#TOLERÂNCIA254 - AFECTOS: BARALHAR E VOLTAR A DAR
Estou a falar de afectos, de emoções e sentimentos. Penso que é salutar a gente, de vez em quando, fazer um 'check up' ao que sentimos, ao que pensamos, ao que dizemos deles; e ao que fazemos com eles. Não deixar a coisa assentar em registos e concepções que, aos poucos, com o tempo, se vão viciando, perdendo clareza e saúde.
É por isso que o texto que o Miguel Esteves Cardoso assina hoje no Público, na coluna "Ainda Ontem", com o título "Tratemos-nos como elefantes" me parece um texto especialmente feliz porque leva-nos ao remanuseamento das concepções dos afectos, ao tal 'check up' que considero útil, muito saudável. p MEC que não me leve a mal transcrever o texto na íntegra.
Imaginem a conversa que o texto não dará numa das nossas sessões de reflexão e troca de ideias acerca da Tolerância e dos afectos, valores e atitudes a que habitualmente a Tolerância se associa.
«Dizem que amar faz bem e odiar faz mal, mas amar também faz mal. Todas as emoções extremas fazem mal. Separá-las artificialmente não engana ninguém.
»Veja-se o amor. Esquecemo-nos de dormir, de comer, dos amigos, da família, e dos nossos próprios interesses enquanto seres independentes e humanos. Odiar faz muito mal. Adoece e mata. Envenena e entristece. É um triunfo não odiar. Custa, mas vale a pena. O coração é pequeno e não cabe lá nada: para quê enchê-lo do que não presta?
»O que faz bem não é amar. Mas também não é a indiferença. A indiferença é o contrário da vida. O que faz bem é uma indiferença que se enternece. É um encanto passageiro, uma compreensão dos
outros, um não ligar e deixar viver: um não querer impingir a ninguém o que pensamos.»O objectivo é tentar pensar nos outros seres humanos como pensamos nos elefantes. Temos pelos elefantes um misto de respeito, ternura e de tolerância. Deixamo-los ser como são, mesmo quando são maus, por sabermos que dali por pouco serão espantosamente bons.
»Já fomos maus com os elefantes — e muitos de nós ainda somos. Mas estamos a melhorar, a sentirmo-nos cada vez mais abençoados por vivermos no mesmo mundo que eles.
»Amamos os elefantes? Não, quase nunca pensamos neles. Só quando os vemos é que nos lembramos do muito que gostamos deles. Mas gostar também dá para o torto. As pessoas de quem gostamos desiludem-nos.
»É muito melhor a indiferença fascinada, a curiosidade que consente, a aceitacão fácil, o sentirmos que andamos todos ao mesmo, e que estamos todos no mesmo barco. Ninguém tem o direito de se achar melhor do que os outros — ou, então, toda a gente tem.
»Se um elefante aparecer no cimo da rua, deambulando em direcção a nós — digamos, uma manifestação de extremistas, gritando em favor de uma coisa que abominamos — arranjamos sempre maneira de deixar que o elefante passe.
»Fazemos bem. Temos um bocadinho de medo, mas também um bocadinho de respeito e de compreensão.»
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