#TOLERÂNCIA196 - PERFIL INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA
Depois da Amora, na Unisseixal, na tarde do dia 10, com uma audiência maioritariamente formada por alunos da universidade sénior, foi em Mação, na manhã de ontem, dia 12, que uma audiência composta essencialmente por profissionais da Medicina e Enfermagem, da Psicologia, e de diversas áreas da Cultura e da Gestão Autárquica produziu o primeiro perfil internacional da Tolerância. Também no âmbito do III ENCONTRO DE SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL, que correu sob o lema "Educação e Saúde, Valores de Transmissão Intergeracional. No apontamento da jornada de ontem desta saga (#TOLERÂNCIA195), escrevi uma espécie de acta do painel em que fiz a minha comunicação "A Educação da Tolerância" (em francês).
Como o prometido é devido, trago agora notícia do perfil da Tolerância que no painel "Humanismo" se começou a construir. Digo começou porque houve apenas tempo para se produzir a primeira fase de toda a dinâmica da Triagem Sucessiva (nem qualquer coisa mais se contava à partida que pudesse acontecer). Como este relato vai ser longo, passo imediatamente à apresentação do apuramento de dados e ao esboço duma espécie de análise sistemática dos resultados obtidos.
1) Tamanho da população estudada: 48 pessoas. Sim, é população, não é amostra. Como tenho insistido em dizer, cada grupo em que realizo esta dinâmica de grupo vale por si mesmo, não é amostra de qualquer grupo de pessoas ou categoria de pessoas. O perfil da Tolerância construído por um grupo vale para esse grupo, não vale para outro, nem por extrapolação, analogia ou qualquer outra forma de partilha ou agrupamento de dados.
Cada perfil nasce e morre no grupo que o produz. O seu objectivo é facilitar a discussão entre pessoas que constroem entre si um universo de referência que é do conhecimento de todos, porque foram todas as pessoas do grupo que construíram esse referencial comum.
2) Obtiveram-se respostas dadas por sujeitos de 8 países, falantes de 7 línguas diferentes; e que responderam em 6 línguas diferentes (sendo uma delas o inglês, que não é língua oficial de nenhum dos 9 países identificados: Alemanha, Argélia, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Luxemburgo, Polónia e Portugal. Nota: o Encontro teve ainda participantes do Brasil (à distância) e de Cabo Verde (que não estavam presentes na altura da minha comunicação)).
3) Foram listados 110 conceitos diferentes, num total de 249 respostas obtidas. 84 destes conceitos foram mencionados apenas uma vez (65%).
4) As palavras mais frequentemente mencionadas (mais de 10 vezes) foram: respeito (22), aceitação (20), compreensão (18), empatia (14). As 6 palavras mais frequentemente escolhidas, por ordem decrescente, são: "Respeito", "Aceitação", "Compreensão", "Empatia", "Amor#, "Humanidade/Humanismo".
5) Se o apuramento, o agrupamento e o tratamento das respostas fosse feito na presença das pessoas que responderam ao meu pedido, solicitava-se a sua participação activa em alguns procedimentos de clarificação, emparceiramento e simplificação, de maneira a tornar mais ágil a passagem à segunda fase da triagem sucessiva. Alguns exemplos:
5.1) «Respondeu "compreender". Já temos aqui "compreensão". Podemos considerar a mesma coisa, podemos juntar?» Já agora, peço a quem respondeu "compreensão": «Fica "compreender" ou fica "compreensão"?». Basta uma das pessoas não aceitar a junção para se manterem as duas formas. Seguramente que o nível seguinte do processo de triagem optará por uma ou outra forma — mes desta maneira garante-se o respeito por todas as sensibilidades individuais.
5.2) Em vez duma palavra, alguém escreveu uma expressão ou uma frase. Um exemplo: «aceitar a diferença dos outros». Mais uma vez, perante todo o grupo, se pergunta ao autor se consegue dizer a mesma coisa numa palavra só; e pede-se a ajuda de todo o grupo, pode ser que alguém sugira alguma palavra que seja aceite pelo autor da expressão verbal ou frase. Se se conseguir essa palavra única, óptimo!; se não se conseguir essa palavra, mas uma expressão ou frase mais curta, boa!; se não se conseguir, deixa-se ficar o que está para o nível seguinte da Triagem.
5.3) Alguém escreve "escutar", já se escreveu no quadro "ouvir". Mais uma vez, os autores e, eventualmente, o grupo, são ouvidos.
5.4) Quando alguém escreve "suportar" está a querer dizer o quê: carregar um peso?, aguentar o contacto com alguém ou alguma coisa de que se não gosta?, ou dar suporte emocional a alguém que dele necessite?
5.5) Só depois de todas as situações passíveis de clarificação e simplificação serem esclarecidas, e depois de todo o grupo se dar como bem informado, se passa à fase seguinte da Triagem (como já lá bem para trás, noutra estação desta viagem, eu disse, um dia dedicarei um apontamento integralmente ao Método da Triagem Sucessiva, mas esse não é o foco deste apontamento).
5.6) "Humanismo" e "Humanidade" são a mesma coisa? Que nos esclareçam os autores... Mantêm-se ambos ou fica um só destes conceitos? Já sabemos que, em mantendo-se ambos, o segundo nível da triagem sucessiva determinará qual deles terá a preferência do grupo, não tem de se tomar uma decisão nesta fase, seja a decisão autoritária (do condutor da sessão) ou democrática (votação pelo grupo).
5.7) Análise Qualitativa: Os dados recolhidos são ainda poucos, mas como o nosso objectivo é a reflexão e a aprendizagem, vamos especular, vamos avançar numa hipotética análise qualitativa. Não nos comprometemos com ela, apenas vamos lançar pistas de análise de acontecimentos, produções individuais e de grupo; vamos estimular a nossa capacidade de observação, interpretação e análise; vamos acrescentar palavras, conceitos, termos, ao nosso vocabulário, vocabulário pessoal e comum (partilhado), assim promovendo a possibilidade de nos entendermos melhor uns com os outros.
5.7.1) Análise Qualitativa - Núcleo Semântico Principal: as palavras mais recorrentes estão ligadas a três eixos principais (as designações são completamente arbitrárias, informadas pela experiência de merceeiro experiente que já invoquei no Perfil de Tolerância da Amora, no apontamento #TOLERÂNCIA193; e sem a preocupação de a ele me ligar numa espécie de coerência conceptual interna):
- 1.º eixo: Relações interpessoais: respeito, empatia, amizade, escuta, solidariedade, compaixão.
- 2.º eixo: Abertura ao outro: aceitação, compreensão, abertura, diferenças, diversidade.
- 3.º eixo: Virtudes morais: paciência, amor, humanidade, humildade.
5.7.2) Análise Qualitativa: Valores Cognitivos e Reflexivos: palavras como conhecimento, educação, inteligência, reflexão, curiosidade e argumentar sugerem que, para alguns, tolerância também é uma construção racional e crítica, não apenas emocional. Concordam comigo?
5.7.3) Análise Qualitativa: Menções a Conceitos Sociais ou Políticos: termos como igualdade, direitos humanos, racismo, imigração, sociedade, diversidade, inclusão, universalidade demonstram que a tolerância é também percebida como uma questão social e política, ligada a justiça e convivência em diversidade. Mais uma vez: concordam comigo?
5.7.4) Análise Qualitativa: Termos Ambíguos ou Surpreendentes: indiferença e ignorar surgem como possíveis interpretações de tolerância como distanciamento emocional, o que contrasta com o restante. Termos como pois-pois, em extinção e monopólio sugerem percepções críticas ou irónicas do conceito. Finalmente, não-negativista ou respeito por si mostram que algumas pessoas interpretam tolerância também como postura interna, ou mesmo limites da tolerância. O que acham disto?
5.7.5) Uma ousadia especulativa: dado que o grupo é internacional e com média etária elevada, será que pode haver uma tendência mais humanista e relacional, com forte peso em valores clássicos como "respeito", "aceitação" e "amor"? E que a diversidade cultural contribua para a amplitude semântica observada (muitas palavras únicas)?
5.7.6) Outra ousadia especulativa: sendo a média de idades elevada, e sendo que muitas das pessoas viveram na pele tragédias europeias (guerras coloniais - França e Portugal -, a queda do Muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, a guerra nos Balcãs; e ainda os ecos da 2.ª Grande Guerra), estarão algumas das respostas inspiradas em possíveis experiências pessoais acumuladas com conflitos, reconciliações, convivência intergeracional e intercultural, como termos como "sabedoria", "disciplina", "educação", "limites" podem sugerir?
Pronto, não estique eu, sozinho, sem interlocutores que interajam comigo, a especulações que raiem a ilegitimidade e o excesso.
De resto, foi uma dinâmica de grupo muito participada e bem acolhida pela generalidade de tão interessante mosaico de gentes europeias, saltitando de país em país, de região para região, não em viagens turísticas, mas em meritórias e voluntariosas acções de ajuda social e clínica (médico-sanitárias, psicológicas) curativas, remediadoras, mas também, muitas delas, preventivas.
A todos os participantes o meu muito vivo e afectuoso agradecimento. Bem-hajam!
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