sábado, fevereiro 07, 2009

Sobre a hipótese da escola de 12 horas

Encontrei na edição on line de hoje do jornal "Público" uma notícia que começa assim:
Que geração será a das crianças que vão passar doze horas na escola?

07.02.2009, Natália Faria

Adolescentes como os do filme Paranoid Park, quase delinquentes. Ou como os outros, sem mais dramas. Mas o tempo a mais na escola deve ser para brincar

Diz o psiquiatra Daniel Sampaio: "O que é preciso é modificar os horários dos pais e não aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Se persistirmos neste modelo, estaremos a criar uma geração de adolescentes como a do Paranoid Park, do Gus Van Sant", ou seja, jovens a arriscar a fronteira da delinquência. 
Desdramatiza o neuropediatra Nu-
no Lobo Antunes: "Não antecipo na-
da esse cenário. Não creio que a per-
manência das crianças na escola durante mais tempo vá provocar uma hecatombe ou deitar a perder uma geração. Não sendo a situação ideal, não me parece que as crianças fiquem mal empregues". 
A possibilidade de as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem 12 horas por dia, entre as sete da manhã e as sete da tarde, posta esta semana em cima da mesa pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), está longe de gerar consensos. (...)

Hoje também, de manhã, a atravessar a ponte Vasco da Gama, ouvi na rádio do carro a repetição de uma conversa com Daniel Sampaio, em que ele opinava e aconselhava acerca de uma carta mandada por uma mãe que tinha criado com as filhas uma lista de coisas para cumprirem diariamente, as filhas não cumpriam e ela não sabia o que fazer. Pessoalmente discordo claramente da opinião expressa por Daniel Sampaio na rádio. Talvez um dia volte a este assunto e explique aqui porquê.
Mas no que diz respeito ao assunto do jornal, no fundamental estou de acordo com ele e fico espantado com a opinião que diz "não me parece que as crianças fiquem mal empregues".
Somos todos muito doutos, somos todos muito sabedores destas coisas todas... e hoje há também muitas pessoas que pensam que sabem muito mais que os professores e as educadoras sobre estas coisas, e se os professores e as educadoras não querem ficar mais tempo com as crianças é porque não querem trabalhar!
Pela minha parte, quero apenas deixar aqui um brevíssimo pedaço de uma pequena conversa que um dia ouvi numa sala de estudo de apoio a crianças em risco escolar. Uma conversa de crianças. Era sobre o dia da semana que mais gostavam. Este deste, aquele daquele, aquela do outro... O T., o dia que gostava mais era a quinta-feira. A conversa era absolutamente espontânea. À vez, cada um disse o dia que gostava mais. E depois de dar a volta a todos, voltou ao primeiro, e todos tiveram de explicar porque gostavam mais do dia que tinham escolhido. Quando chegou a sua vez, o T. disse: "Eu gosto mais da quinta-feira porque é o dia em que eu chego a casa e a minha mãe já lá está. Ela pergunta-me como é que foi a escola. Eu sento-me na cozinha e enquanto a minha mãe me arranja o lanche eu conto-lhe como foi". No fim da conversa, todos acharam que a razão do T. era uma razão muito boa, a quinta-feira devia ser mesmo o melhor dia da semana.

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