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segunda-feira, junho 01, 2015

Em jeito de pequenina aula aos meus alunos - Sobre pintos, galinhas, árvores, florestas e medos

AFINAL, UMA ANDORINHA FAZ MESMO, SOZINHA, A PRIMAVERA.

Ou, uma árvore basta mesmo para fazer a floresta.
Na cabeça de um jornalista muito pouco responsável, e que é pai com olhos de mãe-coruja. É o que concluo assim depois de ler esta pequena notícia. Dela retiro este pequeno excerto:
Tim Lott, cronistas do The Guardian, lançou o alerta: as crianças de hoje já não têm medo do escuro. Temem o fracasso. E esta conclusão surgiu depois de ter perguntado a uma das suas filhas qual o seu maior receio, e sem hesitação surgiu a resposta: “falhar”.
Reagi imediatamente com alguma irritação, mas como tenho andado a dizer aos meus alunos para se esforçarem e formarem opiniões com base em percepções bem informadas, fui ler o texto original.
 Pois, afinal Tim Lott não disse o que as "Notícias ao Minuto" afirmam, naturalmente em resultado de uma leitura apressada do jornalista que construiu a pequena notícia.
Até porque Tim Lott põe o dedo na ferida:
Children’s fears are a litmus test of the society we live in and they are clearly changing – becoming more concrete – as society becomes more performance-driven, insecure and saturated with threatening, upsetting facts. (1)
Cá está, as crianças apenas - no fundo, desde que os grupos animais (incluindo os humanos) existem e os seus elementos regulam os seus comportamentos através da imitação dos mais velhos pelos mais novos - reagem em razão das ocorrências sociais, das exigências pessoais que são determinadas pelos valores e os objectivos dominantes ( e que nas sociedades modernas reflectem a ditadura do Mercado, do Dinheiro e do Consumo Material); e reagem também em razão da (des)educação que cada vez mais os governos impõem à organização escolar dos seus países.
No seu texto - lúcido e sábio - Tim Lott diz mais, citando outros autores:
“To conquer fear is the beginning of wisdom,” said Bertrand Russell, (...)  I agree wholeheartedly with Aung San Suu Kyi – “The only real prison is fear and the only real freedom is freedom from fear.” (2)
E remata a sua reflexão dizendo:
Courage is not being free from fear, however. Courage is not allowing fear to distort your purposes and cramp your life. We all have secret fears and to deny it is to deny some essential element of our personalities. But if you can do one thing for your children, show them bravery, so that they learn bravery themselves. For courage is the wellspring from which an authentic life flows. (3)
CONCLUSÃO: Há jornalistas e jornalistas: uns escrevem bem, e outros distorcem perigosamente o que os outros, escrevem. Diz a sabedoria popular que "Galinhas apressadas têm pintos carecas".
Queridos alunos, como tantas vezes vos tenho dito, desconfiem até do mais "pinto-ado" dos psicólogos! E nunca deixem de informar bem as vossas opiniões!
Beijos e abraços para todos!

(1)  Os medos das crianças são uma prova de fogo da sociedade em que vivemos, e estão mudando claramente - tornando-se mais concretos - à medida que a sociedade se torna orientada para o sucesso, insegura e saturada de ameaças e  factos perturbadores.
(2) "Vencer o medo é o primeiro passo para a sabedoria" dizia Bertrand Russel [Como eu muito agradavelmente me lembro do lema que durante muitos anos orientou o sentido das actividas da associação juvenil "Os Traquinas da Boa Vida": Vencer o Medo com o Prazer da Cultura.], (...) Concordo, do fundo do coração, com Aung San Suu Kyi - "A única verdadeira prisão é o medo e a única verdadeira liberdade é a libertação do medo".
(3) Coragem não é ser livre de sentir medo, no entanto. Coragem não é permitir que o medo distorça os nossos objectivos e nos ponha obstáculos na vida. Nós todos temos medos secretos e negá-lo é negar um elemento essencial de nossas personalidades. Mas se você pode fazer uma coisa pelos os seus filhos, mostre-lhes coragem, para que eles aprendam a bravura a partir de dentro deles mesmos. É que a coragem é a fonte a partir da qual uma autêntica vida flui.

domingo, outubro 12, 2014

A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.

A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.
Na sexta-feira passada cheguei à escola um pouquinho mais tarde que o costume. A riscar o estar atrasado! Detesto chegar atrasado às aulas!
Logo que passei o portão de entrada, estuguei ainda mais o passo, para atacar as escadas tão depressa quanto pudesse. Um grito de criança, atrás de mim, obrigou-me a parar, ainda não chegara sequer ao primeiro degrau: "Amigo!..." Voltei-me. A correr para mim, de mão esticada, francamente aberta à procura da minha, um lindo sorriso de criança transportou consigo estas tão aconchegantes palavras: "Que bom começar o dia a cumprimentar um amigo!..."
Eh, lá!... Reconheci as minhas próprias palavras, das outras vezes, das vezes habituais, em que entro na escola em passo bem mais sereno, cumprimento este, pergunto aquilo àquele, desejo um bom dia de trabalho a outro, ou faço nariz torcido aquele outro, o que está logo ali às oito da manhã pendurado num cigarro.
Ali estava eu, parado, preso às minhas próprias palavras. As nossas mãos trocaram-se. Os olhos do petiz, francamente postos nos meus, eram o eco saboroso do sentido das palavras que agora a memória confirmava. Os dentes brancos, alinhados como se deseja, uns a seguir aos outros, mantinham, bem pertinho, o sorriso luminoso que antes, mais longe, me prendeu à beira das escadas. Sim, tomei consciência que estava a testemunhar que alguém um dia escutou as palavras que eu disse; um dia as sentiu; e as guardou; e hoje as trouxe ao sítio e ao momento de que eu agora quase fugia.
Evidentemente, perdi toda a pressa - aquele era um momento de ouro, que apareceu trazido pelo coração notável de uma criança que sabe reconhecer e sabe ser grata. Que pede pouco e que tem noção do que vale muito - pelo menos para si própria. Olho-a no tamanho que o 5.º ano de escolaridade torna possível aos alunos. Mas só uma criança deste tamanho, com o coração e o pensamento que as crianças deste tamanho têm, faz o que esta fez.
Uma criança, ou jovem, mais velho, aluno da escola, ter-me-ia olhado com benevolência e teria desabafado, pelo menos, em pensamento: "Deixa-o ir, já vai atrasado, coitado..."
Acabei por subir as escadas com o vagar do costume, olhando com quem me cruzava. Os meus alunos, quando pouco depois entrasse na sala de aula, seguramente me perdoariam (hummm... não deveria ter escrito "agradeceriam"?) o excepcional atraso.

terça-feira, junho 17, 2014

Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?

Quando (entrevista em 11 de junho) o jornalista Henrique Cymerman questionou o Papa Francisco sobre a sua relação difícil com o "protocolo", o Papa deu-lhe uma resposta magistral! Assim:
Papa Francisco: - Sabe a diferença que existe entre Terrorismo e Protocolo?
Cymerman: - Não...
Papa Francisco: - É que com o Terrorismo pode-se negociar...
Ui!... Que aviso!... Como costumamos dizer, que chapada de luva branca!... As escolas estão cheias de protocolos; a política está cheia de protocolos; as relações institucionais, em geral, estão cheias de protocolos... É evidente que alguns são necessários. Em certa medida, os rituais sociais e culturais são protocolos. Como dizia Konrad Lorenz, servem o objectivo de controlar a agressividade. Mas há rituais, há protocolos; e há muitos exageros de protocolos.
Veja-se hoje como um homem que, como ele próprio um dia disse, "não foi tocado pelo dom da fé - estou a falar de Mário Soares - fala hoje do Papa Francisco num artigo que faz publicar no Diário de Notícias.

domingo, março 30, 2014

A educação sexual não deve ser ativa

"A educação sexual não deve ser activa. Deve o adulto explicar à criança aquilo que ela quer saber e isso dizia-o Claparède e deve falar-se sempre seriamente nos assuntos. O adulto pode brincar com a criança, brincar com as palavras, fazer trocadilhos e toda a espécie de jogos verbais que entender. Mas quando trata de assuntos sérios deve-os tratar seriamente. Se o adulto for capaz de falar seriamente dos problemas sexuais e dos problemas que se deparam à criança, então, realmente ele está em condições de fazer a educação sexual. A educação sexual não é educação para ser feita a crianças, mas para ser feita a adultos, os pais é que devem ser educados sob o ponto de vista sexual para terem um comportamento capaz de inspirar uma atitude normal na criança." (João dos Santos, texto recolhido da gravação de uma conferência proferida no Porto, na Ordem dos Médicos, em 14 de março de 1957; texto não revisto pelo autor)
Não é por acaso que trago para aqui este pensamento do dr. João dos Santos no mesmo dia em que levei para o blogue "Mais Pessoa Pouco a Pouco" um pequeno apontamento sobre os três princípios da Educação tradicional romana, segundo Cícero -  http://maispessoapoucoapouco.blogspot.pt/2014/03/os-tres-imortais-principios-da-educacao.html

sábado, janeiro 25, 2014

Um hino à bondade genuína que a educação natural cultiva

O texto é de Mia Couto.
"Texto ligeiro", como diz o autor, recolhido no Pensageiro Frequente, publicado pela Caminho. Em rigor, é uma parte do texto "As águas da terra" (p. 99), originalmente publicado na revista de bordo das Linhas Aéreas Moçambicanas, em abril de 2005.
Para mim, a ocorrência relatada, mesmo que literariamente, por Mia Couto, é um hino ao que as crianças, em geral (quer dizer, todos nós), são capazes de fazer a partir da sua natureza social ingénua, espontânea, discretamente apoiada ou reforçada por educação pessoal, familiar, simples, que valorize a comunhão e a partilha, mais que a competição, a apropriação individual e a maximização perfecionistas das ações.

Este "subtexto" chama-se MAPUTO.
Maputo tem uma dívida permanente com o rio Umbeluzi. A cidade bebe das suas águas. Subo de canoa, contra a corrente, e vou parando nas margens lodosas. Ali, em pleno estuário, o Umbeluzi é rio ou é mar? As águas são salobras, as marés comandam, a vegetação nas margens são típicos mangais. Estamos mais em ambiente marinho que fluvial.

Vejo, então, o pequeno pastor trazendo os bois que se apressam para a margem. Parecem conhecer o provérbio local que diz: “O boi que chega primeiro é o que bebe água mais limpa.” O menino senta-se sob uma sombra mais pequena que ele. De uma sacola encardida retira uma xigovia. Sopra na pequena cabaça e faz soar a improvisada flauta. A melodia, confesso, era monocórdica.

Para mim, naquele momento, soava como uma sinfonia. E acenei, da canoa. Não me respondeu. Não me percebeu o gesto. Entendeu, sim, que eu lhe pedia a cabaça. Ainda hesitou, por um momento. Mas, de súbito, fez lançar pelo ar a xigovia. Com algum esforço, juntei ambas as mãos e apanhei o fruto da nsala. Ainda hoje guardo a xigovia desse menino que não terá nome mas que, para mim, tem a história de um encontro.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

"Homenagem a Eusébio" - Luís Filipe Borges - 5 Para a Meia Noite

Aos poucos, irei aqui enumerando as razões porque considero que este pequeno discurso tem uma miríade de potencialidades pedagógicas, que podem ser tranquilamente exploradas na educação, também tranquila, das crianças e dos jovens.

quinta-feira, abril 25, 2013

25 de abril, sempre! Em 2013.


Este é o poema que escolhi para o 25 de abril de 2013. Porque penso que são cada vez maiores e mais poderosas, mesmo que menos nítidas ou imediatamente visíveis, as prisões em que confinamos as crianças e os jovens e lhes comprometemos irremediavelmente o futuro. 


25 de abril, sempre!
PELO FUTURO DAS CRIANÇAS E DOS JOVENS DE HOJE
Por razões que eles mesmos conhecem (será que conhecem mesmo?, ou só eu conheço as razões por que eles me marcaram para os destacar nesta ocasião?...), dedico estes versos especialmente à Maria João, à Vanda Menezes, ao Márcio Perdigão, ao João de Matos, ao Fábio Fernandes, ao Hugo Fernandes e ao Ricardo de Sousa.

"Camaradas, para a Con
[Condessa Constance Markievicz, defensora dos direitos humanos irlandesa]
A noite tranquila que me rodeia flui,
Rompe pelas portas de ferro da tua prisão,
Livre pelo mundo o teu espírito vai,
Mãos proibidas entrelaçam-se nas tuas.
O vento é nosso cúmplice
A noite deixou as portas entreabertas;
Voltaremos a encontrar-nos para lá das grades dos portões da Terra,
Lá, onde todos os rebeldes selvagens do Mundo estão."
- Eva Gore-Booth
[irmã de Con]
Chris Newman, o Patrick
Comrades, To Con
The peaceful night that round me flows,
Breaks through your iron prison doors,
Free through the world your spirit goes,
Forbidden hands are clasping yours.
The wind is our confederate
The night has left the doors ajar;
We meet beyond earth's barred gate,
Where all the world's wild rebels are.
- Eva Gore-Booth
Estes versos são recitados de cor pelo personagem Patrick, praticamente no final do filme "Song for a raggy boy", quando o professor Franklin se encaminha para a saída do reformatório, de malas na mão.
http://www.youtube.com/watch?v=EWiVx7SyGdA&list=PL1A4B4C8512642559

Constance e Eva eram ambas ativistas políticas irlandesas. Ambas se empenharam na defesa dos pobres e dos mais desfavorecidos. Constance foi presa e condenada à morte. Entretanto, dado ser uma mulher, a pena foi comutada para prisão perpétua. Beneficiou de uma amnistia em 1917, mas pouco depois voltou a ser presa; até que foi libertada novamente. Eva morreu em 1926 (aos 56 anos) e Constance em 1927 (aos 59 anos).


terça-feira, março 26, 2013

A lição dos amigos


A lição dos amigos
O Luís, sim, esse, o que se sentia no fundo do poço e a irmã desafiou a cavar ainda mais fundo, tem 3 filhos. Um deles é um rapazinho.
O breu do poço de onde o Luís saiu a pulso firme deu lugar à luz franca dos horizontes abertos; do trabalho e das relações pessoais positivas. A vida do jovem e integrado cidadão ganhou consistência, a pressão que quase impedia o fôlego deu espaço à folga que permitia o suspiro tranquilo.
O pai e a mãe do filho do Luís, num dia que a tradição diz que é de prendas para os miúdos – seria natal do Menino Jesus, ou natal do menino do Luís, não importa qual seria –, sentiam-se em condições de ir um pouco mais além na sofisticação do presente para o filho de ambos. Dois presentes, um do pai e um da mãe. Duas ideias, também, sobre o filho, uma do pai e outra da mãe. Dois objetivos também; sem querer, de boa-fé, ambos prendiam o filho ao brinquedo que ousavam para o filho, ambos arriscando a disponibilidade financeira da família. Mas o futuro era risonho e promissor; agora, nem uma réstia do breu difícil de tempos que se distanciavam cada vez mais.
Ignorando-se reciprocamente a início, num quase divertido jogo das escondidas, os brinquedos do pai e da mãe disputavam o filho:
a mãe escolheu um daqueles aparelhos modernos, sofisticados, de comandos à medida dos dedos ágeis infantis, que prendem as crianças, em casa, ao ecrã de televisão ou do computador;
o pai desafiou-se num pagamento a prestações, e comprou uma motoreta de quinhentos euros, que poria o filho na rua.
Estão todos juntos, é hora de os pais darem os presentes e do filho os desembrulhar.
A reacção do rapazinho ao presente do pai deixará adivinhar a reacção ao presente da mãe. O pai olha o filho, com ansiosa expetativa, enquanto ele desembrulha o presente. Sente-se bem, feliz de ter conquistado as condições para poder dar ao filho que tanto amava um brinquedo que simboliza a vida tomada nas mãos com algum desafogo. O jovem pai antecipa a alegria exuberante do filho, só não sabe se ele vai saltar primeiro para o selim da motoreta ou para o colo do pai.
Na hora de uma ou outra coisa acontecer, prenda completamente desembrulhada, o filho não faz uma coisa, nem a outra. O rapazinho mira quase indolentemente o magnífico presente.
Agora ansioso por outra razão, o pai pergunta ao filho:
- Então, filho, não gostas da mota?...
O miúdo tenta não desapontar o pai, mas também não consegue sentir, nem sequer fingir a alegria que o pai quer que ele mostre.
- Eu gosto, pai…
- Então, parece que não ficaste muito entusiasmado… insiste o pai, sem conseguir ver-se aliviado daquela ansiedade, à beira de se tornar numa deceção inesperada e indesejada.
O filho vira-se para o pai e, com a serenidade que expõe a sólida confiança e franqueza a que a educação dos pais levara já a personalidade em formação do filho, olha-o e diz-lhe:
- Ó pai, a mota é gira, mas não dá para o que eu quero…
- E o que é que tu queres, filho?... estranha o ansioso pai.
- É que a mota não dá para eu brincar com os meus amigos, pai… A mota é para eu brincar sozinho, só dá para um, e eu quero brincar com os meus amigos.
É isto a vida, é isto essa coisa extraordinária que é as relações que as pessoas são capazes de estabelecer umas com as outras. Este filho, com este sentir, sim, ele é que acaba sendo o verdadeiro presente – do filho para os pais, que – coitados! – tanto amor e tanto risco de si mesmos tinham posto nos presentes de valor que queriam dar ao filho.
Quanto vale, quanto custa, em dinheiro, o sentir espontâneo da amizade, do companheirismo, numa criança da idade do filho do Luís? Quanto mostra esta genuína forma de sentir do amor e dos valores recebidos pelo filho dos seus pais?
Numa perceção vertiginosa, o pai reviu as vicissitudes da sua própria vida, os afetos, as cumplicidades e os conflitos que o aproximaram e o afastaram dos outros, os amigos e a sociedade.
O Luís e a mãe do seu filho, o filho de ambos, seguramente se tornaram melhores pais, melhores pessoas a partir deste dia. E mimaram com redobrado carinho este filho precioso.
Quem, com esta história - história verdadeira -  não ficará a pensar sobre os presentes que já deu, que gostaria de dar e que vale a pena dar?

sexta-feira, julho 01, 2011

Pedacinho a ti, pedacinho a mim

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças, (...)"
(Fernando Pessoa)
É... é verdade. Não obstante tudo, as crianças continuam a nascer ávidas de sorrir, de tomarem-nos para elas, de nos amarem e de nos acarinharem.
Como hoje, aquela bebé, que não me conhecia de lado nenhum, que, logo que me viu de mão estendida para ela, me deu o seu pão, se sorriu a ver-me comê-lo e que, mal teve mais pão na mão, o continuou a repartir, pedacinho a ti, pedacinho a mim...
Foi mesmo um pedacinho de vida giro, no intervalo de discussões valentes sobre as coisas da escola...
Será isto lamechice de sexta-feira cansada?... Seja. Soube-me bem; à bebé, parece-me que também. Seguramente também a quem estava ali à volta, e não eram tão poucos quanto isso!..
Heal The World
Michael Jackson
Composição: Michael Jackson
There's a place in your heart
And I know that it is love
And this place could be
Much brighter than tomorrow
And if you really try
You'll find there's no need to cry
In this place you'll feel
There's no hurt or sorrow
There are ways to get there
If you care enough for the living
Make a little space
Make a better place
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make it a better place
For you and for me
If you want to know why
There's love that cannot lie
Love is strong
It only cares of joyful giving
If we try we shall see
In this bliss we can't feel fear or dread
We stop existing and start living
Then it feels that always loves enough
For us growing
So make a better world
Make a better world
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me
And the dream we were conceived in
Will reveal a joyful face
And the world we once believed in
Will shine again in grace
Then why do we keep strangling life
Wound this earth, crucify its soul
Though it's plain to see this world is heavenly
Be god's glow
We could fly so high
Let our spirits never die
In my heart I feel
You are all my brothers
Create a world with no fear
Together we'll cry happy tears
See the nations turn their swords
Into plowshares
We could really get there
If you cared enough for the living
Make a little space
To make a better place
Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me [3x]
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place
For you and for me [2x]
You and for me (Make a better place) [3x]
You and for me (Heal the world we live in)
You and for me (Save it for our children) [4x]

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor - JN

 ©2000 Kevin Carter StarvingChild in Sudan
Agradeco ao meu amigo facebookiano Arménio Morgado, o acesso a esta notícia.
É muito importante que a notícia seja lida na sua totalidade. Há muita matéria para pensar, discutir e ajudar-nos, a todos nós, a esforçar-nos para sermos cada vez melhor pessoas, cada vez mais solidárias.
Ler aqui: Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor - JN

segunda-feira, setembro 20, 2010

O grande assassino das crianças

O GRANDE ASSASSINO DAS CRIANÇAS
Com a ajuda da Visão (n.º 915) fiquei com os números atualizados: 4000 crianças morrem todos os dias devido a doenças provocadas por falta de água e saneamento (mais que a SIDA, a malária e o sarampo juntos). Segundo um relatório da ONG britânica WaterAid, intitulado The Biggest Child Killer, só no século XXIII é que a totalidade da população a sul do Sara deverá ver cumprido esse objetivo (dispor de saneamento básico e água potável). Nós cá estaremos para ver (Desculpe-se a ironia...).
Vai chegar o Ano Europeu das Atividades de Voluntariado (proclamado pelo Conselho da União Europeia, para 2011), será este drama mundial um bom tema para orientar os nossos esforços e a nossa atividade.
À beira do Dia Internacional da Paz (21 de Setembro), não seria de dedicarmos já algum do nosso pensamento a esta questão?

quarta-feira, julho 28, 2010

Brincar na lama

Esta fotografia, publicada na edição on line do Público, faz-me lembrar uma afirmação de Konrad Lorenz, em que ele reflete sobre o que verdadeiramente tem importância na educação das crianças:
Onde as rãs sobrevivem, as crianças medram.
Fotografia de Mohsin Raza, da Reuters
Brincar na lama: Uma criança aproveita as fortes chuvas trazidas pela monção, na cidade de Lahore, Paquistão, para brincar no meio da lama. Segundo os serviços meteorológicos paquistaneses, as chuvas vão continuar na região.

As crianças, espontaneamente, procuram explorar, tanto quanto podem, os seus diversos tipos de sensações. As crianças gostam de sentir, mesmo sem pensar nisso, cada bocadinho de pele a trazer-lhe uma novidade de temperatura, de textura, até de prurido; até ao arrepio, se for caso disso. Cheirar, levar à boca, pôr o ouvido bem à escuta, de cabeça à banda, ouvido bem focado num som ou num barulho. Os olhos, ajudados pela imaginação penetram tudo até ao tutano, qual visão X do Super-Homem.
Dramaticamente, os pais das crianças enrodilharam-se em ideias - algumas, verdadeiras; outras, enganadas; outras ainda, fantasiosas - a propósito de doenças, de bactérias e perigos mil para a saúde. E não os deixam cair na lama, que bem preciso é, desde pequenino, lá enfiar o "focinho" e de lá aprender a sair.

quinta-feira, junho 10, 2010

Educação Sexual nas escolas - outro episódio

A sempre polémica e acaloradamente discutida Educação Sexual nas escolas.
Agora apareceu um kit de educação sexual, em que, entre tantas coisas que diz ou apresenta que nos deixam de olhos esbugalhados, se fala que "os espermatozóides do meu pai começaram a correr loucamente para ver qual atingia primeiro o óvulo da minha mãe". Quer dizer, continua-se, pretenciosamente invocando as mais nobres ou respeitadas ideias pedagógicas, a imbecilizar as pessoas (crianças e jovens) a quem a educação se dirige, e a imbecilizar temas ou assuntos que mereceriam outro senso (muito bom senso!) e outra competência (verdadeiramente) científica.
Enfim, a Terra continua a girar sobre si própria e também à volta do Sol.

No meu entender, o grande erro da Educação Sexual é estar centrada nas crianças, nos jovens e nas escolas. A verdadeira educação sexual deveria estar centrada nas famílias. Há famílias que são difíceis?... Ora, esse é que é o verdadeiro desafio!... Eduquem-se as famílias que elas encontrarão os momentos e as formas mas adequadas e oportunas para abordar a sexualidade enquanto dimensão da vida; aliás, como outras dimensões igualmente importantes.

quinta-feira, abril 15, 2010

Melhor falar, melhor aprender

Escrevi o seguinte comentário à notícia publicada no "i online", com o título:

Erros de palmatória cada vez mais frequentes entre universitários por Kátia

Há muito tempo que este assunto se discute entre professores, e cada vez mais eles - nós - têm (ou temos) menos condições para enfrentar o problema como se deveria fazer. Entretanto, como digo aos meus alunos - todos, não apenas os que terminam o 12.º ano a realizarem estágios com crianças -, a grande solução começa na fala, nas conversas do dia-a-dia: as crianças pequenas estão naturalmente "programadas" para aprender bem, discriminando bem os sons, as palavras, e para designar bem as coisas, as ideias e os pensamentos. Basta que lhes falemos SEMPRE com clareza, sem "abebezamentos", sem simplificações, sem antecipações. Não temos de deitar-nos a adivinhar o que as crianças querem dizer. Mesmo que o saibamos, deixemo-las dizer. Devemos pronunciar bem as palavras; devemos escrever correctamente as letras; devemos indicar correctamente os nomes de tudo, evitando ao máximo as designações indefinidas ou generalistas.As leituras mais extensas e os pensamentos mais extensos virão depois. É incrível a capacidade que as crianças têm de criar com a linguagem! Mas, para isso, as bases têm de ser seguras e correctas. Sejamos exigentes connosco próprios na fala com as crianças. A sério! Elas adoram assim!

domingo, novembro 08, 2009

Pode haver igual, mas mais intenso não há! Seguramente!

Nas fotografias publicadas na rubrica "Your shot - Daily Dozen" da National Geographic, da primeira semana de Novembro, aparece uma fotografia (que eu bem gostaria de publicar aqui!) de Matt Townsend, que tem a seguinte legenda:

November 6, 2009
While traveling through the mountain countryside of Bali, Indonesia, I stopped for a quick break by a waterfall. Soon young Balinese boys were eager to have their pictures taken jumping off a waterfall. I happily obliged and came away with this shot of a youngster enjoying the warm day.

Tendo em conta o que por esta altura falo nas aulas de algumas das minhas turmas, à volta dos processos cognitivos, afectivos e motivacionais, esta fotografia é notável!...
Esta fotografia pode ser a fotografia de uma vida.
Não volta a haver no mundo um momento, um instante assim! E aquilo que ficou assim gravado para a eternidade é mesmo apenas um instante! Nada mais!
É o exemplo perfeito da harmonia do corpo e do espírito, a fazer lembrar a velha máxima da "Mente sã em corpo são".
Naquele instante - único, inigualável -, aquele rapazinho, que bem poderá ser uma criança de vida bem triste e sofrida, é seguramente a criança mais deliciada do mundo e o seu corpo, mesmo que franzino, tem toda a beleza do que só o que é espontaneamente natural pode ter.
O equilíbrio técnico da fotografia dá ênfase à posição perfeita do corpo do rapazinho; e o corpo, por sua vez, parece simplesmente reflectir o prazer intenso que o jovem ser saboreia, seguramente esquecido de tudo o mais que no mundo existia naquele instante.
Alguns de nós gostariam de ter sido espectadores directos ou o fotógrafo daquele momento, como é o meu caso.
Felizes daqueles que podem contar na sua experiência pessoal com um instante assim. Também a este grupo pertenço, por bênção, seguramente; se calhar, também por esforço; e oportunidade, claro, mesmo que inesperada.

Não se deixe de ver a fotografia (clicar no título deste apontamento).

domingo, outubro 18, 2009

Ó ti Jóge, o mar dos Açores é grande?

Hoje, a arrumar papéis, recuperei o que considero ser um bem delicioso diálogo familiar, que aconteceu numa manhã em que o Sol irradiava um brilho como se tudo a que ele chegasse ele quisesse abençoar mansamente.

O dia 18 de Outubro é o Dia Europeu de Luta contra o Tráfico de Seres Humanos.
Dedico este pequenino texto a todos os pequenos sobrinhos e a todos os tios e tias que por causa da violência de homens não podem fruir estes momentos encantadores de convívio humano, de carinho familiar.

"- Ó ti Jóge, o mar é grande, não é? perguntou-me lá do banco de trás, assim que eu parei o carro para me desembaraçar do toque do telemóvel, o J. H., 7 anos de idade, neto do Peter, que toda a sua vida viveu o mar como o rapazinho o começava a ver agora: grande, muito grande. Estávamos num ponto alcandorado da ilha, com o hospital da cidade por detrás de nós e a montanha do Pico a aparecer-nos sobre o lado esquerdo.
- É, J., é grande, e às vezes é mesmo muito grande…
- O mar dos Açores é grande, ti Jóge?
- Olha para ali, J., a gente olha lá para o fundo, vê sempre o mar e depois la no fundo a gente não vê mais, mas o mar continua ainda mais, parece que nunca mais acaba. Mas se tu olhares ali para o Pico, o mar fica pequenino; e se tu um dia quiseres e o mar estiver mansinho, tu podes ir o mar todo até ao Pico, a nadar.
- Ti Jóge, o mar tem um nome?
- Tem, tem muitos nomes, é que há muitos mares. E quando os mares ficam muito grandes já não se chamam mar, chamam-se oceanos.
O J. olhou lá para o fundo para onde eu dissera que o mar continuava e perguntou-me:
- O mar dos Açores é um oceano?
- O mar dos Açores ali para o fundo já se chama Oceano Atlântico. Ali em baixo – tu sabes – chama-se praia de Porto Pim; daquele lado ali, quando vamos para o Pico, chama-se Canal; onde tu estiveste ontem com o teu irmão e os vossos amigos chama-se Praia do Almoxarife…
- Quantos oceanos há no mundo?... interrompeu-me ele.
- Um dia, na escola, a tua professora vai mostrar-te num mapa grande o Oceano Atlântico, o Oceano Pacífico, o Oceano Índico, o Oceano Glacial Ártico e o Oceano Glacial Antártico.
- Este aqui dos Açores é o mais grande ou não, ti Jóge?
- É quase o mais grande. O mais grande de todos é o Oceano Pacífico.
- O oceano dos Açores não é o mais grande, ti Jóge?
A voz e o rosto do J. traziam, nem era bem um desapontamento, era mesmo uma aflição.
- Não, não é… Mas tu já viste bem as coisas bonitas que o mar dos Açores tem? As baleias e os golfinhos; a doca onde tu, o teu pai e os teus irmãos tomam banho; os peixes que a gente pesca com o Chefe Jaime… não é, J.?...
- Ó ti Jóge, tu sabes tanta coisa…
A voz e o rosto do petiz recuperavam já o ar ruminativo e espantado que tomam nas crianças quando elas pensam intensamente. Parece que, quanto ao mar, por agora bastava.
O objecto da sua curiosidade passou a ser a sabedoria das pessoas.
- Ó ti Jóge, quem é que sabe mais, és tu ou é o avô?..."

É a esse avô e ao seu compadre Peter, que leram e se riram com esta pequena história, que eu envio, hoje, dia de Sol também lindo, que há bem pouco trouxe o brilho ao Tejo, que passa lá ao fundo, no horizonte da minha janela, como naquele dia passava o mar dos Açores, que eu mando um muito forte e carinhoso abraço. Um abraço manso, como fez o Sol num dia de Agosto, no Faial, no ano dois mil.

domingo, setembro 27, 2009

Toda a verdade. E toda a verdade é a saudade dos pais.

Mais uma vez, apanhei por acaso, a passar na SIC Notícias, o documentário "Crianças no exílio", no programa "Toda a verdade".

A sinopse do documentário diz:

É a estrada da liberdade. O autocarro acaba de entrar na Índia. Vai a caminho de Dharamsala, onde Dalai Lama instalou o seu governo tibetano no exílio. Os 31 refugiados conseguiram passar e já não correm riscos.

Em 8 de Março escrevi aqui sobre uma criança que neste documentário muito me impressionou. E devo continuar a escrever. Todos os que puderem fazer o mesmo, devem fazê-lo: falar sobre este sofrimento. É impressionante nesta reportagem ver a intensidade das manifestações de fé e da humanidade do chefe espiritual, o Dalai Lama. É impressionante ver o valor que todos atribuem à escola e a aprender. É impressionante ver, com as tais palavras que "ferem como punhais", a força dos laços familiares, as crianças que querem os pais e os pais que querem os filhos; em todos a força de conter o sofrimento, sobretudo para poupar os outros (os que estão ali ao pé, e também os que ficaram lá longe, no Tibete) ao "egoísmo" da dor e da saudade pessoal.

São momentos de palavras simples, em que a câmara as regista apenas bem focalizadas no rosto de quem as pronuncia, sem aconchegos de sons ou quaisquer outros efeitos especiais; apenas captando o realismo daqueles instantes.

Aqui ficam outras imagens de um outro pequeno documentário:




Enquanto não posso trazer para aqui as imagens do documentário que a SIC Notícias passou, trago, pelo menos as palavras de Julien Bouissou, do Le Monde, traduzidas para português: estão aqui.


Deixo aqui a versão em francês. Vai ocupar muito espaço, mas é uma pequenina ajuda à divulgação do texto:

PUPILLES DU TIBET EN EXIL

Posté par cercletibetverite le 3 juin 2008

Pupilles du Tibet en exil

LE MONDE | 02.06.08 | 14h12 • Mis à jour le 02.06.08 | 14h12

DHARAMSALA (INDE) ENVOYÉ SPÉCIAL

Pendant quarante jours, Legphel a traversé l'Himalaya, depuis le Tibet jusqu'en Inde, blottie dans les bras de sa mère. “Elle m'a embrassée longuement avant de repartir dans les montagnes. Par la suite, j'ai oublié son visage”, raconte l'écolière de 12 ans, les mains agrippées à la jupe de son uniforme

Depuis son arrivée, il y a sept ans, au centre des réfugiés de Dharamsala, la capitale du gouvernement tibétain en exil, Legphel n'a plus reçu de nouvelles de ses parents. Un de ses camarades lui a rapporté que son oncle avait vu mourir sa mère sur le chemin du retour. “Mais une mère ne disparaît pas comme ça”, lâche la jeune réfugiée en haussant les épaules.

Désormais, Legphel étudie l'histoire et la culture tibétaines dans un village spécialement aménagé pour accueillir les enfants exilés du Tibet, construit à flanc de montagne à quelques kilomètres de Dharamsala. Ici, les 2 100 élèves ont droit au surnom d'”orphelins”. Non pas que leurs parents soient morts - ils habitent de l'autre côté des sommets enneigés qui dominent la vallée -, mais ces derniers ne leur donnent plus aucun signe de vie.

Envoyer une lettre ou passer un coup de téléphone serait trop risqué. En 2007, 50 jeunes réfugiés ont dû retourner chez leurs parents après que la police chinoise eut découvert qu'ils avaient fui le Tibet. “Alors, les enfants préfèrent oublier leurs parents plutôt que de supporter leur absence, même si tous n'y parviennent pas”, reconnaît le directeur de l'école. La nuit, Legphel se réveille parfois en croyant voir les siens, à côté d'elle, “tout près des yeux”.

Entre 700 et 1 200 enfants tibétains arrivent illégalement, chaque année, en Inde. Agés de 6 à 15 ans, ils sont confiés par leurs parents à des passeurs à quelques mètres des premiers postes-frontières du Tibet. Personne ne connaît le visage, ni le nom de ces intermédiaires qui préfèrent rester anonymes, de peur d'être dénoncés. Avec eux, les enfants exilés entreprennent une marche d'un mois, le plus souvent en hiver, la saison la plus sûre pour traverser l'Himalaya. “A cause du froid, les garde-frontières préfèrent rester dans leurs abris plutôt que de patrouiller”, explique Dhorjee, directeur du centre des réfugiés de Dharamsala.

La marche s'effectue toujours de nuit et, surtout, dans le silence. La moindre pierre qui tombe du sentier peut donner l'alerte. Certains enfants périssent sous les balles ou tombent dans des crevasses. Impossible de savoir combien meurent chaque année. Ceux qui arrivent au centre des réfugiés de Dharamsala sont les seuls à être comptabilisés. Ce vieux bâtiment, coincé entre des magasins de souvenirs, abrite dans la pénombre de son dortoir une cinquantaine de lits collés les uns aux autres, avec, à leurs pieds, quelques cartables remplis de vêtements chauds. Les enfants y lisent des biographies illustrées du dalaï-lama et apprennent à dessiner. D'abord le drapeau tibétain, puis des monastères bouddhistes. Pour tuer l'ennui, il leur arrive de jouer à l'entrée du bâtiment, le long d'un mur tapissé de photographies de cadavres gisant dans les rues de Lhassa, la capitale du Tibet. Puis arrive le jour de la bénédiction du dalaï-lama. Dès le lendemain, les enfants partent vivre chez leur nouvelle mère, dans le village tibétain.

Les “home mothers” sont des mères professionnelles. Formées pendant deux ans à la couture, à la cuisine et à la psychologie de l'enfant, elles accueillent les jeunes exilés dans des maisons tibétaines construites en pierres, en hauteur du village. “En élevant les enfants dans le respect de la tradition tibétaine, je sauve mon pays de l'oubli”, précise Tsering, une mère de 48 ans qui vit avec 36 enfants, au milieu des tapisseries de monastères bouddhistes et des portraits de famille du dalaï-lama. Son mari, discret, ne quitte pas des yeux l'écran de télévision, où défilent les dernières images d'émeutes en provenance du Tibet. “Il n'y a qu'une mère, ici, pas de père”, prévient Tsering en jetant un regard furtif en direction du portrait du dalaï-lama. Au lever du jour, pendant que les garçons arrosent des fleurs, les écolières peignent leurs longs cheveux noirs dehors, face à la vallée. Au son de la cloche, des centaines d'enfants dévalent les chemins escarpés qui mènent au terrain de basket-ball, transformé tous les matins en terrain de prière. Assis en tailleur sur des tapis, des centaines d'écoliers répètent, penchés sur leurs livres, les mantras récités par les moines.

“Les enfants deviennent tibétains en apprenant la culture, l'histoire et la religion de notre pays”, insiste Karma Trinley, superviseur de l'école, au pied d'un bâtiment qui affiche le slogan “Venez pour apprendre, partez pour servir”. Les livres d'histoire et de langue sont écrits par les professeurs eux-mêmes. Le manuel d'histoire commence au chapitre “Tibet et Chine” et se termine au chapitre “Exil”.

Sur le bureau soigneusement rangé de Karma Trinley, une pile de journaux intimes attendent d'être lus. Les confidences des écoliers, qui doivent tenir sur une page, sont lues chaque jour par un professeur avec, en priorité, celles qui portent la mention “A lire s'il vous plaît”.

“Il faut déceler les souffrances psychologiques de l'enfant avant qu'il ne soit trop tard”, explique le superviseur. “Je suis triste aujourd'hui car Sa Sainteté a de la fièvre”, écrit un écolier, à la date du 18 mars. Le même jour, un autre s'inquiète :“J'ai vu des Tibétains brûler les voitures des Chinois à la télévision. J'ai peur pour mes parents. Je ne peux rien faire pour eux sinon apprendre à être une bonne Tibétaine.” Pour apprendre à le devenir, l'école dispense des cours d'éducation civique. Y sont enseignés la Constitution tibétaine, rédigée en 1960, tout comme la règle selon laquelle chaque Tibétain doit verser 2 % de son salaire au gouvernement en exil.

“Il faut bien nous entraîner à la démocratie pour être prêts le jour de l'indépendance”, résume l'une des institutrices, qui souhaite garder l'anonymat. Elle-même a passé son enfance au village, avant de retourner chez ses parents, au Tibet, il y a quelques années. “Lorsque j'ai revu leurs visages, les souvenirs de mon autre vie me sont revenus. C'était insupportable pour moi. J'ai finalement décidé de rester en Inde, car c'est ici que j'ai vécu le plus longtemps”, dit-elle. En choisissant de vivre à Dharamsala, l'institutrice s'est fait une raison : “Ici, je suis peut-être orpheline de mes parents, mais pas du Tibet.”

Julien Bouissou

quinta-feira, agosto 13, 2009

O toque de Midas do Pedro


Aqui está um exemplo do "fazer das fraquezas forças". O que se diz das pessoas aplicado nas fotografias: o que é a exibição de uma fraqueza da reprodução fotográfica
(a distorção - que se tornou já vulgar explorar - causada pela ausência de perspectiva e da posição relativa dos elementos figurados entre si) transforma-se num óptimo exemplo da força do pensamento que caracteriza o desenvolvimento dos rapazinhos e das meninas da idade do protagonista que agora aqui temos: o Pedro, de 7 anos de idade.

Aos 7 anos, o pensamento de uma criança sã, viva e tranquila, tem o poder do toque de Midas: tudo aquilo em que a criança põe a mão se transforma em ouro, quer dizer, em imaginação, em criatividade, em desenvolvimento da inteligência, da sociabilidade e do prazer de fazer (a "industriosidade" de que fala Erik Erikson).

Companheiro de jornada extraordinário, o Pedro foi sempre uma criança muito afável, com um cuidado e uma solicitude quase "arrepiante"!, em relação ao forasteiro que eu era. Não se limitou a ser participante passivo nas voltas que demos, mas contribuiu activamente para o prazer e o sucesso da jornada.

O rapaz tem queda para a gestão e a liderança dos grupos: não rejeita sequer as pequenas provocações com que às vezes "picamos" os rapazinhos da idade dele; ouve, olha-nos, sorri e a seguir diz-nos qualquer coisa em que aceita a provocação ou o desafio que lhe fazemos, mas de modo a que conserve para ele margem de manobra para a sua decisão ou o seu comprometimento pessoal.

Parece uma criança que sustenta os passos num estimulante "chão" que avós, pais e os próprios irmãos têm adubado com o que de melhor pedem o afecto e a inteligência das crianças.

E se aquele Topo me deixa apreensivo, por exemplo, sobre o que possam ser as suas condições de cuidado atempado a uma criança sem saúde, não há dúvida que, pelo contrário, dispõe das condições fundamentais para o desenvolvimento de uma criança sã: a ambiência de uma natureza selvagem poderosa, imprevisível e infinita; a humanização dos espaços naturais de vida, de acordo com as necessidades dos grupos humanos e os recursos disponíveis; a presença da vida animal amansada a fazer parte rotineira da economia doméstica; os laços afectivos com a família nuclear e a família alargada; a suficiência básica dos recursos educativos; e a mágica Internet que a leva, à criança, dali, do fim do mundo aos seus antípodas, numa brevidade vertiginosa de tempo.

Pedro, sabes o que quer dizer "antípodas"? Se não sabes, pergunta ao Luís... ou vê na Internet...

segunda-feira, maio 11, 2009

- Como te chamas?, pergunta a Sissy

A Sissy é uma menina grega, filha de um colega professor de uma escola em Kalamata que tenho encontrado, para grande alegria e enriquecimento pessoal, nas reuniões de um projecto escolar internacional comum, o PLURALIA.
A Sissy acompanhou o pai já mais do que uma vez a estas reuniões. São encontros de entusiasmos e reciprocidades sobre o prazer de se estar junto a pessoas diferentes, e de nos sentirmos bem todos juntos uns dos outros.
Na sua experiência pessoal destas reuniões, na sua forma única de sentir, ela arrancou a inspiração para uma pequena peça visual e melódica muito bonita, que me convidou a ver; e a que juntei um comentário e um poema.

Dear Sissy, congratulations for your work!
I'd like to present you with a Portuguese poem and I was lucky! I found one, well translated in English, I think its meaning touch the sense I found in your work: every child must have a name. Only when we know a child by his name, the child is the same I am, the same we are, no matter how really different he can be of me, of us. Your work pushes us to ask the children their names. Good! Thats the way. The only valuable way! 

Querida Sissy, parabéns pelo teu trabalho!
Gostaria de te presentear com um poema português e tive sorte! Encontrei um, bem traduzido para inglês, cujo significado penso que tem a ver com o sentido que encontrei no teu trabalho: cada criança tem um nome. Só quando conhecemos uma criança pelo seu nome, a criança é como eu sou, é como nós somos, não importa quão diferente seja de mim, ou de nós. O teu trabalho põe-nos a perguntar às crianças pelos seus nomes. Boa! É esse o caminho! É esse o único caminho que deve ser percorrido!
(a letra da canção pode ser encontrada aqui)

  • ·  TEU NOME

    Paula Margarida Pinho

     

     

    Existimos num mundo de metáforas.

    Não são pedras estas pedras;

    são certezas, segurança.

    Não é luz a luz do sol;

    é um aceno, é carícia

    de um aconchego querido.

    E as águas destas fontes?

    São as mágoas,

    são as lágrimas dos montes.

    Estes prédios são prisões;

    são muralhas as paredes;

    mares em fúria as multidões;

    punhais os olhares em riste;

    solidão o rosto triste.

    Existimos num mundo de metáforas.

    Perdemo-nos nelas e nem sabemos que o são.

    Só o teu nome é o teu nome.

    Ainda e sempre.

    O teu nome.

    Simplesmente.