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quarta-feira, setembro 15, 2010

- "Será que a perfeição existe?"

Abri hoje mais um curso de Psicologia na Escola Secundária Eça de Queirós (Olivais-Lisboa), perguntando aos alunos da minha turma do 12.º ano:
- "Será que a perfeição existe?"
A resposta foi unânime, mesmo que a força das convicções tenha variado: vamos todos empenhar-nos em reconhecer para nós e mostrar aos outros que a perfeição estará ali entre nós, na sala de aula, ao longo do ano de trabalho que agora iniciámos.
No fim da aula, mesmo antes do toque de saída, foi Miguel Torga que deixou ditas as últimas palavras. Foram estas, a desafiar-nos para o prazer de aprender, num constante e entusiasmante diálogo entre todos, os alunos e o professor; e os outros professores:

INSTRUÇÃO PRIMÁRIA

Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Cadeia de poemas de Natal - 4

Hoje trago para aqui um poema de Natal de Miguel Torga.
Por três razões:
  • porque é um poema de Natal
  • porque adoro os escritos de Miguel Torga
  • porque acho delicioso (sem ironia, acreditem!) o comentário que encontrei no blogue de onde tirei o poema. Andava "preguiçosamente" à procura de uma versão já escrita (para não ter de escrevê-la eu por inteiro), encontrei-a num outro blogue, mas mal publicada, e depois apareceu-me bem escrita neste blogue. Sinceramente, acho o comentário delicioso, pela ingenuidade (verdadeiramente natalícia) e pela atenção e estímulo afectuosos da autora Teresa para com o seu escritor ( penso que ela pensa que é o João Carvalho Fernandes)!

HISTÓRIA ANTIGA - MIGUEL TORGA

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga

(no blogue http://fumacas.weblog.com.pt/arquivo/380002.html)

O comentário é o seguinte, que depois, a seguir, reproduzo com a pontuação correcta:

"nao sei o que dizer desta historia mas acho um bocado esagerada de mais veja se a melhora boa sorte"

"Não sei o que dizer desta história, mas acho um bocado exagerada demais. Veja se a melhora. Boa sorte!"


sexta-feira, abril 24, 2009

O 25 de Abril comemorado na Escola

A Eulália Andrade, a Paula Faia e a Cristina Kirkby - colegas de História - promoveram hoje na Escola uma sessão aberta à comunidade escolar sobre o 25 de Abril, centrada no testemunho pessoal, transmitido ao vivo, por colegas que viveram o 25 de Abril; e na entrevista a outros colegas, feitas por alunos do 12.º H1, trabalho esse que foi visionado a partir do computador.
No final da sessão, eu não quis deixar de dizer aos jovens - e professores jovens - presentes no CRE (centro de recursos educativos) que eles também terão pela sua frente lutas de intensidade igual - mesmo, maior! - às que nós tivemos no nosso 25 de Abril. Ganhámos em liberdade cívica, em democracia (mesmo que apenas formal), mas o estado do mundo é, nos dias de hoje, de perspectivas muito sombrias, basta pensar-se no tema do aquecimento global e da delapidação vertiginosa dos recursos do Planeta, ou no tamanho da nossa pegada ecológica. Disse-lhes ainda que muitas das tiranias e dos poderes exploradores se mantêm, ou retornaram, sob vestes bem mais sofisticadas e a coberto de princípios democráticos indiscutíveis.
É verdade, mesmo que por outras razões, o mundo das próximas gerações parece que vai ser bem mais difícil que o meu e dos meus colegas "cotas".
Por isso, em jeito de despedida (despedida até ao 25 de Abril do próximo ano; despedida de esperança e de alento, apesar de tudo), deixei-lhes o seguinte poema de Miguel Torga:

Perenidade

Nada no mundo se repete.
Nenhuma hora é igual à que passou.
Cada fruto que vem cria e promete
Uma doçura que ninguém provou.

Mas a vida deseja
Em cada recomeço o mesmo fim.
E a borboleta, mal desperta, adeja
Pelas ruas floridas do jardim.

Homem novo que vens, olha a beleza!
Olha a graça que o teu instinto pede.
Tira da natureza
O luxo eterno que ela te concede.
(Miguel Torga, Libertação, 4.ª edição, 1978)