terça-feira, março 11, 2025

#TOLERÂNCIA72 - A TOLERÂNCIA (OU NÃO) NA FAMÍLIA

 #TOLERÂNCIA72 - A TOLERÂNCIA (OU NÃO) NA FAMÍLIA

N' "A Capital", de Robert Menasse há uma pequena passagem que pode servir de texto-gatilho para uma abordagem da Tolerância dentro de portas, e não tem de ser exclusivamente a propósito do Natal, mesmo que o texto a esta festa familiar anual diga respeito; e mesmo que saibamos de quantas vezes as celebrações do Natal em família são carregadas de tensão, nervosidade, pequenas crises ou grandes tragédias que estragam a festa.

Quantas vezes nos interrogamos «Aguento?, tolero isto?, é pela família... Não, não dá mais, tenham paciência, não vale a pena, assim de certeza que não acaba em tragédia.»

Transcrevo tal passagem para aqui, fico em reserva de a ela voltar, se calhar, lá mais perto do Natal.

«Na sexta-feira regresso a Praga. A minha irmã casa-se no sábado. (...) Ela vai casar-se com Květoslav Hanka (...) Nós chamamos-lhe křikloun. Sim, um hooligan. (...) É simplesmente de loucos, não achas? Eu trabalho na Comissão Europeia, o meu cunhado trabalha em prol da destruição da UE. (...) Eu não iria lá, comentou Martin. É a minha irmã. E a nossa mãe disse que, se eu não for, ela se mata. (...)

«Martin quisera falar com Bohumil de um assunto importante, a respeito do Jubilee Project, mas decidiu adiá-lo para depois, quando estivessem de regresso ao escritório. Agora tinha a sensação de que ele, justamente ele, tinha de algum modo de animar Bohumil, justamente Bohumil. Ergueu o copo e disse: Sei como consolar-te. Pensa em Herman Van Rompuy!

«Bohumil dirigiu-lhe um olhar interrogativo.

«Tenta imaginar isto: Van Rompuy foi presidente do Conselho Europeu, portanto um presidente da União Europeia, a sua irmã pertence ao movimento maoísta belga, e o outro irmão é mandatário dos nacionalistas belgas, um separatista flamengo ferrenho. Li no jornal que a família só se encontra uma vez por ano... Por altura do Natal!

«Bohumil, que naquele preciso momento estava a beber um gole de vinho, desatou a rir: Pelo Natal! O presidente europeísta, o nacionalista e a maoísta!

«E depois cantam «Noite Feliz»!

«Noite feliz!, repetiu Bohumi, entre gargalhadas. Isso é verdade?

«Sim, supostamente. Li acerca disso. Num artigo no De Morgen. Bohumil, ainda a rir, acrescentou: Ainda bebemos mais um copo!

«Quando regressaram ao escritório, já a manifestação se desmobilizara, atravessaram a Rotunda Schuman, passando entre as barreiras de segurança metálicas e ao lado dos montes de esterco, que estavam a ser removidos às pazadas para os camiões de limpezas da cidade. Cheirava mal. O Sol brilhava, radiante.

«No caminho de regresso para o escritório Bohumil manteve-se taciturno e pensativo. No elevador anunciou: Vou pedir a devolução do valor do voo que tenho marcado para sexta-feira. Não vou ao casamento. Não quero aparecer ao lado de Květoslav Hanka numa fotografia que depois venha a ser publicada no Blesk.

«E a tua mãe?

«Vou-lhe dizer que vou lá pelo Natal.

«De seguida fingiu dar um murro no braço de Martin e, esboçando um sorriso trocista, cantarolou: Noite feliz!»

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