segunda-feira, julho 14, 2025

#TOLERÂNCIA197 - TOLERÂNCIA: EDUCAÇÃO 'VERSUS' INVESTIGAÇÃO

#TOLERÂNCIA197 - TOLERÂNCIA: EDUCAÇÃO 'VERSUS' INVESTIGAÇÃO

Haverá uma tolerância no feminino e outra no masculino?

Faço esta pergunta a partir da pergunta que Zorka Domić me fez no final do painel Humanismo do III Encontro Intergeracional, no sábado passado: se, no âmbito da construção dos perfis de Tolerância que eu tinha obtido junto dos alunos, os resultados dos rapazes e das raparigas, os resultados duns e outros, eram diferentes.

Zorka Domić é psiquiatra e psicanalista. É profunda conhecedora dos comportamentos e patologias

ligadas à coca e à cocaína. Pertence ao comité redactorial da revista de psicanálise Chimères, tendo nela publicado diversos artigos É autora de livros sobre adictologia e psicanálise.

No último número, até à data, da revista Chimères, o n.º 106, já de 2025, lê-se, na entrevista que Zorka dá a Franz Himmelbauer, em 20 de Janeiro também deste ano, «Cresci na Bolívia a falar espanhol e também tinha aprendido algumas palavras de servo-croata com a família do meu pai, imigrante jugoslavo na Bolívia, depois fui estudar Medicina em Moscovo, portanto, em russo, e finalmente estabeleci-me em França, onde trabalhei em Marmottan com o dr. Olievenstein. Mas aconteceu-me também dar consultas em português (brasileiro) e italiano. Em suma, juntei-me à equipa da Europa Central do centro Minkowska.»

O aperto de horas (a pressão do almoço organizado à nossa espera e a densidade de trabalhos da parte da tarde) tirou-me a oportunidade de responder à querida amiga Zorka. Vou tentar responder agora:

1) A questão que a psicanalista Zorka me põe é bastante pertinente, e desafia a coerência interna da minha comunicação no Encontro, "A Pedagogia da Tolerância". Na parte final da comunicação, eu digo, a propósito da "Condução Pedagógica" da educação da Tolerância, que devemos dizer «Sim!» ao acolhimento de estereótipos e preconceitos: se melhor os conhecermos, melhor os entendemos; se melhor os entendermos, melhor os ajustaremos; se melhor os ajustarmos, melhor respeitaremos as diferenças; se melhor respeitarmos as diferenças, melhor conviveremos uns com os outros.

2) De certeza, de certeza certezinha, que quando qualquer um de nós pensa nas respostas das raparigas e nas respostas dos rapazes uma configuração mental se assume à consciência. Qualquer que ela seja, está informada por estereótipos e preconceitos, sejam favoráveis ou desfavoráveis. É a partir deles que, em pensamento quase automático, nos inclinamos para tolerância mais presente num ou noutro sexo — e até adivinho para qual deles o pensamento é mais favorável... Adivinho, mas não digo. Repito, qualquer resposta que desse, estaria marcada pelos meus estereótipos e preconceitos pessoais.

3) Quando peço aos alunos (nas suas turmas escolares) e aos membros das minhas audiências (nas palestras, conferências ou formação de professores) a tal lista de 6 palavras que associem ao conceito de Tolerância, não peço mais nada: nem idade, nem sexo, nem curso, nem profissão, nada. A ideia é tentar que a pessoa responda o mais livremente possível, sem que se sinta inibida com a possibilidade de alguma identificação pessoal comprometedora.

4) Como tenho repetidamente afirmado, a ideia de Tolerância, nas dinâmicas de grupo que realizo, é circunstancial, vale exclusivamente para aquele universo de pessoas; e esse universo de pessoas não representa ninguém fora dele. Estou a dizer que, por exemplo, os resultados da turma do 12.º H1, com 24 alunos, não devem ser extrapolados para as outras turmas do 12.º ano da escola, e muito menos para o universo de alunos do 12.º ano do concelho de Lisboa, do distrito de Lisboa, ou do País inteiro. Um grupo é um universo. Podemos comparar universos — quer dizer, podemos comparar diferenças e similitudes — mas não devemos amalgamá-los ou tirar-lhes a média. Na verdade, ao estarmos a comparar os pequenos universos (as turmas), não estamos já a fazer a Pedagogia da Tolerância, olhando as diferenças entre os grupos, compreendendo-as e aceitando-as? No mínimo, discutindo-as com cordialidade e respeito, tomando consciência de estereótipos e preconceitos?

5) Ora, a pergunta da Zorka não está, de modo nenhum, a dizer que o meu procedimento está errado ou é insuficiente. O que a psiquiatra multi-pátria ou apátrida (na entrevista ao Chimères, ela diz: «O meu pai foi da Croácia para a Bolívia, por isso eu conhecia esse país, ele era um pouco como uma das minhas pátrias — eu tenho várias pátrias, ou não tenho nenhuma, é como preferires.») me estava a dizer, na verdade, não era uma correcção ou ajustamento no meu procedimento; isso sim, estava a fazer-me uma proposta, um desafio, de investigação. Ora bem, precisamente, acção pedagógica é uma coisa, trabalho de investigação psicológica, sistemática, é outra.

6) Se refiro a condição multi- ou apátrida de Zorka Domić, é porque considero que essa condição pessoal lhe permite uma sensibilidade especial para as diferenças, e só se põe a questão da Tolerância à volta das diferenças, as diferenças que se aceitam ou se excluem, que se valorizam ou se depreciam.

7) Como posso eu aceitar ou acrescentar a mais-valia (Sim, considero-a uma mais-valia) que a Zorka me propõe, sem que essa mais-valia interfira negativamente com o clima emocional, a ambiência afectiva, de serenidade, confiança e sem receio de censura, que pretendo que alimente as dinâmicas de grupo de construção dos perfis da Tolerância? Para já, numa primeira tentativa de resposta, o que me vem à cabeça é responder que vou testá-la em próximas oportunidades, pedindo aos sujeitos que indiquem a idade e o sexo (eventualmente, outros dados, tais como a nacionalidade e a língua materna). Mas atenção! Que indiquem livremente, sem carácter de obrigatoriedade! Indica apenas quem quiser! Se, mesmo assim, com essa liberdade de indicação de dados pessoais, me parecer que tal pedido é constrangedor ou inibidor da espontânea, serena e confiante participação dos sujeitos, retiro-a, e voltarei ao anonimato tão completo quanto possível. Nessa caso, a investigação psicológica terá de procurar outras vias.

8) Querida Zorka, que te parece? E todos os demais podem dizer aqui o que quiserem, tenham ou não tenham estado nas dinâmicas da Amora e de Mação. Muito grato lhes ficarei.

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