#TOLERÂNCIA190 - PALESTINIANOS E JUDEUS
Por vezes, quando caminhamos por lugares desconhecidos e inóspitos, e não planeados, corremos riscos como o jovem Christopher McCandless, que se aventurou pela Natureza Selvagem e nela morreu. Ele deparou-se com uma travessia turbulenta, difícil, tentou evitá-la ou contorná-la, mas sempre sem sucesso. Parou, bloqueou, morreu. Tratou-se duma vivência verdadeira, trágica, que foi ficcionada no belíssimo filme "Into the Wild".
É, há coisas, há lugares, que são especialmente difíceis, traiçoeiros, podemos tentar evitá-los ou contorná-los, mas não podemos bloquear, não podemos parar, um dia temos de os enfrentar.
Aqui e ali, nas redes sociais (essencialmente o Facebook), tenho visto que pessoas por quem tenho consideração positiva (e que, de maneira nenhuma, podem ser qualificadas de pouco cultas e sem acesso
a boa informação) a aproveitarem as mais pequeninas oportunidades para justificarem os ataques ordenados por Netanyahu à Faixa de Gaza e ao Povo Palestiniano, ataques que prolongam o que a Comunidade Internacional (incluindo as maiores instituições internacionais formais, tanto na Política - as Nações Unidas, como no Direito - o Tribunal Penal Internacional, que emitiu, em Novembro de 2024, mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Bejamin Netanyahu, e o ex-ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, além do comandante militar do Hamas, Mohammed Deif) há muito vem condenando.Chego a ver tais pessoas a espalharem desinformação, sim, espalharem "informação" que depois é verificada oficialmente como sendo falsa. Alguns, eventualmente, encontrarão saída airosa na bíblica afirmação de que "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Regozijar-me-ei se assim o fizerem.
Judeus, palestinianos, anti-semitismo, são lugares de entendimentos e diálogos especialmente difíceis. Sinto a pressão para voltar aos escritos de Hannah Arendt; e a percorrer outros autores para além dela.
Numa primeira pesquisa, exploratória, na Internet, procurei textos e fiz duas perguntas a 5 'chatbots' diferentes, as mesmas duas perguntas, a ver o que os modernos oráculos me diziam de igual e de diferente. As respostas foram todas muito parecidas, numa delas, o 'chatbot' (neste caso, o Gemini) escreveu: «Para Arendt, o problema não era a existência de uma identidade judaica forte, mas sim quando essa identidade se traduzia em uma forma de nacionalismo tribal ou exclusivista que impedia a coexistência e o reconhecimento de outros povos. Ela via com preocupação a ideia de um estado-nação puramente judaico em detrimento de uma solução binacional na Palestina, onde árabes e judeus pudessem coexistir em igualdade. Arendt temia que a busca por um Estado judeu "a qualquer custo" levasse à desconsideração dos direitos e da existência dos palestinianos.» Hannah Arendt morreu há 50 anos. Que estamos nós agora a ver acontecer?
Fui depois folhear "As Origens do Totalitarismo". No prefácio à primeira parte, com o título "O Anti-semitismo", Hannah Arendt escreve:
«Os historiadores judeus afirmavam ter sido o o judaísmo sempre superior às outras religiões pelo simples facto de crer na igualdade e tolerância humanas. Essa teoria perniciosa, aliada à convicção de que os judeus constituíram sempre objecto passivo e sofredor das perseguições cristãs, na verdade prolongava e modernizava o velho mito do povo eleito; assim, só podia levar a novas e frequentemente complicadas práticas de segregação destinadas a manter a antiga dicotomia — numa daquelas ironias que parecem reservadas aos que, por quaisquer motivos, buscam enfeitar e manipular os factos políticos e os anais históricos.»
Enumerando uma série de eventos históricos, em que, «as catástrofes eram entendidas, dentro da tradição judaica, em termos de martirologia», a filósofa vem concluir que «Esta sequência de eventos conduzir à ilusão que desde então afecta tanto os historiadores judeus como os não judeus, já que ambas as partes dão mais ênfase ao facto de "os cristãos se dissociarem dos judeus do que do inverso"(1) [...] a própria sobrevivência do povo judeu como entidade identificável dependia dessa separação que era voluntária, e não, como se costumava supor, resultante da hostilidade dos cristãos e não judeus em geral.»
Se estivéssemos a falar de tricas entre vizinhas, coisas de lana-caprina, diríamos, a propósito do sentimento de superioridade do judaísmo que presunção e água benta cada um toma a que quer, mas, infelizmente, o que está em causa são questões comprovadamente de muitas vidas perdidas, que, historicamente, por duas vezes se associou ao genocídio: durante a 2.ª Guerra Mundial, na Europa (essencialmente na Alemanha); e agora, na Faixa de Gaza. Na 2.º Grande Guerra, as vítimas foram os judeus; agora as vítimas são os palestinianos.
Que pode a Pedagogia da Tolerância neste caso, em que históricos vieses, mal-entendidos, estereótipos e preconceitos, e muita distorção da informação minam a compreensão clara e lúcida dos acontecimentos e das relações entre as pessoas e os grupos humanos?
Depende. Depende da idade. Sendo o grupo-alvo formado por crianças, basicamente actividades ligadas ao entretenimento e à cooperação, em que se solicite muita conversa, muito olhar directo, em que o único resultado possível é o sucesso na tarefa. Sendo jovens já a pensarem que são grandes ou sendo adultos, o método Jean Monnet tem grande potencial de sucesso.
Certo, um dia trarei para aqui uma ficha sobre o método Jean Monnet.
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(1) Aqui Hannah Arend cita Jacob Katz, a obra é "Exclusiveness and Tolerance, Jewish-Gentile Relations in Medieval and Modern Times", de 1962.
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