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quinta-feira, janeiro 21, 2010

Ao meu amigo Jaime, ao Chefe Jaime

Calhou estar no Faial no dia dos Amigos. Pela primeira vez. Forçadamente.
Calhou bem.
Vive-se aqui o dia dos Amigos como eu nunca o vivi.
As rádios locais falam constantemente no Dia dos Amigos, dizem que hoje está um bom dia para festejar o Dia dos Amigos.
O João Henrique, o meu afilhado, nascido faialense, hoje de manhã, ainda estremunhado, cumprimentou-me como nunca o fizera antes e saudou-me com um "Bom dia, amigo!"
Com o meu amigo Chefe Jaime vou logo, depois de aconchegar a minha mãe no fim do seu jantar, tomar um gin no Peter, à saúde dos amigos. O primeiro de que me vou lembrar - perdoem-me os outros - é do Zeca Barroso, que também vive muito intensamente na sua terra, o Redondo, no Alentejo, o Dia dos Amigos.
Aos outros amigos, de boa vontade os abraçaria a todos hoje. E sinto a alegria de saber que não teria tempo para todos. São já muitos! Estou certo que, ao longo da vida, muitos tenho juntado e praticamente nenhum eu tenho perdido.
A todos dedico o poema de Alexandre O'Neill

AMIGO

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

terça-feira, maio 12, 2009

O menino grande foi ao encontro do grande menino

No domingo passado fui à Orada. O Zeca Barroso tinha-me desafiado, e à nossa amiga Maria João, para outra vez irmos à feira das ervas aromáticas.
Eu tenho a mania de que sou um menino grande.
Peguei na moderna caneta e deixei um bilhetinho na caixa de correio do amigo Norberto, mais ou menos assim: "Diga ao Zé que vou tentar passar por casa dele amanhã, domingo."
No caminho do Redondo para a Orada falei com o Zeca sobre a minha intenção. "Isso arranja-se...", disse-me ele. E assim foi. À tardinha, chegámos a São Tiago de Rio de Moinhos.
O batedor Miguel prontamente nos conduziu, rua acima, com rijas pedaladas à frente do mercedes do Zeca, à casa da família Geadas.
A mãe do Zé reconheceu-me imediatamente e convidou-nos a entrar. Boamente, a senhora foi buscar o filho, e o senhor Geadas ficou ali, na entrada da casa, a acolher-nos.
O Zé, qual pardalito titubiante, destacou-se finalmente da penumbra da porta, que os pais insistiam que passássemos adiante, para dentro da casa.
O corpo e a consciência do Zé pediam o descanso que os olhos, a muito custo, contrariavam.
Ainda assim, o Zé arranjou concentração para o autógrafo; arranjou sorriso para a fotografia; e arranjou palavra para o compromisso de um dia irmos vibrar com o Benfica, na Luz.
Ao final do dia, quando cheguei a casa, em Lisboa, fui escrever ao Zé num bilhete apressado: "Desculpa a maldade que te fiz hoje." Assim que o carteiro electrónico confirmou que o bilhete tinha sido bem enviado, fui abrir o correio do dia. Logo à frente, sendo a mais recente mensagem que me tinha chegado, encontrei, escrito pelo Zé: "Será sempre benvindo à minha casa." Sorri e apaziguei.
Zé Geadas, eu não sou poeta, tal como o Manuel Correia, que contigo cantou; e a tua beleza interior merece que me justifique com as palavras, igualmente belas, de quem as sabe juntar. Aqui ficam. São do poeta Sebastião da Gama:

O MENINO GRANDE

Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...

Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho.
Os brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me,
dos tempos de menino,
esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.

Vida!
não me venhas roubar o meu tesoiro:
não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se riscar os muros
ou quebrar algum vidro
ralha, ralha comigo, mas de manso...

(Eu tinha um bibe azul...
Tinha berlindes,
tinha bolas, cavalos, papagaios...

A minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E quantas vezes eu, só pra ouvi-la
ralhar, parti os vidros da janela
e desenhei bonecos na parede...)

Vida!, ralha também,
ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,
como se fosse ainda a minha Mãe...