WENDY (with great eyes). You know fairies, Peter!
PETER (surprised that this should be a recommendation). Yes, but they are nearly all dead now. (Baldly) You see, Wendy, when the first baby laughed for the first time, the laugh broke into a thousand pieces and they all went skipping about, and that was the beginning of fairies. And now when every new baby is born its first laugh becomes a fairy. So there ought to be one fairy for every boy or girl.
WENDY (breathlessly). Ought to be? Isn't there?
PETER. Oh no. Children know such a lot now. Soon they don't believe in fairies, and every time a child says 'I don't believe in fairies' there is a fairy somewhere that falls down dead. (He skips about heartlessly.)
domingo, novembro 16, 2008
A criança de Thomas Mann, o filósofo de Konrad Lorenz e as fadas do Peter Pan
Thomas Mann, também ele, repetiu a experiência pessoal de percorrer - como ele próprio diz - as "intermináveis extensões do oceano", "desbobinando... bocados de imensidão".
Nuna dessas vezes, ele leu, "ruminou" e escreveu sobre Cervantes e o D. Quixote de la Mancha.
A"circularidade do oceano", o "vazio absoluto", a "amplidão cósmica" e o diário acerto das horas, repetidamente levando-o de novo - ilusoriamente, mas obrigatoriamente - a um tempo de vida já passado; pois tudo isto terá produzido efeitos de eco, reverberação e amplificação de representações mentais e imagens sugeridas pela obra prima e clássica da literatura castelhana e mundial.
De tal modo que, a dada altura, ele escreve:
Que pensamentos estes, dignos de um rapaz em idade escolar!" Mas não é assim, que a mundividência cosmológica, quando comparada com o seu oposto, a psicológica, tem em si algo de pueril? Dizendo isto recordo-me dos olhos de criança, brilhantes e redondos como uma bola, de Albert Einstein. É mais forte do que eu: o conhecimento humano, o acto de perscrutar a vida humana, tem um carácter mais maduro, mais adulto, que a especulação em torno da Via Láctea - com o mais profundo respeito quero ter isto como verdadeiro. "Ao indivíduo", lemos em Goethe, "resta a liberdade de se ocupar com aquilo que o atrai, que lhe dá alegria, que se lhe afigura útil; mas o verdadeiro estudo da Humanidade é o Homem"."
Curioso!... No apontamento que ontem acrescentei neste blogue, também eu me fixei mentalmente nos olhos de espanto de uma qualquer criança. "Elementar, meu caro Watson", como, ao que parece, Sherlock Holmes nunca terá dito. E como eu próprio ponho agora na boca dele: "Esses olhos de criança, mesmo que da criança grande de nome Albert, são os próprios olhos do sujeito que olha ou imagina os olhos das crianças, os olhos do próprio espanto do sujeito que olha".
Pois é, pela minha parte não vou ao ponto de concordar com Thomas Mann, sobre a madureza superior do conhecimento humano. Como mais claramente que qualquer outro Konrad Lorenz me soube dizer , o que importa é o espanto de quem olha, seja para onde seja que olhe. Esse espanto, que Jean Piaget, também melhor que qualquer outro, soube mostrar que está no "instinto" de toda a actividade humana. É aí, no momento do espanto, que nasce a filosofia, diz Lorenz. Eu diria, é aí que nasce o filósofo.
Num dia destes, na rampa ziguezaguiante que agora temos sempre de percorrer para entrar e sair da escola, cruzei-me com uma antiga aluna que me cumprimentou muito carinhosamente. "Setôr, porque está tão sério a olhar para mim?..." "Minha querida, estou a chegar, com o corpo já bem dentro da escola, mas a cabeça ainda está longe. Quero ter a certeza de que te estou a ouvir bem." "Mas está zangado comigo?" Eu já estava parado ao lado dela. Mas agora virei-me bem para ela, a sua dúvida merecia agora toda a minha disponibilidade pessoal. Disse-lhe, então, devagar e a sorrir: "Quando um bebé tem toda a sua atenção sobre ti e quer saber quem tu és, como te olha ele?... Não será que te olha como eu acabei agora de te olhar?... A aluna calou-se por um bocadinho, cerrou ligeiramente os olhos, fixou-os nos meus, olhando infinitamente para além deles. Estava seguramente buscando nas suas memórias.
Até que encheu o rosto num sorriso: "É verdade!... É verdade, é!... O setôr quer mesmo [re]conhecer-me!..."
Voltando ao filósofo (às crianças-filósofos), é ele, são eles que nos entram ou deveriam entrar pela escola adentro, logo aos 5 ou 6 anos. Se não chegam, ou se aos poucos o deixam de ser, é porque, na voragem do ensino obrigatório, uniformizado e competitivo, acabamos por lhes dar o mesmo destino que na ficção cinematográfica da Terra do Nunca do Peter Pan se acaba por dar às fadas que nascem com todos os meninos:
WENDY (com os olhos muito abertos). Tu conheces fadas, Peter!
PETER (surpreendido que isto soasse como um aviso). Sim, mas agora elas estão quase todas mortas. (Cruamente) Sabes, Wendy quando o primeiro bebé riu pela primeira vez, o riso estilhou-se em mil bocados e foram-se espalhando por todo o lado. E isso foi o princípio das fadas. Agora quando um bebé nasce o seu primeiro riso transforma-se numa fada. Por isso, devia haver uma fada por cada menino e cada menina.
WENDY (sustendo a respiração). Devia haver?... Não há?
PETER. Oh, não! As crianças agora sabem muitas coisas. Não tarda muito, não acreditam mais em fadas, e cada vez que uma criança disser "Eu não acredito em fadas" há uma fada, num lado qualquer, que cai morta para o lado. (Salta dum lado para o outro sem qualquer compaixão.)
É... tanto que nos rimos das coisas tontas e caricatas que as crianças seriamente dizem!... Tanto que lhes ensinamos de "verdadeiro" e "científico", e tanto lhes negamos o Pai Natal, as fadas e os anões da floresta. E aos poucos destruimos a magia e o espanto das crianças. Thomas Mann e Albert Einstein serão dos poucos que terão conseguido preservar os pequenos filósofos que nasceram quando eles riram a primeira vez.
Por isso me soube bem ouvir na quinta-feira passada, a meio de uma aula da minha turma dos CEF, o desabafo que se espalhou por toda a sala: Ó setôr, se continua assim, a mostrar-nos estas coisas e a falar assim, ainda voltamos outra vez a acreditar no Pai Natal!...
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