Ciclicamente, a cada novo ano escolar, cabe-me falar aos alunos das atitudes, o que são, como se formam, qual a sua dinâmica comportamental. Habitualmente, em jeito das "verdades provisórias e convenientes" que constantemente passo aos alunos, digo-lhes que as atitudes são predisposições comportamentais que têm na sua base a combinação entre uma crença e um valor. E costumo exemplificar assim:
Por exemplo, se eu disser "Sou contra a pena de morte", estou a exprimir uma atitude que, quando um dia for chamado a votar num referendo sobre a reposição da pena de morte como castigo para os criminosos, me fará votar contra o restabelecimento legal da pena de morte.
E acrescento:
Quando alguém me perguntar porque voto assim, digo: "Sou contra porque penso que a vida é o nosso bem mais precioso - Estou a exprimir um valor -; e também porque penso que todos os homens são recuperáveis - Estou a exprimir uma crença."
No próximo Verão irei tentar subir o Quilimanjaro. A espaços, vou lendo histórias de alpinistas, expedições e aventuras. Nos últimos dias, embrenhei-me nos relatos sobre Reinhold Messner.
Reinhold Messner é, consensualmente, nos dias de hoje, o maior alpinista de sempre. De currículo ímpar na exploração e escalada de montanhas por todo o mundo, um dia consciencializou, seguramente marcado, entre outras coisas, pela morte trágica do irmão e companheiro de aventuras, ligados unha-e-carne, o seguinte, que Caroline Alexander cristalizou num artigo que a National Geographic publicou, em várias línguas, no final de 2006:
"I am sure that the real key for understanding climbing is the coming back," Reinhold told me. "It means if you are really in difficult places, in dangerous places, if you are in ... thin air, and you come back, you feel that you got again a chance for life. You are reborn. And only in this moment, you understand deeply that life is the biggest gift we have." Reinhold was speaking from the perspective of a sage veteran of thirty-one 8,000-meter expeditions. There are few such veterans around. "In my generation, half of the leading climbers died in the mountains," he told me. For the 25-year-old survivor of Nanga Parbat, however, there was no question he had returned to climb again. (National Geographic, Nov2006)
Na nossa língua, a National Geographic, em Dezembro de 2006, escreve o seguinte: "Reinhold acredita que a chave para compreender a escalada é o regresso. Quero com isto dizer que, quando andamos por lugares difíceis, por lugares perigosos, a respirar ar rarefeito, e depois voltamos, sentimos que nos é dada uma nova oportunidade de viver. É um renascimento. E só nesse momento percebemos, de maneira profunda, qua a vida é o maior dom de todos. [...] Metade dos alpinistas mais importantes da minha geração morreu nas montanhas.
Os ritos culturais de tradição milenar que associamos à Páscoa não centram os seus actos na ideia de renascimento, mas, isso sim, na do mistério da Ressurreição. Bom, seja. Na dimensão razoável deste apontamento - que tem como destino desaparecer como o traço na água - o que quero acentuar é o seguinte: O importante é que, ciclicamente, nos reasseguremos que, tanto ao nível da experiência pessoal individual, como ao nível da experiência social e cultural, a vida tem sempre jeito e formas de recuperar. Mesmo quando lhe testamos os limites.
Se calhar, hoje mais do que nunca, precisamos de nos consciencializar disso. Mas, atenção! O que a tradição religiosa desta época do ano, bem assim como o relato de Messner nos dizem, é que a vida recupera a partir do nosso sofrimento e do nosso esforço voluntarioso. Nunca a partir da expectativa passiva de quem alguém velará por nós e por nós será a solução.
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