#TOLERÂNCIA264 - AS ABELHAS E O HUMOR
O humor está para a liberdade democrática como as abelhas estão para os ecossistemas do Planeta Terra.
Nas aulas de apresentação da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (4 turmas, duas do 7.º ano e 2 do 9.º), falei das abelhas e das consequências para os ecossistemas da Terra se elas desaparecerem completamente por causa dos incêndios e de outras actividades humanas: as consequências são desastrosas.
Num certo sentido, podemos dizer que o humor na sociedade e na Política é como as abelhas nos ecossistemas: dão-nos picadas, dão-nos ferroadas, mas é para nosso bem, é para bem da democracia.
Há pessoas que não têm sentido de humor, que não toleram uma piada, e entre estas pessoas há muitos políticos. Exagerarão por vezes os humoristas? Sim, é claro que sim, mas apetece rematar que, neste campo, antes demais do que de menos. Que os políticos se zanguem com os humoristas, mas que não os calem.
Por isso, quando políticos têm o poder de calar os humoristas e os jornalistas-humoristas e o exercem isso é mau para os ecossistemas sociais e políticos. Ora, se quanto aos regimes políticos repressivos e ditatoriais não dizemos nada, quando isso acontece em regimes tradicionalmente não-repressivos e não-ditatoriais, nestes casos, deve soar o alarme.
Neste caso recentíssimo dos EUA, em que o 'talk-show' de Jimmy Kimmel, do canal ABC, foi suspenso por pressão do Presidente Trump, o caso caso é especialmente grave. Ao cidadão comum parece evidente que o Presidente dos EUA quer ter um poder autoritário, absoluto e discricionário que ele vê outros líderes mundiais terem nos seus países. A mim não me aflige que ele o queira ter, o que me aflige é que ele vai obtendo esse poder com a anuência de cada vez mais gente. Pior! Com a cedência da Imprensa e dos Órgãos de Comunicação Social, que parece que aceitam passar a dizer o que for aceitável para o Grande Ditador. Sem as ferroadas das abelhas, os ecossistemas da Liberdade de Expressão e da Imprensa Livre precipitam a corrosão dos sistemas democráticos dos países.
Na edição de hoje, o "The Guardian" traz um artigo que enumera algumas ocorrências recentes, pela escrita de Oliver Holmes. O primeiro terço do artigo diz assim, sob o título: "Líderes Amordaçados que não sabem aguentar uma piada"
«O comediante egípcio exilado Bassem Youssef sentiu na pele como a sátira política pode ser silenciada. E tem uma mensagem curta para aqueles que vivem numa era de repressão à liberdade de expressão de Donald Trump: "Meus Queridos Cidadãos Americanos", escreveu no X. "Bem-vindos ao meu mundo".
»Nos seus ataques aos satiristas americanos mais proeminentes, o presidente dos EUA juntou-se a um grupo de líderes iliberais em todo o mundo que não toleram uma piada. O alvo mais recente do que os críticos dizem ser uma campanha para silenciar vozes dissidentes foi Jimmy Kimmel, cujo programa de entrevistas nocturno da ABC foi suspenso após pressão governamental.
»A remoção, semanas depois de a rede rival CBS ter cancelado o programa satírico de Stephen Colbert, segue-se a outras repressões lideradas por Trump. Opositores políticos do presidente norte-americano afirmam que o espaço cada vez menor para a liberdade de expressão mostra que a América de Trump está a avançar para o autoritarismo.
»O senador Bernie Sanders, em declarações à MSNBC, afirmou que o país está num caminho para se tornar mais parecido com regimes opressivos como os da Rússia e da Arábia Saudita. "Isto é apenas mais um passo em frente", disse. "Estamos a tentar unir o povo americano contra a oligarquia, contra o autoritarismo".
»Desde o chefe da junta militar egípcia Abdel Fatah al-Sisi até ao primeiro-ministro nacionalista da Índia Narendra Modi, as gargalhadas muitas vezes terminam à medida que a democracia definha.»
E o jornalista vai, então, por aí fora enumerando outros casos.
Vêm-me à cabeça as estações desta minha saga, lá muito para trás, em que junteiei, com a ajuda da Internet, algumas piadas para usar em actividades de dinâmica de grupo de promoção da Tolerância. É verdade, em boa hora o fiz.
Já uma ou outra vez sugeri aqui um ou outro tema de tese de Psicologia ou de Sociologia. Talvez este seja mais um: estudar o passado escolar e o passado de vida dos líderes dos países e compará-los. Uma questão a investigar: será que os líderes governativos mais "iliberais" (como diz Oliver Holmes) eram
crianças que se riam menos, que não gostavam de piadas, que eram gozados pelos amigos e colegas? Podia especular aqui com outras perguntas, mas o texto já vai longo.Por cá, felizmente a grande parte dos políticos ainda deseja ardentemente ser convidado para o "Isto é Gozar com Quem Trabalha", do Ricardo Araújo Pereira, na SIC, nas alturas dos processos eleitorais. Que neste programa e noutros nunca deixe de ser assim. E acredito que o Ricardo Araújo Pereira já tenha sido pressionado para levar lá um certo líder político, mas ele continua a não querer fazê-lo. Se um dia o levar lá, que seja por sua livre vontade.
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