terça-feira, março 25, 2025

#TOLERÂNCIA86 - NÃO PODE ACABAR A TOLERÂNCIA NA ESCOLA

 #TOLERÂNCIA86 - NÃO PODE ACABAR A TOLERÂNCIA NA ESCOLA

Às vezes parece que se volta nas escolas à ideia de que uma criança, um aluno, é um adulto em ponto pequeno, que pensa, que conhece, que sente; e que falha como um adulto. Não, precisamente por não ser um adulto, precisamente por não pensar, conhecer, sentir e falhar como um adulto é que a criança vai à escola.

As crianças saem da família para a escola. A família é um lugar de afectos agregadores, que produzem confiança entre as pessoas, promovem o prazer de estar junto e despertam a motivação para o mundo. É a escola que a seguir mostra o mundo às crianças.

A escola, entretanto, tornou-se um lugar de vida muito complexo, multi-determinado, onde convergem pressões de toda à ordem, pede-se hoje à escola que salve o mundo. Porque, no fundo, toda a gente, incluindo os governantes dos países, acredita ainda que os professores fazem milagres. E fazem.

Só que para que isso aconteça, é preciso que os professores não deixem de sentir afectos, os tais que alimentam a confiança e o prazer de estar em grupo numa sala de aula com outros meninos e meninas, com professores que gostam do que fazem e acreditam nas capacidades de aprendizagem dos alunos. E que os alunos são pessoas em desenvolvimento, de boa fé e com vontade de aprender e fazer amigos.

Os professores não podem deixar de se sentir bem nas escolas e não podem deixar de sentir prazer no

trabalho que fazem. Os professores não podem deixar que os afectos sequem dentro de si. Apetece-me dizer, num impulso quase histriónico, que os professores deviam ser todos Sebastiões da Gama povoando todas, mas mesmo todas, as salas de aula.

Recorro a uma confissão de José Saramago para falar dessa secura dos afectos, despertada pelo medo:

[O meu irmão] morreu quando eu que eu tinha dois anos. A minha mãe dizia que era um menino bonito, que tinha as bochechas coradas, que era cheio de vitalidade. Quando me contavam isto, magoavam-me porque eu sempre fui pálido. Sentia como se a minha mãe me estivesse a comparar com ele. Talvez isso explique a sua secura no trato e a atitude estranha que tinha sempre comigo, uma coisa que durante muito tempo não entendi... Porque eu, como todas as crianças, pedia-lhe um beijo. «Dá-me um beijo», dizia-lhe eu. Mas nada. Ela não mo dava... Ela-não-mo-dava. E eu insistis. Insistia. E, no fim, acabava por me dar um beijo seco. E isso a mim magoava-me muito. Com o tempo, pensei que ela tinha perdido um filho e se estava a defender como podia da possibilidade de perder outro. Pelo menos, eu raciocinei assim.(1)

A reunião que tive no final da tarde na escola foi um desafio à Tolerância. À minha e à dos meus colegas. Nenhum dos professores da reunião tinha menos de 60 anos. Eu saí muito, mas mesmo muito satisfeito com todos eles; e, pois claro, também comigo. O que conversámos e o que decidimos espalha Tolerância em todas as direcções, tanto para o lado dos alunos (que são a razão de ser das escolas), como para os órgãos que dirigem a escola e aos quais temos de dar conta do nosso trabalho e das nossas decisões. Acho que demos um bom exemplo aos professores mais novos.

Amanhã é outro dia de trabalho, vai encontrar-nos nos nossos lugares. Agora vamos descansar.

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(1) No coração de Saramago», Elle, Madrid, n.º 246, Março de 2007 [Entrevista de Gema Veiga]

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