sábado, julho 05, 2025

#TOLERÂNCIA188 - A INVULGAR DENSIDADE DA MORTE DE FIGURAS PÚBLICAS

 #TOLERÂNCIA188 - A INVULGAR DENSIDADE DA MORTE DE FIGURAS PÚBLICAS

Morreu o Diogo Jota e o seu irmão (que, em rigor, não era figura pública). O muito respeitado pela generalidade dos portugueses Júlio Isidro, há menos de 24 horas, lamenta também a morte (para além da dos irmãos jogadores de futebol), a da fadista Maria da Nazaré e do músico Luís Jardim. Morreu também ontem o general Garcia dos Santos. Para cerca de 48 horas seguidas, é uma densidade inusitada, elevada.

As redes sociais, que vieram para ficar e são, para o bem e para o mal, espaços de publicação livre (não obstante os critérios editoriais e de ética — muitas vezes discutível e parcial — dos seus proprietários), em que cada um escreve o que quer, tantas vezes, eu direi mesmo, cada vez mais vezes, por impulso, logo a seguir à irrupção interior, pessoal, de emoções e sentimentos.

Cada um, no meu entender, é livre de lamentar a morte de quem quiser, como é livre de saudar o nascimento de quem também bem se quiser. Ninguém terá o direito de dizer, mesmo que legitimamente o possa pensar, «Se lamentas a morte deste, por que razão não lamentas a morte daquele, que até era mais importante do que o que lamentaste?» Bem, o critério de importância e e de eco emocional é pessoal e de absoluta legitimidade individual, não é? Sim, podemos evocar os valores, é verdade, mas... mas quais valores? E na resposta a esta pergunta, as coisas complicam-se.

Pessoalmente, desaconselho que, para homenagear quem se quer, se desqualifique as homenagens que outros fizeram. Se se pretende agregar outros à volta da sentida homenagem, corre-se o risco de, ao contrário, criar repulsa.

Homenageamos por aproximação afectiva ou por respeito (pessoal ou institucional). Se me sinto criticado porque evoquei este, mas (ainda?) não aquele; e se a pessoa que eu sinto que me critica por eu não mostrar pesar pela morte que essa pessoa homenageia, não serei tentado a dizer-lhe, em espelho, «E por que razão não mostraste tu pesar por quem a mim tanto pesar me causou?»

Portanto, na minha opinião, não é boa estratégia comunicacional começar a expressão de homenagem a alguém lançando farpas a outros que mostraram pesar por outros. Como mostrou Júlio Isidro, são todos figuras públicas (e ele não falou de todas elas!), cada uma merece por si pesar, seja por afecto, seja por respeito.

Penso que muito mais facilmente do que julgamos, somos intolerantes sem o querer ser. Mas acabamos por sê-lo. Devemos a nós próprios a humildade de reconhecer que somos fracos, de que erramos. Erramos porque somos humanos. E somos de gerações diferentes, cada vez mais diferentes umas das outras; e com diferentes mundividências.

Não devemos deixar que marcas de insídia e de intolerância motivem e determinem os nossos comportamentos. Todos devemos fazer o esforço de, repito, evitar a insídia, o ressabiamento, a intolerância. É que quando dizemos que o sujeito do meu pesar tem mais valor que o sujeito do teu pesar estamos a ser sobranceiros e a pôr-nos a jeito de nos acusarem da tal tolerância negativa: é a que acontece por nos sentirmos superiores, em que os nossos critérios de valor são de nível mais valioso que os dos outros. Cultivemos mais humildade. Cultivemos ainda mais humildade. Cultivemos ainda mais e mais humildade. Três vezes.

Sim, sintamos o que nos motiva, com toda a legitimidade, mas não nos comportemos por impulso. Entre a motivação e o comportamento (neste caso, o que escrevemos nas redes sociais), façamos como há muito os psicólogos passaram a aconselhar: contemos lentamente até 10.

Já agora: será que a pessoa por quem expressamos pesar se sentiria respeitada se as palavras de homenagem que lhe dedicamos vêm antecipadas dum veneno, duma censura intolerante, não agregadora? A "nossa" pessoa merece isso, esse desconforto?

André Silva, Diogo Jota, Garcia dos Santos, Luís Jardim, Maria da Nazaré (escrevi por ordem alfabética do primeiro nome — nome de figura pública, entenda-se, o Diogo Jota, por exemplo, não se chamava "Jota", mas sim Silva), todos eles, têm, nas redes sociais, quem os acarinhava, quem lhes era indiferente, quem os desconhecia, quem por eles sentiria alguma repulsa. É o mundo das redes sociais. O que talvez deva ser objecto de reflexão é se as redes sociais valem tanto, em certos assuntos, quanto a importância que, afinal, impulsivamente lhes damos porque, sem termos consciência disso, nos deixamos ir na onda e acabamos por medir o mundo à medida dos Facebook's, os Instagram's, os Tiktok's, os X's, sei lá que mais...

Júlio Isidro termina o seu escrito assim: «Onde é que está o destino para eu me zangar com ele?
"A finitude é o destino de tudo" escreveu um dia José Saramago.»

Tão bonito!... Embora na aparência ele fale de zanga, é de resignação, conforto e apaziguamento de que ele fala. Com Tolerância. Com muito Tolerância. Com muuuuuiiiiiiittaa Tolerância.

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