#TOLERÂNCIA258 - TOLERÂNCIA AOS ERROS, TOLERÂNCIA À CORRUPÇÃO
Já há alguns anos, um jornalista (tenho ideia de que era italiano...), vendo que todos os especialistas se tinham enganado com as previsões económicas e financeiras e o mundo sofreu um forte abalo com o curso que a evolução económica e financeira, afinal, de facto teve, esse jornalista reclamou para si o direito de opinar, já que não iria, de certeza, errar mais que os especialistas.
Hoje sinto-me assim, com o direito à opinião de um não-especialista. É a propósito de a Comunicação Social em Portugal ter trazido muito recentemente resultados de sondagens que colocam o partido Chega, pela primeira vez, no primeiro lugar das intenções de voto.
O líder, os deputados e os adeptos do partido Chega continuam a ser apanhados em 'gaffes', erros, "esquemas" e crimes. Entretanto, parece que adesão de cidadãos continua forte e as intenções de voto no partido Chega, repito, parece que continuam a subir.
Talvez ajude a entender o que se passa se se olhar para o que tem dominado as notícias na Comunicação Social. A percepção que se tem é de que um mandatário ligado ao Chega provoca incêndios; outro elemento do Chega rouba malas no aeroporto; o líder confunde, com grande espectáculo, festa de cidadãos com festa de hamburgueres; e mais outras coisas deste tipo. Num certo sentido, são coisas episódicas, a cada um o seu erro ou patacoada.
Do lado dos partidos tradicionais (o PS, o PSD, o CDS — essencialmente, os partidos tradicionalmente ligados à governação desde o 25 de Abril de 1974; mas também, por, digamos, omissão e consentimento, os outros partidos mais pequenos, sobretudo o PCP e o BE), tem-se a ideia de que fizeram crescer o "Polvo da Corrupção", que se mantém bem vivo e que escapa a toda e qualquer acção
da Justiça. O último caso será o da anulação da multa de 200 milhões de euros ao cartel dos principais bancos portugueses: provou-se que houve cartel, provou-se a culpa merecedora de multa, mas... mas com a fina engenharia judicial que os partidos tradicionais foram montando na Justiça Portuguesa (a partir da Assembleia da República, ao longo dos 50 anos que decorreram desde o 25 de Abril), excedeu-se o tempo de aplicação da justiça e a multa foi anulada.Outros casos são o eterno julgamento de José Sócrates e seus apaniguados; e, por exemplo, também o chamado "caso Spinumviva", que envolve directamente o actual 1.º-Ministro, homem do PSD. Ora estes casos (o dos bancos, o de José Sócrates do PS, o de Luís Montenegro do PSD; e outros...) não são episódicos, são continuados, arrastam-se no tempo, e tem-se a percepção social de que sugam o erário público, prejudicam a redistribuição justa da riqueza do País, exigem mais esforços fiscais aos contribuintes, reduzem a retribuição justa dos trabalhadores, e constantemente aumentam os lucros dos bancos e das grandes empresas.
Penso que a percepção dos cidadãos em relação aos danos e delitos que a classe política comete depende, em geral, da natureza do dano (ou delito), da visibilidade que comporta (neste caso, por exemplo, a corrupção tende a ocultar-se atrás de burocracias e “favores”, gerando nos cidadãos a sensação de impunidade), o julgamento moral segundo a cultura tradicional dominante (em países europeus, a infidelidade matrimonial continua a provocar demissões, em Portugal há muito que não).
A corrupção tende a ser vista como falta grave contra a cidadania (mesmo que em contextos de crise ou “costumes enraizados”, poder ser relativizada como “mal menor” ou necessária para “desenrascar"). A corrupção de "topo" (líderes políticos e governativos; directores de bancos e grandes empresas) deixa a imagem de que se apropria dos recursos públicos (assim prejudicando os cidadãos) e retira aos cidadãos a confiança no Estado, no fundo, o efeito de tanta corrupção de "topo" manifesta-se em perdas para toda a comunidade nacional.
Não me quero alongar, vou escrevendo enquanto vou caminhando. Sim, parece-me que os cidadãos toleram melhor os erros e as 'gaffes' do que a corrupção, que tende a ser vista como permanente, sistémica, estrutural. E não se vêem esforços e acções claras dos partidos tradicionais para alterar estas percepções.
Exemplificando: o líder que "denunciou" a ida do Presidente da República à "Festa dos Hamburgueres" teve de se desdizer; o mandatário incendiário foi logo afastado; mas os Ricardos Salgados, os Josés Sócrates, os Luíses Montenegros continuam desfrutando de condições de vidas e protecção dos seus bens patrimoniais a que nunca na vida a generalidade dos cidadãos, honestos trabalhadores cumpridores, nunca chegarão.
Repito, esta será a percepção social. Para agravar as coisas, vê-se por esse mundo fora que as coisas não acontecem apenas no nosso País. Dizem que é o tempo do neoliberalismo capitalista ávido e desenfreado... respaldados nas regras de funcionamento democrático das sociedades! Que ironia...
Se calhar, a ruminação de hoje [ligada à percepção social] é ainda parte da de ontem, a da estação da ira, ou raiva, ou cólera [ligada à vivência emocional]. É, aceito que sim. E também tem a ver com a estação dos jogos de resignação, negociação e cedência [ligada à pedagogia da interacção social]. Que os educadores não deixem de fazer a sua parte.
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