quinta-feira, agosto 10, 2023

sábado, março 25, 2023

Educação - Frases Inspiradoras: Deus e os Homens

 «Não é importante se as pessoas acreditam ou não em Deus; o que conta é como tratam os outros homens.», era o que Hans Rosling ouvia, em criança, aos seus pais. Quase seguramente, na década de 50 do séc. XX, na Suécia.

(Hans Rosling, "Como Aprendi a Compreender o Mundo", p. 21. Temas e Debates, Lisboa, 2021)

Aprender o valor do trabalho, a justiça e a equidade ao colo do pai

Hans Rosling tornou-se conhecido pelo livro que teve de concluir à pressa. A sentença dum cancro do pâncreas não lhe deixava alternativa. O livro apareceu em 2018, tendo o autor morrido em 2017. O livro foi escrito em colaboração cm o filho e a nora. É o Factfulness [Factualidade, ou Os Factos].

Diz o autor na Introdução ao outro livro escrito na mesma altura que «Depressa percebi que havia material suficiente para dois livros», o Factfulness e outro que «é sobre mim e sobre como cheguei a esse conhecimento», isto é o conhecimento que apresentou no Factfulness.

O segundo livro tem como título, em português, "Como Aprendi a Compreender o Mundo", tradução que segue à risca o título em inglês. Logo no princípio do primeiro capítulo, "Da Iliteracia à Excelência Académica", o autor e cientista sueco diz-nos assim:

© Shutterstock
Quando o meu pai voltava para casa do trabalho, à noite, cheirava sempre a café. Trabalhava na torrefação Lindvalls Kaffe em Uppsala. Foi assim que aprendi a gostar do cheiro do café muito antes de começar a bebê-lo. Muitas vezes ficava na rua à espera que ele chegasse do trabalho, a vê-lo aproximar-se de bicicleta pela rua fora. Ele saltava da bicicleta, vinha abraçar-me e eu fazia-lhe sempre a mesma pergunta:
«Encontraste alguma coisa hoje?»

Quando os sacos de grãos verdes de café chegavam para a torrefação, eram despejados para um tapete rolante e, em primeiro lugar, havia a triagem por um potente íman. O objectivo era remover quaisquer objectos metálicos que pudessem ter ido parar ao saco durante o processo de secagem e embalamento. O meu pai trazia-os para casa, dávamos e contava-me uma história sobre cada um deles. As histórias eram emocionantes.

Às vezes trazia uma moeda. «Olha, esta é do Brasil», dizia ele. «O Brasil produz mais café do que qualquer outro país.»

O meu pai deixava-me sentar no colo dele, abria o atlas do mundo à nossa frente e começava a contar a história: «É um país grande e muito quente. Esta moeda apareceu dentro de um saco que veio de Santos», explicava ele, apontando para a cidade portuária brasileira.

E descrevia os homens e mulheres trabalhadoras, elos na cadeia que terminava com pessoas na Suécia a bebericar o seu café. Cedo percebi que quem apanhava o café era quem ganhava menos.

terça-feira, setembro 14, 2021

REGRESSAR À ESCOLA E FAZER A VIAGEM DO ALFABETO - 1/7

 REGRESSAR À ESCOLA E FAZER A VIAGEM DO ALFABETO - 1/7

Antes da invenção da escrita e do alfabeto (o alfabeto inventou-se depois da escrita), o segredo era ouvir...

Um dia alguém inventou o alfabeto, popularizando a escrita, que deixou de ser um privilégio dos poderosos.

ESCREVER A SENSUALIDADE E A ETERNIDADE INDIVIDUAL


"Os primeiros vestígios alfabéticos que conhecemos apareceram em vasos de cerâmica ou na pedra. As palavras que os oleiros e os canteiros gravaram já não falam de vendas e de posses - escravos, bronze, armas, cavalos, azeite ou gado. Eternizam instantes especiais das vidas de pessoas comuns que participam em banquetes, que dançam, bebem e celebram os seus prazeres.

Sobreviveram cerca de vinte inscrições datadas entre o ano 750 e 650 a. C. A mais antiga é a inscrição de Dipylon, encontrada num antigo cemitério de Atenas.

O exemplo mais remoto de escrita alfabética, embora incompleto, é um verso sensual e evocador:

«O bailarino que dance com maior destreza...»

Essas simples palavras transferem-nos para um simpósio realizado numa residência grega com risos, jogos, vinho e um concurso de dança para os convidados cujo prémio era o próprio vaso. Homero descreveu na Odisseia este tipo de competições festivas, que eram frequentes nos banquetes e para os gregos faziam parte do seu conceito de boa vida.

A julgar pelos termos da inscrição, o tipo de dança seria acrobática, enérgica, carregada de erotismo. Por isso imaginamos que o vencedor do concurso devia ser muito jovem, capaz de fazer um grande esforço físico, as piruetas e os saltos que a dança exigia.

Sentiu-se tão orgulhoso que conservou sempre a recordação daquele dia feliz e, muitos anos depois, pediu que o enterrassem com o troféu da sua vitória. No seu túmulo, após vinte e sete séculos de silêncio, encontrámos o vaso e, gravado nele, esse verso que conserva ecos de música e marcas de uns belos passos de dança."

(Irene Vallejo, "O Infinito num Junco", Bertrand Editora, p. 119, 2020)

Fotografia: By Durutomo - Durutomo, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=9798748

domingo, julho 18, 2021

UM DESAFIO PARA A ESCOLA DO SÉCULO XXI?

 UM DESAFIO PARA A ESCOLA DO SÉCULO XXI?

Agora tem sido tempo de olhar, nos trabalhos dos alunos, o que pode ser sugestivo de melhoramento da abordagem pedagógica da aprendizagem no próximo ano lectivo.

Num trabalho, na versão finalíssima, um aluno (12.º ano) escreve:

“Eu sei que este trabalho será alvo de uma avaliação e, normalmente, isso assusta-me bastante. Sou alguém bastante perfeccionista e gosto de obter as melhores classificações possíveis.

Porém, honestamente, não me importa minimamente a classificação que poderei ter neste trabalho.

A minha missão foi cumprida, e a minha recompensa... Bom, essa eu já recebi e carregarei para o resto da minha vida comigo: uma amizade com o sujeito monográfico que jamais as palavras poderão descrever.”

Pouco antes, o aluno tinha escrito assim:

“Hoje sei, com toda a certeza, que este trabalho foi o que mais me desafiou. Passei por muitas fases: uma vontade enorme de o começar, um cansaço e uma ponta de desmotivação e, por fim, quando escrevo estas palavras, passo pela última fase — encontro dentro de mim um sentimento de objectivo cumprido”.

Sim, na escola do século XXI as aprendizagens nas escolas podem ser profundamente significativas, contribuindo poderosamente para o desenvolvimento pessoal dos alunos.

Libertem as grandes disciplinas de exame — o Português, a Matemática, a História, etc. — do conservadorismo avaliativo, cerceador, que nivela pela convergência normativa redutora e atrofia a divergência criativa e auto-realizadora.

É verdade, não me rio dos fantasiosos arautos burocratas do ensino para o Século XXI; pior, lamento-os.

Os jovens estudantes são, em geral, como as plantas: mesmo nos mais inóspitos ambientes, assim que tenham o tempo minimamente necessário para a sua oportunidade criativamente realizadora, aproveitam-na.

Reparem como o aluno suplantou o férreo condicionamento dos ‘rankings’ entre alunos e entre escolas: a nota não lhe interessa, interessa é o desafio que lhe foi lançado e sente que venceu com as suas capacidades; e fez uma profunda amizade, para o resto da sua vida.

É, deste modo, ir além até do grande repto de Jean Piaget, quando se apropriou do que ele próprio tinha ouvido: “Tudo o que se ensina à criança é um obstáculo à sua capacidade de descobrir e inventar”.

Piaget quis estudar a inteligência sem o afecto. Este aluno mostra que inteligência e afecto não são opostos, pelo contrário.

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P.S. - Para os descrentes, que desqualificam tudo o que podem, digo que não, não é caso único. Tenho mais casos assim.

terça-feira, julho 13, 2021

AS APARÊNCIAS ILUDEM, FERNANDINHO, NÃO É?

 AS APARÊNCIAS ILUDEM, FERNANDINHO, NÃO É?


É verdade, parece que parei a descansar, mas, olha, como escreveu o poeta da Antiga Grécia, Mimnermo,

"Ao Sol coube em sorte trabalhar todo o dia, sem ter descanso algum, para ele ou para os cavalos, desde que a Aurora de dedos róseos abandona o Oceano, para subir ao céu."

Se me queixo ou não do meu destino, amigo, isso só está na cabeça dos homens, ao sabor dos seus humores, energias, esperanças ou descrenças. Tem um bom dia!


domingo, julho 04, 2021

"O NASCER DO SOL"

 "O NASCER DO SOL"


"Num domingo, quando o sol convidava para a praia e os meninos iam para a missa, assobiando a sua alegria para dentro dos quintais, Zito foi para a casa, para o refúgio da sombra do telhado, espreitar a menina dos olhos azuis."

E que viu ele, Fernandinho? Pois, viu o que os olhos ingénuos dos rapazes que o formigar intenso do corpo transforma em homens querem ver.

Na missa não deram por falta dele, o barrote é que se fartou. Na dúvida da queda ser castigo de pecado, o Zito confessou-se, mas aos amigos, só a eles. Os amigos, sim, ficaram em pecado mortal: invejaram o sol que naquele domingo nasceu para o Zito; e ficaram ainda mais em ânsias do deles, para que não tardasse.

Olha, o conto vai fazer 66 anos, o José Luandino escreveu-o no dia 7 de Julho de 1955, e eu, como vês, acrescentei-lhe um ponto.

sábado, julho 03, 2021

'CARPE DIEM' EM SÂNSCRITO, MAIS COMO PENSAMENTO, MENOS COMO SAUDAÇÃO

 'CARPE DIEM' EM SÂNSCRITO, MAIS COMO PENSAMENTO, MENOS COMO SAUDAÇÃO

Vê lá se concordas comigo, Fernandinho:

"O ontem não é senão um sonho e o amanhã uma visão. Bem vivido, o hoje faz de cada ontem um sonho de felicidade e de cada amanhã uma visão de esperança. Por isso, cuida bem de ti hoje."

sexta-feira, julho 02, 2021

"HORAS NON NUMERO NISI SERENAS" DIZEM OS RELÓGIOS DE SOL

 "HORAS NON NUMERO NISI SERENAS" DIZEM OS RELÓGIOS DE SOL


"Conto somente as horas serenas", não é o que apetece pensar num momento assim, Fernandinho? Olhando tanta serenidade, por um instante sente-se a eternidade...

Foi tão engraçado que, a certa altura, o silêncio da eternidade tivesse sido atravessado pelo choro de um bebé, não foi? É que não a perturbou, marcou-a com a Vida.

sexta-feira, junho 25, 2021

NASCER-DO-SOL: DORMIR E ACORDAR, O CORPO E A ALMA

 DORMIR E ACORDAR, O CORPO E A ALMA


Não sei se sabes, o famoso antropólogo George Frazer escreveu que entre os povos primitivos, em geral, havia a crença de que não se devia acordar quem estivesse a dormir, porque pensavam que, durante o sono, a alma saía do corpo e, forçando o despertar, pudesse não ter tempo de voltar ao corpo. Se isso acontecesse, a pessoa acordada ficaria sem alma e cairia doente.

Mesmo que a crença esteja errada, o que é curioso é que os modernos cientistas do sono dizem a mesma coisa: o despertar do sono deve ser sempre natural, espontâneo. Forçar repetidamente o acordar não é nada amigo da saúde.

É por isso, Fernandinho, que eu tento aparecer sempre de mansinho...