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domingo, outubro 12, 2014

A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.

A ESPANTOSA CAPACIDADE DE SER DAS CRIANÇAS. E DE NOS AJUDAREM A SER.
Na sexta-feira passada cheguei à escola um pouquinho mais tarde que o costume. A riscar o estar atrasado! Detesto chegar atrasado às aulas!
Logo que passei o portão de entrada, estuguei ainda mais o passo, para atacar as escadas tão depressa quanto pudesse. Um grito de criança, atrás de mim, obrigou-me a parar, ainda não chegara sequer ao primeiro degrau: "Amigo!..." Voltei-me. A correr para mim, de mão esticada, francamente aberta à procura da minha, um lindo sorriso de criança transportou consigo estas tão aconchegantes palavras: "Que bom começar o dia a cumprimentar um amigo!..."
Eh, lá!... Reconheci as minhas próprias palavras, das outras vezes, das vezes habituais, em que entro na escola em passo bem mais sereno, cumprimento este, pergunto aquilo àquele, desejo um bom dia de trabalho a outro, ou faço nariz torcido aquele outro, o que está logo ali às oito da manhã pendurado num cigarro.
Ali estava eu, parado, preso às minhas próprias palavras. As nossas mãos trocaram-se. Os olhos do petiz, francamente postos nos meus, eram o eco saboroso do sentido das palavras que agora a memória confirmava. Os dentes brancos, alinhados como se deseja, uns a seguir aos outros, mantinham, bem pertinho, o sorriso luminoso que antes, mais longe, me prendeu à beira das escadas. Sim, tomei consciência que estava a testemunhar que alguém um dia escutou as palavras que eu disse; um dia as sentiu; e as guardou; e hoje as trouxe ao sítio e ao momento de que eu agora quase fugia.
Evidentemente, perdi toda a pressa - aquele era um momento de ouro, que apareceu trazido pelo coração notável de uma criança que sabe reconhecer e sabe ser grata. Que pede pouco e que tem noção do que vale muito - pelo menos para si própria. Olho-a no tamanho que o 5.º ano de escolaridade torna possível aos alunos. Mas só uma criança deste tamanho, com o coração e o pensamento que as crianças deste tamanho têm, faz o que esta fez.
Uma criança, ou jovem, mais velho, aluno da escola, ter-me-ia olhado com benevolência e teria desabafado, pelo menos, em pensamento: "Deixa-o ir, já vai atrasado, coitado..."
Acabei por subir as escadas com o vagar do costume, olhando com quem me cruzava. Os meus alunos, quando pouco depois entrasse na sala de aula, seguramente me perdoariam (hummm... não deveria ter escrito "agradeceriam"?) o excepcional atraso.

terça-feira, março 26, 2013

A lição dos amigos


A lição dos amigos
O Luís, sim, esse, o que se sentia no fundo do poço e a irmã desafiou a cavar ainda mais fundo, tem 3 filhos. Um deles é um rapazinho.
O breu do poço de onde o Luís saiu a pulso firme deu lugar à luz franca dos horizontes abertos; do trabalho e das relações pessoais positivas. A vida do jovem e integrado cidadão ganhou consistência, a pressão que quase impedia o fôlego deu espaço à folga que permitia o suspiro tranquilo.
O pai e a mãe do filho do Luís, num dia que a tradição diz que é de prendas para os miúdos – seria natal do Menino Jesus, ou natal do menino do Luís, não importa qual seria –, sentiam-se em condições de ir um pouco mais além na sofisticação do presente para o filho de ambos. Dois presentes, um do pai e um da mãe. Duas ideias, também, sobre o filho, uma do pai e outra da mãe. Dois objetivos também; sem querer, de boa-fé, ambos prendiam o filho ao brinquedo que ousavam para o filho, ambos arriscando a disponibilidade financeira da família. Mas o futuro era risonho e promissor; agora, nem uma réstia do breu difícil de tempos que se distanciavam cada vez mais.
Ignorando-se reciprocamente a início, num quase divertido jogo das escondidas, os brinquedos do pai e da mãe disputavam o filho:
a mãe escolheu um daqueles aparelhos modernos, sofisticados, de comandos à medida dos dedos ágeis infantis, que prendem as crianças, em casa, ao ecrã de televisão ou do computador;
o pai desafiou-se num pagamento a prestações, e comprou uma motoreta de quinhentos euros, que poria o filho na rua.
Estão todos juntos, é hora de os pais darem os presentes e do filho os desembrulhar.
A reacção do rapazinho ao presente do pai deixará adivinhar a reacção ao presente da mãe. O pai olha o filho, com ansiosa expetativa, enquanto ele desembrulha o presente. Sente-se bem, feliz de ter conquistado as condições para poder dar ao filho que tanto amava um brinquedo que simboliza a vida tomada nas mãos com algum desafogo. O jovem pai antecipa a alegria exuberante do filho, só não sabe se ele vai saltar primeiro para o selim da motoreta ou para o colo do pai.
Na hora de uma ou outra coisa acontecer, prenda completamente desembrulhada, o filho não faz uma coisa, nem a outra. O rapazinho mira quase indolentemente o magnífico presente.
Agora ansioso por outra razão, o pai pergunta ao filho:
- Então, filho, não gostas da mota?...
O miúdo tenta não desapontar o pai, mas também não consegue sentir, nem sequer fingir a alegria que o pai quer que ele mostre.
- Eu gosto, pai…
- Então, parece que não ficaste muito entusiasmado… insiste o pai, sem conseguir ver-se aliviado daquela ansiedade, à beira de se tornar numa deceção inesperada e indesejada.
O filho vira-se para o pai e, com a serenidade que expõe a sólida confiança e franqueza a que a educação dos pais levara já a personalidade em formação do filho, olha-o e diz-lhe:
- Ó pai, a mota é gira, mas não dá para o que eu quero…
- E o que é que tu queres, filho?... estranha o ansioso pai.
- É que a mota não dá para eu brincar com os meus amigos, pai… A mota é para eu brincar sozinho, só dá para um, e eu quero brincar com os meus amigos.
É isto a vida, é isto essa coisa extraordinária que é as relações que as pessoas são capazes de estabelecer umas com as outras. Este filho, com este sentir, sim, ele é que acaba sendo o verdadeiro presente – do filho para os pais, que – coitados! – tanto amor e tanto risco de si mesmos tinham posto nos presentes de valor que queriam dar ao filho.
Quanto vale, quanto custa, em dinheiro, o sentir espontâneo da amizade, do companheirismo, numa criança da idade do filho do Luís? Quanto mostra esta genuína forma de sentir do amor e dos valores recebidos pelo filho dos seus pais?
Numa perceção vertiginosa, o pai reviu as vicissitudes da sua própria vida, os afetos, as cumplicidades e os conflitos que o aproximaram e o afastaram dos outros, os amigos e a sociedade.
O Luís e a mãe do seu filho, o filho de ambos, seguramente se tornaram melhores pais, melhores pessoas a partir deste dia. E mimaram com redobrado carinho este filho precioso.
Quem, com esta história - história verdadeira -  não ficará a pensar sobre os presentes que já deu, que gostaria de dar e que vale a pena dar?

quinta-feira, novembro 18, 2010

Miguel Guerreiro na SIC, a 22 de Novembro

O Miguel, GRANDE, GRANDE, GRANDE AMIGO - amigo meu e amigo da minha escola - vai estar em direto na SIC no próximo dia 22, de manhã.
Não vou perder!
Tentem, também, não perder!

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Ao meu amigo Jaime, ao Chefe Jaime

Calhou estar no Faial no dia dos Amigos. Pela primeira vez. Forçadamente.
Calhou bem.
Vive-se aqui o dia dos Amigos como eu nunca o vivi.
As rádios locais falam constantemente no Dia dos Amigos, dizem que hoje está um bom dia para festejar o Dia dos Amigos.
O João Henrique, o meu afilhado, nascido faialense, hoje de manhã, ainda estremunhado, cumprimentou-me como nunca o fizera antes e saudou-me com um "Bom dia, amigo!"
Com o meu amigo Chefe Jaime vou logo, depois de aconchegar a minha mãe no fim do seu jantar, tomar um gin no Peter, à saúde dos amigos. O primeiro de que me vou lembrar - perdoem-me os outros - é do Zeca Barroso, que também vive muito intensamente na sua terra, o Redondo, no Alentejo, o Dia dos Amigos.
Aos outros amigos, de boa vontade os abraçaria a todos hoje. E sinto a alegria de saber que não teria tempo para todos. São já muitos! Estou certo que, ao longo da vida, muitos tenho juntado e praticamente nenhum eu tenho perdido.
A todos dedico o poema de Alexandre O'Neill

AMIGO

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca