#TOLERÂNCIA265 - O SILÊNCIO. CRIANÇA, ERA OUTRO... GANHEI OU PERDI?
O pequeno poema de Fernando Pessoa, completo, é assim:
«Criança, era outro…
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi?»
Tanto que aprecio este poema de Pessoa! Aos educadores e aos professores, e aos psicoterapeutas, o poema lança um interessante e poderoso desafio.
A razão da caminhada de hoje é a convicção que tenho de que o silêncio alimenta a tolerância positiva. Atenção! Estou a falar do silêncio pessoal interior, o silêncio, como escreveu Maria Montessori, que «afina a nossa sensibilidade. Quando ficamos em silêncio não só podemos ouvir com maior atenção a palavras do outro, por isso conseguindo “alcançá-lo”, mas também somos capazes de captar a realidade que nos envolve. Então, é importante deixar que a criança possa viver esta realidade, preservando para ela uma relação de acolhimento e ajuda.» É conhecida por todos os pedagogos montessorianos a sua "Lição do Silêncio".
Num 'site' dedicado à pedagogia montessoriana, alguém escreveu esta frase muito bonita, não sei se
citando a própria Maria Montessori: «O silêncio é o sossego dos sentidos.»(1)Voltando à minha convicção, penso que, quanto mais sossegado cada um estiver com o seu silêncio-lei, tanto mais disponível e tolerante estará para o Outro. E que fique claro: uma coisa é o silêncio interior, que reduz o potencial agressivo no contacto com o Outro; outra coisa é o silêncio pessoal perante as ocorrências injustas e lesivas das outras pessoas. Se o primeiro é para cultivar, o segundo é para eliminar.
Do ponto de vista pedagógico, o que me estimula e espicaça é o desejo de criar actividades de dinâmica de grupo em que se promova, aprofunde e consolide o silêncio-lei-interior em interacção e comunicação uns com os outros. Actividades que não sejam caracterizadas pela passividade, mas pela mobilização individual, esforçada, de cada participante na actividade. A compreensão do silêncio como um instrumento pedagógico eficaz exige uma mudança de paradigma, passando da sua interpretação, repito, passiva para o reconhecimento do seu poder como um elemento activo no desenvolvimento pessoal e na comunicação interpessoal.
Nos dias que correm, em todo o lado, as vozes, os gritos, os barulhos, os ruídos, crescem em escalada simétrica, muito se ganharia se cada um reduzisse um decibel que fosse na voz e eliminasse uma fala por dia.
O silêncio intencional, produzindo uma pausa, pode ser tão ou mais poderoso do que as palavras. Ao contrário do silêncio vazio, passivo, não comprometedor, o silêncio-pausa bem executado demonstra segurança, controlo e domínio na comunicação verbal — autodomínio e domínio na interacção com o Outro, promovendo a reciprocidade. No breve instante da pausa, as informações que acabam de ser transmitidas ou trocadas são valorizadas, e o ouvinte (cada um à vez) tem a oportunidade de reflectir e processar a mensagem recebida. Cria-se uma expetactiva sobre o que virá a seguir, e a comunicação mostra o seu encanto, fortalecendo a conexão entre os interlocutores.
Antes de me virar para a congeminação dos jogos, um último alerta por agora: se queremos que o silêncio silêncio seja um recurso pedagógico activo e poderoso, será que devemos usar i silêncio como recurso ou estratégia de castigo ou punição? Vou guardar a pergunta, quando puder volto a ela e não deixarei de dar a minha opinião.
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(1) https://www.criancasindependentesmontessori.com/post/a-aula-do-sil%C3%AAncio-montessori
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