#TOLERÂNCIA269 - A TOLERÂNCIA NO 1.º DIA DE ESCOLA, NA PONTA DUM LENCINHO
Por várias razões, estou a ter uma semana muito especial [duma das ocorrências dei conta no #TOLERÂNCIA267) — e ainda só vou na 4.ª-feira. Tal como na 2.ª-feira e ontem me despedi dos alunos do 7.º ano… ao segundo dia de aulas!, hoje despedi-me duma turma do 9.º ano; e amanhã vou despedir-me da outra, também ao segundo dia de aulas.
Com a turma de hoje, na aula da semana passada eu tinha-lhes mostrado, já não sei a propósito de quê, a fotografia do nascer-do-sol desse dia (Há mais de 5 anos que tiro, todos os dias, fotografias ao nascer-do-sol, esteja onde esteja). Ora, aconteceu que hoje, vários alunos trouxeram fotografias do nascer-do-sol e do pôr-do-sol (uma das alunas fez mesmo questão de tirar uma fotografia ao nascer-do-sol de hoje). Pedi-lhes que me mandassem as fotografias por email, e no início do 2.º tempo da aula eu projectei-as no quadro e estivemos a conversar a propósito delas. Há pouco, já em casa, verifico que mais um aluno tinha acabado de me mandar mais duas fotografias do pôr-do-sol, fotografias que ele tirou há pouco tempo. A este aluno, mas também aos outros que partilharam as suas fotografias nas aulas, eu respondo por email, agradecendo a iniciativa do contributo para a aula de Cidadania e Desenvolvimento, e remato com a afirmação de Konrad Lorenz (o fundador da Etologia e Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia de 1973) que ao longo de 36 anos de magistério de professor transmiti aos meus alunos: «Tanto a beleza do mundo natural como a beleza do mundo cultural são essenciais para manter o Homem espiritualmente são.»
O que os alunos hoje fizeram, trazendo as fotografias para a aula, é um preciosíssimo testemunho de como não é difícil, pelo contrário, envolvê-los com entusiástica e inteligente motivação para as dinâmicas das salas de aula. Sebastião da Gama dizia que a aula acontece. Nem mais, isto hoje foi a aula a acontecer a partir da notável iniciativa pessoal dos alunos, livremente realizada e fazendo todo o sentido, em perfeita sintonia com a aula anterior e também em perfeita sintonia com o espírito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento.
Entretanto, a aula tinha começado com uma situação em que à volta do reconhecimento dum erro dum aluno (que vinha da aula da semana passada) e da reacção que alguns dos colegas hoje tiveram perante o reconhecimento por parte do colega do erro. Aproveitei para falar acerca da tolerância aos erros e enganos dos outros. Sei que fui feliz na abordagem da situação porque todos me escutaram com quase arrepiante atenção, sorrindo boamente à medida que eu avançava na minha explanação. Acabámos todos por agradecer ao aluno que se autocorrigiu e aos colegas que se tinham atirado logo a ele, como que reclamando vitória, por tão importante oportunidade de aprendizagem para todos: ficámos todos, de certeza, a partir daquele momento, um bocadinho mais tolerantes.
Depois desta ocorrência durante a manhã, repare-se na coincidência — maravilhosa! — do que eu recebi à tarde duma muito querida colega e amiga. É verdade, já lá vão quase 50 anos... A mensagem veio pelo WhatsApp. Repare-se como partilha muito a natureza e a essência do que acabo de relatar da aula de hoje da turma do 9.º ano. Fiz apenas uns pequeninos ajustamentos para passar o escrito duma mensagem pessoal a um texto público, a minha colega não lhe passava, de certeza, pela cabeça que eu quereria publicar o texto.
«História…….
»Por causa dos teus textos, sobre Tolerância, de repente, há uns dias relembrei o meu primeiro dia de Escola… tinha 6 anos. [Era um] Colégio de freiras franciscanas. Usava farda e um bibe cor de rosa.
»No primeiro dia de aulas a minha Mãe foi levar-me . No bolso do bibe colocou um lencinho branco, lindo, com uma rendinha. Não me recordo do meu estado emocional.
»Levaram-me para uma sala grande onde estavam outras meninas e uma pianista. Ela tocou, cantámos, rezámos e no fim, em fila, com música de marcha, fomos para a respectiva classe.
»Chegou a hora do recreio, fui para um pátio onde haviam baloiços. Aproximei-me à espera da minha vez. Estava por perto outra menina, um pouco mais velha, que se chegou ao pé de mim e bateu-me na cara. Fiquei espantada, tirei o lencinho do bolso e limpei alguma lágrima, mas a menina rapidamente tirou-me o lenço da mão, rasgou-o, fez uma bola e devolveu-mo. Ainda disse a uma freira "Aquela
menina"… e a resposta foi "Não quero queixinhas."»Quando a minha Mãe me foi buscar [eu não disse nada] e só em casa contei o sucedido e mostrei o lencinho. Ela, com a sua calma, respondeu: "Filha, tens de ser tolerante com algumas colegas. A menina deve ser aluna interna e está triste. Fica sempre um pouco afastada dela e não lhe batas."
»O termo tolerante era muito usado na minha casa. Seria um termo habitual da época??? Nós éramos muitos em casa??? E de certeza a história terminou com a frase lapidar usada na minha Família: "Filha, há coisas piores na vida"… O que nos fica na cabeça… ou na alma???? E de repente aparece…»
Estamos perante dois preciosos testemunhos de que a Tolerância se cultiva em casa e se cultiva na escola. Voltando a Sebastião da Gama, se ele diz na entrada do dia 24 de Janeiro (de 1949), a rematar o texto, com letras maiúsculas "A AULA DE PORTUGUÊS ACONTECE.", eu digo, por analogia, "A TOLERÂNCIA ACONTECE", vem pela relação face a face, pelo contacto pessoal, pela comunicação, pelo diálogo. Vai-se vivendo, e à medida que se vai vivendo, vai-se construindo a Tolerância.
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