 'link' do meu vídeo: https://studio.youtube.com/video/EDVyAaXpm6c/edit

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quinta-feira, setembro 04, 2025

#TOLERÂNCIA249 - DO ÉDITO DE MILÃO AO ÉDITO DE VERSALHES

 #TOLERÂNCIA249 - DO ÉDITO DE MILÃO AO ÉDITO DE VERSALHES

"Tropecei" hoje numa obra sobre a Revolução Francesa. Pus-me uma pergunta, pesquisei na Net, cheguei ao Édito de Milão.

O Édito de Milão é de 313, o Édito de Versalhes é de 1787. O Édito de Milão concede liberdade de culto religioso aos cristãos. O Édito de Versalhes concede o acesso aos direitos cívicos aos não-católicos. O Édito de Milão refere-se ao Império Romano. O Édito de Versalhes refere-se ao Reino de França e de Navarra. O Édito de Milão foi proclamado pelos imperadores Constantino (Ocidente) e Licínio (Oriente). O Édito de Versalhes foi determinado por Luís XVI.

Postas assim as coisas, apetece dizer: «As voltas que o mundo dá...»

O Édito de Milão não tornou o Cristianismo a religião oficial do Império e o Édito de Versalhes não deixou de manter o Catolicismo como credo religioso oficial do Estado e não abriu a liberdade de culto aos não-católicos.

Nenhum dos documentos contém a palavra "tolerância", mas o Édito de Milão está historicamente consagrado como o primeiro grande marco de expressão oficial da Tolerância; e o Édito de Versalhes, a História também o consagrou como "Édito da Tolerância".

Um e outro documento dão testemunho das imperfeições, das insuficiências, das limitações que vão da intenção à acção; e também da amplitude da acção.

Só sob o reinado de Teodósio I (Édito de Tessalónica, 380 d.C.), o Cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. O Édito de Milão declarou neutralidade religiosa e liberdade de culto para

todas as religiões, terminando oficialmente com as perseguições.

Quanto à liberdade liberdade religiosa dos reinos de França e Navarra, só seria finalmente estabelecida com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, no início da Revolução Francesa.

Não são simples, nem directas, nem automáticas, as mudanças e as transformações que acontecem por decretos. Aliás, os próprios decretos, o mais das vezes, são resultados de dinâmicas de mudança social ou cultural (ou económica, ligada ao poder do dinheiro e de quem o tem) que já estão a acontecer, e os decretos reflectem-nas. Reflectem uma nova ambiência, um novo olhar: ambiência e olhar de Tolerância que já anda no ar...

São assim os difíceis e complexos processos da Tolerância ao nível dos grandes grupos humanos. Vem-me à cabeça a impressionante história da cidade de Lviv...

João Ribeiro-Bidaoui, adivinho que terá na cabeça a monumental obra "Estrada Leste Oeste", de Philippe Sands, quando escreve assim no Diário de Notícias em 14 de Março de 2022:

«Lviv, ou Leópolis, já foi polaca, austríaca, austro-húngara, novamente polaca, russa, ucraniana ocidental, alemã, soviética e, desde a queda do muro de Berlim, ucraniana. Quis o destino que nessa cidade, quase tão velha como Portugal, dois jovens, o austro-húngaro Lauterpacht e o bielorrusso Lemkin, frequentassem, em momentos diferentes, a mesma universidade.

»Foram ambos pupilos de um professor de Direito chamado Makarewicz, durante a Grande Guerra e nos anos que se lhe seguiram. Tal facto é absolutamente extraordinário porque Lauterpacht, cujo nome baptiza o Centro para o Direito Internacional da Universidade de Cambridge, é o pai da formulação "crimes contra a humanidade". E Lemkin é o criador do neologismo "genocídio". Para tal coincidência cósmica não terá sido alheio tudo o que consabidamente ouviram de Makarewicz sobre os massacres dos arménios pelo império otomano, um dos crimes mais hediondos e menos conhecidos da história.»(1)

Já várias vezes aqui constatei que vivemos tempos de, isso mesmo, hediondas intolerâncias e muita desumanidade. É verdade, os valores do respeito, da justiça e da equidade nunca estão completamente adquiridos.

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(1) https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/todos-os-caminhos-da-justica-vao-dar-a-lviv-14677654.html

quarta-feira, setembro 03, 2025

#TOLERÂNCIA248 - SER TOLERANTE REDUZ A VIOLÊNCIA

 #TOLERÂNCIA248 - SER TOLERANTE REDUZ A VIOLÊNCIA

Há muito que mantenho o interesse por encontrar na Comunicação Social doutros países escritos que falem da Tolerância. Hoje encontrei qualquer coisa no New York Times: o comentário dum leitor a um texto de opinião no jornal, na edição do dia 21 de Agosto.

Num texto de opinião, a que deu o título "A Ascensão do Niilismo de Direita", o autor, David Brooks, diz, resumidamente, que a hegemonia progressista [Penso que ele quer dizer democrática, nos EUA, e de Esquerda na Europa] na cultura, educação e 'media' nas sociedades ocidentais está a gerar uma reacção violenta por parte de cidadãos e partidos mais conservadores, quer dizer, de Direita. Perante um ambiente que consideram asfixiante, muitos adoptam uma postura de conformidade silenciosa, enquanto outros se revoltam.

Diz David Brooks que a revolta assume duas formas principais: uma de 'desmantelamento' de instituições progressistas e outra, mais radical, de 'nihilismo'. O nihilismo rejeita não apenas as ideias progressistas, mas a própria noção de verdade e valor, defendendo a destruição pura do 'status quo', sem propor alternativas. [O jornalista italiano de há poucos dias também falava disto, não era?]

O autor alerta ainda para que este nihilismo, alimentado pelo declínio da fé nas instituições e pela perda de referências culturais, é uma força cultural destrutiva que pode levar ao caos, traçando um paralelo histórico com períodos turbulentos na Rússia e na Alemanha. A única nota positiva apontada é um renovado interesse de jovens por igrejas tradicionais, numa busca de significado e fé num mundo percepcionado como vazio.

A resposta que hoje o o NYT publica, o tal comentário que me chamou a atenção, contrapõe o seguinte:

«O Sr. Brooks escreve que não compreende bem por que razão as pessoas instruídas são mais progressistas a nível social, ignorando o que acontece à medida que nos tornamos mais instruídos. Primeiro, nós lemos, expondo-nos a pontos de vista mais diversificados. Segundo, vamos para a universidade, geralmente para longe das comunidades onde crescemos. E terceiro, somos ensinados a

pensar de forma crítica, o que leva a sermos cépticos em relação à autoridade.

»Estas experiências ensinam-nos a ser mais empáticos. Também percebemos que a violência não resolve problemas. Suprimir a diversidade exige violência. Ser tolerante reduz a violência.

»É por isso que os autocratas detestam a educação. Os autocratas querem ovelhas, e não pensadores independentes.» (Richard McCann, Davis, Califórnia)

O sr. Richard McCann, não sei se é especialista de alguma coisa... A resposta parece-me dum cidadão ponderado, com uma mundividência interessante; e escrita com clareza, cordialidade e respeito. Gostei muito de ler o que ele escreve (em tão pouco!) sobre Educação, Diversidade, Empatia, Violência e Tolerância.

Vou guardar numa pequenina pasta o texto de David Brooks, a apreciação de Richard McCann; e, já agora, as apreciações de outros leitores ao mesmo texto que a edição de hoje do NYT também traz. Vão dar, de certeza, uma sessão de discussão e reflexão sobre a Tolerância muito interessante.

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terça-feira, setembro 02, 2025

#TOLERÂNCIA247 - A PSICOLOGIA GENÉTICA DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA247 - A PSICOLOGIA GENÉTICA DA TOLERÂNCIA

Psicologia Genética eu sei o que é: é o ramo da Psicologia que se ocupa com o estudo do surgimento, expansão e desenvolvimento das funções psicológicas e do seu declínio desde o nascimento até à velhice. Sim, basicamente é isto

Sobre a Psicologia Genética da Tolerância, pois, não sei nada... Mas gostava muito de saber.

O olhar e o pensamento que se tem sobre um bebé que observamos longamente tem sempre um lado adultomórfico. Ainda bem! Esse lado ajuda-nos a entender os bebés, e só é negativo quando é único e ocupa todo o espaço mental do adulto que observa o bebé e se ocupa com ele.

A maneira como, em geral, os bebés aceitam o manuseamento que os adultos fazem deles devia-nos fazer pensar... Os bebés toleram tudo. Bem, provavelmente, eu não deveria usar aqui o verbo tolerar, mas sim o verbo aceitar. Se tolerar tem a ver com a diferença e o reconhecimento da diferença, então aceitar, sim, estará melhor: os bebés aceitam.

Quando o bebé faz um esgar de desagrado por um alimento novo está a reconhecer a diferença do alimento ou não? Quando o bebé começa a expressar a "angústia do estranho" está a mostrar que reconhece a diferença daquele rosto ou apenas a tomar consciência (ui!, outra concepção adultomórfica) do não-familiar?

O bebé desde que nasce tem contacto com pessoas que são todas diferentes, mas quando é que a criança percebe que uma pessoas são mais diferentes do que outras? Que quota-parte de responsabilidade cabe ao simples desenvolvimento das funções cognitivas e que quota-parte cabe à educação familiar e à influência cultural?

A aprendizagem por discriminação é uma das principais formas de aprendizagem. Discrimina-se o que não é igual, o que é diferente.

Em que momento é que o bebé (e depois a criança) passa a não aceitar o que reconhece como diferente? É quando os seus processos cognitivos se desenvolvem suficientemente para ter bem claras as diferenças ou quando elas simplesmente lhe provocam desagradáveis experiências de dissonância cognitiva? É quando a influência familiar e cultural se impregna de forma consistente por imitação ou inculcação? É quando as próprias experiências pessoais se acumulam como aprendizagens sociais negativas?

Todas estas interrogações e muitas maus que certamente por preguiça de esforço mental (talvez esteja a ser demasiadamente duro comigo próprio: não será por preguiça, mas não estarem ainda suficientemente clarificadas na minha cabeça), talvez não as devesse trazer a público, mas parece-me, neste momento da viagem, que é um campo por explorar, quem sabe, talvez desperte nalgum leitor a motivação para fazer uma investigação deste assunto e depois produza uma tese ou um relatório interessante.

Aprendemos com Jean Piaget a determinar o surgimento de aquisições cognitivas, por exemplo, a permanência do objecto, a conservação e a reversibilidade, o raciocínio abstracto, etc. Poderemos alguma vez determinar a aquisição da capacidade, ou competência, ou esquema, ou matriz, ou..., ou..., ou..., da tolerância no desenvolvimento do bebé ou da criança?

Alguns colegas meus devem estar a arrepiar-se com algumas coisas ou mesmo tudo que estou a dizer, mas eu estou só a falar para dentro... Não estou comprometido com nenhum contrato de investigação ou tese. Estou em viagem exploratória, alguma vez tinha de vir a esta estação, alguma vez tinha de pensar nisto? A razão derradeira para ser hoje? Se calhar porque andei na rua um bom par de minutos com um bebé de menos de 6 meses ao colo e fui observado o que ele fazia, o que ele olhava — e tanta gente ele olhou! —, até a sombra que ele e eu projectávamos no chão e seguia à nossa frente. Ele, curioso, até se distraiu dos dentes a romper, largou o cordão da chupeta que durante algum tempo foi mantendo na boca, direi que tolerando, ou pacientemente aceitando, o incómodo que se vai espalhando por toda a boca. (Já agora, o "pacientemente" não é também um adultomorfismo?)

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