segunda-feira, setembro 22, 2025

#TOLERÂNCIA267 - O GOSTOSO SABOR DA BONDADE DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA267 - O GOSTOSO SABOR DA BONDADE DA TOLERÂNCIA

Nunca imaginei esta experiência pessoal, mas fiquei muito contente por me ter acontecido.

Para se perceber bem o contexto: a) avisada há muito da minha intenção de me reformar até ao final deste mês, a Direcção da escola, obrigada a atribuir-me um horário (e só depois da minha saída pode pedir a minha substituição), muito correctamente, deu-me turmas em que a eventualidade de os alunos não terem imediatamente um outro professor não lhes trouxesse grandes danos (sim, grandes danos, já que há sempre danos quando alunos ficam privados de aulas, mesmo que durante pouco tempo). Calharam-me, então, duas turmas do 7.º ano e outras duas do 9.º ano na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento.

A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, na Eça, reparte com a disciplina de TIC as turmas em 2 turnos, e decorre no regime de semestres: durante o 1.º semestre Cidadania e Desenvolvimento tem um dos turnos e a de TIC tem outro; no segundo semestre, trocam.

Às 4 turmas que me foram atribuídas, dei na semana passada duas aulas, a abrir o semestre; e nesta semana dei (e darei) as duas aulas a "fechar" o semestre. Quer dizer, a fecharem as aulas comigo, já que estarei reformado a partir do dia 1 de Outubro. Portanto, na semana passada dei as boas-vindas aos alunos, e nesta semana despedi-me deles.

Na primeira aula da semana passada (que foi também a primeira aula do ano lectivo tanto para os alunos

do 7.º A como para mim), 3 alunos (um rapaz e duas raparigas) interpretaram erradamente o horário (pensaram que teriam uma hora de Cidadania e Desenvolvimento e outra de TIC, uma a seguir à outra, quando, na verdade, têm duas de CD ou duas de TIC, trocando os turnos entre si lá para o mês de Fevereiro).

No final da primeira aula acompanhei os 3 alunos à aula de TIC, não sem dizer à minha colega que, se eles quisessem e ela também o quisesse, eu não me importava que eles continuassem comigo, até teria gosto nisso. Os 3 alunos ficaram na aula de TIC por opção da minha colega — correcta opção.

Hoje, precisamente uma semana depois, o aluno que se enganou na aula da semana passada, logo ao toque de entrada (eu já estava na sala de aula) assomou à porta e perguntou-me se podia ficar na aula, que iria na hora a seguir à aula de TIC. Boamente eu agradeci-lhe o interesse em estar na minha aula, mas ele não podia ficar, tinha mesmo de ir para a aula de TIC. O rapaz aceitou prontamente, sem qualquer insistência ou sinal de desalento.

Durante a aula, eu disse aos alunos que estávamos numa situação muito pouco vulgar: na aula anterior eu tinha dado as boas-vindas, e agora estava a fazer as despedidas.

No início do segundo tempo, o jovem aluno apareceu outra vez à porta e disparou a pergunta: «'Stôr, nós podemos vir todos para aqui quando faltarem 15 minutos para a aula acabar?... É que gostamos todos muito de si e queremos estar todos aqui.»

Percebi que os colegas do turno que tinha tido aulas comigo "tinham dado com a língua nos dentes" e disseram aos colegas do turno de TIC que seria a minha última aula. «Por mim, tudo bem, mas têm de falar com a minha colega e ela tem de autorizar.» «Já falámos, a 'stôra' disse que vem connosco.» «OK, então, apareçam.» O rapaz lá foi para a aula em bom correr.

Impreterivelmente, aos 15 minutos para acabar aquele tempo de aulas, oiço baterem à porta. Entraram todos, a minha colega de TIC por último. Sentaram-se e mantivemos uma conversa animada. A certa altura, eu disse-lhes: «Vocês não têm ideia da coisa extraordinária que me proporcionaram, nunca mais me vou esquecer de vocês!» É claro, sem perceberem onde eu queria chegar, pediram-me que lhes explicasse. «É que, mesmo a acabar o meu tempo de professor, consegui ter uma coisa que nunca pensei ser possível, e vocês deram-me essa experiência incrível!...» A atenção deles redobrava. «É que, com a presença de todos aqui, especialmente do turno 1, eu consegui dar uma aula de despedida sem ter dado a aula de boas-vindas, e a última aula foi mesmo a primeira! A primeira e única! Estou mesmo contente com este presente de despedida que vocês me deram!» Os alunos perceberam, riram-e e todos aplaudimos.

Um aluno do turno de Cidadania e Desenvolvimento disse então: «'Stôr', logo, quando eu chegar a casa, eu vou chorar, aqui não, não consigo.» Os colegas riram-se e eu, deliciado com a provocação que lhes ia fazer, perguntei se havia alguma carpideira entre eles, daria muito jeito. Pois claro, ninguém sabia o que era uma carpideira. Dei-lhes uma primeira pista, bem pequena pista, eles lançaram coisas para o ar, e uma muito arguta aluna concluiu tratar-se de uma pessoa que é paga para chorar. Acrescentámos depois alguns pormenores, sempre aproveitando o que eles livremente diziam. É claro, falámos dos funerais e das pessoas que querem chorar mas não conseguem. Que belo momento de aprendizagem cultural aconteceu! Aconteceu antes, aconteceu naquele instante e aconteceu nos momentos que se seguiram, até a aula acabar. É verdade, 10-12 minutos de aula podem ser realmente muito ricos!...

À saída, houve beijinhos e abraços. Depois de tão pouquinhas aulas!...

O segredo deste tão precioso momento de relação pedagógica: a bondade tolerante da minha colega de TIC, que teve a sensibilidade sábia de perceber o que estava a acontecer naquela dinâmica escolar tão precoce. Deliberadamente, conscientemente, assumiu a humilde discrição pessoal e profissional que a dinâmica solicitava. Como lhe estou grato!

A determinação daquele rapazinho, que mal teve tempo de me conhecer... Moveu uma montanha, envolveu toda a turma, ganhou para si os professores. Que alma grande ali está!

Vieram-me à consciência as tão preciosas e muito amorosas palavras de Sebastião da Gama no seu Diário... Que todos os professores as leiam e releiam. Que todos os deputados, governantes e decisores da Educação as leiam e releiam. Todos os anos, à entrada do novo ano escolar.

Quando fiquei sozinho, senti-me grato, recompensado, feliz. Emergiu depois o lado divertido: «Bem, nunca pensei que isso me acontecesse, mas hoje consegui fazer a quadratura do círculo!...»

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