segunda-feira, junho 01, 2015

Em jeito de pequenina aula aos meus alunos - Sobre pintos, galinhas, árvores, florestas e medos

AFINAL, UMA ANDORINHA FAZ MESMO, SOZINHA, A PRIMAVERA.

Ou, uma árvore basta mesmo para fazer a floresta.
Na cabeça de um jornalista muito pouco responsável, e que é pai com olhos de mãe-coruja. É o que concluo assim depois de ler esta pequena notícia. Dela retiro este pequeno excerto:
Tim Lott, cronistas do The Guardian, lançou o alerta: as crianças de hoje já não têm medo do escuro. Temem o fracasso. E esta conclusão surgiu depois de ter perguntado a uma das suas filhas qual o seu maior receio, e sem hesitação surgiu a resposta: “falhar”.
Reagi imediatamente com alguma irritação, mas como tenho andado a dizer aos meus alunos para se esforçarem e formarem opiniões com base em percepções bem informadas, fui ler o texto original.
 Pois, afinal Tim Lott não disse o que as "Notícias ao Minuto" afirmam, naturalmente em resultado de uma leitura apressada do jornalista que construiu a pequena notícia.
Até porque Tim Lott põe o dedo na ferida:
Children’s fears are a litmus test of the society we live in and they are clearly changing – becoming more concrete – as society becomes more performance-driven, insecure and saturated with threatening, upsetting facts. (1)
Cá está, as crianças apenas - no fundo, desde que os grupos animais (incluindo os humanos) existem e os seus elementos regulam os seus comportamentos através da imitação dos mais velhos pelos mais novos - reagem em razão das ocorrências sociais, das exigências pessoais que são determinadas pelos valores e os objectivos dominantes ( e que nas sociedades modernas reflectem a ditadura do Mercado, do Dinheiro e do Consumo Material); e reagem também em razão da (des)educação que cada vez mais os governos impõem à organização escolar dos seus países.
No seu texto - lúcido e sábio - Tim Lott diz mais, citando outros autores:
“To conquer fear is the beginning of wisdom,” said Bertrand Russell, (...)  I agree wholeheartedly with Aung San Suu Kyi – “The only real prison is fear and the only real freedom is freedom from fear.” (2)
E remata a sua reflexão dizendo:
Courage is not being free from fear, however. Courage is not allowing fear to distort your purposes and cramp your life. We all have secret fears and to deny it is to deny some essential element of our personalities. But if you can do one thing for your children, show them bravery, so that they learn bravery themselves. For courage is the wellspring from which an authentic life flows. (3)
CONCLUSÃO: Há jornalistas e jornalistas: uns escrevem bem, e outros distorcem perigosamente o que os outros, escrevem. Diz a sabedoria popular que "Galinhas apressadas têm pintos carecas".
Queridos alunos, como tantas vezes vos tenho dito, desconfiem até do mais "pinto-ado" dos psicólogos! E nunca deixem de informar bem as vossas opiniões!
Beijos e abraços para todos!

(1)  Os medos das crianças são uma prova de fogo da sociedade em que vivemos, e estão mudando claramente - tornando-se mais concretos - à medida que a sociedade se torna orientada para o sucesso, insegura e saturada de ameaças e  factos perturbadores.
(2) "Vencer o medo é o primeiro passo para a sabedoria" dizia Bertrand Russel [Como eu muito agradavelmente me lembro do lema que durante muitos anos orientou o sentido das actividas da associação juvenil "Os Traquinas da Boa Vida": Vencer o Medo com o Prazer da Cultura.], (...) Concordo, do fundo do coração, com Aung San Suu Kyi - "A única verdadeira prisão é o medo e a única verdadeira liberdade é a libertação do medo".
(3) Coragem não é ser livre de sentir medo, no entanto. Coragem não é permitir que o medo distorça os nossos objectivos e nos ponha obstáculos na vida. Nós todos temos medos secretos e negá-lo é negar um elemento essencial de nossas personalidades. Mas se você pode fazer uma coisa pelos os seus filhos, mostre-lhes coragem, para que eles aprendam a bravura a partir de dentro deles mesmos. É que a coragem é a fonte a partir da qual uma autêntica vida flui.

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