quarta-feira, janeiro 16, 2013

Eu sempre acreditei em Lance Armstrong

A relação que tenho mantido com a imagem de Lance Armstrong tem sido muito... "dinâmica"!
Comecei por desejar que ele não ganhasse a Volta a França. País de extremos, cultura de extremos, pessoas de extremos, o saldo dos meus sentimentos é desfavorável aos americanos.
Depois, soube da história do cancro do ciclista americano - numa altura que eu ainda muitas incertezas tinha com o futuro do meu. Contar a sua história a um velho amigo, que eu adorava como a um pai, fez-me bem e, sobretudo, fez bem ao meu amigo, o qual, enquanto o seu terrível cancro o deixou, voltou a mostrar-nos o sorriso da esperança. E ele tanto gostava de sorrir e fazer-nos sorrir! Então, passei a desejar que Lance Armstrong ganhasse a Volta à França.
Voltei depois a deixar de gostar dele. Quando ele começou a ganhar muitas vezes. Não gosto de competidores - individuais ou coletivos - que estão sempre a ganhar! O mesmo aconteceu, por exemplo, com o Barcelona. A história política da Catalunha fez-me escolher o Barcelona como clube de futebol estrangeiro de eleição. Deixei de gostar do Barcelona quando ele começou a repetir - vezes demais, repito, para o meu gosto... - as vitórias, nos campeonatos e nas taças em que entrava.
Ora bem, gostar é uma coisa; acreditar é outra. E eu sempre acreditei em Lance Armstrong: no seu poder físico, na força das suas motivações, na verdade das suas palavras.
Perante a expetativa do que iremos ouvir na entrevista a Oprah Winfrey - faço questão de escrever isto antes de o ouvir -, tomando como fiável o que tem sido dito pela comunicação social nas últimas horas (que apontam para a confissão pessoal) peguei hoje, outra vez, no seu livro "It's not about the bike - my journey back to life", e folheei-o. Sei lá o que procurava nele... Talvez uma razão para justificar o que parece que está aí para vir: a sua confissão. Depois de tão veementemente, com o seu poder físico, com a força das suas motivações, com a assertividade das suas palavras ter negado todas as acusações que lhe fizeram. Não sabia mesmo o que queria procurar no livro...
Mas acabei por encontrar uma razão justificável:
Na dedicatória, podemos ler "This book is for: (...) Luke, the greatest gift of my life, who in a split second made the Tour de France seem very small. (...)"
http://www.zimbio.com/photos/Lance+Armstrong/
Luke+Armstrong/2005+Tour+de+France+Stage+
Twenty+Time+Trial/0vic-k5GJWU
Muitas páginas depois, Armstrong termina assim o livro, são mesmo as últimas palavras: "Sometimes, I wake up in the middle of the night and I miss him. I lift him out of his crib and I take him back to bed with me, and I lay him on my chest. Every cry of his delights me. He throws back his tiny head and his chin trembles and his hands claw the air, and he wails. It sounds like the wail of life to me. "Yeah, that's right," I urge him. "Go on."
The louder he cries, the more I smile."
É, o filho pode ser a grande razão desta tão antecipada confissão. Sim, a formação dos valores humanos num filho pode justificar claramente o comportamento de confissão de Lance Armstrong. O atleta estava perdido; provavelmente, o cidadão também. Seguramente o pai também estava.
Um comportamento de confissão, a favor da verdade, da lealdade, da honestidade, salva sempre o cidadão e o pai. Como diz o ciclista na dedicatória do seu precioso livro, ao lado de um filho e do seu desenvolvimento como pessoa, as coroas de louros nos pódios da Volta a França pouco ou nada valem.
Não sei se terá sido esta razão que moveu agora Lance Armstrong. Digo apenas que me parece uma boa razão, se calhar, a mais razoável de todas.
Um abraço de muita saudade ao Ramos!

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