quarta-feira, novembro 19, 2008

Carta aberta ao Professor Vital Moreira

Sr. Provedor,
A publicação, na edição do Público de ontem, dia 18 de Novembro, na secção "Espaçopúblico", de um artigo de opinião do Professor Vital Moreira, sob o título "Uma reforma que não pode ser perdida", na página 41, merece da minha parte, professor do ensino secundário público, um comentário que a seguir exponho e que peço seja publicado no jornal. Obrigado!


Senhor Professor Vital Moreira,

               Ainda nos anos 80, depois de ter concluído a licenciatura em Psicologia, recebi um convite irrecusável de uma universidade americana que me abria as portas de uma carreira universitária muito promissora, convite "irrecusável" que recusei.
               Levei algum tempo a decidir-me, longas conversas sobre este assunto mantive com o dr. João dos Santos, que algumas vezes me convidou a sentar-me ao seu lado, ali nos “cadeirões dos sábios”, como ele dizia, na sua casa de Sintra. Entre outras coisas, ele alertou-me: "Fernando, há oportunidades que só surgem uma vez na vida, mas cada um de nós é que tem de saber por qual optar, tentando ter claras para si todas as consequências que da escolha advirão. E são consequências pessoais, profissionais e de cidadania". Como já disse, recusei o convite irrecusável. Educadamente, bem entendido.
               Hoje, depois de ler o seu artigo de opinião no Público, assinado (provavelmente a responsabilidade não é sua) como "Professor universitário", rememorei o convite e as conversas com o dr. João dos Santos e senti-me a renovar a satisfação pela opção de abraçar o ensino secundário.
               Sabe, Professor, o senhor tem sido, de há muitos anos a esta parte, uma das minhas mais importantes referências políticas e de participação cívica; e não deixará certamente de o ser depois desta carta.
               Errar é humano. Vale para si e vale para mim.
               O que eu disse sobre o convite americano não me confere competência especial, nem sequer legitimidade para opinar e comentar as suas opiniões acerca do tema central do seu artigo e deste meu contraponto: o processo actual de avaliação dos professores portugueses no ensino secundário.
               Conhece certamente a já clássica afirmação de Ortega e Gasset, "Eu sou eu e a minha circunstância". O "episódio" que comecei por apresentar pretende apenas alguma coisa dizer sobre a circunstância histórica e de desenvolvimento pessoal que me leva a escrever o que a seguir vai encontrar.
               Os tempos que correm não são de feição para os textos longos, doutrinários ou outra coisa que sejam. Querem-se (diz-se – alguém diz – que é assim que a opinião pública os quer) "concisos", "directos", que vão logo ao fundo das questões.
               Vou tentar fazer assim.
               E parto destas premissas: há bons e maus professores. A grande maioria, são professores bons, com vontade de fazerem cada vez melhor. E, desta maneira, não somos melhores, nem piores que qualquer outro grupo profissional.
               A primeira ideia com que fiquei do seu texto foi que se espraiava fundamentalmente em considerações ou aspectos ideológicos; mas agora já hesito se não predominarão as considerações e os aspectos puramente afectivos.
               No meu pensamento – humano, por isso, repito, sujeito ao erro -, sintetizo a sua argumentação numa simples afirmação, que imagino mentalmente quase gritada por quem histrionicamente cerra com força nas mãos uma bandeira bem levantada "- A reforma! Avante a reforma!...! Eu até direi: "- Pois… a reforma, seja… Mas… qual reforma?..." Neste aspecto penso que o seu texto é completamente omisso, ao contrário de outros artigos de opinião publicados na mesma edição do Público, como sejam os do "jornalista" (assim apresentado) José Vítor Malheiros, de Helena Matos, e de Miguel Gaspar. Daí a minha hipótese da ideologia e da afectividade. E pergunto-lhe: de que nos serve a ideologia sem substância?... Ou a afectividade?... Sinceramente custa-me imaginá-lo quase preso da irracionalidade que vocifera "É preciso não deixar que essa classe consiga ganhar!..."
               Lamento vê-lo estatelar-se nas águas lamacentas das afirmações preconceituosas que garantem (com base em que critérios que são puramente subjectivos, neste caso, os seus) que os professores não querem ser avaliados. A este propósito, permito-me enviar-lhe, em anexo, um pequeno texto de circunstância, que escrevi à pressa num dos meus blogues, seguramente incompleto, mas que seguramente também expressa o essencial da minha ideia sobre o assunto. E sobre isto não digo mais nada.
               Percorre outro caminho de consistência muito duvidosa e traiçoeira quando diz que "é mais do que compreensível que uma reforma destas não seja aceite de bom grado por uma classe profissional mal habituada a uma "carreira plana", sem diferenciação de níveis profissionais e com progressão profissional garantida por simples antiguidade." Professor Vital Moreira, estas palavras não podem ser suas, não acredito. Não o tenho em conta de nenhumas das seguintes alternativas: da ignorância e da irresponsabilidade que põe alguém a falar com gravidade do que não sabe; ou da má fé, por parte de quem sabe que está a dizer coisas que não correspondem à verdade.
Por palavras semelhantes, colegas meus de uma escola secundária de Viseu apresentaram já queixa em tribunal contra o sr. Primeiro ministro José Sócrates. O menos que importará agora será a condenação ou a absolvição do potencial réu. O Senhor Professor sabe bem os caminhos complexos que as verdades e as mentiras tomam nos corredores e salas de audiência dos tribunais. O que não se apagará já, nunca mais, do comportamento dos homens é a defesa da dignidade e da honra assumida por quem tem responsabilidades educativas sobre “os homens de amanhã”, que devem fazer a experiência humana e social de valores e éticas na vida dos grupos humanos em que participam.
               Não quero tomar-lhe muito mais tempo. Por isso, antes de algumas considerações finais, ó Professor Vital Moreira, quando diz que "não existe razão, salvo uma ilegítima prerrogativa 'histórica', para que os professores não sejam avaliados", sabe que isso duvidosamente vai além do simples jogo de palavras. Sabe isso, não sabe?... Pergunto-lhe outra vez, se me dá licença: que substância tem essa afirmação? Escreveu assim porque estava a ironizar, não estava?
               Na minha opinião, na minha representação mental das coisas, à moda do mítico Sancho Pança, quase pragmaticamente, as reformas devem ser avaliadas como as árvores, pelos seus frutos. E que frutos produziu já esta árvore? Vejamos: abandono das escolas por parte dos professores mais velhos, com mais tempo de serviço, mais experientes. Desencantados e ofendidos. Tratados sem dignidade.
Como outros grupos profissionais, temos muitas características corporativas; e uma delas, das mais importantes, é a transmissão do saber e da experiência, pessoa a pessoa. Concorda comigo, ou não? Se concordar, será também levado a concordar que muitas escolas estão a ficar decapitadas e descapitalizadas (falamos de capital humano, naturalmente), o que empobrece o ensino. E, por favor, não caia no outro preconceito de dizer que os professores que foram embora são provavelmente os que não queriam trabalhar mais! Isso já foi dito perante as câmaras das televisões por quem verdadeiramente tem responsabilidades políticas pelo governo da Educação em Portugal! E já foi respondido bastamente. O caso da Escola Infanta D. Maria, paradigma das escolas do ensino público nos tão discutíveis rankings das escolas será exemplo suficiente. Dou aulas em Lisboa, conheço esta escola de Coimbra e já lá estive, e comigo levei alunos, para com professores e alunos de lá aproveitarmos dos seus saberes. Antes do aparecimento dos rankings.
               A sociedade portuguesa, não obstante todos os "simplexes" produzidos, continua a justificar as tiradas humoristas dos "Gato Fedorento" sobre "o papel, qual papel?..."
               Um dia, Sebastião da Gama respondeu a alguém que lhe perguntava se tinha muito que ensinar: "Não, tenho muito que amar". Hoje muito dificilmente os professores têm tempo para ensinar, mais dificilmente para amar; porque a exigência é de que se escrevam ou preencham formalidades. E o Professor sabe que uma "ficha" (no governo da Educação deste País é a palavra que se ouve mais; a outra a seguir é "aligeirar". E de tanto se aligeirar torna-se quase humilhante o nível de exigência a que se chega, acredite!, é um professor do Secundário que lho diz agora! O que torna indigna a avaliação… o modelo… a reforma. E contra essa reforma inconsistente os professores também se opõem) que se escreve sobre um aluno, sobre muitos alunos, por mais pequena que seja, não se escreve assim num repente com dois rabiscos, se se quer agir com sentido de responsabilidade e com objectivo de eficácia útil para o(s) aluno(s) em questão.
               Argumentará que padeço do mesmo mal que o acuso: a ideologia ou a afectividade. Será?... O senhor ajuizará de mim como eu tive a liberdade de o fazer em relação a si.
               Miguel Torga dizia que para educar é preciso ter as mãos purificadas. Será que vivemos tempos em que se torna ridículo assim falar, tal como no admirável mundo novo de Aldous Huxley se tornou ridículo dizer-se que se tinha nascido por parto natural?
               Acredite que tenho necessidade de ouvi-lo com a objectividade, a imparcialidade (não obstante os escolhos inerentes a este conceito; bom como em relação aos outros, afinal) e a "meta"-reflexão a que aos poucos me habituou. É verdade, pôs-me esse "vício" no corpo. Precisamos de pessoas assim, que nos esclareçam. Faça-me acreditar que este seu texto é um pesadelo que a noite trouxe, mas que a manhã, quando chegar, vai dissipar.
       Voltando a Sebastião da Gama – cujo Diário considero um fabuloso manual de verdadeira pedagogia, sempre actual, porque prodigaliza o húmus da fundamental relação pedagógica entre o professor e a turma; e infelizmente completamente esquecido (se calhar nunca o leram!...) por muitos dos nossos responsáveis educativos -, ele escreve a certa altura: “Ser PROFESSOR É DAR-SE… e lembrei-me então do Amaro e de que era tão bom que não fosse apenas o professor a dar-se…”
       E acabo com palavras do Padre António Vieira, de quem ainda estamos a comemorar os 400 anos do seu nascimento: “Para ensinar sempre é necessário amar e saber; porque quem não ama não quer; e quem não sabe não pode; mas esta necessidade de sabedoria e amor não é sempre com a mesma igualdade. Para ensinar nações fiéis e políticas é necessário maior sabedoria que amor; para ensinar nações bárbaras e incultas é necessário maior amor que sabedoria.”

Fernando Pinto, professor do ensino secundário, na Escola Secundária Eça de Queirós, em Lisboa

ANEXO:
A avaliação e os professores - 1: Porque é que se desconfia dos professores sempre que eles falam em avaliação?
Indo direito ao assunto: desconfia-se dos professores porque ninguém gosta de ser avaliado. O que quer dizer que quando alguém, da "opinião pública", ouve os professores a dizerem que não contestam a avaliação, o que contestam é este modelo de avaliação, pois esse "alguém" pensa logo que os professores estão a mentir, porque, na verdade, o que eles querem é não serem avaliados! E isto é verdade!... Só que, como diria Marcelo Rebelo de Sousa parodiado pelo Ricardo Araújo Pereira, "É verdade, mas isto não é bem verdade..."
Vou tentar explicar.
Ninguém gosta de ser avaliado. Ponto. Só gosta de ser avaliado quem gosta e precisa de receber um elogio e acredita que merece e vai recebê-lo.
O ser humano, enquanto tal, e qualquer ser - humano e não humano - não existe para ser avaliado. Qualquer ser existe para agir, para fazer coisas, uma após a outra e, em função dos resultados que obtém, volta a fazer igual, ou faz diferente. Ora, isto, se tem alguma coisa de avaliação, é de "auto"-avaliação, não é de "hetero"-avaliação.
O ser (humano ou não) quando avalia não é para penalizar, é para melhorar, é para "afinar a pontaria".
O problema da avaliação, hoje em dia, em geral - e, se calhar, nas sociedades humanas cheias de superegos - é que é sempre penalizadora.
A natureza quando põe a leoa a falhar a vitória sobre a presa - essencial para alimentar os seus filhotes - não castiga a leoa (já é "castigo" suficiente ela ficar sem o alimento), mas obriga-a, só pela simples falha do seu labor, a ser melhor da vez seguinte.
Sejamos claros, a natureza hedonista do ser humano não aprecia a avaliação: nem a natureza humana dos professores, nem a natureza humana dos que dizem que os professores (quando dizem que não recusam a avaliação, mas apenas este modelo de avaliação) o que na verdade querem é não serem avaliados.
E porquê? Porque nas nossas cabeças, na nossa tradição judaico-cristã (pelo menos nesta), a avaliação é sempre penalizadora. A avaliação tem sempre a ver com o castigo do pecado.
O reconhecimento da necessidade da avaliação é, sem rodeios e para simplificar o assunto, do domínio da ética. Por isso todos dizemos que a avaliação é uma necessidade... mas todos detestamos a avaliação... Esclareça-se: a nossa avaliação... feita pelos outros.
Fundamentalmente, o que é a avaliação? A avaliação é isto: é alguém que chega ao pé de nós e nos diz: "Ora muito bem, aqui estou eu, que tenho mais poder do que tu (note-se, poder; não competência), e venho ver se tu estás a fazer bem o que devias fazer bem; e, eu, que tenho o poder que tu não tens,  se achar que tu não estás a fazer bem, pois vou ter de dizer a quem tem mais poder do que eu, que tu não estás a fazer exactamente como deverias."
Eu poderia discorrer sobre outras implicações desta perspectiva, de segunda e terceira ordem, até sobre a avaliação que recai sobre quem avalia, mas não me quero desviar do essencial e por isso não o vou fazer... agora! Talvez noutro apontamento, noutro dia.
Quem é que gosta de ter na sua frente alguém com poder para dizer que não está a fazer bem o que devia estar a fazer bem e assim ficar sujeito a uma qualquer forma de castigo?... Ninguém!
As pessoas da "opinião pública" não gostam da avaliação e sabem que os professores também não gostam, porque têm a mesma natureza hedonista que os da "opinião pública"! E todos "suportam" a mesma ética.                    

domingo, novembro 16, 2008

A criança de Thomas Mann, o filósofo de Konrad Lorenz e as fadas do Peter Pan

Thomas Mann, também ele, repetiu a experiência pessoal de percorrer - como ele próprio diz - as "intermináveis extensões do oceano", "desbobinando... bocados de imensidão".
Nuna dessas vezes, ele leu, "ruminou" e escreveu sobre Cervantes e o D. Quixote de la Mancha.
A"circularidade do oceano", o "vazio absoluto", a "amplidão cósmica" e o diário acerto das horas, repetidamente levando-o de novo - ilusoriamente, mas obrigatoriamente - a um tempo de vida já passado; pois tudo isto terá produzido efeitos de eco, reverberação e amplificação de representações mentais e imagens sugeridas pela obra prima e clássica da literatura castelhana e mundial.
De tal modo que, a dada altura, ele escreve:
Que pensamentos estes, dignos de um rapaz em idade escolar!" Mas não é assim, que a mundividência cosmológica, quando comparada com o seu oposto, a psicológica, tem em si algo de pueril? Dizendo isto recordo-me dos olhos de criança, brilhantes e redondos como uma bola, de Albert Einstein. É mais forte do que eu: o conhecimento humano, o acto de perscrutar a vida humana, tem um carácter mais maduro, mais adulto, que a especulação em torno da Via Láctea - com o mais profundo respeito quero ter isto como verdadeiro. "Ao indivíduo", lemos em Goethe, "resta a liberdade de se ocupar com aquilo que o atrai, que lhe dá alegria, que se lhe afigura útil; mas o verdadeiro estudo da Humanidade é o Homem"."
Curioso!... No apontamento que ontem acrescentei neste blogue, também eu me fixei mentalmente nos olhos de espanto de uma qualquer criança. "Elementar, meu caro Watson", como, ao que parece, Sherlock Holmes nunca terá dito. E como eu próprio ponho agora na boca dele: "Esses olhos de criança, mesmo que da criança grande de nome Albert, são os próprios olhos do sujeito que olha ou imagina os olhos das crianças, os olhos do próprio espanto do sujeito que olha".
Pois é, pela minha parte não vou ao ponto de concordar com Thomas Mann, sobre a madureza superior do conhecimento humano. Como mais claramente que qualquer outro Konrad Lorenz me soube dizer , o que importa é o espanto de quem olha, seja para onde seja que olhe. Esse espanto, que Jean Piaget, também melhor que qualquer outro, soube mostrar que está no "instinto" de toda a actividade humana. É aí, no momento do espanto, que nasce a filosofia, diz Lorenz. Eu diria, é aí que nasce o filósofo.
Num dia destes, na rampa ziguezaguiante que agora temos sempre de percorrer para entrar e sair da escola, cruzei-me com uma antiga aluna que me cumprimentou muito carinhosamente. "Setôr, porque está tão sério a olhar para mim?..." "Minha querida, estou a chegar, com o corpo já bem dentro da escola, mas a cabeça ainda está longe. Quero ter a certeza de que te estou a ouvir bem." "Mas está zangado comigo?" Eu já estava parado ao lado dela. Mas agora virei-me bem para ela, a sua dúvida merecia agora toda a minha disponibilidade pessoal. Disse-lhe, então, devagar e a sorrir: "Quando um bebé tem toda a sua atenção sobre ti e quer saber quem tu és, como te olha ele?... Não será que te olha como eu acabei agora de te olhar?... A aluna calou-se por um bocadinho, cerrou ligeiramente os olhos, fixou-os nos meus, olhando infinitamente para além deles. Estava seguramente buscando nas suas memórias.
Até que encheu o rosto num sorriso: "É verdade!... É verdade, é!... O setôr quer mesmo [re]conhecer-me!..."
Voltando ao filósofo (às crianças-filósofos), é ele, são eles que nos entram ou deveriam entrar pela escola adentro, logo aos 5 ou 6 anos. Se não chegam, ou se aos poucos o deixam de ser, é porque, na voragem do ensino obrigatório, uniformizado e competitivo, acabamos por lhes dar o mesmo destino que na ficção cinematográfica da Terra do Nunca do Peter Pan se acaba por dar às fadas que nascem com todos os meninos:

WENDY (with great eyes). You know fairies, Peter!
PETER 
(surprised that this should be a recommendation). Yes, but they are nearly all dead now. (Baldly) You see, Wendy, when the first baby laughed for the first time, the laugh broke into a thousand pieces and they all went skipping about, and that was the beginning of fairies. And now when every new baby is born its first laugh becomes a fairy. So there ought to be one fairy for every boy or girl.
WENDY 
(breathlessly). Ought to be? Isn't there?
PETER. Oh no. Children know such a lot now. Soon they don't believe in fairies, and every time a child says 'I don't believe in fairies' there is a fairy somewhere that falls down dead. 
(He skips about heartlessly.)

WENDY (com os olhos muito abertos). Tu conheces fadas, Peter!
PETER (surpreendido que isto soasse como um aviso). Sim, mas agora elas estão quase todas mortas. (Cruamente) Sabes, Wendy quando o primeiro bebé riu pela primeira vez, o riso estilhou-se em mil bocados e foram-se espalhando por todo o lado. E isso foi o princípio das fadas. Agora quando um bebé nasce o seu primeiro riso transforma-se numa fada. Por isso, devia haver uma fada por cada menino e cada menina.
WENDY (sustendo a respiração). Devia haver?... Não há?
PETER. Oh, não! As crianças agora sabem muitas coisas. Não tarda muito, não acreditam mais em fadas, e cada vez que uma criança disser "Eu não acredito em fadas" há uma fada, num lado qualquer, que cai morta para o lado. (Salta dum lado para o outro sem qualquer compaixão.)

É... tanto que nos rimos das coisas tontas e caricatas que as crianças seriamente dizem!... Tanto que lhes ensinamos de "verdadeiro" e "científico", e tanto lhes negamos o Pai Natal, as fadas e os anões da floresta. E aos poucos destruimos a magia e o espanto das crianças. Thomas Mann e Albert Einstein serão dos poucos que terão conseguido preservar os pequenos filósofos que nasceram quando eles riram a primeira vez.

Por isso me soube bem ouvir na quinta-feira passada, a meio de uma aula da minha turma dos CEF, o desabafo que se espalhou por toda a sala: Ó  setôr, se continua assim, a mostrar-nos estas coisas e a falar assim, ainda voltamos outra vez a acreditar no Pai Natal!...

sábado, novembro 15, 2008

Uma alegria tonta de uma loucura mansa

Ouvi hoje, num dos telejornais da noite, de um dos canais generalistas (Já não me lembro qual...), que foi batido o record do Guinness Book de derrube de peças de dominó em cadeia, ultrapassando os quatro milhões de peças.
No meio de tanto motivo, sobretudo profissional,  para estar alerta e tenso; e de tanto problema na sociedade portuguesa, do "concerto das nações" e do equilíbrio ambiental, foi consoladamente que vi a reportagem toda do acontecimento.
Imaginar a alegria de cada uma daquelas pessoas que pulavam de contentamento depois da última peça ter caído, os abraços que davam uns aos outros, denunciando, com olhos de meninos encantados e sonhadores, muitas e muitos esforços partilhados, tudo com muito entusiasmo, foi isso mesmo: consolador.
Parece que não se esteve contra ninguém; que não se forçaram os recursos da Natureza; que não se oposeram grupos sociais nem ideologias económicas; não se provocaram políticos, nem políticas de ministras intratáveis.
Também não foi nada que aliviasse a fome e as outras desgraças do mundo; mas também não concorreram para que aumentassem.
Com a tonalidade emocional com que vi a reportagem, até deu para pensar que a alegria ingénua e espontânea apaziguaria muita tristeza de olhos grandes de meninos pequenos tomados ao colo.

domingo, novembro 09, 2008

A avaliação e os professores - 3: Uma árvore conhece-se pelos seus frutos, não é?

Ora bem, vamos recapitular:
- Quem não concorda com a melhoria do ensino público? (Ninguém responde, silêncio total...)
- Quem não concorda que os professores devem ser avaliados? (Silêncio absoluto)
- Quem não concorda que os professores mais competentes e os mais capazes (provavelmente, os mais velhos, ou antigos) avaliem os mais novos? (Outra vez silêncio absoluto)
- Quem não concorda com a ministra da Educação que diz que uma ficha no princípio do ano, só três aulas assistidas ao longo do ano e uma ficha de avaliação no fim do ano, é pouco trabalho (Bem, ouviram-se uns sussurros, mas, verdadeiramente, ninguém se opôs)?
- Quem não concorda que é preciso separar o trigo do joio?
Pois é, postas as coisas assim, é difícil não concordar com tudo. Só que, na prática, como diz a cultura popular, de velha e sábia que é, de boas intenções está o inferno cheio.
Mas por aqui não vamos lá, quero dizer, por este lado, os professores pouco ou nada convencem a "opinião pública".
Sendo assim, vamos por outro lado:
- As reformas do Ministério da Educação (bem intencionadas, naturalmente) estão ou não a acelerar a saída, antes de tempo, das escolas dos professores mais velhos, mais próximos dos escalões superiores da carreira docente, assim já consagrados por estas mesmas reformas?
- Os rankings das escolas, que aí apareceram e por cá ficaram, para o bem e para o mal, estão ou não a mostrar o abaixamento das escolas públicas, em geral?
- Aumentou ou não o nível de insatisfação dos professores nas escolas, agora que se conta com duas manifestações públicas de mais de cem mil professores, em Lisboa, num período de oito meses?
- É ou não é verdade que a Confederação Nacional das Associações de Pais, que tão cedo saudou as decisões da Ministra da Educação agora já publicamente defende a necessidade de se fazer a revisão de decisões ministeriais, ou da sua aplicação, já que decisões há que estão a prejudicar o ensino e a aprendizagem nas escolas?
- Uma árvore conhece-se pelos seus frutos, não é?
- Que podemos nós dizer desta árvore que o Ministério de Maria de Lurdes Rodrigues e José Sócrates plantaram?
- Dá ou não dá por vezes a sensação que, afinal, se está a deitar trigo de muito boa qualidade fora?

A avaliação e os professores - 2: Porque é que toda a gente acha que os professores devem ser avaliados?

- Porque é que toda a gente acha que os professores devem ser avaliados?
A resposta a esta pergunta é simples:
- Porque, como em todas as profissões, em todas as actividades humanas, há bons professores e há maus professores. E todos nós conhecemos professores, ou porque andámos na escola, ou porque os nossos filhos andam na escola, e nós e eles passámos já pelas mãos de muitos professores... logicamente, bons e maus professores.
Mas na hora de falar de avaliação,  nós lembramo-nos é dos maus que tivemos ou que os nossos filhos tiveram. É como os médicos, todos nós conhecemos bons médicos e maus médicos.
Os outros profissionais, é mais difícil encontrarmos os tais bons e maus. É que nem toda a gente precisa de engenheiros (estou a falar da vida normal do dia-a-dia), ou advogados, ou arquitectos, ou... ou... ou... Mas a nossa saúde e a nossa educação não nos livra de médicos e professores.
Ora é precisamente por isto que, quando o mais pintado dos dirigentes dos sindicatos dos professores, ou de qualquer associação de professores, por mais independente e apartidária que seja, vem para a televisão ou para os jornais contestar a avaliação do Ministério da Educação, por mais honesto que seja, como eu já dizia no apontamento anterior, a "opinião pública" desconfia: é que nessa altura toda a gente se lembra daquele professor ou daquela professora que parecia mesmo muito incompetente e que deveria ser apanhada por alguém que lhe pudesse fazer o que esse professor ou essa professora merecia!...

A avaliação e os professores - 1: Porque é que se desconfia dos professores sempre que eles falam em avaliação?

Indo direito ao assunto: desconfia-se dos professores porque ninguém gosta de ser avaliado. O que quer dizer que quando alguém, da "opinião pública", ouve os professores a dizerem que não contestam a avaliação, o que contestam é este modelo de avaliação, pois esse "alguém" pensa logo que os professores estão a mentir, porque, na verdade, o que eles querem é não serem avaliados! E isto é verdade!... Só que, como diria Marcelo Rebelo de Sousa parodiado pelo Ricardo Araújo Pereira, "É verdade, mas isto não é bem verdade..."
Vou tentar explicar.
Ninguém gosta de ser avaliado. Ponto. Só gosta de ser avaliado quem gosta e precisa de receber um elogio e acredita que merece e vai recebê-lo.
O ser humano, enquanto tal, e qualquer ser - humano e não humano - não existe para ser avaliado. Qualquer ser existe para agir, para fazer coisas, uma após a outra e, em função dos resultados que obtém, volta a fazer igual, ou faz diferente. Ora, isto, se tem alguma coisa de avaliação, é de "auto"-avaliação, não é de "hetero"-avaliação.
O ser (humano ou não) quando avalia não é para penalizar, é para melhorar, é para "afinar a pontaria".
O problema da avaliação, hoje em dia, em geral - e, se calhar, nas sociedades humanas cheias de superegos - é que é sempre penalizadora.
A natureza quando põe a leoa a falhar a vitória sobre a presa - essencial para alimentar os seus filhotes - não castiga a leoa (já é "castigo" suficiente ela ficar sem o alimento), mas obriga-a, só pela simples falha do seu labor, a ser melhor da vez seguinte.
Sejamos claros, a natureza hedonista do ser humano não aprecia a avaliação: nem a natureza humana dos professores, nem a natureza humana dos que dizem que os professores (quando dizem que não recusam a avaliação, mas apenas este modelo de avaliação) o que na verdade querem é não serem avaliados.
E porquê? Porque nas nossas cabeças, na nossa tradição judaico-cristã (pelo menos nesta), a avaliação é sempre penalizadora. A avaliação tem sempre a ver com o castigo do pecado.
O reconhecimento da necessidade da avaliação é, sem rodeios e para simplificar o assunto, do domínio da ética. Por isso todos dizemos que a avaliação é uma necessidade... mas todos detestamos a avaliação... Esclareça-se: a nossa avaliação... feita pelos outros.
Fundamentalmente, o que é a avaliação? A avaliação é isto: é alguém que chega ao pé de nós e nos diz: "Ora muito bem, aqui estou eu, que tenho mais poder do que tu (note-se, poder; não competência), e venho ver se tu estás a fazer bem o que devias fazer bem; e, eu, que tenho o poder que tu não tens,  se achar que tu não estás a fazer bem, pois vou ter de dizer a quem tem mais poder do que eu, que tu não estás a fazer exactamente como deverias." 
Eu poderia discorrer sobre outras implicações desta perspectiva, de segunda e terceira ordem, até sobre a avaliação que recai sobre quem avalia, mas não me quero desviar do essencial e por isso não o vou fazer... agora! Talvez noutro apontamento, noutro dia.
Quem é que gosta de ter na sua frente alguém com poder para dizer que não está a fazer bem o que devia estar a fazer bem e assim ficar sujeito a uma qualquer forma de castigo?... Ninguém!
As pessoas da "opinião pública" não gostam da avaliação e sabem que os professores também não gostam, porque têm a mesma natureza hedonista que os da "opinião pública"! E todos "suportam" a mesma ética.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Sobre a superioridade (?) da espécie humana

Estive hoje, ao final da tarde, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde fui assistir à segunda conferência do ciclo "No caminho da Evolução", no âmbito da Exposição "A evolução de Darwin", comemorativa dos 200 anos do nascimento do "pai" da teoria da evolução das espécies.
A conferencista, Patrícia Beldade, fez uma apresentação muito harmoniosa e equilibrada, bem dirigida ao grupo dominante entre a assistência, alunos do ensino secundário. Gostei de ver tamanha plateia, com escolas de fora de Lisboa. De Valongo veio um grupo grande da Escola Secundária de Alfena. Espero que todos tenham aproveitado das duas horas de presença na Gulbenkian. Só que... já lá vamos.


O tema da conferência: "Evolução e Desenvolvimento: variações a dois tempos e muitas cores".
Como já disse, a conferência foi muito bem apresentada pela jovem investigadora portuguesa.
Já antes dela, um outro cientista (de quem não fixei o nome) fez uma muito agradável apresentação do livro "Evolução, história e argumentos".
Depois da apresentação da investigadora Patrícia passou-se a um período - amplo, por sinal, o que se saúda muito agradavelmente - de debate, perguntas e respostas.
Pois aqui é que a porca torceu o rabo!...
Então, Patrícia, fica-se perante uma plateia assim, sem uma folhinha de papel e uma esferograficazinha no colo?... Viu como se viu em dificuldade para se focalizar bem nas perguntas que lhe fizeram?... E reconhece que acabou por dar um exemplo pedagógico pouco conveniente, não é? Desculpe-me, mas a minha idade e a minha antiguidade em ofício idêntico ao seu responsabiliza-me por esta cordial chamada de atenção.
Os alunos cumpriram muito satisfatoriamente a sua obrigação, pondo perguntas sincera e esforçadamente saídas dos seus níveis de conhecimentos escolares, da sua generosidade adolescente típica, das cogitações próprias de espíritos prenhes de ideiais sociais e humanitários.
No meu entender, as respostas lá foram calhando - e encalhando - de acordo com o pouco cuidado no registo das perguntas (não me leve a mal que insista neste ponto, não é minha intenção criticá-la), que, para que não falhassem, na sua maioria estavam já escritas e foram lidas, depuradas, sem redundâncias, dificultando a sua correcta percepção por quem lhes deveria responder. E em qualquer momento, qualquer pergunta empenhada e séria de um aluno é para ser tratada... "como se fosse a Poesia que nos visitasse". Como Sebastião da Gama escreveu que Miguel Torga lhe tinha dito: "Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita."
As perguntas dos jovens têm a simplicidade, mas ao mesmo tempo a complexidade; e a ingenuidade, mas ao mesmo tempo a assertividade, próprias do pensamento em expansão que é da natureza essencial de todos os jovens.
Por duas ou três vezes foram colocadas questões claras e pertinentes sobre a superioridade da espécie humana em relação às outras espécies.
Hoje em dia, mais do que nunca, quando tanto - tão justamente! - é dito sobre a responsabilidade do Homem na destruição das condições de vida de todos os seres vivos e de todos os ambientes de vida no Planeta Terra, seguramente que intensos processos de dissonância cognitiva interferem nos raciocínios dos jovens quando, noutras perspectivas, lhes queremos - enquanto professores - passar-lhes a ideia de que o Homem é a espécie mais desenvolvida, é o ser superior, é o ponto mais alto da escala evolutiva. No fundo, directa ou indirectamente; velada ou claramente; intencional ou involuntariamente, no ensino está-se sempre a passar esta ideia.
Querida Patrícia - permita-me esta familiaridade, que me concedo amparado nos meus cabelos já com muito de branco - não basta dizer a estes jovens sedentos de apaziguamento para os seus raciocínios saudavelmente turbulentos e tortuosos, que Eu não penso assim.
Não tivesse sido o adiantado da hora, eu teria pedido para intervir para dizer qualquer coisa do género:
Isso de ser superior, tem a ver com um critério estabelecido arbitrariamente. Por exemplo, se se considerar superior a espécie que maior capacidade adquiriu para transformar o ambiente à sua volta e influenciar ou agir sobre as outras espécies, naturalmente que o Homem é a espécie superior. Mas se, noutra perspectiva, se considerar que o critério é a capacidade de adaptação ao meio, preservando-o, não o pondo em perigo, bem assim como não pondo em perigo a sobrevivência da generalidade das espécies e dos habitats, então, neste caso, o Homem é quase seguramente a espécie "mais inferior". Há outros critérios possíveis, como muito bem me chamou a atenção a minha querida colega Eulália.
Pessoalmente, penso que respostas, mesmo que dadas de boa fé, que se conformem a simples opiniões pessoais, baseadas nos mais correctos e honestos argumentos científicos, não são respostas que respeitem o dinamismo do pensamento jovem, até quando eticamente pareça que se está a proceder bem.
Que respeitem e que libertem. As respostas que acabo de falar não libertam, antes, formam becos sem saída onde se desejariam estradas largas para percorrer e horizontes a vislumbrar.
Se dissermos aos jovens que a tal superioridade depende de critérios - arbitrários -; se msotrarmos alguns exemplos; e se lhes dissermos que podem criar os seus próprios critérios, deste modo sim, libertaremos e permitiremos a expansão dos seus pensamentos.

domingo, novembro 02, 2008

O abate das árvores da Eça de Queirós e a "Canção da manhã" dos índios Cherokee

No dia 29 de Outubro começou o abate de árvores na Escola. Para que se possa construir um novo edifício de salas de aula, mais acolhedoras e mais ricas de possibilidades do que as que temos agora.
Na noite de 29 para 30 publiquei no YouTube um pequeno vídeo que denunciava a minha tristeza do momento, apesar de conhecer as razões, e querer acreditar nas suas boas intenções.
No dia 30, a minha colega Isabela mandou-me um e-mail de apreciação do vídeo que, no eco empático da minha tristeza, a apaziguou e me fez sentir que vale a pena fazer coisas...
A Isabela acabou por publicar o vídeo no blogue da sua turma. Saúdo o blogue, que já visitei; e agradeço vivamente a publicação do meu vídeo.
Deixo-o agora aqui:

Deixo aqui também o link para o blogue do 9.º A da Eça de Queirós: http://aturmaa.blogspot.com/. Vale bem a pena faze lá uma visita.
Entretanto, nesta fase, que ainda é de "luto", como dizem os psicólogos clínicos, não posso deixar de pensar em algumas de referências que balizam o meu pensamento e a minha maneira de ver e de me dar com o mundo.
Por exemplo, Jane Goodall, que tenho numa gravura, na parede, bem junto à minha mesa de trabalho em casa. Ainda há dois dias a minha sobrinha Mariana me perguntou: - Ó tio, porque é que tens um quadro assim aqui, com uma senhora e um macaco?... Na gravura, Jane Goodall olha interrogativamente, em serena expectativa, um dos chimpanzés que estudou no Gombe, na Tanzânia. Jane procura no chimpanzé o segredo da natureza humana. Ela, em resultado da observação sistemática de 30 longos anos, e do enredo cultural e científico que subrepticiamente determinava o seu pensamento, tinha baptizado o chimpanzé com o nome de Freud. Simbolicamente. Bem significativamente. O quadro tem o nome de "Thinkers", Pensadores.
Penso também em Konrad Lorenz, que um dia escreveu que um dos pecados mortais da civilização [actual] era a devastação do espaço vital. Noutro lado, ele diz também que tanto a beleza do mundo natural, bem como a beleza do mundo cultural são necessários para manter o Homem espiritualmente são, como eu já disse algures neste blogue.
Os eucaliptos e os pinheiros deitados agora abaixo na Escola não faziam parte da natureza "selvagem" ou "natural" do local onde a Escola está implantada. Isso sim, da natureza domesticada pelo homem. Ora, domesticada não quer necessariamente dizer mau, ou menor. Esse é o grande desafio do Homem: o equilíbrio adequado entre a Natureza selvagem e a acção transformadora dos grupos humanos.
No mínimo, com este abate de árvores de porte e presença magníficos, vamos trocar um espaço de vida aberto por um espaço de vida fechado. Deixamos o contacto directo com elementos da Natureza, mesmo que distraído ou inconsciente, e ficamos de costas voltadas para as árvores e para o ambiente. Mais uma razão porque o novo edifício, razão de ser do abatimento das árvores, tem de justificar a sua construção.
Finalmente, sempre que os pensamentos e os afectos me levam de novo à Natureza, volto aos textos e às fotografias dos povos índios da América do Norte, que tão magnificamente souberam estar na Natureza e dela falar. Antes que os pecados mortais da "devastação do espaço vital", da "competição contra si mesmo" e da "rotura com a tradição", entre outros, sobre eles se abatessem.
Em homenagem destes povos nativos, de que já aqui também falei, e como que procurando neles e na magia da manhã - de todas as manhãs - a força da esperança de que vale a pena ser optimista, aqui deixo um belo testemunho, que, hoje em dia, a Internet tão facilmente põe ao nosso alcance.
E em homenagem também aos alunos do 9.º A da Escola Secundária Eça de Queirós e da sua professora, e minha querida colega, Isabela.

Cherokee Morning Song (A beautiful Native American song)