Se eu tivesse participado na conversa que ouvi ali ao meu lado, enquanto preparava materiais de estudo para alguns dos miúdos que estavam ali a trabalhar comigo, eu teria também dito, lembrando-me do que me acontecia quando tinha a idade deles:
- Para mim, o melhor dia da semana é a quinta-feira.
E depois de dar a volta, quando fosse a minha vez de dizer porquê, seria assim que eu falaria:
- À quinta-feira é quando tenho catequese. Acaba às cinco, cinco e meia. O salão paroquial fica perto da casa dos meus avós, é só descer a rua do teatro São Pedro. Mal acaba a catequese, vou lá, a correr, antes de ir para minha casa. Quando eu lá chego, a minha avó Rosa corta duas fatias de pão, grandes, eu olho a ver se as brasas estão boas, e depois é só esperar que elas fiquem torradinhas. Vou falar com o avô Branco, que está sentado lá na sala, sempre a ranger os dentes devagarinho [Rilhava os dentes e esfregava os dedos da mão direito uns nos outros, os dedos fechados em punho. Só mais tarde claramente percebi que assim, silenciosamente, ele se confrontava com as terríveis dores que acabaram por vencê-lo]. Quando as torradas ficam prontas, a minha avó chama-me e eu gosto de ficar a vê-la a pôr a manteiga, só mesmo com a pontinha da faca. Custa-lhe muito estar de pé. Senta-se sempre primeiro, antes de pôr a manteiga. Ela fica depois ali ao pé de mim a conversar e a ver-me comer as torradas. São tão boas!
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