quarta-feira, julho 23, 2025

#TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

 #TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

Na entrevista que a Sábado hoje publica ("Entrevista de vida a ÁLVARO BELEZA"), o entrevistado responde, a certa altura:

Pergunta: «Mas quando entrou depois de 2000, ainda fazia e faz sentido ser maçom?» Resposta: «Ah, claro que faz. Hoje em dia, então, faz mais sentido que nunca. Porque este é um mundo intolerante. Na maçonaria, pratica-se a tolerância pelas convicções dos outros.»

Ainda na Sábado, mais à frente, no artigo "Guia para ser candidato", escrito por Rita Rato Nunes, lê-se assim, no remate final: «Pedro Pinto [do partido Chega] acrescenta: "Tolerância zero à corrupção."»

Penso que vivemos tempos em que os sentimentos de insatisfação e de insegurança são de grande monta, e talvez se distribuam uniformemente por todos os países do mundo, pelo menos naqueles países em que se vulgarizou o uso do telemóvel e da Internet, e as notícias e as "desnotícias" chegam em abundante cascata aos murais das redes sociais e os confrontos entre líderes políticos e militares abrem os telejornais dos canais televisivos. Abrem e ficam quase até ao fim.

Nem o médico sueco Hans Rosling, nem o psicólogo canadiano naturalizado norte-americano Steven Pinker, nem quaisquer outros optimistas como eles, parecem capazes de convencer quem quer que seja do empolgante e promissor Futuro da Humanidade e da saudável Saúde do Ambiente do Planeta Terra.


Quase podemos dizer que a intolerância campeia. As pessoas, pelo menos as do chamado Mundo Ocidental, parecem viver na ânsia de retorno a uma (mítica?) sensação de tranquilidade e clima social sereno e seguro. Numa palavra, as pessoas querem paz de espírito, não querem acordar todos os dias com mais uma notícia de confronto, de oposição, de acusações e recriminações de grupos de pólos — e políticos! — contrários.

Quanto à Tolerância Zero, tem muito que se lhe diga, como já por aqui aflorei.

Conceito, ao que parece, com origem nos Estados Unidos, filho da "Broken Windows Theory" [Teoria das Janelas Partidas], inspiradora de estratégias policiais de contenção da criminalidade pública, é frequentemente usado quando, aparentemente fartos até à raiz dos cabelos, polícias e políticos procuram afirmar-se seguros e firmes na sua autoridade e gritam «Basta!» aos problemas.

Com tanta gente, de todo o espectro partidário, a propor-se combater a corrupção; e a, até agora, nunca ninguém o ter conseguido, talvez não seja uma perda de tempo fazer-se uma quase ingénua pergunta: «O que é a corrupção?»

Ao fim destas mais de 200 jornadas pela geografia da Tolerância, talvez o nosso pensamento rapidamente nos ponha a sugestão: «Como é, vamos fazer um perfil da Corrupção?» Por mim, acho a ideia interessante... A corrupção não castigada de uns poucos gerará a insatisfação legítima de muitos... Da insatisfação legítima da corrupção não castigada à conclusão de que isto está tudo mal a distância é reduzida...

Em Portugal, chegou-se a constituir uma "Alta Autoridade Contra a Corrupção"! A regulamentação legal foi publicada no Diário da República n.º 226/1986, Série I de 1986-10-01, páginas 2812 - 2814. Começava assim:

"A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea (d) do artigo 164.º e do n.º 2 do artigo 169.º da Constituição, o seguinte: ARTIGO 1.º (Definição): Junto da Assembleia da República funciona a Alta Autoridade contra a Corrupção, tendo por incumbência desenvolver as acções de prevenção, de averiguação e de denúncia à entidade competente para a acção penal ou disciplinar dos actos de corrupção e de fraudes e cometidos no exercício de funções administrativas, nomeadamente no âmbito da actividade dos serviços da administração pública central, regional e local, das Forças Armadas, dos institutos públicos, das empresas públicas e de capitais públicos, participadas pelo Estado ou concessionárias de serviços públicos, de exploração de bens do domínio público, incluindo os praticados por titulares dos órgãos de soberania." Passaram 40 anos... No que à corrupção e à percepção dos cidadãos sobre a corrupção diz respeito, o que mudou?

Uma vista de olhos rápida por estudos que avaliam o sucesso das medidas de Tolerância Zero deixa-me decepcionado. Uma ideia que ficará na cabeça das pessoas é que a Tolerância Zero só apanha o peixe pequeno, nunca o peixe graúdo.

Parece-me que o conceito e a atitude da Tolerância Zero precisa também de Educação e de Pedagogia. Registo e guardo, vou ter de voltar a esta estação. É que, nesta altura, já temos ideia de que há coisas, há momentos, há comportamentos que a partir de determinado momento não podem contar mais com a nossa tolerância: qual é a distância entre esse momento e a Tolerância Zero? Não sei responder, tenho de ruminar mais sobre este assunto.

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