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domingo, abril 30, 2017

OS PROFESSORES SÃO OS BOMBOS DA FESTA

Bombos da festa, ou maus da fita?
  • A festa é a Educação do Futuro, ou do Século XXI, ou outra qualquer, Rumo a Qualquer Coisa...
  • Nunca houve tanta gente preocupada e gente ocupada (os "especialistas") a produzir textos, materiais gráficos, vídeos - todos postos gratuitamente nas nossas mãos, de todas as formas e feitios! - e disponibilizar essa parafernália toda aos professores. A UNESCO é uma dessas honradas, competentes e bem-intencionadas instituições; mais: oficial e mundial!
  • Um exemplo de sugerida Pedagogia para a Aprendizagem (infelizmente e dramaticamente - estou a falar a sério!) muito necessária, a bem do Ambiente, e a bem do Futuro:

Estão vendo?, é fácil!, está tudo aqui, nem há que pensar mais, é só fazer... Nem o inglês é limitação, o que não falta por aí é uma bem numerosa colecção de tradutores automáticos. Ah, pois! Há também os colegas, os professores de Inglês, eles, quem sabe?, poderão dar uma ajudinha.
Bem a sério: qual é o pecado original desta sugestão gráfica? Vá, vamos pensar um bocadinho...
  • Uma pista para quem aceitar seguir a minha sugestão: é esta notícia que Ken Robinson "tuïtou" há 2 dias, "Primary school head and deputy quit over 'bland and joyless' curriculum" (em inglês, outra vez?...). (1)
    No fundo, o que dizem estes professores directores da sua escola: que estão fartos de directivas oficiais, de disposições legislativas, de planificação e normalização; de currículos essenciais, que façam a gestão economicista dos recursos escolares (humanos incluídos) - e, lá vem o poderoso aceno-papão!, preparem as crianças e os jovens para o Futuro!
  • Que fez, então, o casal de professores? Escreveram aos pais dizendo-lhes: "Assim não dá. Assim não é educar os vossos filhos..."
  • É mesmo, é simplesmente isto que se insiste em pedir aos professores - a bem da sacrossanta economia de mercado, da necessidade de produzir força de trabalho bem distribuída de acordo com antevisões e projecções bem excelianas - que façam tudo sem terem liberdade para nada.
  • Sejam criativos!, Honrem a nobre missão social de que estão investidos!, Levem às crianças que as sociedades vos confiam à Expansão Pessoal da Criatividade, da Alegria, da Realização Pessoal, da Solidariedade!, da Amizade!, do Amor pelo Ambiente! E, pois claro, que sejam Empresários de Sucesso!
Sim... é só mesmo isto que se pede hoje aos professores... Só isto.


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(1) A tradução automática do Twitter escreve-nos assim: "Cabeça de escola primária e vice para no currículo 'sem graça, sem alegria'

domingo, março 30, 2014

A educação sexual não deve ser ativa

"A educação sexual não deve ser activa. Deve o adulto explicar à criança aquilo que ela quer saber e isso dizia-o Claparède e deve falar-se sempre seriamente nos assuntos. O adulto pode brincar com a criança, brincar com as palavras, fazer trocadilhos e toda a espécie de jogos verbais que entender. Mas quando trata de assuntos sérios deve-os tratar seriamente. Se o adulto for capaz de falar seriamente dos problemas sexuais e dos problemas que se deparam à criança, então, realmente ele está em condições de fazer a educação sexual. A educação sexual não é educação para ser feita a crianças, mas para ser feita a adultos, os pais é que devem ser educados sob o ponto de vista sexual para terem um comportamento capaz de inspirar uma atitude normal na criança." (João dos Santos, texto recolhido da gravação de uma conferência proferida no Porto, na Ordem dos Médicos, em 14 de março de 1957; texto não revisto pelo autor)
Não é por acaso que trago para aqui este pensamento do dr. João dos Santos no mesmo dia em que levei para o blogue "Mais Pessoa Pouco a Pouco" um pequeno apontamento sobre os três princípios da Educação tradicional romana, segundo Cícero -  http://maispessoapoucoapouco.blogspot.pt/2014/03/os-tres-imortais-principios-da-educacao.html

quinta-feira, janeiro 09, 2014

"Homenagem a Eusébio" - Luís Filipe Borges - 5 Para a Meia Noite

Aos poucos, irei aqui enumerando as razões porque considero que este pequeno discurso tem uma miríade de potencialidades pedagógicas, que podem ser tranquilamente exploradas na educação, também tranquila, das crianças e dos jovens.

domingo, abril 28, 2013

Qual é a medida do infinito?

No mesmo documentário que nos mostra um magnífico ritual de passagem, vivido na experiência direta entre o pai e o filho (http://fernandonaescola.blogspot.pt/2013/04/no-principio-e-vida.html); ainda no cimo da majestosa duna a que o mais velho alcandorou o rapaz que começava a descobrir o mundo, este, sem olhar o progenitor, mas enchendo-se da imensidão do que a sua vista alcançava, quis fazer-lhe uma pergunta, confiante na resposta que viesse a ouvir. Naquele momento de adolescer, seguramente o jovem sentiria ter ao seu lado o homem mais sábio que alguma vez conhecera, que tanto já lhe ensinara e muito teria ainda para lhe ensinar:
http://lianautinguassu.blogspot.pt/2013/01/assim-sinto.html
- Pai, como é o mar?...
O pai não demorou na humilde resposta:
- Nunca o vi, Rabdoulah...
E depois de uma breve pausa continuou:
- Dizem que é como o Ténéré, mas de cor azul.
Provavelmente neste instante o rapaz, a fazer-se homem e a conhecer o mundo, tomou para si a medida do infinito, do que é grande, grande para além do que o seu pensamento nascente conseguia conceber. Conhecemos a partir do que experimentamos; se noutros Rabdoulah's, de outras partes do mundo, a experiência sensível é a do mar, em Rabdoulah a experiência é a do deserto a ir para além do horizonte que a sua vista alcança. Seja deserto, seja mar, a vivência afetiva e a vivência cognitiva são as mesmas; são as vivências das crianças a crescerem. Que os homens, os mais velhos, saibam sempre fazer assim: dizer com afeto e dizer com inteligência o que aqueles de quem cuidam querem saber, enfrentando todos os desconhecidos com verdade e segurança.

Senta-te aí...

CONVERSA SÉRIA NA MANIFESTAÇÃO DO 25 DE ABRIL.
A camisola (estou a deixar de usar o termo 't-shirt') da menina legenda a fala do pai: "I want to tell you something" (Quero dizer-te uma coisa). Esta fala (a fotografia é testemunho da minha coscuvilhice...), se não acontecesse na manifestação do 25 de abril, seria assim, em casa; mas a seriedade dos rostos seria a mesma:
http://www.youtube.com/watch?v=baxj_eVPEe8

No princípio era a vida

http://www.allposters.com/-sp/Sand-Dunes-of-Ilekane-in-Tenere
-Part-of-Sahara-Desert-Near-Agadez-Posters_i7898176_.htm
Num documentário que pude visionar no canal Odisseia, "Caravanas" - documentário com fotografia magnífica, mas, no meu entender, composição infeliz -, é extraordinário o modo como tomamos noção de que aqueles homens, os Tuaregues, concebem que a Vida está em tudo e antes de tudo; até do Verbo.
O moço protagonista da aventura no mítico, no colossal Ténéré (deserto, na língua tuaregue), parte pela primeira vez com o seu pai para a longa jornada, jornada essa que ficará registada em documentário vídeo, permitindo-nos tomar um pouco dela para nós mesmos. É, há neste trabalho cinematográfico planos de imagem que nos fazem sentir o calor do deserto e tudo o mais que pai e filho pensam e conversam.
Quando atingem as primeiras dunas, o pai diz ao filho que suba com ele até à mais alta, para que possa ver a imensidão que vai para lá do horizonte.
É nessa altura que acontece o momento extraordinário, que faz passar de uma geração para a seguinte o modo de sentir que o ancestral Povo a que pertencem foi tecendo na relação entre os homens, os outros animais e os elementos.
O pai poderia ter dito ao filho: "Rabdoulah, meu querido filho, como podes ver com os teus próprios olhos, aqui não há nada; para encontrares alguma coisa que mostre a presença dos homens ou de alguma coisa com interesse, terás de vencer esta terra de nada e de ninguém."
Mas não. O pai, com o filho a beber-lhe as palavras, diz-lhe: "Esta é a terra vazia, onde só o vento, a areia e o silêncio conseguiram sobreviver."
Extraordinário, este momento, já o escrevi! Não sei se a tradução das palavras do pai, que leio nas legendas do documentário, reproduz fielmente o que o pai disse ao filho. Tomemos a tradução como correta.
Este pai, que tem como missão levar o filho ao coração da cultura que recebeu dos seus ancestrais, mostra ao que se está fazendo homem que o deserto não é um espaço vazio, totalmente ausente de vida. Os elementos que ele enumera - o vento, a areia e o silêncio - são sobreviventes, isto é, são possuidores de vida. Nada mais sobrevive porque a terra está vazia; mas, ao insuflar a ideia de vida ao vento, à areia e ao silêncio, o sujeito transmissor de cultura admite que o que não está lá agora pode já lá ter estado, ou pode vir a estar lá. Esta crença na presença da Vida é que é o elemento essencial daquele momento precioso de Cultura. O que poderia ter sido dito como uma resignação é dito como uma esperança, um alento; no lugar do dramatismo derrotista deixa a esperança estimulante.
No final do documentário, pai e filho regressam ao "refúgio das montanhas". Mas depois de descansar, contar as histórias da sua aventura e de voltar a brincar com os seus amigos, o jovem tuaregue, que passou a sentir o vento, a areia e o silêncio de outro modo, deixa-se levar na imaginação, preso à magia do deserto, do Ténéré, e descobre que o desejo de a ele voltar passou a fazer parte dele.
Que pai fantástico este, que mostra ao filho como é o Mundo, como há que sonhá-lo; e, pelo seu exemplo, como enfrentá-lo!
(Considero a composição do documentário infeliz porque os seus autores, tanto tentaram fazer um paralelo constante entre duas caravanas, entre duas aventuras diferentes, que acabaram por prejudicar a assimilação da dinâmica cultural complexa, humanamente muito exigente de ambas)

terça-feira, março 26, 2013

A lição dos amigos


A lição dos amigos
O Luís, sim, esse, o que se sentia no fundo do poço e a irmã desafiou a cavar ainda mais fundo, tem 3 filhos. Um deles é um rapazinho.
O breu do poço de onde o Luís saiu a pulso firme deu lugar à luz franca dos horizontes abertos; do trabalho e das relações pessoais positivas. A vida do jovem e integrado cidadão ganhou consistência, a pressão que quase impedia o fôlego deu espaço à folga que permitia o suspiro tranquilo.
O pai e a mãe do filho do Luís, num dia que a tradição diz que é de prendas para os miúdos – seria natal do Menino Jesus, ou natal do menino do Luís, não importa qual seria –, sentiam-se em condições de ir um pouco mais além na sofisticação do presente para o filho de ambos. Dois presentes, um do pai e um da mãe. Duas ideias, também, sobre o filho, uma do pai e outra da mãe. Dois objetivos também; sem querer, de boa-fé, ambos prendiam o filho ao brinquedo que ousavam para o filho, ambos arriscando a disponibilidade financeira da família. Mas o futuro era risonho e promissor; agora, nem uma réstia do breu difícil de tempos que se distanciavam cada vez mais.
Ignorando-se reciprocamente a início, num quase divertido jogo das escondidas, os brinquedos do pai e da mãe disputavam o filho:
a mãe escolheu um daqueles aparelhos modernos, sofisticados, de comandos à medida dos dedos ágeis infantis, que prendem as crianças, em casa, ao ecrã de televisão ou do computador;
o pai desafiou-se num pagamento a prestações, e comprou uma motoreta de quinhentos euros, que poria o filho na rua.
Estão todos juntos, é hora de os pais darem os presentes e do filho os desembrulhar.
A reacção do rapazinho ao presente do pai deixará adivinhar a reacção ao presente da mãe. O pai olha o filho, com ansiosa expetativa, enquanto ele desembrulha o presente. Sente-se bem, feliz de ter conquistado as condições para poder dar ao filho que tanto amava um brinquedo que simboliza a vida tomada nas mãos com algum desafogo. O jovem pai antecipa a alegria exuberante do filho, só não sabe se ele vai saltar primeiro para o selim da motoreta ou para o colo do pai.
Na hora de uma ou outra coisa acontecer, prenda completamente desembrulhada, o filho não faz uma coisa, nem a outra. O rapazinho mira quase indolentemente o magnífico presente.
Agora ansioso por outra razão, o pai pergunta ao filho:
- Então, filho, não gostas da mota?...
O miúdo tenta não desapontar o pai, mas também não consegue sentir, nem sequer fingir a alegria que o pai quer que ele mostre.
- Eu gosto, pai…
- Então, parece que não ficaste muito entusiasmado… insiste o pai, sem conseguir ver-se aliviado daquela ansiedade, à beira de se tornar numa deceção inesperada e indesejada.
O filho vira-se para o pai e, com a serenidade que expõe a sólida confiança e franqueza a que a educação dos pais levara já a personalidade em formação do filho, olha-o e diz-lhe:
- Ó pai, a mota é gira, mas não dá para o que eu quero…
- E o que é que tu queres, filho?... estranha o ansioso pai.
- É que a mota não dá para eu brincar com os meus amigos, pai… A mota é para eu brincar sozinho, só dá para um, e eu quero brincar com os meus amigos.
É isto a vida, é isto essa coisa extraordinária que é as relações que as pessoas são capazes de estabelecer umas com as outras. Este filho, com este sentir, sim, ele é que acaba sendo o verdadeiro presente – do filho para os pais, que – coitados! – tanto amor e tanto risco de si mesmos tinham posto nos presentes de valor que queriam dar ao filho.
Quanto vale, quanto custa, em dinheiro, o sentir espontâneo da amizade, do companheirismo, numa criança da idade do filho do Luís? Quanto mostra esta genuína forma de sentir do amor e dos valores recebidos pelo filho dos seus pais?
Numa perceção vertiginosa, o pai reviu as vicissitudes da sua própria vida, os afetos, as cumplicidades e os conflitos que o aproximaram e o afastaram dos outros, os amigos e a sociedade.
O Luís e a mãe do seu filho, o filho de ambos, seguramente se tornaram melhores pais, melhores pessoas a partir deste dia. E mimaram com redobrado carinho este filho precioso.
Quem, com esta história - história verdadeira -  não ficará a pensar sobre os presentes que já deu, que gostaria de dar e que vale a pena dar?

terça-feira, março 19, 2013

DIA DO PAI, DE VOLTA EM 2013


DIA DO PAI, com dedicatória especial para os pais, avós e filhos que amam os seus filhos, netos e pais de maneira especialmente complicada. Plagiando o dr. Luís Patrício, "amar não é complicar".
Um abraço especialmente apertado a todos os meus filhos "in pectore". E ao meu pai.


Os Dias disto e daquilo são ocasiões celebrativas que visam alertar, agradecer, fazer pedadogia.
Tendem a extremar os os sentimentos despertados, seja idealizando as imagens mentais, seja acentuando as vivências tristes associadas.
O Dia do Pai é dos que mais dificilmente escapa a este efeito de acentuamento dos pensamentos e dos afetos.
Resolvi, desta vez, trazer - por variadíssimas razões, de que falarei se vierem a propósito - um trecho de Rómulo de Carvalho, sobre o seu próprio pai, num livro de memórias que ele escreveu para os "queridos filhos dos netos dos meus netos":

"Dir-se-ia, ao vê-lo, que era um homem indiferente, insensível ao que se passava em seu redor. Raramente falava. Quando estava acordado preparava-se para dormir. Não tinha uma conversa, não trocava uma opinião. Talvez sentisse acanhamento em fazê-lo e se envergonhasse de descobrir os seus sentimentos. Se houvesse telefone, no tempo, talvez fosse capaz de, por ele, dizer que nos estimava muito a todos e que eram [penso que o autor quereria escrever "era"] muito nosso amigo. Depois desligava. Só de longe, e encoberto, se atreveria a isso. Não me recordo que me fizesse nenhuma carícia, mas um dia ele teve que ir a Évora, e de lá mandou uma carta, e dentro da carta vinha um poema, um acróstico, dactilografado, dirigido a mim, que era seu filho querido, e que tinha sete anos. Era assim o poema:

R apaz vivo e inteligente,
O enlevo de toda a gente,
M enos de oito anos tem,
U m eterno falador,
L endo sempre com amor
O livro que à mão lhe vem.

Repare-se como as primeiras letras dos seis versos formam o meu nome, e o texto decorre sem esforço, fluente e bem ritmado, tudo sinais de viva sensibilidade. Mas, embora enviasse os versos por carta, de longe, não teve mesmo assim coragem para acrescentar o seu nome ou o seu título de pai por debaixo do que escrevera. Mas mandar aquele papel, assim, sem mais nada, também não lhe parecia correcto. Teve uma ideia, escondido atrás dela, sentiu-se então capaz de manifestar o seu amor pelo filho que muito estimava. Assinou; "Votre Père". Conservo esse papel."

Eu avisaria: o que é certo é que Rómulo de Carvalho se veio a tornar, certamente por esta e por outras, no suave poeta António Gedeão.

domingo, fevereiro 26, 2012

O Professor Daniel Sampaio, a aprendizagem construtiva dos alunos, as aulas e os professores.

Professor Daniel Sampaio,
Espero que não tenha dito exatamente assim a afirmação que lhe é atribuída pela jornalista Clara Soares no artigo "Um avô, dois netos, um livro", da edição n. 990 da Visão (p. 89): "É preciso ajudar os alunos a construir a aprendizagem e não pô-los sentados durante 90 minutos a ouvir o professor."
Tenho a opinião de o que os leitores precisam de pessoas, especialistas, consagradas na Comunicação Social, como é o caso do Professor Daniel Sampaio, é que o seu génio as ponha a dizer coisas bem para além, com muito mais valor, do que o que está contido naquela afirmação.
A dicotomia, radical, subjacente à forma "É preciso... e não...", convenhamos, é de utilidade e de eficácia muito duvidosas. Se, na verdade, queremos ajudar os alunos, os pais e os professores nessa coisa hipercomplexa e hiperdeterminada que é, hoje em dia, a gestão do direito de todos à educação, ao ensino e à aprendizagem; e se, de facto queremos dizer-lhes alguma coisa interessante e útil, que congregue a compreensão e o esforço de todos eles (já que os - eternos! - problemas com os decisores políticos são o que todos nós sabemos), tal dicotomia é - pelo menos, parece-me - absolutamente infrutífera, quiçá mesmo, pouco inteligente e contraproducente.
Concordará comigo que, no mínimo, a afirmação deveria ter sido formulada de maneira aberta e realmente viável, por exemplo, da seguinte maneira: "É preciso ajudar os alunos a construir a aprendizagem, para além de (ou, não basta) pô-los sentados durante 90 (ou 60... ou 45... ou 50... ou...) minutos a ouvir o professor."(1)
Professor Daniel Sampaio, é ou não é preciso pôr os alunos a ouvir os professores?... (2) Sim, concordo, está a ver, esta pergunta tem também o radicalismo que eu critico na sua.
É mesmo, as palavras às vezes são mesmo complicadas!... A gente tem mesmo de ter cuidado com as palavras que diz. Então no seu caso, que sabemos que muito gente o ouve e o lê. Não devemos bastar-nos a querer dizer coisas só porque produzem um determinado efeito, ou impacto, na comunicação social ou nos grupos alvo que temos em mente.
Entretanto, terei todo o prazer em conhecer as experiências pedagógicas que o senhor Professor conhece e que sustentam a afirmação, repito, que a jornalista lhe atribui.

(1) E isto é praticamente estar a dizer que os alunos que constroem a aprendizagem não o conseguem fazer nas aulas em que ouvem os professores, o que não é, de todo, verdade! Nem Piaget foi alguma vez tão radical, mesmo quando disse que "tudo o que se ensina à criança é um obstáculo à sua capacidade de descobrir e inventar!" Basta que não tomemos ensinar como sinónimo de ouvir, por exemplo.
(2) Tanto que o senhor Professor diz que os pais devem ouvir os filhos!... E o contrário, não?...

domingo, setembro 05, 2010

Causa "Abaixo as mochilas da escola supercarregadas de livros"

Numa reportagem que hoje vi na RTP Notícias sobre o regresso às aulas, falou-se de muita coisa, tendo um pormenor passado despercebido: há um primeiro momento em que uma criança se esforça por recitar o alfabeto perante as câmaras, ali com o microfone bem apontado à boca. Depois, num segundo momento, aparece a mesma criança a tentar pegar, a muito custo, numa mochila supercarregada de livros, cadernos e outro material escolar.
Ora, tenho para mim que essa era, na verdade, a situação mais grave apresentada na reportagem! Quantas vezes vemos as crianças caminhando desajeitadamente na rua por causa do peso da mochila que levam às costas para a escola! Quantas vezes é o pai, a mãe, o avô ou a avó a levar a mochila para a escola porque a criança não aguenta com aquele peso!
Penso que é mesmo um problema de saúde pública! Grave!
Não é novidade denunciar esta situação. "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura."
Cada vez mais, hoje em dia, os estudantes dos anos terminais do ensino secundário vão para a escola praticamente sem nada, quase só com uma esferográfica e um caderno mais ou menos retorcido num bolso ou na cova da mão. Mas, no ensino básico, a maioria das mochilas são autênticas cruzes de crucificação que comprometem o desenvolvimento físico saudável das crianças.
Ora aqui está um tema que merecia uma Causa no Facebook. São tantas as causas que agora, em catadupa, chegam todos os dias pela Internet a nossas casas.
NÃO HÁ, SEGURAMENTE, NECESSIDADE DE SER ASSIM!
NÃO PODE SER ASSIM!
ABAIXO AS MOCHILAS DA ESCOLA SUPERCARREGADAS!
Há anos subi o Kilimanjaro, com amigos, em que só um não era professor. À entrada do Parque Natural, o peso das cargas de cada um dos carregadores (adultos) era fiscalizada: não podia exceder os vinte quilogramas por carregador.
Penso que, proporcionalmente à idade e ao peso corporal, há muitas crianças portuguesas que carregam muito mais que esses vinte quilogramas. Que dizem os pais?... Que fazem os professores?...

sexta-feira, abril 09, 2010

Pensar interessantemente, agir divertidamente

Bem... pelo menos é divertido ver. A "Fun Theory" é engraçada, e os outros vídeos são também giros, para além de informativos e muito formativos. Dão ideias!... Aos pais de família e aos gestores sociais.

quarta-feira, março 03, 2010

O que é a educação - 01


Aprendemos com os poetas que o sonho comanda a vida.
Não sei se Randy Pausch conhecia ou não os poetas da Língua Portuguesa. Seguramente na sua própria língua, outros poetas cantaram também o sonho.
Quando ele deu a sua última aula, verdadeiramente última porque ele sabia que ia morrer dentro de pouco tempo, intitulou-a "Conquistar os nosso sonhos de infância".
Da aula, registada em vídeo (ver aqui) ele depois fez um livro, onde juntou outras coisas.
Por exemplo, um pequeno capítulo que a seguir transcrevo a partir da edição portuguesa. Este capítulo, no meu entender, relata maravilhosamente, com muita clareza e simplicidade, a essência da educação, do que aos agentes educativos (pais, escola e educadores sociais) cabe, com lógica, amor e bom senso.

SONHAR EM GRANDE
Os homens pisaram a Lua no Verão de 1969, tinha eu oito anos. Soube então que quase tudo era possível. Era como se todos nós, em todo o mundo, tivéssemos obtido permissão para ter sonhos em grande.
Nesse verão tinha ido acampar e, quando o módulo lunar poisou, fomos para a casa principal da fazenda, onde tinham ligado uma televisão. Os astronautas estavam a demorar muito tempo a organizar-se antes de poderem descer a escada e andar na superfície da lunar. Eu compreendia. Tinham muito equipamento, muitos pormenores a tratar. Eu era paciente.
Mas as pessoas que dirigiam o acampamento não paravam de ver as horas. Já passava das onze. Eventualmente, enquanto se tomavam decisões inteligentes na Lua, foi tomada uma idiota aqui na Terra. Era muito tarde. As crianças foram todas enviadas de volta às tendas para dormir.
Estava profundamente irritado com os directores do acampamento. O pensamento que me atormentava era o seguinte: «A minha espécie saiu do nosso planeta e aterrou pela primeira vez num mundo novo e vocês estão preocupados com a hora de deitar?»
Mas quando cheguei a casa, algumas semanas depois, descobri que o meu pai tinha tirado uma fotografia à nossa televisão assim que Neil Armstrong pisou a Lua. Tinha preservado o momento para mim, pois sabia que podia ajudar a desencadear sonhos em grande. Ainda temos essa fotografia num álbum.
Compreendo quem argumenta que os milhares de milhões de dólares gastos para colocar homens na Lua poderiam ter sido utilizados para combater a pobreza e a fome na Terra. Mas pronto, sou um cientista que vê a inspiração como derradeira ferramenta para fazer o bem.
Quando utilizamos o dinheiro para combater a pobreza, isso pode ser de grande valor, mas, com demasiada frequência, trabalhamos à margem. Quando se colocam pessoas na Lua, inspiramo-nos todos para desenvolver o nosso máximo potencial humano, que é como eventualmente os nossos problemas serão resolvidos.
Permitam-se sonhar. Alimentem também os sonhos dos vossos filhos. De vez em quando, isso pode significar deixá-los ficar acordados depois da hora de deitar.
(in A ÚLTIMA AULA, Randy Pausch, Editorial Presença, 2008, páginas 153-155)

terça-feira, dezembro 08, 2009

Pais, filhos e a Educação Sexual: falam pouco, falam tarde

Parents' Sex Talk with Kids: Too Little, Too Late

Fui buscar este artigo à revista TIME.
Para já, transcrevo-o para aqui (tradução Google, a que darei ainda "uns toques" brevemente), tal qual ele aparece na revista.
Vale a pena ler. É claro e informativo.
Em tempos de aplicação nas escolas portuguesas do programa de Educação Sexual do governo português, parece-me que ajuda a discussão.

A conversa do sexo nunca é fácil. Não é confortável para todos os envolvidos - os pais têm medo de que, as crianças são mortificada por ela - que é provavelmente porque a falar tantas vezes vem depois do fato. No mais recente estudo sobre o pai-filho fala sobre sexo e sexualidade, os investigadores encontraram que mais de 40% dos adolescentes tinham tido relações sexuais antes de falar com seus pais sobre sexo seguro, controle de natalidade ou doenças sexualmente transmissíveis.
Essa tendência é preocupante, dizem os especialistas, uma vez que os adolescentes que falar com seus pais sobre sexo são mais propensos a atrasar a sua primeira experiência sexual e para a prática de sexo seguro quando elas se tornem sexualmente ativas. E, ironicamente, apesar de sua aparente medo, as crianças realmente querem aprender sobre sexo de seus pais, de acordo com o estudo após estudo sobre o tema.
(Veja fotos de adolescentes na América Latina.)
"Os resultados não me surpreendem", diz o Dr. Mark Schuster, um dos autores do novo estudo, publicado na revista Pediatrics, eo chefe da pediatria geral do Hospital Infantil de Boston. "Mas há algo sobre ter dados reais que serve como um alerta aos pais que não estão falando com seus filhos sobre questões muito importantes até mais tarde do que nós pensamos que seria melhor."
O estudo envolveu 141 famílias cadastradas no pais conversando, programa Teens Saudável, organizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles / Rand Centro de Saúde do Adolescente Promoção e supervisionado por Schuster. Pais e filhos, com idades entre 13 a 17, respondeu a 24 perguntas sobre questões relativas ao sexo e sexualidade, incluindo a forma como as mulheres engravidam mudanças, o corpo que ocorrem durante a puberdade, como usar preservativos e controle de natalidade, assim como as questões em torno da homossexualidade.
(Veja as 10 principais ídolos teen.)
Os pesquisadores perguntaram aos pais e seus filhos, em separado, quando eles tinham discutido pela primeira vez a cada tema, e compararam essas informações para auto adolescentes de relatórios sobre seu envolvimento em três categorias específicas de comportamento sexual - de mãos dadas ou beijar, tocar ou sexo oral genital ; sexual e. As famílias foram entrevistados quatro vezes, uma no início do estudo, em seguida, novamente em três, seis e 12 meses.
Ao final do estudo, mais da metade dos pais relataram que não havia discutido 14 do sexo 24 tópicos relacionados a seu tempo os adolescentes tinham começado tocando genitais ou sexo oral com parceiros. Quarenta e dois por cento das meninas relataram que não havia discutido a eficácia do controle de natalidade e 40% admitiram que não tinha falado com os pais sobre como recusar o sexo antes de se envolver no toque genital. Quase 70% dos meninos disseram que não havia discutido como usar um preservativo ou o nascimento de outros métodos de controle com os pais antes de ter relações sexuais. No entanto, apenas metade dos pais dos meninos, ao contrário, disseram que não havia discutido o uso do preservativo ou de controle de natalidade com seus filhos.
(Veja fotos da evolução do dormitório da faculdade.)
Essa diferença evidencia um problema principal no diálogo entre pais e filhos sobre sexo."Muitos pais pensam que eles tiveram uma conversa, e as crianças não se lembra em tudo", diz a Dra. Karen Soren, diretor da medicina do adolescente de Nova York Presbyterian Morgan Stanley Children's Hospital. "Os pais às vezes dizem coisas mais vagamente, porque eles se sentem e pensam que já abordados alguma coisa, mas as crianças não ouvem o tema em tudo."
É incrivelmente difícil de abordar o tema do sexo, admite Soren, que tem três filhos dela própria. "Seus filhos olham para você como você é louco, e você sente como você deseja executar", diz ela. "Mas é importante porque nós sabemos que boa mãe-criança dá às crianças uma melhor resiliência mais tarde na vida."
Como mostra o estudo mais recente, fala dos pais sobre sexo e sexualidade precisam ocorrer muito mais cedo do que eles fazem, mas isso não significa necessariamente que os pais têm apenas uma chance de acertar. Para facilitar as coisas, e tomar alguma da pressão fora da situação, dizem os especialistas, os pais devem pensar fala o sexo como um diálogo permanente, em vez de uma discussão incômoda que eles devem cruzar fora de sua lista. E eles devem ter em mente que eles provavelmente já internalizou o mesmo desconforto e evitar que seus próprios pais exibido em falar sobre sexo - mas fala de sexo não precisa ser tão preocupante. Especialistas dizem também que os pais devem discutir certos assuntos com seus filhos em idade momentos adequados, e que o debate deve evoluir como filhos maduros."A 12-year-old vai olhar para o sexo de forma muito diferente do que um 15 - ou um 18-year-old", disse Soren. "Para as crianças entre 10 e 13, a idéia do sexo agrega-los. Então, você provavelmente não vai dizer a um 13-year-old necessariamente tudo sobre os diferentes métodos de controle de natalidade".
Em vez disso, as conversações devem se concentrar no que a criança é capaz de absorver, e que a criança pergunta sobre. Os pais também devem aproveitar cada desculpa para abordar o assunto difícil - uma menção a sexo ou sexualidade em um programa de TV, uma gravidez na família, as aulas de educação sexual na escola ou uma visita ao médico na época da puberdade. "Se você acabar com a dificuldade de partida, em seguida, uma vez que a conversa começa indo, você encontrará muitas vezes é mais fácil do que o esperado", diz Schuster."Portanto, use qualquer desculpa que quiser, mas apenas superar o obstáculo inicial e começar a conversar com seus filhos, porque é realmente importante."

Read more: http://www.time.com/time/health/article/0,8599,1945759,00.html?xid=newsletter-daily#ixzz0Z5768gYL

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Aniversários: de Darwin, do meu pai e da Mariana

Ontem cantei os parabéns a Charles Darwin, na Gulbenkian, e comi uma pequena fatia do seu bolo de aniversário.
Hoje evocarei o aniversário do meu pai e, na casa que foi a dele, cantarei os parabéns à sua neta açoriana, a minha sobrinha Mariana. Depois de ela apagar as velas, vou comer mais bolo de anos, que virá da deliciosa padaria Barroso, do Redondo. 
A autobiografia de Darwin tem muitas referências ao seu pai, que atestam os laços que os ligavam e os sentimentos profundos que o naturalista nutria pelo seu progenitor.
Para além de todas as opiniões pessoais que pudesse ter manifestado em relação ao seu filho, parece-me que nos momentos críticos das opções de Darwin, Robert Darwin respeitou as opções do filho, e deu espaço para que ele levasse por diante as suas motivações e as suas decisões.
O "salvar a face" da sua autoridade perante a vontade de não deixar o filho embarcar no Beagle e a atitude de não o impedir de realizar este seu grande desejo está na formulação lapidar com que lhe comunica a sua decisão: "Se encontrares alguém de bom senso que te aconselhe a ir, eu dou-te a minha permissão".
É... o meu pai também teria dito qualquer coisa assim deste género. Para ele, mais importante do que obrigar-me a cumprir as suas determinações, ou condicionar-me logo para tomar (para ele, claro, do seu ponto de vista) as boas decisões, o meu pai confiava sempre, deu-me sempre a possibilidade de escolher, queria era que eu assumisse as minhas decisões mesmo nas suas piores consequências. Quando as havia - raramente isso aconteceu - apoiava-me benevolentemente na resolução de quaisquer problemas surgidos.
É... o meu pai ajudou-me, mais do que qualquer outra pessoa, a seguir (responsavelmente) as minhas motivações e a, como diz Darwin, a ter um enorme prazer no esforço físico e mental. Na exploração do mundo e na comunicação com as pessoas à minha volta.
Parabéns, Velho!... Parabéns, Mariana!...

domingo, fevereiro 08, 2009

Sobre a escola de 12 horas - capítulo II

A minha querida colega e amiga Ana Almeida, da Universidade do Minho, teve a gentileza (que muita alegria me deu; e que muito sinceramente agradeço) de me mandar o seguinte texto, em que exprime a sua opinião sobre o assunto das 12 horas na escola:

Concordo inteiramente. Se a minha opinião douta, na qualidade de professora de Psicologia de Desenvolvimento nas licenciaturas de formação de professores, também tem algum crédito, acrescentaria que não há estudos científicos que possam predizer que o aumento de horas na escola se traduza linearmente em ganhos desenvolvimentais em qualquer plano: cognitivo, afectivo ou social. Se esse tempo for ganho à família tanto pior, pelo que isso significa em termos de perdas de cuidados, acompanhamento e supervisão às crianças, mas pior ainda pelo que isso representa para o exercício da parentalidade positiva e da defesa das políticas de conciliação do trabalho e do apoio aos filhos. Moral da história para abreviar: não se podem considerar todos os desabafos como dignos de serem comentados, sob o risco de alimentar uma polémica sem fundamento.

sábado, fevereiro 07, 2009

Sobre a hipótese da escola de 12 horas

Encontrei na edição on line de hoje do jornal "Público" uma notícia que começa assim:
Que geração será a das crianças que vão passar doze horas na escola?

07.02.2009, Natália Faria

Adolescentes como os do filme Paranoid Park, quase delinquentes. Ou como os outros, sem mais dramas. Mas o tempo a mais na escola deve ser para brincar

Diz o psiquiatra Daniel Sampaio: "O que é preciso é modificar os horários dos pais e não aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Se persistirmos neste modelo, estaremos a criar uma geração de adolescentes como a do Paranoid Park, do Gus Van Sant", ou seja, jovens a arriscar a fronteira da delinquência. 
Desdramatiza o neuropediatra Nu-
no Lobo Antunes: "Não antecipo na-
da esse cenário. Não creio que a per-
manência das crianças na escola durante mais tempo vá provocar uma hecatombe ou deitar a perder uma geração. Não sendo a situação ideal, não me parece que as crianças fiquem mal empregues". 
A possibilidade de as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem 12 horas por dia, entre as sete da manhã e as sete da tarde, posta esta semana em cima da mesa pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), está longe de gerar consensos. (...)

Hoje também, de manhã, a atravessar a ponte Vasco da Gama, ouvi na rádio do carro a repetição de uma conversa com Daniel Sampaio, em que ele opinava e aconselhava acerca de uma carta mandada por uma mãe que tinha criado com as filhas uma lista de coisas para cumprirem diariamente, as filhas não cumpriam e ela não sabia o que fazer. Pessoalmente discordo claramente da opinião expressa por Daniel Sampaio na rádio. Talvez um dia volte a este assunto e explique aqui porquê.
Mas no que diz respeito ao assunto do jornal, no fundamental estou de acordo com ele e fico espantado com a opinião que diz "não me parece que as crianças fiquem mal empregues".
Somos todos muito doutos, somos todos muito sabedores destas coisas todas... e hoje há também muitas pessoas que pensam que sabem muito mais que os professores e as educadoras sobre estas coisas, e se os professores e as educadoras não querem ficar mais tempo com as crianças é porque não querem trabalhar!
Pela minha parte, quero apenas deixar aqui um brevíssimo pedaço de uma pequena conversa que um dia ouvi numa sala de estudo de apoio a crianças em risco escolar. Uma conversa de crianças. Era sobre o dia da semana que mais gostavam. Este deste, aquele daquele, aquela do outro... O T., o dia que gostava mais era a quinta-feira. A conversa era absolutamente espontânea. À vez, cada um disse o dia que gostava mais. E depois de dar a volta a todos, voltou ao primeiro, e todos tiveram de explicar porque gostavam mais do dia que tinham escolhido. Quando chegou a sua vez, o T. disse: "Eu gosto mais da quinta-feira porque é o dia em que eu chego a casa e a minha mãe já lá está. Ela pergunta-me como é que foi a escola. Eu sento-me na cozinha e enquanto a minha mãe me arranja o lanche eu conto-lhe como foi". No fim da conversa, todos acharam que a razão do T. era uma razão muito boa, a quinta-feira devia ser mesmo o melhor dia da semana.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Carta aberta ao menino prodígio de Setúbal, o Miguel Guerreiro

Querido Miguel,

Vou tentar que esta carta tenha o teu tamanho, que seja pequena.
Ontem, na noite de passagem de ano fiz questão de te ver no espectáculo da TVI. Tinha-te visto no fim-de-semana e tinha ficado impressionado com a tua performance a cantares o “Sol de inverno”.
Miguel, a tua voz é um dom. O teu corpo canta todo contigo. E quando a canção te puxa ao limite do esforço, e a boca se abre em toda a sua expansão, parece que a gente consegue ver-te a alma, feliz, a trazer-nos as canções de ti para nós, cantadas em modulações deliciosamente harmoniosas.
Não gosto do género de espectáculos em que participaste, nunca os vejo. Mas era a oportunidade de te voltar a ouvir – já que da primeira vez te ouvi por mero acaso - , e não quis perdê-la.
A minha sobrinha Mariana, ao meu lado, perguntava-me como era possível uma criança ter a voz assim. Ela tem 13 anos, quase 14. E se a tua voz irá ser sempre assim, tão bonita. Eu disse-lhe, entre outras coisas, que, por exemplo, terás de passar pelo risco da puberdade, não sabemos o que ela fará à tua voz.
O resto… o resto é motivação pessoal e educação familiar e escolar. Este teu grande sucesso, tão precoce, pode virar-se contra ti. Gostei de ver os teus pais no espectáculo. Fico a desejar que eles venham a ser contigo o que penso que eles deverão ser: que te protejam do sucesso fácil e dos gananciosos dos espectáculos mediáticos; e te proporcionem a formação pessoal e a educação escolar e artística que a tua pessoa e o teu dom necessitam.
Parabéns, Miguel!
Muito obrigado pelos momentos deliciosos que me proporcionaste!
Desejo-te tudo de bom na vida. Não é nada de especial, toda a gente diz assim. Mas também, na verdade, que mais posso eu desejar agora para ti?...

domingo, novembro 09, 2008

A avaliação e os professores - 3: Uma árvore conhece-se pelos seus frutos, não é?

Ora bem, vamos recapitular:
- Quem não concorda com a melhoria do ensino público? (Ninguém responde, silêncio total...)
- Quem não concorda que os professores devem ser avaliados? (Silêncio absoluto)
- Quem não concorda que os professores mais competentes e os mais capazes (provavelmente, os mais velhos, ou antigos) avaliem os mais novos? (Outra vez silêncio absoluto)
- Quem não concorda com a ministra da Educação que diz que uma ficha no princípio do ano, só três aulas assistidas ao longo do ano e uma ficha de avaliação no fim do ano, é pouco trabalho (Bem, ouviram-se uns sussurros, mas, verdadeiramente, ninguém se opôs)?
- Quem não concorda que é preciso separar o trigo do joio?
Pois é, postas as coisas assim, é difícil não concordar com tudo. Só que, na prática, como diz a cultura popular, de velha e sábia que é, de boas intenções está o inferno cheio.
Mas por aqui não vamos lá, quero dizer, por este lado, os professores pouco ou nada convencem a "opinião pública".
Sendo assim, vamos por outro lado:
- As reformas do Ministério da Educação (bem intencionadas, naturalmente) estão ou não a acelerar a saída, antes de tempo, das escolas dos professores mais velhos, mais próximos dos escalões superiores da carreira docente, assim já consagrados por estas mesmas reformas?
- Os rankings das escolas, que aí apareceram e por cá ficaram, para o bem e para o mal, estão ou não a mostrar o abaixamento das escolas públicas, em geral?
- Aumentou ou não o nível de insatisfação dos professores nas escolas, agora que se conta com duas manifestações públicas de mais de cem mil professores, em Lisboa, num período de oito meses?
- É ou não é verdade que a Confederação Nacional das Associações de Pais, que tão cedo saudou as decisões da Ministra da Educação agora já publicamente defende a necessidade de se fazer a revisão de decisões ministeriais, ou da sua aplicação, já que decisões há que estão a prejudicar o ensino e a aprendizagem nas escolas?
- Uma árvore conhece-se pelos seus frutos, não é?
- Que podemos nós dizer desta árvore que o Ministério de Maria de Lurdes Rodrigues e José Sócrates plantaram?
- Dá ou não dá por vezes a sensação que, afinal, se está a deitar trigo de muito boa qualidade fora?