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terça-feira, setembro 09, 2025

#TOLERÂNCIA254 - AFECTOS: BARALHAR E VOLTAR A DAR

 #TOLERÂNCIA254 - AFECTOS: BARALHAR E VOLTAR A DAR

Estou a falar de afectos, de emoções e sentimentos. Penso que é salutar a gente, de vez em quando, fazer um 'check up' ao que sentimos, ao que pensamos, ao que dizemos deles; e ao que fazemos com eles. Não deixar a coisa assentar em registos e concepções que, aos poucos, com o tempo, se vão viciando, perdendo clareza e saúde.

É por isso que o texto que o Miguel Esteves Cardoso assina hoje no Público, na coluna "Ainda Ontem", com o título "Tratemos-nos como elefantes" me parece um texto especialmente feliz porque leva-nos ao remanuseamento das concepções dos afectos, ao tal 'check up' que considero útil, muito saudável. p MEC que não me leve a mal transcrever o texto na íntegra.

Imaginem a conversa que o texto não dará numa das nossas sessões de reflexão e troca de ideias acerca da Tolerância e dos afectos, valores e atitudes a que habitualmente a Tolerância se associa.

«Dizem que amar faz bem e odiar faz mal, mas amar também faz mal. Todas as emoções extremas fazem mal. Separá-las artificialmente não engana ninguém.

»Veja-se o amor. Esquecemo-nos de dormir, de comer, dos amigos, da família, e dos nossos próprios interesses enquanto seres independentes e humanos. Odiar faz muito mal. Adoece e mata. Envenena e entristece. É um triunfo não odiar. Custa, mas vale a pena. O coração é pequeno e não cabe lá nada: para quê enchê-lo do que não presta?

»O que faz bem não é amar. Mas também não é a indiferença. A indiferença é o contrário da vida. O que faz bem é uma indiferença que se enternece. É um encanto passageiro, uma compreensão dos

outros, um não ligar e deixar viver: um não querer impingir a ninguém o que pensamos.

»O objectivo é tentar pensar nos outros seres humanos como pensamos nos elefantes. Temos pelos elefantes um misto de respeito, ternura e de tolerância. Deixamo-los ser como são, mesmo quando são maus, por sabermos que dali por pouco serão espantosamente bons.

»Já fomos maus com os elefantes — e muitos de nós ainda somos. Mas estamos a melhorar, a sentirmo-nos cada vez mais abençoados por vivermos no mesmo mundo que eles.

»Amamos os elefantes? Não, quase nunca pensamos neles. Só quando os vemos é que nos lembramos do muito que gostamos deles. Mas gostar também dá para o torto. As pessoas de quem gostamos desiludem-nos.

»É muito melhor a indiferença fascinada, a curiosidade que consente, a aceitacão fácil, o sentirmos que andamos todos ao mesmo, e que estamos todos no mesmo barco. Ninguém tem o direito de se achar melhor do que os outros — ou, então, toda a gente tem.

»Se um elefante aparecer no cimo da rua, deambulando em direcção a nós — digamos, uma manifestação de extremistas, gritando em favor de uma coisa que abominamos — arranjamos sempre maneira de deixar que o elefante passe.

»Fazemos bem. Temos um bocadinho de medo, mas também um bocadinho de respeito e de compreensão.»

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sábado, março 22, 2025

#TOLERÂNCIA83 - TOLERÂNCIA DOS AFECTOS NEGATIVOS

 #TOLERÂNCIA83 - TOLERÂNCIA DOS AFECTOS NEGATIVOS

Este é um tema muito complexo. O desafio, para já, é expô-lo de forma simples, de maneira a que seja fácil de compreender por toda a gente. O risco é o de alguma imprecisão ou falta de rigor teórico, mas, como me disse Rémy Droz (um especialista em Jean Piaget, de quem foi assistente), há quase 50 anos, a propósito do Método Dimensional Cambrodi (depois de eu ter estado em Tarragona para aprender o método com o seu autor), se resulta, se serve o propósito para que foi criado, pode-se deixar a teoria para segundo plano, lá mais para a frente haverá certamente oportunidade para esclarecer as questões teóricas.

Este texto é mesmo a muito primeira exposição deste assunto, é mesmo só o bê-á-bá, mesmo só o bê.

As sociedades e as culturas estão carregadas de estereótipos acerca da expressão dos afectos, tanto dos homens como das mulheres. São, em geral, ideias, concepções, atitudes e comportamentos aprendidos por influência social (que começa na família, se estende ao bairro, à escola, à cultura, à língua; e ainda mais além).

O exemplo mais clássico, sobretudo nas sociedades europeias e da América do Norte, é o de que «Os
homens não choram.» Mas há mais.

Alguns exemplos para os homens: a) os homens são menos emotivos que as mulheres, são mais frios; b) mostrar necessidade de afecto físico é sinal de fraqueza; c) os homens não falam sobre os seus sentimentos; d) no homem, a raiva é mais aceitável do que a tristeza, o homem não se deixa ir abaixo, reage e luta; e) os homens mostram os afectos mais pelas acções do que pelas palavras.

Alguns exemplos para as mulheres: a) as mulheres são naturalmente mais emotivas do que os homens; b) não é próprio das mulheres mostrarem raiva, mas ficarem tristes; c) as mulheres são mais dramáticas do que os homens, por isso choram com muita facilidade; d) as mulheres falam mais de sentimentos do que os homens; e) as mulheres são mais românticas que os homens.

Repito, como este texto é mesmo só o bê do bê-á-bá, fico por aqui na enumeração de estereótipos sociais que o Tempo, a História, a Economia e a Política foram moldando acerca dos homens e das mulheres. Deixo, por agora, a Biologia, a Etologia e a Antropologia de fora.

Vou servir-me das categorias de Silvan S. Tomkins para falar dos afectos. E porquê deste autor, que muito sistematicamente falou sobre o papel primordial das emoções na determinação do comportamento? ´A razão prende-se com o facto de ele ter explicitado a importância da Tolerância na gestão das emoções.

Para Tomkins, existe 9 emoções, ou afectos, básicos, agrupados em 3 categorias: positivos, neutros e negativos. Aqui está a lista:

1) (positivo) INTERESSE-EXCITAÇÃO: varia de um interesse ligeiro até à excitação.
2) (positivo) ALEGRIA-PRAZER: a fruição vai do contentamento à risada franca.
3) (neutro) SURPRESA-SUSTO: vai dum ligeiro “hã!?” a um choque total!
4) (negativo) MEDO-TERROR: vai da ligeira apreensão até ao pânico abjeto.
5) (negativo) ZANGA-RAIVA: varia duma irritação ligeira a uma raiva explosiva.
6) (negativo) MAL-ESTAR-ANGÚSTIA: vai dum ligeiro aborrecimento até ao choro em pranto.
7) (negativo) VERGONHA-HUMILHAÇÃO vai da decepção ligeira até à mortificação dolorosa.
8) (negativo) REPULSA-AVERSÃO: envolve a rejeição baseada na percepção de uma toxicidade permanente e completa.
9) (negativo) DESAGRADO-REPUGNÂNCIA: implica uma rejeição baseada na percepção duma contaminação.

Ora bem, o que quero que hoje fique claro é que Tomkins é defensor da ideia de que cada pessoa deve, — primeiro por influência social e educativa; e depois por si mesma — cultivar a tolerância dos afectos negativos. Vou repetir enfaticamente: cada pessoa deve cultivar a tolerância dos seus próprios afectos negativos.

Cultivar a tolerância dos afectos negativos é diferente de os repudiar ou de sentir por eles repulsa, é aceitá-los como fazendo parte da natureza humana, da natureza humana de cada um, da sua própria natureza.

Vivemos hoje tempos em que grassa na educação familiar e escolar o evitamento, tão total quanto possível, das emoções negativas — que, entretanto, nunca deixarão de estar dentro de nós todos. Não ao evitamento, não à condenação, não à recriminação, não à censura; sim à regulação, sim à Tolerância.

O medo, às vezes paroxístico, do trauma e da ansiedade estão elevados à quinta potência por todo o lado. Mais do que à nossa volta, os afectos negativos estão dentro de nós, nasceram connosco. Não os podemos eliminar da nossa natureza, mas podemos regulá-los e tolerá-los. São um desafio para a Pedagogia e a Educação. Os principais adversários deste desafio são a ignorância de todos, a insegurança dos pais e os contextos sócio-culturais dos estereótipos sociais.

Fica muito por dizer sobre este assunto? Sim, fica, mas por agora não quero dizer mais nada sobre ele. Vamos deixá-lo amadurecer mais um pouco.

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