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segunda-feira, junho 10, 2013

A mestra Mariana vai ao Oceanário e ensina-nos a falar

A Mariana, minha sobrinha-neta, vai fazer 4 anos. Está naquela idade em que a "tempestade perfeita" entre o desenvolvimento do cérebro, as estruturas cognitivas da linguagem, a motivação para falar e a interação verbal com os outros proporciona o mais exuberante surto da inteligência, diretamente ligada ao uso da palavra, de todo o ciclo do desenvolvimento humano.
http://www.oceanario.pt/layout/img/cms/
lrg_Stegostoma_fasciatum.jpg?857
Nesta altura, a criança está absolutamente dona da sua linguagem. Estica o pequenino dedo indicador e tudo sobre o que ele recai ganha um nome, uma palavra, uma nova significação, um novo sentido; como se a criança fosse, ela própria, um deus criador do Mundo, a pôr o Verbo , tal como no princípio de todas as coisas.
A Mariana não é especial, nem a vejo com olhos de tio-avô coruja. Todas as crianças, que nascem íntegras como normalmente os pais desejam, têm esta aptidão linguística; todas elas têm o mesmo potencial de inteligência. O que faz a diferença entre as crianças é, essencialmente, o ambiente linguístico em que crescem e, em concordância com tal ambiente, a estimulação verbal que recebem das interações sociais com os familiares mais próximos - os pais, os avós e os irmãos -, estimulação essa marcada pela presença da palavra adequada, oportuna - que vem, o mais das vezes, com naturalidade em todas as conversas, por mais banais que sejam, sem que tenham de ter o toque ou o rigor de especialistas da língua.
Voltando à Mariana, estava ainda na casa dos 2 anos, já ela facilmente identificava e falava com à-vontade dos láparos; dos láparos, de outros animais e de outras coisas. Foi, fundamentalmente, o avô materno, que, com conversas sábias, pacientes e feitas sem pressa, levou a Mariana ao domínio tão fácil das palavras e das estruturas básicas da linguagem falada. O segredo foi o próprio prazer do avô nestas interações verbais com a sua tão querida neta.
Hoje de manhã tocou o telefone cá em casa. Era a Mariana, a perguntar-me se queria ir com ela, o avô e a avó ao Oceanário. Claro que queria! A Mariana passou o telefone ao avô e os irmãos acertaram os pormenores da ida.
Há menos de uma semana, a pediatra deu alta à Mariana da varicela habitual nas crianças da sua idade.
Notam-se ainda pintas residuais da maleita nas faces da petiz. Ela sabia que iria encontrar tubarões  no tanque principal do Oceanário; mais, sabia - sabe - que os há de espécies diferentes, mesmo que ainda não lhes conheça os nomes. Pronto, para ela, são, por enquanto, todos tubarões. Disse à Mariana que também iríamos ver peixes-lua e perguntei-lhe se conhecia os peixes-lua. Respondeu-me que não, não sabia que havia peixes-lua; e não deixou de perguntar ao avô, enquanto tomávamos a bica antes de entrarmos no Oceanário, se havia peixes-lua. O avô confirmou-lhe a informação do ti' Jorge (que é o nome por que ela me conhece em família, não me conhece por Fernando).
Entrámos. Estávamos há algum tempo junto ao grande tanque central, já alguns tubarões tinham passado por ali. A certa altura passa à frente da Mariana um tubarão cheio de pintas, razoavelmente grande. "Olha, é um tubarão-varicela!..." disse o tal dedo indicador da Mariana, o dedo das crianças que dá nome às coisas.
Ela própria, a minha sobrinha-neta, achou divertido o que disse. Certamente ela sabe que aquela espécie de tubarão não se designa daquela maneira, mas aquela associação mental criativa aconteceu na sua cabeça, e ela achou que tinha algum sentido e que era legítimo mostrá-la. E tinha razão!
Rimo-nos todos e dissemos-lhe: "Pois, Mariana, parece que tem varicela e podia ter esse nome... O nome a sério é outro, mas esse também lhe fica bem. O nome a sério é tubarão-tigre [na verdade, não é um tubarão-tigre, mas é um tubarão-zebra, mas este matiz concetual ficará para ocasião oportuna, nós próprios tínhamos dúvidas; e, neste caso, o mais importante era mesmo validar o seu pensamento criativo da menina], mas esse também lhe fica muito bem!..."
Na verdade, isto não é nada de extraordinário... mas é notável no que mostra das tremendas capacidades do cérebro, do pensamento, da linguagem, do contacto com a realidade e da interação social das crianças pequenas.



sexta-feira, julho 15, 2011

Mais Português, mais Matemática, menos Área de Projeto e menos Estudo Acompanhado. Acho que o caminho não é por aí...

Não tenho sobre mim a pressão que o ministro da Educação tem para tomar decisões. Mas precisamente por isso é o dr. Nuno Crato ministro e eu não sou.
Reconheço que se eu pretendo que as minhas opiniões tenham algum valor, elas deverão acompanhar a urgência das medidas, o desenrolar dos acontecimentos, em vez de de aparecer, qual chover no molhado, a lançar doutas - mas ultrapassadas - apreciações críticas.
Como já disse hoje na minha página do Facebook, penso que o nosso ministro da Educação acaba de tomar medidas perigosas a longo prazo. Nas atuais circunstâncias, se calhar, mais grave que aumentar a carga horária de Português e Matemática é, no caso do 3.º ciclo do ensino básico, fazê-lo à custa, não de disciplinas de conhecimentos específicos, mas sim de disciplinas de conhecimento integrado e de consolidação das aprendizagens.
Na esfera das teorias sobre o desenvolvimento cognitivo, mesmo os autores mais críticos das teorias de Jean Piaget, aqueles que discutem sobre o que, afinal, se pode ou não fazer para promover, por treino específico adequado, o "apressamento" do desenvolvimento da sequências dos estados cognitivos de que ele fala; dizia eu, mesmo esses autores mais críticos, sabem que as coisas precisam de um tempo para "assentarem", serem sentidas, serem observadas com algum distanciamento (cognitivo) e testadas, por iniciativa pessoal, com a atenção bem focada no assunto ou tema de aprendizagem.
Não é por acaso - isso sim, é sinal daquela intuição de que só os poetas são capazes - que Natália Correia dizia que a poesia é para comer.. Ora, tudo o que se come precisa de adequado tempo de digestão; precisa depois de esperar que a sensação de fome volte, para que se coma - e assimile - mais alimento. Senão, é um empanturramento bestial que nada serve ao bem-estar e à disponibilidade dos indivíduos (neste caso, do cérebro).
Então, a pergunta: que se vai fazer com o tempo acrescido a Português e a Matemática? Dar mais matéria? Insistir mais na mesma? Que vai mudar na maneira de dar as aulas? Os professores vão ser os mesmos... os programas também...
Sim, senhor ministro, eu sei que tem de começar por algum lado, é verdade.
Mas deixe-me que lhe pergunte: não concorda que as disciplinas de Área de Projeto e de Estudo Acompanhado são precisamente as disciplinas que permitem a integração das diferentes áreas de conhecimento (é o caso da disciplina de Área de Projeto) e, assim, dão sentido a aprendizagens tantas vezes consideradas estéreis e inúteis; e permitem (é o caso do Estudo Acompanhado) o desenvolvimento de técnicas de estudo que entra nos olhos de toda a gente que são, hoje em dia, como pão para a boca para tantos alunos? Porque não, em vez de as abandonar, apostar na otimização destas duas disciplinas?
O que dizem as sabedorias dominantes que são as competências desejadas nos alunos universitários e nos jovens profissionais?... São as competências específicas na língua materna e na Matemática ou é a capacidade de integrar conhecimentos e adaptar-se a situações de estudo, aprendizagem e trabalho que trazem mais e mais novidade?
Não vou esgotar os argumentos, nem para me justificar, nem para estar contra si.
Prometo-lhe que em breve lhe falarei do João de Matos, para ver como defendo o estudo da Matemática até ao final do 12.º ano, mesmo para quem quer seguir um curso de Literatura Portuguesa! Aconteceu há dois anos atrás e até o aluno poderá testemunhar o que lhe direi em breve.
Para acabar por agora: se me perguntasse o que é que eu faria no seu lugar...
Bem, não tenho os elementos de análise e as informações que o senhor ministro tem, mas não é por isso que vou fugir à pergunta.
O que eu faria era o seguinte: reduziria os programas de Português e Matemática, centrando-os nas aprendizagens que já se sabem que são mesmo necessárias, mesmo nas formações académicas e e profissionais, no e para além do ensino superior, que não estão centradas nos conhecimentos matemáticos e da língua materna específicos; e apostaria mais nos professores de Português e Matemática na leccionação das disciplinas de Área de Projeto e Estudo Acompanhado. Além disso, deixaria depois que os alunos pudessem livremente acentuar a sua carga horária em Português e Matemática no ensino secundário. Sobretudo na Matemática.
E calo-me por agora... para não empanturrar ninguém!...