domingo, janeiro 27, 2013

A REGRA DE OURO E A EMPATIA


Resumo, em forma de lista, os "argumentos" à volta dos quais o senhor padre Anselmo Borges tece o seu interessante texto "A REGRA DE OURO E A EMPATIA".
Na Inglaterra, foi de tal modo valorizada que aí recebeu, nos inícios do século XVII, o nome por que é conhecida: "regra de ouro" (golden rule):
[Formulação negativa] "Não faças aos outros o que não quererias que te fizessem a ti";
[Formulação positiva] "Trata os outros como quererias ser tratado".
Bernard Shaw, com o seu sentido de humor: "Não façais aos outros o que quereríeis que vos fizessem; talvez não tenham os mesmos gostos que vós!"
Depois, com a ajuda do filósofo Olivier du Roy, procura provar a universalidade da "regra de ouro".
  1. Confúcio (China), talvez o primeiro a formulá-la: "O que não queres que te façam não o faças aos outros." 
  2. Budismo: "Uma situação que não é para mim agradável nem felicitante também o não poderia ser para o outro; como poderia então desejar-lhe isso?"
  3. Zoroastrismo: "Tudo o que te repugna não o faças também aos outros."
  4. Judaísmo: "Não faças a outrem o que não desejas que te façam a ti."
  5. Cristianismo: "Tudo o que quereis que os homens façam por vós, fazei-o igualmente por eles: eis a Lei e os profetas."
  6. Islão: "Ninguém entre vós é um crente enquanto não desejar para o seu irmão o que deseja para si próprio."
  7. Séneca (Império Romano): "Vive com o teu inferior como quererias que o teu superior vivesse contigo. Cada vez que pensares na extensão dos teus direitos sobre o teu escravo pensa que o teu senhor tem sobre ti direitos idênticos. 'Mas eu não tenho senhor', dizes. Talvez venhas a ter."
  8. Martinho Lutero (Reforma): "Não há ninguém que não sinta e não tenha de reconhecer que é justo e verdadeiro o que diz a lei natural: o que queres que te seja feito e poupado, fá-lo e poupa-o aos outros: esta luz vive e reluz no espírito de todos os seres humanos. ."
  9. John F. Kennedy (E.U.A.): "Se um americano, porque o seu rosto é negro, não pode almoçar num restaurante aberto ao público, mandar os seus filhos à melhor escola pública acessível, votar para os funcionários públicos que vão representá-lo, então quem de vós quereria ver mudar a cor do rosto e colocar-se no seu lugar? O coração do problema é este: vamos tratar os nossos companheiros americanos como queremos ser tratados?"
Atendendo à universalidade da "regra de ouro", Olivier du Roy conclui que ela "corresponde a uma espécie de maturidade moral da humanidade, que descobre ou exprime, por volta do século V a. C., um princípio fundamental de moralidade ou de vida em sociedade". O reconhecimento do outro humano pode ser considerado como "um dado cultural universal, o fundamento de uma verdadeira 'lei natural'". A sua base está na empatia, na capacidade de eu me colocar no lugar do outro, como que sentindo as consequências da minha acção sobre ele.
A Etica propriamente dita, essa, "começa, quando se vai para lá da simpatia e se alarga o círculo do humano ao que me não é próximo nem simpático".
E o senhor padre Anselmo Borges remata assim o seu texto: "Imagine-se o que seria o mundo regido por esta regra de ouro!
Por mim, não deixo de fazer o reparo que, mais uma vez, o sentido, a expressão, da "universalidade" traz-nos formulações ligadas a sistemas de pensamento sistemáticos, organizados; e dominantes no pensamento ocidental. Continuam a faltar as expressões, por exemplo, das culturas africanas (sobretudo as negras) e sul-americanas. Mas o que está feito já não está nada mau!...

sábado, janeiro 26, 2013

Será mesmo o melhor de "7 mil milhões de outros"?

Comentei mais ou menos assim no canal do GoodPlanetorg a publicação deste vídeo:
(para já, só existem versões legendadas em francês e inglês)

O MELHOR DO GOODPLANETORG.
Na minha opinião, este é um mau título. "Melhor" é sempre a escolha de alguém do seu ponto de vista, e a riqueza de todos os vídeos da coleção é a possibilidade que os internautas têm de fazer a sua própria escolha. Quando dizemos "o melhor" estamos implicitamente a dizer que todo o resto é pior, e isso não é verdade! Se alguém me diz "Vê isto, é o melhor!", está - implicitamente, repito - a dizer-me para não ver todo o resto dos vídeos ... Que pena! ... O título deve ser um convite, não uma indicação de uma escolha prévia de alguém, a coleção toda merece esse respeito. É um prazer a gente ir descobrindo vídeo após vídeo.


Best-of 7 milliards d'Autres [FR]
"À mon avis, il s'agit d'un mauvais titre. "Le meilleur" est toujours la choix de quelqu'un, son point de vue, et la richesse de tous les videos est la chance que tout le monde a de faire son propre choix. Quand on dit "le meilleur" ça veur dire que tout le rest est pire, et c'est pas vrai! Si on me dit "Voit ça, c'est le meilleur!", on m'invite à ne pas voir tout le rest des vidéos... Quel domage!... Le titre doit être une invitation, pas une indication d'une choix préalable."
"In my opinion, this is a bad title. "Best" is always the choice of someone's point of view, and the richness of all the videos is the chance that everyone has to make his own choice. When we say "best" it means that all the rest is worse, and it is not true! If someone says to me "Watch it, it is the best!", I'm asked to not see all the rest of the videos ... What a pity! ... The title should be an invitation, not an indication of a prior choice."

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Eu sempre acreditei em Lance Armstrong

A relação que tenho mantido com a imagem de Lance Armstrong tem sido muito... "dinâmica"!
Comecei por desejar que ele não ganhasse a Volta a França. País de extremos, cultura de extremos, pessoas de extremos, o saldo dos meus sentimentos é desfavorável aos americanos.
Depois, soube da história do cancro do ciclista americano - numa altura que eu ainda muitas incertezas tinha com o futuro do meu. Contar a sua história a um velho amigo, que eu adorava como a um pai, fez-me bem e, sobretudo, fez bem ao meu amigo, o qual, enquanto o seu terrível cancro o deixou, voltou a mostrar-nos o sorriso da esperança. E ele tanto gostava de sorrir e fazer-nos sorrir! Então, passei a desejar que Lance Armstrong ganhasse a Volta à França.
Voltei depois a deixar de gostar dele. Quando ele começou a ganhar muitas vezes. Não gosto de competidores - individuais ou coletivos - que estão sempre a ganhar! O mesmo aconteceu, por exemplo, com o Barcelona. A história política da Catalunha fez-me escolher o Barcelona como clube de futebol estrangeiro de eleição. Deixei de gostar do Barcelona quando ele começou a repetir - vezes demais, repito, para o meu gosto... - as vitórias, nos campeonatos e nas taças em que entrava.
Ora bem, gostar é uma coisa; acreditar é outra. E eu sempre acreditei em Lance Armstrong: no seu poder físico, na força das suas motivações, na verdade das suas palavras.
Perante a expetativa do que iremos ouvir na entrevista a Oprah Winfrey - faço questão de escrever isto antes de o ouvir -, tomando como fiável o que tem sido dito pela comunicação social nas últimas horas (que apontam para a confissão pessoal) peguei hoje, outra vez, no seu livro "It's not about the bike - my journey back to life", e folheei-o. Sei lá o que procurava nele... Talvez uma razão para justificar o que parece que está aí para vir: a sua confissão. Depois de tão veementemente, com o seu poder físico, com a força das suas motivações, com a assertividade das suas palavras ter negado todas as acusações que lhe fizeram. Não sabia mesmo o que queria procurar no livro...
Mas acabei por encontrar uma razão justificável:
Na dedicatória, podemos ler "This book is for: (...) Luke, the greatest gift of my life, who in a split second made the Tour de France seem very small. (...)"
http://www.zimbio.com/photos/Lance+Armstrong/
Luke+Armstrong/2005+Tour+de+France+Stage+
Twenty+Time+Trial/0vic-k5GJWU
Muitas páginas depois, Armstrong termina assim o livro, são mesmo as últimas palavras: "Sometimes, I wake up in the middle of the night and I miss him. I lift him out of his crib and I take him back to bed with me, and I lay him on my chest. Every cry of his delights me. He throws back his tiny head and his chin trembles and his hands claw the air, and he wails. It sounds like the wail of life to me. "Yeah, that's right," I urge him. "Go on."
The louder he cries, the more I smile."
É, o filho pode ser a grande razão desta tão antecipada confissão. Sim, a formação dos valores humanos num filho pode justificar claramente o comportamento de confissão de Lance Armstrong. O atleta estava perdido; provavelmente, o cidadão também. Seguramente o pai também estava.
Um comportamento de confissão, a favor da verdade, da lealdade, da honestidade, salva sempre o cidadão e o pai. Como diz o ciclista na dedicatória do seu precioso livro, ao lado de um filho e do seu desenvolvimento como pessoa, as coroas de louros nos pódios da Volta a França pouco ou nada valem.
Não sei se terá sido esta razão que moveu agora Lance Armstrong. Digo apenas que me parece uma boa razão, se calhar, a mais razoável de todas.
Um abraço de muita saudade ao Ramos!

sexta-feira, janeiro 11, 2013

António Damásio, O Livro da Consciência

(Uma) apresentação de O Livro da Consciência (Self comes to mind), na comunicação social portuguesa, em outubro de 2010, com o próprio autor da extraordinária obra. A obra saiu em Portugal, em Língua Portuguesa antes da edição em Língua Inglesa, nos Estados Unidos da América.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

ANTÓNIO DAMÁSIO E A VIOLÊNCIA DA POBREZA


ANTÓNIO DAMÁSIO E A VIOLÊNCIA DA POBREZA.
(António Damásio and the violence of Poverty)
(António Damásio et la violence de la Pauvreté)
O Professor António Damásio, hoje, na celebração festiva "Um dia com o Patrono", promovida pela Escola Secundária António Damásio, e liderada pelo distinto professor António Cruz, disse à grande plateia que o ouvia, que a forma de violência que mais o preocupa hoje em dia, violência essa que continua a crescer em diferentes pontos do Mundo, é a VIOLÊNCIA DA POBREZA, e que, para a combater, um papel determinante cabe à EDUCAÇÃO.
Professor António Damásio,
na Escola Secundária António Damásio, em Lisboa, em 09/jan/2013
Há praticamente 30 anos atrás, vieram 2 professores de uma Faculdade de Psicologia (mais propriamente, da Universidade de Vermont) conhecer o trabalho que eu liderava numa escola de ensino especial, em Lisboa, escola essa que recebia, predominantemente, crianças muito pobres. Ao fim de algumas horas de observação e conversa, honestamente eles me confessaram que, antes de falarem comigo, pensavam que estavam a fazer, lá nos EUA, um trabalho inovador, de ponta, na assistência a crianças muito carenciadas e suas famílias; mas que, depois de conhecerem o meu trabalho, chegaram à conclusão que eu ia 20 anos à frente deles. Assim que voltaram para os EUA, formalmente me apresentaram um convite "irrecusável" para ir trabalhar com eles. Recusei o convite irrecusável. Depois de procurar o sábio e ponderado aviso das minhas duas figuras de referência basilares: a Professora Maria Rita Mendes Leal e o Professo João dos Santos. Sem o saber, o Professor António Damásio hoje confirmou-me que eu fiz a opção correta. E renovou-me energias para continuar o que tenho feito ao longo destes 30 anos, antes com uns companheiros (n' Os Traquinas da Boa Vida) e hoje com outros, na Escola Secundária Eça de Queirós. Obrigado, Professor António Damásio!

terça-feira, janeiro 08, 2013

VENTOS DO FUTURO, COM ANTÓNIO DAMÁSIO, NO CCB, EM 7JAN13.

VENTOS DO FUTURO, COM ANTÓNIO DAMÁSIO, no Centro Cultural de Belém, em 7 de janeiro de 2013, na Grande Conferência Expresso 40 anos. Sim, é mesmo sobre o Futuro, como ele pode perfilhar-se no(s) nosso(s) horizonte(s).
Sou suspeito no meu apreço e no meu entusiasmo com António Damásio; mas os outros oradores também será útil ouvirmos. Nem que seja para negar ou contrariar algumas coisas que dizem. E a mim apetece-me muito fazê-lo! (A participação do Professor António Damásio começa por volta dos 51min50seg.)
Não posso deixar de dizer que, quando abriu a Conferência, o dr. Francisco Pinto Balsemão afirmou que pensa que hoje em dia a nossa vida política é marcada pela cultura do conservadorismo: quem chega ao poder não só faz tudo para lá se manter, como age de maneira a poder reforçar o seu poder. Isto é claro como água, não é verdade?

sábado, janeiro 05, 2013

De onde vem a consciência

Uma palestra muito interessante do neurocientista António Damásio, em que ele cristalinamente (não obstante a laringite) fala sobre a mente, a consciência, o Self; o que o ser humano partilha ou não com os outros animais. É um desafio muito interessante que nos lança! Por exemplo, se António Damásio levar o leitor (neste caso, o ouvinte) a pensar que o cão que se tem em casa se distingue essencialmente do seu dono porque não antecipa o futuro, como reage o leitor (ou o ouvinte)? Fala sobre a dinâmica do funcionamento cerebral e sobre a relação do Funcionamento Cerebral com a Cultura e a Educação. Grande responsabilidade deixa ele nas mãos de quem decide sobre os sistemas e os valores da Educação dos Povos!
A propósito de uma das suas apresentações de O Livro da Consciência.


Antonio Damasio is David Dornsife Professor of Neuroscience, Psychology, and Neurology, and director of the Brain and Creativity Institute at the University of Southern California. He is author several books including Descartes’ Error and, most recently, Self Comes to Mind: Constructing the Conscious Brain. Below, he takes our In The Green Room Q&A.
Q. What surprises you the most about your life right now?
A. Can I answer with a joke? I have this laryngitis and I’m still speaking.
Q. What is the last habit you tried to kick?
A. Not doing enough exercise.
Q. Who was your childhood hero?
A. Tin Tin.
Q. What do you consider to be the greatest simple pleasure?
A. Enjoying good weather by the seaside next to a forest of pines.
Q. Where would we find you at 10 a.m. Saturday morning?
A. Probably at home writing or reading.
Q. What do you wish you had the nerve to do?
A. Be an airplane pilot.
Q. Who is your favorite fictional character?
A. As a dramatic character, Gatsby. As a comedic character, Alvy Singer in “Annie Hall.”
Q. What is your most prized material possession?
A. Certain pieces of art.
Q. Who is the one person living or dead you would most like to meet for dinner?
A. Perhaps Goethe.
http://www.zocalopublicsquare.org/2010/12/10/antonio-damasio/personalities/in-the-green-room/

*Photo by Aaron Salcido. 
DECEMBER 10, 2010

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Mudar ou não mudar, eis a questão. Uma espécie de "brainstorming" para entrar em 2013

José Pedro Cobra vem dizer, como muitos outros também andam a dizer, que a mudança começa em nós.  Pois é, dr. José Pedro Cobra, isso a gente já sabe!... Agora que o senhor o diz de uma maneira muito engraçada, isso não há dúvida nenhuma!... Vale a pena ouvi-lo! Muitas citações, muitas metáforas, algumas anedotas, todas sempre com muito a-propósito. Sim senhor, espero que os meus alunos, sobretudo os mais velhos, o oiçam. Enfrentar a rotina, os preconceitos, os automatismos acumulados, o negativismo visceral, etc..
A do outro (tinha de ser um português, claro!) que diz mais ou menos assim "Ó Barbas, sai daqui que eu estou de baixa e tu lixas-me isto tudo!..." está fabulosa!!!

terça-feira, janeiro 01, 2013

1 DE JANEIRO, DIA MUNDIAL DA PAZ.

1 DE JANEIRO, DIA MUNDIAL DA PAZ.
Ontem, ao despedir-se oficialmente de 2012, o Papa Bento XVI pediu mais espaço para o silêncio e as boas notícias, o que encaixa bem com a minha opção de destacar nos meus "momentos marcantes" de 2012 apenas os momentos positivos.
Hoje, na mensagem do Dia Mundial da Paz, Bento XVI fala das "crescentes desigualdades entre ricos e pobres", no "predomínio duma mentalidade egoísta e individualista" e no "capitalismo financeiro desregrado". Sim, concordo. Penso que a solidariedade é o único caminho que vale a pena percorrer; mas temos de ser sempre firmes com quem todos os dias o contraria, como é o caso de tantos governantes, do mundo e do nosso País.
É, seguramente, um caminho duro, cheio de obstáculos e oposições; mas - repito - é o único que vale a pena.
Da minha janela, o nascer do sol trouxe-me uma invulgar neblina sobre o Tejo, que não me deixou ver o aparecimento do astro rei. Mas eu sabia que ele estava lá e que surgiria por detrás das nuvens das aparências que toldam a nossa visão. Não será isso que o caminho da solidariedade nos pede? A confiança no que está para além do que estamos a ver agora? Ou melhor, do que não nos deixam ver agora?

Curiosamente, a minha querida amiga Maria Céu Barrosa, acabou de me mandar este vídeo muito interessante. É ou não verdade que as coisas estão lá, para além da neblina que as esconde? Sobre as dinâmicas e os mecanismos psicológicos subjacentes e em jogo, falarei deles aos meus alunos em próxima aula. Bjnh, Maria do Céu!
David Garibaldi: Jesus Painting from Thriving Churches on Vimeo.