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sexta-feira, setembro 12, 2025

#TOLERÂNCIA257 - O LADO SAUDÁVEL E DEMOCRÁTICO DA CÓLERA

 #TOLERÂNCIA257 - O LADO SAUDÁVEL E DEMOCRÁTICO DA CÓLERA

O francês Eric la Blanche é apresentado hoje, no "Le Monde", no artigo que assina, como ensaísta, filósofo e conferencista; e autor do livro "Osons la colère. Eloge d’une émotion interdite par temps de crise
planétaire" (Ousemos a cólera. Elogio duma emoção interdita em tempos de crise planetária). O livro é deste mês.

No "Le Monde", o artigo tem o título "Eric la Blanche, sem cólera, nunca houve progresso social; e subtitula: "o ensaísta e filósofo defende a cólera, distinta da violência, como uma emoção legítima e essencial para o bom funcionamento democrático". Transcreverei a seguir a seguir uma boa parte dele, mas antes convém que faça uma pequena clarificação conceptual, a propósito das emoções.

Tradicionalmente, considera-se um grupo de 5 ou 6 emoções básicas no ser humano: a alegria, a tristeza, o medo, o nojo e a raiva; e a surpresa — quantos vídeos não são hoje em dia publicados nas redes sociais com expressões de surpresa nos bebés? O autor hoje em dia mais célebre no campo das emoções é Paul Ekman, e ele não sido sempre igual no que diz das emoções. Por exemplo, ele recentemente juntou à sua lista de emoções universais o desdém ('contempt'). Quanto à raiva, em língua portuguesa é pacífico chamar-lhe "raiva", "cólera" ou "ira". Portanto, quando falamos de cólera (ou raiva, ou ira) estamos a falar duma emoção universal do ser humano que faz parte da matriz de expressão emocional com que ele nasce, não é aprendida por influência social. Mais! Muitas vezes é desaprendida, infelizmente, por procedimentos educativos muito frequentes nas nossas sociedades (que cada vez mais evitam lidar com as emoções negativas), errados!, mas isso é tema para outro texto, não é para agora.

Agora, então, a transcrição: «Neste período propício a movimentos sociais, muitos receiam o inflamamento. Como é habitual, os responsáveis políticos e alguns comentadores procuram desqualificar a cólera: seria irracional, perigosa, arcaica. Má por natureza. Mas este processo permanente de ilegitimação oculta uma verdade fundamental: sem cólera, nunca houve progresso social.

»Certamente, a cólera pode assustar. Mas não é violência. Nunca confundamos. A primeira é uma emoção, a segunda um passo para a ação. Confundir as duas é desconsiderar antecipadamente a mensagem que ela transporta. A cólera é uma emoção profundamente democrática; basta recordar o destino que as ditaduras reservam aos movimentos contestatários para disso nos convencermos.

»Em democracia, a cólera é um indicador, um sinal de alarme. Soa quando um limite foi ultrapassado, quando um limiar de injustiça foi atingido. É a sentinela dos desequilíbrios sociais. Recusar considerá-la é negar o próprio princípio da democracia, que consiste em permitir aos cidadãos exprimir o seu descontentamento e traduzi-lo em acção política.

»Hoje, porém, as injustiças acumulam-se: crise ecológica e social, degradação dos serviços públicos, aumento das desigualdades. Paralelamente, a fé no futuro e a natalidade enfraquecem consideravelmente. Tudo contribui para alimentar cóleras que o poder teima em tratar como desmandos ou caprichos, a golpes de anátemas ou de munições de defesa.

»No entanto, não se apaga uma casa em chamas atirando-lhe gasolina. Reprimir, criminalizar, deslegitimar só reforça a cólera, endurece-a, radicaliza-a.

»Cegueira das elites - O paradoxo é este: o que ameaça as nossas democracias não é o excesso de cólera do povo, mas a cegueira das elites perante injustiças que a população, na sua maioria, começa a considerar intoleráveis. Continuar como se nada fosse face ao colapso ecológico e às injustiças sociais e fiscais: eis a verdadeira irracionalidade. A cólera não é o problema; é, pelo contrário, a condição para um sobressalto colectivo. Os grandes avanços sociais e políticos nunca surgiram, como por magia, da apatia, mas sempre de iras (cóleras) colectivas transformadas em força de acção.»

A Educação da emoção básica da ira (ou cólera, ou raiva), para que ela não seja desaprendida, inibida ou abafada para níveis não saudáveis, impedindo o bem-estar das crianças e dos jovens, é um desafio enorme para educadores e professores. Qual não é o encarregado de educação ou professor que não deseja que as crianças e os jovens sejam dóceis e disciplinados e silenciosos e obedientes e que não contestem e que aceitem as ordens das figuras de autoridade? Que nunca se revoltem? Sim, há excepções, mas são mesmo muito poucas! Das coisas que mais as crianças e os jovens "prevaricadores" ouvem, tanto em casa como na escola, é o «Pois, mas quando disseste isso à professora perdeste toda a razão!» É isso que os adultos querem: é ficar sempre com a razão do lado deles.

Todas as emoções básicas têm valor de sobrevivência e contribuem para o bem-estar pessoal. Essa é uma das mensagens principais do filme de animação "Divertida-mente".

É desafio para todos os educadores saberem lidar com as expressões de cólera das crianças e dos jovens. Os seres humanos precisam da cólera (ou ira, ou raiva) para construírem sociedades mais justas. E todas, mesmo todas, as emoções necessitam da educação da sua expressão adequada; mas nenhuma deve ser desconsiderada, desvalorizada ou especialmente reprimida.

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