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segunda-feira, março 28, 2016

Mais uma vez, os trabalhos de casa

A Páscoa trouxe de novo à baila o tema dos trabalhos de casa.
Há jornais sedentos de sangue, e, fazendo lembrar os tristes bufos dos regimes ditatoriais, pedem aos pais que lhes escrevam, que denunciem os professores que massacram os alunos com trabalhos de casa durante os períodos de férias.
Pois bem, aqui estou eu, outra vez, a opinar neste quase lamaçal de acusações, denúncias, sentenças de especialistas e "especialistas", em que, como a brejeirice popular consagrou toda a gente diz de sua justiça, ou caga sentenças.
Aqui está a minha "justiça" ou "sentença" de hoje, que escrevi como comentário a este apontamento de António Duarte no seu blogue:
O problema dos trabalhos de casa é um beco sem saída; e será sempre enquanto o paradigma (Ui! Já estou a ver o "notável" Nuno Crato a dizer que lá vem este gajo com o eduquês das Ciências da Educação - e já digo por que chamo "notável" a Nuno Crato), dizia eu, enquanto o paradigma do modelo de Educação-Escolarização dos ministérios das Educações estiver dominado pela ditadura do chamado Conhecimento Declarativo(2). Já não se decoram os rios e linhas férreas de Angola e Moçambique (e, ao retirar isso dos programas, deitou-se fora a água do banho e a criança ...)(1), mas o espaço que se dá aos outros tipos de conhecimento (procedimental, heurístico, estrutural, etc.) é de paupérrimos arremedos; ou estão transformados em verdadeiros conhecimentos declarativos! Foi isso, no fundo, o bem incompetente magistério dos nossos mais recentes ministros da Educação, que teve em Nuno Crato o seu expoente máximo! E é disto que professores, pais, políticos e especialistas têm de ter consciência, sob pena de a gente dar voltas e voltas, e continuar tudo na mesma! Criam-se, entretanto, exigências cada vez mais absurdas aos professores, quando, paradoxalmente, a sua formação inicial é descurada, bem assim como o acompanhamento pedagógico ao longo - pelo menos! - dos primeiros anos dos seus magistérios. As ofertas de formação aos professores, proporcionadas pelos oficiais centros de formação - e privados, também - são carradas e carradas de conhecimentos declarativos, inúteis e não assimilados - até quando se fala de 'bullying', gestão da sala de aula, hiperactividade, défice de atenção, etc.
Os professores sabem que, no modelo de ensino vigente, e tendo em conta os objectivos e as exigências que os ministros, os inspectores escolares, os directores das escolas e dos agrupamentos, e os pais põem sobre eles, é difícil chegar onde se lhes exige sem que a consolidação das oficiais e hiper-normativas aprendizagens possa prescindir dos trabalhos de casa.
Enquanto o modelo for o que actualmente vigora, eu estarei do lado dos professores que passam trabalhos de casa aos seus alunos, mesmo em tempo de férias! Claro, recomendando que o façam com proverbial e sábio bom-senso. 
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(1) A criança é a função cognitiva da Memória que tem, até por volta dos 10-12 anos, uma especial capacidade de desenvolvimento e enriquecimento.
(2) [alguns] Tipos de conhecimento:
- conhecimento declarativo: eu sei a receita dos biscoitos de azeite.
- conhecimento heurístico: sei qual é a temperatura do forno boa para fazer os biscoitos de azeite quando as paredes do forno ficam brancas como eu quero.
-  conhecimento procedimental: já não tenho forças no corpo para fazer a massa dos biscoitos, mas de cabeça faço tudo, e digo à minha ajudante como tem de fazer.

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Mais uma acha para a fogueira dos trabalhos de casa

Vem este apontamento a propósito de um texto publicado na Internet em jeito de apontamento de blogue.
O título: Divulgação: Carta aberta ao dr. Eduardo Sá
A autora: Lúcia Teixeira

"Não posso sair. Tenho de ajudar o meu pai a fazer os meus trabalhos de casa."
Para lá dos "considerandos" e doas finalmentes", o texto versa os recorrentes temas educativos, ou escolares, dos trabalhos de casa e dos exames.
Agora vou trazer mais uma acha para a fogueira dos trabalhos de casa; depois, noutro apontamento, a acha dos exames. Ciente, evidentemente, de que a fogueira nunca deixará de arder.
Saúdo a Lúcia pela publicação do texto; e pela polémica que conseguir estimular.
A velha questão: sim ou não aos trabalhos de casa?
Esclareço que, enquanto professor, e como se diz no vulgar linguajar das coisas de escola, sou daqueles que passo trabalhos de casa aos alunos (de propósito, não digo se o faço sempre, regularmente, às vezes, ou poucas vezes).
Parece-me que, em geral, a questão não é formulada da forma mais conveniente; mas também não é, evidentemente, uma falsa questão.
Comecemos por aqui:
Qual é o pai ou mãe que não gosta de ver o seu filho, a sua filha, em casa, dedicando-se autonomamente, voluntariosamente, gostosamente, concentradamente, a estudar? Estudar autonomanente não pode ser interpretado (perversamente, ou psicanaliticamente, ou sanchopançamente) como uma maneira de auto-imposição de trabalhos de casa? Sejam os pais professores ou não; psicólogos ou não; outras coisas ou não...
Dito isto, parece-me que a discussão entre os adeptos dos trabalhos de casa e os adeptos dos não-trabalhos de casa é uma discussão ente adeptos da mesma visão dos assuntos da escola e da educação. Quer parecer-me que enformam os opostos adeptos da mesma visão do mundo, da escola e do lar.
Psicologicamente ou sociologicamente falando, é uma visão redutoramente estereotipada; filosoficamente, é uma visão estereotipada descarteana. É a visão do OU ou OU: ou casa, ou escola; ou escola, ou casa.
- Isto é mesmo complicado! Posso fazer um intervalo e ver um bocadinho de televisão?
- Vá lá, pai!... Ou queres ser o culpado das minhas más notas... como de costume...
Vamos lá a ver: será que acreditamos mesmo que para as crianças o aprender é para a escola, tipo emprego das 9 da manhã às 5 da tarde, e que o brincar e os mimos é para casa depois do emprego, perdão!, depois da escola? Será que no sentir e no pensar das crianças há mesmo essa descontinuidade mental, social, direi mesmo, civilizacional? Às 9 da manhã, eu, criança, esqueço os afectos da família; às 5 da tarde, eu, criança, aceno "adeus, escola, até amanhã!"
Estabelecer esta distinção, ou dicotomia, ou oposição, é esquecer - se não mesmo ignorar - a natureza do pensamento e das motivações naturais da criança. Os "especialistas" que esquecem ou ignoram são incompetentes, quer dizer, mas que especialistas da treta! Tanto Piaget que se estuda! Tanto Erikson que se estuda! Tanto Vygotsky que se estuda! Tantos outros autores que se estudam! Pelos vistos, para não serem adequadamente assimilados como Piaget nos mostrou há muito tempo que tem de ser a informação para se transformar em conhecimento e sabedoria.
Cuide-se a sério dos afectos, cuide-se a sério das naturais  e espontâneas motivações das crianças para aprender, que logo se verá que a questão dos trabalhos de casa deixa de ser um terreno de lutas desnecessárias, improdutivas... que estragam os afectos e as aprendizagens!
A sábia cultura popular há muito que nos avisa que o óptimo é inimigo do bom; e todos nós sabemos - até quem manda trabalhos para casa sabe isso - que trabalhos de casa a mais são desaconselháveis e ineficazes.
Resumindo e concluindo: não estou do lado dos que defendem que não deve haver trabalhos de casa, que os trabalhos de casa invadem o espaço das boas relações familiares. Vou continuar a passar trabalhos de casa, tentando ser sábio, ou ponderado; ou as duas coisas, a fazê-lo.
Lúcia, repito o que já disse noutro lado: gostei muito de ler o seu tão saudavelmente provocador, ou polémico, ou denunciador, ou "desabafador"texto! Beijinhos!