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terça-feira, abril 15, 2014

A ansiedade do tempo: Há quanto tempo o homem ocidental se afasta da contemplação?

Há quanto tempo o homem ocidental se afasta da contemplação?
Há quanto tempo o germe da compulsão a estar a fazer qualquer coisa domina as vontades?
Quem sabe, este modo de estar no mundo associado ao valor da apropriação material trouxeram-nos a este estado de capitalismo frenético, individualista, egoísta e depredador.
"É mister limitar a correria sem rumo praticada pela maior parte dos homens, zunindo em direção às casas, teatros e mercados. Metem-se nos negócios alheios e aparentam sempre estarem ocupados. [...] Movem-se desnecessariamente e sem plano algum, como formigas trepando arbustos, indo até ao topo e de volta ao chão, sem nada alcançar. Muitos homens despendem a vida precisamente assim, naquilo que se poderia chamar de frenética indolência. Sentiria pena de alguns deles se os visse correndo apressados, como se as suas casas estivessem a arder." Séneca (século I)

terça-feira, janeiro 07, 2014

Gandhi deixou 2 dólares de bens materiais quando morreu

Menos de dois dólares

Um texto notável de José Tolentino Mendonça


A "pegada ecológica" diz muito acerca de nós: quantos recursos (e que recursos) hipotecamos para construir o que é o nosso estilo de vida, quais as necessidades que consideramos vitais e como as priorizamos, que tráfico de bens e serviços temos de colocar em funcionamento para realizar o nosso sonho (ou a nossa ilusão) de bem-estar. Os indicadores coincidem no seguinte: as sociedades avançadas geram uma inflação permanente de necessidades, indiferentes aos desequilíbrios que causam, e que são, em grande medida, não só de sustentabilidade ambiental mas de sustentabilidade espiritual. [o destaque é meu]

A verdade é que cada um de nós traz vazios por preencher, carências e interrogações submersas, desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata. Não é propriamente de coisas que precisamos, mas, à falta de melhor, condescendemos. À falta desse amor que nem sempre conseguimos, desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer, à falta dessa reconciliação connosco mesmo e com os outros que continuamente adiamos... O consumo desenfreado não é outra coisa que uma bolsa de compensações. As coisas que se adquirem são, obviamente, mais do que coisas: são promessas que nos acenam, são protestos impotentes por uma existência que não nos satisfaz, são ficções do nosso teatro interno. Os centros comerciais apresentam-se como pequenos paraísos, indolores e instantâneos. Infelizmente, de curtíssima duração também.

Li há dias, e impressionou-me muito, que, quando Gandhi morreu, os bens materiais que deixou valiam menos de dois dólares. Voltei a ler para verificar se me tinha enganado: menos de dois dólares. Os bens espirituais e civis que legou ao futuro tinham, porém, uma dimensão incalculável. O que nos enfraquece não é, de facto, a escassez, mas a sobreabundância; não é a indagação, mas o ruído de mil respostas fáceis que conflituam; não é a frugalidade, mas sim o desperdício. O que nos enfraquece é não termos escutado até ao fim o que está por detrás da fome e da sede, da nossa urgência e da nossa fadiga, do atordoamento, dos medos ou da abstenção.

Há aquela cena do filme de Steven Spielberg "A Lista de Schindler". O ator Liam Neeson representa o papel do industrial alemão que salvou a vida a mais de mil judeus. Na cena final, os resgatados oferecem-lhe, expressando a sua gratidão, uma aliança com uma frase do Talrnude. «Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro». E a resposta de Oskar Schindler é inesquecível: «Podia ter feito mais. Não sei, eu... Podia ter salvo mais. Desperdicei tanto dinheiro com futilidades. Não fazes ideia. Se soubesses... Não fiz o suficiente. Este carro... Porque fiquei eu com ele? Alguém o teria comprado. Teria salvo dez pessoas, mais dez pessoas. Este alfinete! Duas pessoas! É de ouro. Podia ter salvo mais duas pessoas. Por isto... eu poderia ter salvo mais pessoas... e não o fiz». Estamos condenados a uma dor assim?

Mas há finais felizes. Lembro-me dos meses que antecederam a partida do poeta Eugénio de Andrade. Ele ficou internado longo tempo no Hospital de Santo António, no Porto. Nessa altura, passei por lá algumas vezes a visitá-lo e só me recordo de ouvi-lo pedir uma coisa: que lhe trouxessem duas maçãs. Não para comer, obviamente, mas para ficar a olhá-las da cama, para sentir a cor, a textura, o perfume, para distinguir a sua forma no silêncio, para amá-las como se ama uma pintura de Cézanne. Acho que duas maçãs custam menos de dois dólares, não é verdade? (José Tolentino Mendonça, In Expresso, 4.1.2014)

domingo, fevereiro 22, 2009

dap - uma forma ritualizada de saudação

Dap é uma forma de cumprimento (aperto de mão), de diferentes graus de complexidade ritual, que apareceu nas comunidades afro-americanas dos Estados Unidos, e que se tornou popular na sociedade, em geral, brancos e negros, na década de 1960.


terça-feira, janeiro 20, 2009

A eleição de Barack "Eidje" Obama

Sou um daqueles anónimos de todo o mundo que se congratula com a eleição de Barack Obama, hoje, como presidente dos Estados Unidos da América. Porque aparece à esquerda de George Bush, porque parece ter bom-senso e sentido de humanidade, porque parece ter na pele a sensibilidade dos pobres, dos discriminados, dos excluídos.
Mas, sem que o entenda porquê (apenas faço conjecturas, que resultam da minha sensibilidade pessoal, e dos meus quadros teóricos de referência para a abordagem dos fenómenos pessoais e sociais), não deixei de reparar - e lamentar - a censura implícita e a falta de afirmação de um sentimento de confiança no anúncio do homem que se preparava para fazer o juramento solene como presidente dos Estados Unidos da América: o "presidente eleito dos Estados Unidos da América" não se chamava Barack Hussein Obama. Afinal, o seu nome era Barack "heidje" [H.] Obama.
Que cultura, que ideologia são estas que inibem, logo no momento formal de apresentação ao mundo do presidente dos E.U.A., um dos seus nomes de família, que parece ficar envergonhado, censurado, vitimado já pela força dos acontecimentos do mundo?
(Numa brevíssima busca no site oficial de Obama,  parece que o nome Hussein também aí  é já intencionalmente omitido)
No seu discurso de tomada de posse, Obama diz que o retalho das origens sociais da nação americana não são uma fraqueza, mas a sua força. E enumera cristãos, muçulmanos, judeus e não-crentes. Mas, no meu entender, a apresentação do nome deixou-se levar pela fraqueza, não foi o primeiro exemplo da força. Todos os outros "Hussein" dos E.U.A., naturalmente bons e respeitáveis cidadãos, não mereceriam da parte do bem recente Presidente dos E.U.A. um gesto de solidariedade, de afirmação da tal força do retalho social americano?
Senhor Presidente Barack Hussein Obama, o mundo - as pessoas e o ambiente - precisa que o seu mandato seja bem-sucedido. Desejo-lhe muita sabedoria. Desejo-lhe muita sorte.