#TOLERÂNCIA271 - TOLERÂNCIA E LAICIDADE
Acaba de sair em França um livro que fico curioso de ler: "1882‑1905, ou la Laïcité Victorieuse", de Jean Baubérot-Vincent. A edição do "Le Monde" de hoje apresenta-o assim:
«Invocada a torto e a direito no debate público, a palavra 'laicidade' é ao mesmo tempo familiar e misteriosa. Alguns brandem-na para excluir, outros invocam-na em nome da tolerância – mas a maioria ignora o que contêm verdadeiramente os textos fundadores da laicidade «à francesa». Porque a missão do historiador é «dar a cada acontecimento o seu verdadeiro rosto», segundo Walter Benjamin (1892-1940), Jean Baubérot-Vincent empreende, em "1882-1905 ou a Laicidade Vitoriosa" (PUF, 360 páginas, 23 euros), refazer a história das leis que laicizaram a escola pública (1882) e separaram as Igrejas do Estado (1905).
»Jean Baubérot-Vincent, que acaba de concluir quatro décadas de investigação sobre a laicidade, é sem dúvida o historiador mais bem colocado para realizar este trabalho. Presidente honorário da École Pratique des Hautes Études (EPHE), antigo titular da cátedra 'História e Sociologia da Laicidade' (1991-2007), fundador, em 1995, do Grupo 'Sociedades, Religiões, Laicidades' (CNRS-
EPHE), escreveu numerosas obras sobre a laicidade, entre as quais uma trilogia monumental que constitui, até hoje, o estudo mais aprofundado sobre a lei «liberal, justa e sábia» de 1905, nas palavras de Jean Jaurès (1859-1914).A IIIª República, uma nova era
»Nesta obra esclarecedora, Jean Baubérot-Vincent procura, como escreve, combater o «pronto-a-pensar» de uma época em que, por vezes, todas as afirmações se equivalem. Aí resume as 2500 páginas que dedicou ao longo da vida à laicidade, mas consegue, apesar deste esforço de síntese, conservar as 'nuances' das suas análises passadas. A sua narrativa demonstra assim com grande clareza que a lei de 1882 coroou um trabalho de ourives baseado no «apaziguamento e pragmatismo» e que a de 1905 é o fruto de uma hábil estratégia «do junco», que consistiu em curvar sem nunca quebrar.
»Estes textos de «conciliação» assinalam, segundo o historiador, a viragem de França para o segundo «limiar de laicização». O primeiro tinha surgido com a «meia-laicidade» da Revolução – a lei era civil, mas a moral pública enraizava-se na religião. As leis de 1882 e de 1905 abrem, pelo contrário, uma era de «laicidade completa», nas palavras de Aristide Briand (1862-1932): com a escola laica e a separação das Igrejas e do Estado, a IIIª República «distingue, separa e liberta da tutela estreita da Igreja Católica» as funções da vida pública, resumia na época o republicano Ferdinand Buisson.
»Com "1882-1905 ou a Laicidade Vitoriosa", Jean Baubérot-Vincent pretende fazer uma obra útil. Mostrando que a França hexágona chegou ao apaziguamento na viragem do século, apesar da intensidade da guerra das duas Franças – a filha primogénita da Igreja contra o país da Revolução –, espera afastar os seus contemporâneos dos becos sem saída do «presentismo». O passado nunca fornece «receitas para aplicar mecanicamente», reconhece, mas permite «enfrentar lucidamente» os desafios de hoje – e isso já é muito.»
Ainda tenho na cabeça a analogia que fiz com as aulas de Português de Sebastião da Gama: a Tolerância acontece. No entanto, de tempos a tempos, devemos olhar o dia-a-dia com algum distanciamento e ocuparmo-nos com as dimensões psicológicas, filosóficas, históricas, sociais, culturais, antropológicas da Tolerância, e também da intolerância. Daí a minha curiosidade perante este livro.
Se o conceito de Tolerância surgiu e se impôs a propósito da Religião, o autor vem agora ligá-la ao que costuma ser apresentado na Política como o contrário da religião: a laicidade. O primeiro capítulo do livro tem este título: "A escola, uma questão central da laicidade".
Sim, são as escolas que formam e deformas as mentes, as mentes de crianças e jovens que, de boa fé, acreditam no saber, na ciência, na competência, na honestidade e na boa-fé dos professores. Pode tanto a escola!... Olhem se as escolas fossem mesmo aqueles lugares de vida e aprendizagem que os grandes pedagogos mundiais ciclicamente tentam que elas sejam!...
O beco sem saída do 'presentismo'... Deixem os professores libertar-se da pressão do presente, do imediato, deixem-nos seguir pelos caminhos que mais gostam e melhor conhecem, equipados com a bagagem que dominam com à-vontade... Deixem os professores assim que, com o tempo, verão como o bom conhecimento do Passado é duma imensa riqueza para se avançar no Futuro com confiança e entusiasmo.
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