Não tenho sobre mim a pressão que o ministro da Educação tem para tomar decisões. Mas precisamente por isso é o dr. Nuno Crato ministro e eu não sou.
Reconheço que se eu pretendo que as minhas opiniões tenham algum valor, elas deverão acompanhar a urgência das medidas, o desenrolar dos acontecimentos, em vez de de aparecer, qual chover no molhado, a lançar doutas - mas ultrapassadas - apreciações críticas.
Como já disse hoje na minha página do Facebook, penso que o nosso ministro da Educação acaba de tomar medidas perigosas a longo prazo. Nas atuais circunstâncias, se calhar, mais grave que aumentar a carga horária de Português e Matemática é, no caso do 3.º ciclo do ensino básico, fazê-lo à custa, não de disciplinas de conhecimentos específicos, mas sim de disciplinas de conhecimento integrado e de consolidação das aprendizagens.
Na esfera das teorias sobre o desenvolvimento cognitivo, mesmo os autores mais críticos das teorias de Jean Piaget, aqueles que discutem sobre o que, afinal, se pode ou não fazer para promover, por treino específico adequado, o "apressamento" do desenvolvimento da sequências dos estados cognitivos de que ele fala; dizia eu, mesmo esses autores mais críticos, sabem que as coisas precisam de um tempo para "assentarem", serem sentidas, serem observadas com algum distanciamento (cognitivo) e testadas, por iniciativa pessoal, com a atenção bem focada no assunto ou tema de aprendizagem.
Não é por acaso - isso sim, é sinal daquela intuição de que só os poetas são capazes - que Natália Correia dizia que a poesia é para comer.. Ora, tudo o que se come precisa de adequado tempo de digestão; precisa depois de esperar que a sensação de fome volte, para que se coma - e assimile - mais alimento. Senão, é um empanturramento bestial que nada serve ao bem-estar e à disponibilidade dos indivíduos (neste caso, do cérebro).
Então, a pergunta: que se vai fazer com o tempo acrescido a Português e a Matemática? Dar mais matéria? Insistir mais na mesma? Que vai mudar na maneira de dar as aulas? Os professores vão ser os mesmos... os programas também...
Sim, senhor ministro, eu sei que tem de começar por algum lado, é verdade.
Mas deixe-me que lhe pergunte: não concorda que as disciplinas de Área de Projeto e de Estudo Acompanhado são precisamente as disciplinas que permitem a integração das diferentes áreas de conhecimento (é o caso da disciplina de Área de Projeto) e, assim, dão sentido a aprendizagens tantas vezes consideradas estéreis e inúteis; e permitem (é o caso do Estudo Acompanhado) o desenvolvimento de técnicas de estudo que entra nos olhos de toda a gente que são, hoje em dia, como pão para a boca para tantos alunos? Porque não, em vez de as abandonar, apostar na otimização destas duas disciplinas?
O que dizem as sabedorias dominantes que são as competências desejadas nos alunos universitários e nos jovens profissionais?... São as competências específicas na língua materna e na Matemática ou é a capacidade de integrar conhecimentos e adaptar-se a situações de estudo, aprendizagem e trabalho que trazem mais e mais novidade?
Não vou esgotar os argumentos, nem para me justificar, nem para estar contra si.
Prometo-lhe que em breve lhe falarei do João de Matos, para ver como defendo o estudo da Matemática até ao final do 12.º ano, mesmo para quem quer seguir um curso de Literatura Portuguesa! Aconteceu há dois anos atrás e até o aluno poderá testemunhar o que lhe direi em breve.
Para acabar por agora: se me perguntasse o que é que eu faria no seu lugar...
Bem, não tenho os elementos de análise e as informações que o senhor ministro tem, mas não é por isso que vou fugir à pergunta.
O que eu faria era o seguinte: reduziria os programas de Português e Matemática, centrando-os nas aprendizagens que já se sabem que são mesmo necessárias, mesmo nas formações académicas e e profissionais, no e para além do ensino superior, que não estão centradas nos conhecimentos matemáticos e da língua materna específicos; e apostaria mais nos professores de Português e Matemática na leccionação das disciplinas de Área de Projeto e Estudo Acompanhado. Além disso, deixaria depois que os alunos pudessem livremente acentuar a sua carga horária em Português e Matemática no ensino secundário. Sobretudo na Matemática.
E calo-me por agora... para não empanturrar ninguém!...
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tenho de concordar com o seu título stor, não acho que seja, de todo, por aí. Mas tal como diz não somos nós os ministros! (:
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