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sábado, janeiro 25, 2025

#TOLERÂNCIA 27 - TOLERÂNCIA, JUSTIÇA, DIÁLOGO

#TOLERÂNCIA 27 - TOLERÂNCIA, JUSTIÇA, DIÁLOGO

Nota prévia: este projecto de estudo da Tolerância compõe-se de 3 grandes conjuntos de textos: Levantamento, Exploração, Aprofundamento. Este texto é do conjunto Exploração.

O padre Manuel Antunes é uma das grandes figuras da Cultura Portuguesa do século XX. Nasceu em 1918 e morreu em 1985. A Fundação Calouste Gulbenkian publicou a sua "Obra Completa", em VII tomos.

Muita gente escreveu e leu discursos de homenagem ao padre Manuel Antunes, em tempo de vida dele e depois. Arrisco-me a dizer que nenhum deles deixa de o apresentar como uma pessoa tolerante; e digo que me arrisco porque não conheço todos esses discursos, mas os que conheço fazem a unanimidade.

Num deles lê-se assim:

"«O padre Manuel Antunes conseguia ser justo e, ao mesmo tempo, tolerante com os alunos», afirmou o Professor Lindley Cintra, durante o colóquio promovido pelo Centro de Reflexão Cristã, para evocar a figura e obra daquele intelectual , recentemente falecido.

«Não era um professor fácil», disse Lindley Cintra, «mas os alunos tomavam os apontamentos num perfeito silêncio, as folhas eram policopiadas, folhas que o próprio Manuel Antunes se encarregava de rever. Conseguiu vencer um sistema de ensino errado através do diálogo com os alunos».

 A este propósito, o Dr. António Reis referiu um pormenor que marca a índole da tolerância e abertura aos problemas daquele intelectual. «Não era um aluno muito assíduo das suas aulas», disse António Reis. «Pouco havia estudado para a frequência. No ponto refugiei-me noutros temas, nomeadamente nas teorias neomarxistas franceses, então em voga, como forma de fugir ao assunto proposto. Chamou-me depois, porque disse que desejava alargar o diálogo comigo naquelas matérias e deu-me boa nota»".(1)

Se tivermos em mente os textos da #TOLERÂNCIA 22 e da #TOLERÂNCIA 26, podemos tomar consciência do seguinte:

  • Será que pode haver Tolerância sem Justiça ou Justiça sem Tolerância? Pelos vistos, ambas as situações são possíveis.
  • Tal como o jovem protagonista do escrito #TOLERÂNCIA 26, Lindley Cintra, falando do padre Manuel Antunes, considerava que o sistema de ensino estava errado.
  • Tendo em mente o escrito #TOLERÂNCIA 22, o padre Manuel Antunes aceitou o que aluno António Reis fez? Não, não aceitou. O padre Manuel Antunes compreendeu o que o aluno António Reis fez? Sim, compreendeu. O padre Manuel Antunes tolerou o que o aluno António Reis fez? Sim, tolerou.
  • Também como no texto #TOLERÂNCIA 26, a razão da saída bem-sucedida, airosa e respeitosa, da, digamos, jogada de desenrascanço do aluno, foi o diálogo, foi a conversa pessoal, feita de boa fé.

#tolerância, #tolerance, #Tolerancia, #tolérance, #tolleranza, #toleranz, #tolerantie, #宽容, #寛容, #관용, #सहिष्णुता , #סובלנות, #हष्णत, #Ανοχή, #Hoşgörü, #tolerans, #toleranță, #толерантность, #التسامح

(1) Padre Manuel Antunes, "Obra Completa, tomo VI, correspondência e outros textos", FCG, 2010, pp. 339-340.

sábado, março 25, 2023

Aprender o valor do trabalho, a justiça e a equidade ao colo do pai

Hans Rosling tornou-se conhecido pelo livro que teve de concluir à pressa. A sentença dum cancro do pâncreas não lhe deixava alternativa. O livro apareceu em 2018, tendo o autor morrido em 2017. O livro foi escrito em colaboração cm o filho e a nora. É o Factfulness [Factualidade, ou Os Factos].

Diz o autor na Introdução ao outro livro escrito na mesma altura que «Depressa percebi que havia material suficiente para dois livros», o Factfulness e outro que «é sobre mim e sobre como cheguei a esse conhecimento», isto é o conhecimento que apresentou no Factfulness.

O segundo livro tem como título, em português, "Como Aprendi a Compreender o Mundo", tradução que segue à risca o título em inglês. Logo no princípio do primeiro capítulo, "Da Iliteracia à Excelência Académica", o autor e cientista sueco diz-nos assim:

© Shutterstock
Quando o meu pai voltava para casa do trabalho, à noite, cheirava sempre a café. Trabalhava na torrefação Lindvalls Kaffe em Uppsala. Foi assim que aprendi a gostar do cheiro do café muito antes de começar a bebê-lo. Muitas vezes ficava na rua à espera que ele chegasse do trabalho, a vê-lo aproximar-se de bicicleta pela rua fora. Ele saltava da bicicleta, vinha abraçar-me e eu fazia-lhe sempre a mesma pergunta:
«Encontraste alguma coisa hoje?»

Quando os sacos de grãos verdes de café chegavam para a torrefação, eram despejados para um tapete rolante e, em primeiro lugar, havia a triagem por um potente íman. O objectivo era remover quaisquer objectos metálicos que pudessem ter ido parar ao saco durante o processo de secagem e embalamento. O meu pai trazia-os para casa, dávamos e contava-me uma história sobre cada um deles. As histórias eram emocionantes.

Às vezes trazia uma moeda. «Olha, esta é do Brasil», dizia ele. «O Brasil produz mais café do que qualquer outro país.»

O meu pai deixava-me sentar no colo dele, abria o atlas do mundo à nossa frente e começava a contar a história: «É um país grande e muito quente. Esta moeda apareceu dentro de um saco que veio de Santos», explicava ele, apontando para a cidade portuária brasileira.

E descrevia os homens e mulheres trabalhadoras, elos na cadeia que terminava com pessoas na Suécia a bebericar o seu café. Cedo percebi que quem apanhava o café era quem ganhava menos.