domingo, abril 29, 2007

Da ponta donde o Sol nasce


Atravessei a Europa e vim até aqui, ao Delta do Danúbio.
Uma pequena notícia, lida algures, fala do antigo Danubius, agora Donau... e Dunaj... e Duna... e Dunav... e Dunãrea... e Dunay...
Estou em Sulina, o rio aqui chama-se Dunãrea. Pois cá estou, é mesmo verdade que estou, posso claramente ver as águas deste rio imenso a espraiarem-se, com que consolo!, no seu destino, e embrenharem-se definitivamente nas águas do Mar Negro.

Tenho muito nítida a sensação de que o Sol, que eu todos os dias vejo nascer da janela do meu quarto, parte daqui para lá, levando-me a manhã de todo o continente europeu.

É tudo de uma beleza tal, que chego a sentir a vertigem de me apressar para chegar a Lisboa e dizer aos meus amigos que aqui venham antes que a voragem dos interesses económicos dêem cabo de mais esta magia da Natureza.

Bendigo a quem me permitiu ter vindo a este berço!

sexta-feira, abril 20, 2007

A Fala do Índio e o DIA DA TERRA

Hoje falei de Yin e Yang e da cultura dos povos nativos da América do Norte, normalmente conhecidos por índios, a propósito da pulsão de vida e da pulsão de morte de Sigmund Freud. Foi na aula de Psicologia B do 12.º H1.

Ao fim da tarde, quando cheguei a casa, fui à estante e peguei no livro "A Fala do Índio", de Teri C. McLuhan, publicado em português, em 1988, pela Fenda.

Reli algumas passagens e fixei-me na que a seguir aqui reproduzo porque me parece que tem muito a ver com o debate que ajudei a dinamizar na segunda-feira passada e de que já dei conta em apontamento anterior.

"Eis o que um velho teton [habitante da pradaria] sioux, Okute ou Shooter, disse em 1911 [Há cerca de 100 anos!...] das suas crenças sagradas. Explica ele que o seu povo acreditava num poder misterioso cuja maior manifestação era a Natureza, sendo o Sol uma das suas representações. Red Bird, membro da mesma tribo, acrescentava: Oferecemos sacrifícios ao Sol, e os nossos anelos foram ouvidos.
Todas as criaturas vivas e todos os planetas obtêm a vida do Sol. Se o Sol não existisse, seria a noite, e nada haveria de crescer; a Terra não teria vida. Mas o Sol precisa da ajuda da Terra. Se o Sol agisse sozinho sobre os animais e as plantas, o calor seria de tal ordem que todos haveriam de morrer. Mas as nuvens trazem a chuva, e a acção irmanada do Sol e da Terra fornece a humidade necessária à vida. As raízes duma planta enterram-se, e quanto mais se enterram mais humidade elas encontram. Isto está de acordo com as leis da Natureza e mostra bem a sebedoria de Wakan Tanka [o Criador]."

Noutra parte, reli o seguinte:
"O velho lakota [uma das tribos Sioux] era sábio. Sabia que o coração do homem afastado da Natureza se torna duro; sabia que a falta de respeito para com o que cresce e vive depressa conduz também à falta de respeito para com os humanos. Por isso mantinha ele os jovens sob a mansa influência da Natureza."

E noutra ainda, dita por um chefe índio ao governador da Pensilvânia, em 1796:
"Nós amamos a tranquilidade; deixamos o rato brincar em sossego; quando os bosques sussurram, não sentimos medo."

Este é o apontamento que eu deveria escrever no dia 22. Aqui o deixo já hoje, dedicando-o aos alunos que constantemente me "puxam pela língua" e me puxam pela escrita.

Próximo apontamento: 29 de Abril de 2007

segunda-feira, abril 16, 2007

Mamã, nós cá em casa acreditamos no Inverno?


"Momma, do we believe in winter?"
(in Portnoy’s Complaint, de Philip Roth, 1969)
Esta pergunta, ao que parece, feita pelo pequeno Alexandre (o próprio Portnoy) presta-se a muitas e variadas interpretações, desde as que a encaram no mais estrito sentido clínico, doentio, até às que a encaram de um ponto de vista fantasista, poético mesmo, sugerindo laços pessoais e intensidades emocionais que, por vezes, se situam nos antípodas uns dos outros.
Hoje participei (mais uma vez, a convite do meu muito querido colega e amigo Acúrcio) num debate na Escola, aberto a alunos e professores da Escola, no âmbito do lançamento da Semana de E. M. R. Católica, e em que o documentário de Al Gore, Un Inconvenient Truth, se constituiu como o ponto de partida do debate.
O debate foi pouco participado pelos alunos. Do pouco que disseram, e também da impressão geral que a dinâmica do auditório me deixou, fiquei com a ideia de que faltam perguntas daquele género na vida dos nossos jovens.
Há muitas maneiras e exemplos de afirmações, perguntas e comentários que denunciam o esforço, a tentativa das crianças e dos jovens em participar numa espécie de, digamos, cultura e sistema de valores familiares. Provavelmente isso tem a ver com necessidades de desenvolvimento e integração social biologicamente inscritas na condição vital do ser humano. Mas, se calhar, nenhuma terá a força e a clareza daquela questão inicial, seja ela verdadeira na boca do seu autor, ou puro produto de ficção.
Parece-me que, cada vez menos, cultivamos a força e o prazer dos laços familiares. Parece que as famílias não têm tempo para se ocuparem com os seus membros. E sentirão que os seus membros, sobretudo os mais jovens, são cada vez mais sugados pela força da influência social fora da família, e contra a qual as famílas pouco ou nada podem já fazer.
Houve um momento em que olhei os jovens que tinha à minha frente e constatei que conhecia mais de metade do auditório, ou porque são meus alunos, ou porque já foram noutros anos.
Dificilmente encontrei alguns poucos em que a minha fantasia punha os pais a responderem-lhes coisas diferentes destas: "O que é que estás para aí a dizer?... És parvo ou quê?..." ou "Deixa-te de tolices!... Vejam lá, vejam lá, se isso é pergunta que se faça?!..." ou "Ouve lá, não tens mais nada com que entreter?... Não tens nada sério para estudar?..." ou... ou... ou...
Onde haverá o pai disponível que, perante aquela pergunta, se aproximasse do filho, poisasse a mão sobre o seu ombro, olhasse lá fora a neve que o filho estava a olhar e lhe dissesse qualquer coisa do género: É... sim, cá em casa acreditamos. E quando ele vem, temos de estar preparados para ele... Temos de habituarmo-nos a ele. O que é que tu achas?... Que achas do Inverno?... Sabes o que temos de fazer? Eu vou dizer-te. Ouve bem...
Sem rumo, sem guias, os jovens de hoje, por mais informados que estejam, terão muitas dificuldades em saber o que fazer com o documentário de Al Gore. E mesmo que a Escola passe um modelo social e proponha referências aos jovens, eles precisam sempre de algum ponto de ancoragem familiar que lhes diga que o modelo da Escola não é uma qualquer idealização, inalcançável por quem tem condições de vida muito estreitas, bem distantes das (aparentemente) idealizadas da Escola.
Próximo apontamento: 22 de Abril de 2007

domingo, abril 08, 2007

"Pelo sonho é que vamos..."

[...]O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Se Fernando Pessoa disse isto de Jesus Cristo, eu digo que nem consta que Fernando Pessoa alguma vez tivesse subido ou sequer se aproximado do Evereste. No entanto, ele escreveu assim:
Nas encostas dos Himalaias só existem as encostas dos Himalaias. É à distância, ou na memória, ou na imaginação que os Himalaias assumem toda a sua altitude, e até um pouco mais.”
Fernando Pessoa morreu em 1935. Em 1953, tantos anos depois, Edmund Hillary e Tenzing Norgay alcançaram (tanto quanto se sabe, pela primeira vez), na manhã de 29 de Maio, o cume do Evereste. Mais tarde, Hillary escreveu: "Não sei porquê, não me senti particularmente entusiasmado com o nosso sucesso. Senti apenas que me tinha saído bem num grande desafio."
Em 1978, Reinhold Messner subiu ao Evereste. Sem auxílo de oxigénio, foi a primeira vez. Depois, voltou lá em 1980. Foi sozinho, também pela primeira vez. Caroline Alexander, jornalista que o entrevistou, diz que ao atingir o cume, Reinhold experimentou apenas emoções de enfado. E põe-lhe na boca as seguintes palavras: "Se alguém lhe disser que atingiu o clímax no topo do Evereste, é mentira. É um lugar horrível." E, noutra parte, noutro momento, terá dito "Só me interesam as experiências que vivemos, não as montanhas. Eu não sou um naturalista."
Pessoa, Hillary e Messner. E o Evereste. A jeito de que alguém um dia pudesse escrever o poema que nunca é demais reescrever:

SONHO
de Sebastião da Gama
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
Próximo apontamento: 15 de Abril de 2007.

sábado, abril 07, 2007

Life is nothing, but young men think it is...

(A vida não é nada, mas os jovens pensam que sim) E têm razão!

A leitura - muito aos soluços, afinal, tanta coisa para ler e estudar ao mesmo tempo!... - que vou fazendo do livro de Andrew Birkin, J. M. Barrie and the Bost Boys, the real story behind Peter Pan (edição de 2003), confrontou-me com o epitáfio que está gravado na pedra tumular de George Llewelyn Davies, o irmão mais velho da "fratria Peter Pan". Já o tinha lido quando recebi o livro e o folheei. Mas agora reli-o com outros olhos, com outro pensamento.
Diz assim, na página 246 do livro:

Here dead lie we because we did not choose
To live and shame the land from which we sprung;
Life, to be sure, is nothing much to lose,
But young men think it is, and we were young.


Que eu traduzi livremente...
Aqui mortos estamos porque não escolhemos
Viver e envergonhar a terra donde brotámos;
Não tem, seguramente, valor a vida que perdemos,
A juventude pensa que tem, e jovens assim lutámos.


Estranhamente, anteontem, a 5 de Abril, completaram-se 47 anos após a morte trágica do mais célebre dos irmãos, o próprio Peter, que se atirou para baixo de um comboio, dominado pela angústia súbita avassaladora que continuadamente toma um e mais um de entre todos nós.
O George escreveu a sua última carta a Barrie, em 14 de Março (1915). Quando Barrie a recebeu, já sabia da morte de George, soldado na frente inglesa da Primeira Grande Guerra. Tinha 22 anos.
O filme que Marc Forster realizou sobre a saga do Peter Pan, Finding Neverland, é, até ver, o filme da minha vida. Tudo o que eu considero serem os ingredientes fundamentais do prazer de educar e aprender, dando sentido à fantasia estimulada e alimentada no prazer de se estar junto. Junto a outros iguais e junto de quem nos ama e têm sobre nós responsabilidades educativas.
Sinto-me feliz e realizado porque tentei dar como presente de Natal aos alunos que acompanho há 3 anos e que terão, no futuro, pelo desenvolvimento natural da sua formação académica, ocupações nas áreas da educação e do apoio social, o visionamento, comentário e discussão do filme. E eles gostaram, gostaram sinceramente. Perceberam e, estou certo, interiorizam a magia do filme. Transformaram-se um pouquinho nos seus seres a partir dele. Não tenho dúvidas sobre isso, daí a alegria muito grande que a apresentação do filme aos alunos me deu.
As coincidências nas datas (a morte de George; o suicídio de Peter; a actualização da minha leitura) estão aí, dispondo-se a tentadoras interpretações, mais ou menos místicas.
Mas, ainda assim, prefiro destacar, mais uma vez, a ocasião do ritual pascoal milenar, que é um apelo à luta e à defesa da vida, que volta sempre, mesmo quando se pensou que acabara definitivamente.
Voltando ao epitáfio de George, não terá razão o poeta, seu autor, se o quisermos tomar apenas na primeira interpretação das suas palavras. Na verdade, a juventude pensava bem. A juventude pensa bem: a vida deles tinha - tem - mesmo valor. Por isso eles estavam ali. E estarão sempre nas primeiras linhas dos combates.
Nas mãos dos mais velhos é que estão - e estarão sempre - os valores da honestidade e da verdade que realizam ou conspurcam (se deliberadamente preteridos pelos seus contrários) a generosidade social e humana que está inscrita na natureza biológica dos mais novos.

sexta-feira, abril 06, 2007

A vida é o nosso bem mais precioso

Ciclicamente, a cada novo ano escolar, cabe-me falar aos alunos das atitudes, o que são, como se formam, qual a sua dinâmica comportamental. Habitualmente, em jeito das "verdades provisórias e convenientes" que constantemente passo aos alunos, digo-lhes que as atitudes são predisposições comportamentais que têm na sua base a combinação entre uma crença e um valor. E costumo exemplificar assim:
Por exemplo, se eu disser "Sou contra a pena de morte", estou a exprimir uma atitude que, quando um dia for chamado a votar num referendo sobre a reposição da pena de morte como castigo para os criminosos, me fará votar contra o restabelecimento legal da pena de morte.
E acrescento:
Quando alguém me perguntar porque voto assim, digo: "Sou contra porque penso que a vida é o nosso bem mais precioso - Estou a exprimir um valor -; e também porque penso que todos os homens são recuperáveis - Estou a exprimir uma crença."
No próximo Verão irei tentar subir o Quilimanjaro. A espaços, vou lendo histórias de alpinistas, expedições e aventuras. Nos últimos dias, embrenhei-me nos relatos sobre Reinhold Messner.
Reinhold Messner é, consensualmente, nos dias de hoje, o maior alpinista de sempre. De currículo ímpar na exploração e escalada de montanhas por todo o mundo, um dia consciencializou, seguramente marcado, entre outras coisas, pela morte trágica do irmão e companheiro de aventuras, ligados unha-e-carne, o seguinte, que Caroline Alexander cristalizou num artigo que a National Geographic publicou, em várias línguas, no final de 2006:
"I am sure that the real key for understanding climbing is the coming back," Reinhold told me. "It means if you are really in difficult places, in dangerous places, if you are in ... thin air, and you come back, you feel that you got again a chance for life. You are reborn. And only in this moment, you understand deeply that life is the biggest gift we have." Reinhold was speaking from the perspective of a sage veteran of thirty-one 8,000-meter expeditions. There are few such veterans around. "In my generation, half of the leading climbers died in the mountains," he told me. For the 25-year-old survivor of Nanga Parbat, however, there was no question he had returned to climb again. (National Geographic, Nov2006)

Na nossa língua, a National Geographic, em Dezembro de 2006, escreve o seguinte: "Reinhold acredita que a chave para compreender a escalada é o regresso. Quero com isto dizer que, quando andamos por lugares difíceis, por lugares perigosos, a respirar ar rarefeito, e depois voltamos, sentimos que nos é dada uma nova oportunidade de viver. É um renascimento. E só nesse momento percebemos, de maneira profunda, qua a vida é o maior dom de todos. [...] Metade dos alpinistas mais importantes da minha geração morreu nas montanhas.
Os ritos culturais de tradição milenar que associamos à Páscoa não centram os seus actos na ideia de renascimento, mas, isso sim, na do mistério da Ressurreição. Bom, seja. Na dimensão razoável deste apontamento - que tem como destino desaparecer como o traço na água - o que quero acentuar é o seguinte: O importante é que, ciclicamente, nos reasseguremos que, tanto ao nível da experiência pessoal individual, como ao nível da experiência social e cultural, a vida tem sempre jeito e formas de recuperar. Mesmo quando lhe testamos os limites.
Se calhar, hoje mais do que nunca, precisamos de nos consciencializar disso. Mas, atenção! O que a tradição religiosa desta época do ano, bem assim como o relato de Messner nos dizem, é que a vida recupera a partir do nosso sofrimento e do nosso esforço voluntarioso. Nunca a partir da expectativa passiva de quem alguém velará por nós e por nós será a solução.

terça-feira, abril 03, 2007

Ser professor, ontem, hoje e amanhã - uma precisão

Um eco muito interessante da minha colega e amiga Maria Eduarda levou-me a tentar precisar um pouco melhor os contornos da citação de Haim Ginott, traduzida e adaptada por Feliciano Veiga.
Fiz uma pequena pesquisa na Internet e, em resultado da mesma, permita-me Feliciano Veiga que eu apresente a história sem o ponto que ele acrescentou. Sim, na verdade, no caso do texto base, muitos Felicianos houve que, sensíveis à intensidade emocional, profunda em humanidade, da versão primordial, depois de a ouvirem, quando a contaram a outros, lhe acrescentaram o seu ponto.
Não tenho na minha posse, nem conheço a versão, tal qual ela aparece escrita no livro de Ginott. Lá chegarei, com a ajuda da Amazon. Mas pude, entretanto, chegar já ao seguinte:
Em The English Journal, Vol. 69, No. 7 (Out., 1980), pp. 14-18, num artigo intitulado "Children of the Holocaust", Judy Mitchell cita o texto Teacher and Child (Ginott, 1972), assim:
No primeiro dia de cada novo ano escolar, todos os professores de uma escola privada recebiam o seguinte texto do seu director:
Caro Professor: Sou um [uma?] sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos viram aquilo que nenhum homem deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por sábios engenheiros. Crianças envenenadas por médicos eruditos. Crianças pequenas mortas por enfemeiras competentes. Mulheres e bebés abatidos e queimados por diplomados do liceu e de escolas superiores. É por isso que eu desconfio da educação.
O que eu peço é isto: Ajudem os vosso alunos a tornarem-se humanos. Os vossos esforços não deverão nunca produzir sábios monstros, psicopatas altamente competentes, Eichmanns eruditos.
Ler, escrever e contar são importantes na condição de que sirvam para tornar as nossas crianças mais humanas."
O Holocaust Museum Huston, no seu sítio na Internet (http://www.hmh.org/ed_faqs.asp), tem uma outra versão. Transcrevo-a para aqui directamente:
The late Chaim Ginott, who was a principal as well as a psychologist, included this comment told to him by a survivor of the Holocaust, on the last page of his book, Teacher and Child:
"I am a survivor of a concentration camp. My eyes saw what no man should witness: Gas chambers built by learned engineers, children poisoned by educated physicians, infants killed by trained nurses. Women and babies shot and buried by high school and college graduates. So, I am suspicious of education."
Ginott then added, "My request is: Help your students become human. Your efforts should never produce learned monsters, skilled psychopaths, educated Eichmans. Reading, writing, and arithmetic are important only if they serve to make our children more humane."

Pode-se ver que, mais ponto, menos ponto, as diferentes versões confrontam-nos com a mesma e fundamental evidência, ligada à profunda essência da função e da acção educativa do professor. No fundo, poder-se-á estabelecer a seguinte constatação: alguém (ocupado com a pedagogia, o ensino e a escola) pegou nas palavras (um dia escritas ou faladas) de outrem (que - ocorrência perfeitamente verosímil - terá testemunhado e sofrido na pele os horrores da intolerância macabra nazi) e fixou-as intencionalmente numa narrativa destinada a chegar às consciências de todos aqueles que são ou um dia serão professores de crianças e jovens. E as voltas que tais palavras fixadas têm dado acabam por atestar a ressonância que têm encontrado por toda a parte.
Mas, não obstante esta consonância, não deixemos de tomar consciência do seguinte: mesmo onde tudo parece pacífico e consensual convém que o nosso espírito crítico mantenha sempre um olho aberto. A bem da verdade, a bem da mais franca humanidade.

A condição educativa e afectiva do professor

Ainda em relação ao psicólogo israelita de quem falei no apontamento anterir, eis a sua citação mais famosa, que corre abundantemente pela Net:
I have come to a frightening conclusion.
I am the decisive element in the classroom.
It is my personal approach that creates the climate.
It is my daily mood that makes the weather.
As a teacher I possess tremendous power to make a child's life miserable or joyous.
I can be a tool of torture or an instrument of inspiration.
I can humiliate or humor, hurt or heal.
In all situations, it is my response that decides whether a crisis will be escalated or de-escalated, and a child humanized or de-humanized.
Teacher and Child, 1995


Permitam-me a tradução livre:
Cheguei a uma conclusão arrepiante.
Sou o elemento decisivo na sala de aula.
É a minha abordagem pessoal à aula que faz a sua envolvência.
É o humor que levo todos os dias para a escola que determina o clima da sala de aula.
Enquanto professor, tenho o poder tremendo de fazer a vida dos alunos infeliz ou alegre.
Tanto posso ser um instrumento de tortura como um veículo de inspiração.
Posso humilhar ou dispor bem, magoar ou cicatrizar.
Em todas as situações, é a minha reacção que determina se uma crise se acentua ou se desvanece, se um aluno se torna mais humano ou se mais se desumaniza.

segunda-feira, abril 02, 2007

Ser professor, ontem, hoje e amanhã

Há um livro que descobri, ou redescobri (na verdade, já o conhecia, mas não o tinha como referência especialmente valorizada). É sobre a indisciplina e a violência na escola, de Feliciano H. Veiga. É da Almedina e vai na 3.ª edição (2007).
No final no livro, mesmo a acabar, ele apresenta uma narrativa que foi buscar e adaptou de um livro best-seller de um psicólogo israelita, Haim Guinott, que morreu em meados dos anos 70, com a idade que eu tenho agora.
Revi há pouco tempo "A Lista de Schindler", vi muito recentemente o "Hotel Ruanda" e estou a ler "J. M. Barrie and the lost boys", a biografia do autor de Peter Pan, carinhosamente retratado no filme que não me canso de ver e rever "À procura da Terra do Nunca".
Diz assim Feliciano Veiga nessa narrativa que transcreve:
"No primeiro dia de aulas, o Presidente de uma Institução Educativa fazia distribuir pelos professores uma folha onde se lia:
Caro colega,
Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos chegaram a ver o que jamais algum homem deveria ter contemplado. Máquinas de guerra construídas por engenheiros sobredotados e eficientes; crianças envenenadas por médicos com muitos conhecimentos e talentos; recém-nascidos assassinados por enfermeiras muito entendidas; vi soldados de alta patente a matar e a queimar mulheres e crianças; muitos professores e alunos foram esperados às portas das escolas para serem fuzilados.
Enquanto Hitler pretendia levar a cabo a chamada solução final - exterminar os seus opositores e as raças ditas inferiores - a história dos homens sobre a terra pareceu parar. O número de pessoas assassinadas foi mais de 6 milhões. Parece inacreditável!... Mas... está gravado na história, a ferro e fogo!

Por tanto, mostro-me suspicaz cada vez que se pergunta o que significa a educação para o homem. Quero, por tanto, fazer-vos a seguinte petição: ajudem os vossos alunos, e os que vierem a ter, a tornarem-se seres mais humanos. Os vossos ensinamentos, a nossa comunicação não devem dirigir-se à produção de monstros de grande sabedoria, horrendos psicopatas, homens instruídos e educados como Eichman."