segunda-feira, março 10, 2025

#TOLERÂNCIA71 - A CADA UM A SUA VERSÃO

 #TOLERÂNCIA71 - A CADA UM A SUA VERSÃO

Estive hoje a acompanhar duas alunas que foram representar a escola na sessão distrital do Parlamento

dos jovens, do ensino secundário. A afirmação de Mariano Gago que dá vida à grande parede da rampa dos fósseis, hoje, fez muito sentido com um pensamento ruminativo que desde há dias alimento. A afirmação, jogando com a tradicional ideia de que o Saber não ocupa lugar, diz que «O conhecimento ocupa lugar».

O que me ruminava na cabeça era a citação com que Bill Bryson abre o seu muito expandido livro "Breve História de Quase Tudo". É esta:

O físico Leo Szilard anunciou certa vez ao seu amigo Hans Bethe a sua intenção de começar a escrever um diário:
— Não tenho qualquer interesse em publicá-lo. Vou apenas registrar os factos para informação de Deus.
Não te parece que Deus já sabe quais são os factos? respondeu Bethe.
Sim disse Szilard, e prosseguiu Ele conhece os factos, o que Ele não conhece é esta versão dos factos”. (Hans Christian Von Bayer, Taming the atom [Domando o átomo])

Este pequenino diálogo, não importa se ficção ou realidade, merece ser um ponto de passagem e paragem na viagem da Tolerância. Há pelo menos duas razões para o fazer: a ideia de 'versões' e a ideia de 'factos'.

«Cada cabeça, cada sentença», diz a sabedoria popular, quer dizer, «Cada cabeça, cada versão». Ora, este pequenino diálogo convence, na minha opinião, mesmo o mais renitente, de que é inerente à individualidade e idiossincrasia de cada pessoa construção duma versão, singular e única, a propósito dum facto.

Desde que a Psicologia se afirmou no âmbito dos ramos de conhecimento que utilizam sistematicamente o chamado Método Experimental ou Método Científico, que se explora a diversidade de testemunhos pessoais à volta da observação do mesmo facto ou situação. Aliás, os factos são sempre situacionais. Este tipo de estudos, sejam eles mais simples ou mais sofisticados, confirmam o que há muito diz a sabedoria popular.

Agir de acordo com esta tão essencial constatação reclama Tolerância. Parar, afinar a atenção, escutar, ver mais, ouvir melhor; e não reagir impulsivamente.

A outra questão é a dos factos. Apetece perguntar o que é um facto. Um facto é a mesma coisa que um "facto"? Tudo é facto?

Este é talvez o facto/"facto" mais famoso nos dias que correm ao nível das sociedades actuais e da comunicação social generalista; está bem, também científica.As duas versões:

Versão 1: A Terra é redonda.
Versão 2: A Terra é plana.

Questões que estas versões levantam (só algumas):
1) Referem-se ambas as versões a factos?
2) Ao mesmo facto ou a factos diferentes?
3) Do ponto de vista dos factos, são ambas legítimas?
4) O autor da versão 1 deve se tolerante com o autor da versão 2?
5) O autor da versão 2 deve ser tolerante com o autor da versão 1?
6) Se as respostas às questões 4) e 5) for a mesma (tanto seja SIM ou NÃO), a Tolerância é também a mesma ou é diferente?

Ora bem, as duas versões apresentadas antes não são equivalentes: a primeira refere-se a um facto; a segunda refere-se, nem sequer é a um não-facto, mas a um facto ignorado ou negado (sejam quais sejam as razões por que é defendida essa versão).

Pode um defensor da versão de que a Terra é plana ser tolerante com um defensor da Terra redonda? (Apetece perguntar: pode um defensor da versão de que a Terra é plana ser tolerante?) Pode um defensor da versão da Terra redonda ser tolerante com um defensor da versão da Terra plana? (Já agora, relembro que lá mais para trás afirmei que tendemos a ser mais tolerantes com a ignorância do que com a ambiguidade do Conhecimento)

Isto está a complicar-se, não está? Está, mas ainda bem, não há uma única verdade, nem um único nível ou forma de Tolerância. Além disso, sou muito crente no ditado popular que diz que da discussão dá a luz. Sim, temos de discutir, temos de trocar ideias, pontos de vista, perspectivas e versões.

Além disso, não existe essa coisa de tolerante uma vez, tolerante toda a vida, pois não? Todas as pessoas podem ser tolerantes com umas coisas e não-tolerantes com outras (sim, de propósito não disse intolerantes).

Agora, que a negação do conhecimento científico é um grande desafio para a Tolerância, é sim senhor! Qual deve ser a Pedagogia e a Educação da Tolerância com a negação do conhecimento científico? Há um padrão ou uma matriz?

Vou ter de voltar aqui, mas não quero acabar por agora sem dizer que ser tolerante não significa aceitar passivamente a negação do conhecimento científico.

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