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domingo, novembro 09, 2014

O 25 de Abril, o Muro de Berlim, a Guerra do Vietnam - A Luta, Hoje, pela Paz

Ontem, a descer a avenida da Liberdade, o coronel Sousa e Castro dizia, deixando as palavras saírem do fundo do coração e do fundo da memória, que o Movimento dos Capitães, o que queria, era acabar com a Guerra! Eles, os militares, os capitães e os outros oficiais jovens, foram a África, ao "Ultramar", a Angola, à Guiné e a Moçambique, e lá perceberam o absurdo da Guerra.
Como diz Ben Polis neste poema, também eles gritaram a revolta e a determinação: «Parem a Guerra!»
O Muro de Berlim, cujo derrube hoje se celebra, não acabou com o confronto e a Guerra; pelo contrário, continuou a alimentá-los, por isso foi necessário deitá-lo abaixo.
Por isso, os Capitães de Abril tinham, também ele, derrubado o Estado de Salazar e de Marcelo Caetano. Em 1989, em Berlim, alguma D. Celeste levou aos jovens esperançosos da Europa Central os cravos das espingardas dos soldados da nossa Madrugada da Liberdade. Em 1974, no dia 25 de Abril.
Em 1997, na Austrália, um rapazinho, o terror das escolas por onde passava, escreveu este poema. Teria 15 ou 16 anos.
Mais do que nunca, as televisões, as internetes e os écrãs dos telemóveis pessoais confirmam que as guerras estão para durar. Por isso temos de continuar a denunciá-las e a ajudar a que acabem mesmo!

Fizeste aquilo que Era Certo (Guerra do Vietname)

Dedico este poema ao meu Pai, que, aos vinte e um anos de idade, foi recrutado pelo exército australiano para combater no Vietname.

Estou a fazer o que é certo,
Acho eu.
O Bem contra o Mal.
Sou um soldado da liberdade,
Sou um matador de crianças,
Sou um assassino.
Sou um homem encurralado.
Lanço uma bomba sobre os vietcongues,
Espero que acerte.
Raios, falhei.
No que estava eu a pensar?
Devia estar lixado da cabeça,
Acabei de matar uma família de seis.
Lanço uma e outra bomba,
Até que o bem derrote o mal.
Bomba a bomba,
Napalm a napalm,
Os pesadelos estão cá para durar.
Tudo o que ouço no meu sono
É o grito das bombas
Que fizeram tanta gente chorar.
Muitos homens caíram
Nas matas do inferno.
Os meus camaradas estão em casa,
Mas as cicatrizes estão cá para durar.
O meu companheiro está sentado numa cadeira
Mas as pernas não estão lá.
Um outro anda de andarilho,
Um outro ainda com bengala.

Outro amigo tenho
Que perfura a carne,
Não com uma arma
Mas com uma agulha
Para fugir à dor do Vietnam.
Diziam eles: «Venham, rapazes,
Venham e ajudem o vosso país,
Venham, façam o que é certo.»
Lembrem-se, não tirem os olhos do chão.
Se for uma mina,
As pernas se vão.
O estrilho, o medo
Ecoarão nos ouvidos para sempre.
Mas lembrem-se, rapazes,
Fizeram o que é certo.
Parem a Guerra!

Parem a Guerra,
Não posso mais.
Homens bons a morrer,
Mães sem parar de chorar.
Pais orgulhosos
Mas nada pode impedir a nuvem-cogumelo iminente.
Não há vencedores neste espantoso jogo de morte e desespero.
Onde, onde está o meu companheiro?
A mulher, Beth, não tardará a saber da morte sangrenta do seu amor.
Os políticos sentam-se nas cadeiras e controlam-nos como peões que somos.
Mas são as pernas desses sacanas que eu vejo serem rasgadas ao meio?
Não me parece - esta vida é f#%&*+@!
Alguns destes rapazes são jovens o suficiente para voltarem ao berço.
Parem a guerra, não posso mais. Parem-na agora, porque ninguém vai conseguir parar a bala...
Que traz o vosso nome gravado!
(Ben Polis, O Menino que não queria ser Diferente. Lisboa, Verso da Kapa, p. 87-88)

segunda-feira, agosto 25, 2014

Os drones, à entrada do novo ano escolar

Está prestes a começar outro ano escolar.
Oficialmente, deliberadamente, por imperativos políticos, económicos e financeiros, a condição do professor apouca-se, degrada-se; em proporcionalidade inversa às exigências que o Ministério da tutela impõe e que largos grupos da Sociedade, carentes cada vez mais de cada vez mais coisas, aceitam - umas vezes passivamente, mas acomodadamente; e outras vezes, mesmo agressivamente.
http://www.alexchiodi.com.br/vereador-
retoma-discussao-sobre-o-ciclo-educacional/
Entretanto, ao lado desta triste e lamentável situação sócio-profissional, as crianças e os jovens continuarão a ir para a escola dispondo-se, desejando, confiando; quiçá mesmo, ansiando - sempre legitimamente! -, que os professores os ajudem a aprender e a entender um pouco melhor o Mundo - o que os rodeia, na casa e na escola; e o que sem parar, intensivamente, agressivamente, lhes entra pelos sentidos e pelos poros, nas televisões, na Internet, por todo o lado! 24 horas por dia.
Nova Iorque é a cidade que não dorme, acaba de mo confirmar, por testemunho pessoal, o meu amigo Luís Moniz. O Mundo transformou-se, ele, também, numa gigantesca Nova Iorque, e hoje em dia podemos estar em nossas casas a assistir o que acontece, seja onde seja, seja a que horas seja. O Mundo é uma Nova Iorque também cheio de bairro periféricos, pobres, degradados, anónimos, impessoais; o Mundo é a cidade de Nova Iorque que tanto desconforto deu a Eça de Queiroz, e que, provavelmente, ele nunca compreendeu, nem assimilou totalmente, fosse nas marcas da Civilização que lá encontrou, fosse nas marcas da negação da Civilização que também lá encontrou abundantemente, e que tão longe estava da Civilização que ele tinha como ideal; muito lucidamente, Eça percebeu que Nova Iorque não era modelo para ninguém, que o Progresso e o Bem-Estar teriam - se algum modelo de Progresso e Bem-Estar fosse desejável - de ser procurados noutro lado.
Num interessante e curto artigo publicado hoje no jornal Público, Francisco Louça fala de "este progresso são drones a bombardear aldeias, são consolas a comandar guerras, são algoritmos financeiros a arrasar o mundo."
Precisamente, é Nova Iorque uma das grandes capitais mundiais destes drones, destas consolas e destes algoritmos financeiros. Nunca fui a Nova Iorque, nem tenho vontade de lá ir. De Nova Iorque, a única coisa que verdadeiramente gosto é a interpretação deste miúdo, que nem o próprio autor da canção conseguiu alguma vez interpretar com tanta alma, com tanto dar de si mesmo, simbolicamente visível nas traições que a mudança de voz exibe em desafinações aqui e ali, e, sobretudo, naquele vaso sanguíneo do pescoço que a todo o instante parece que vai rebentar; e que no final, perante os aplausos, diz "Obrigada!"
A generalidade das crianças e dos jovens que os professores apanham nas escolas são assim, ou estão dispostos a sê-lo: entusiastas, ávidos por desenvolverem as capacidades pessoais; prontos para nisso serem ajudados por quem tem competência para os educar e confiando, de boa fé; e nenhum professor se pode negar a corresponder a estas expectativas! Sejam quais sejam os obstáculos e as dificuldades que governantes, inspecções, encarregados de educação e outros lhes plantem no caminho.
Na nossa sociedade, não é mais possível viver sem drones, consolas e algoritmos financeiros. Quem sabe falar deles?... Quem os entende?... Quem os domina?... Quem não se sente incomodado por eles?... Quem não foi já, de alguma forma, atingido e prejudicado por estas coisas que os poderosos políticos e financeiros do Mundo, da capital Nova Iorque, a verdadeira e as simbólicas, sem dormirem, criam e infiltram perversamente nas nossas vidas?...
Mas é aos professores que cabe sempre a tarefa de enfrentar, com lucidez, e mesmo que com medo, estas interrogações, estas realidades, ao pé dos seus alunos. Se ninguém entende, a nós, professores, cabe o desafio de ir um pouco mais além; além do que os pais também, cheios de angústia, não sabem explicar aos filhos. Não recusemos nunca este combate!
Os professores é que estão sempre na linha da frente, num frente a frente institucional e formal, que parece cada vez mais uma trincheira de guerra. Aos professores cabe a desafiante e irrecusável tarefa de fazer da trincheira, em que a sala de aula e a escola quase se tornaram, o espaço de encontro que notavelmente, há 100 anos, os soldados alemães e russos tomaram a iniciativa de fazer no Natal de 1914, aproximando-os dos franceses e seus aliados, num exemplo real, vivo, que deve ser para nós, em todos os encontros das nossas vidas , modelo de diálogo, tolerância e convívio humano; sobretudo por nos terem mostrado, em bem concreto risco de vida ou morte, a profunda humanidade que está antes e depois dos mais vis absurdos da guerra dos poderosos do Mundo.

terça-feira, dezembro 25, 2012

O NATAL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

O PRIMEIRO NATAL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL.
Agradeço ao meu amigo Luís Bettencout Moniz
a partilha desta  fotografia espantosa
Agradeço à minha colega Sofia Barros
a partilha desta fotografia
A primeira guerra mundial começou a 28 de julho, com a declaração de guerra do Império Austro-húngaro à Sérvia. Por isso, o Natal de 1914 veio já com a guerra a fazer-se. Contudo, aconteceu esta coisa espantosa: ao longo da frente ocidental, na Véspera de Natal, soldados de ambos os lados trocaram entre si cânticos de Natal. Na manhã do dia 25, contrariando ordens do comando, soldados alemães saíram para fora das trincheiras e aproximaram-se das tropas aliadas adversárias, entoando o "Merry Christmas" em inglês. Soldados ingleses saíram também das suas posições, e trocaram-se saudações, abraços e cigarros. Este extraordinário acontecimento, que mostra a força da celebração natalícia e a força da do jeito humano que nos põe a reconhecer os outros como iguais a nós próprios ficou guardado na história das guerras como "A trégua do Natal". Ao que parece, as versões oficiais das Histórias da Primeira Guerra Mundial tentaram manter escondido, ignorado, este episódio extraordinário de humanidade, mas, felizmente, sem sucesso.


Este acontecimento é recordado numa das mais recentes edições da Times, que junta mais 9 ocorrências invulgares da época natalícia.
http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1868506_1868508_1868515,00.html