#TOLERÂNCIA79 - O DILEMA DA RAQUEL: PAIXÃO OU LIBERDADE
Hoje dei uma aula em que puxei do dilema do Amigo de Infância (#TOLERÂNCIA76) e a aula correu muito bem. No intervalo que se seguiu, antes da segunda hora de aula com aqueles alunos, lembrei-me duma situação de que tive conhecimento directo na altura, que envolvia pessoas que eu conhecia, e dei-lhe a forma dum dilema, tive sorte, consegui, na pressa dos 10 minutos daquela pausa, encontrar uma apresentação escrita bastante satisfatória para o logo aos alunos, tentando tirar partido da boa onda da aula anterior.
Esta situação fez-me lembrar duma outra, de que fui o principal protagonista, no Kosovo, talvez o dia também lhe dê a forma dum dilema sobre a Tolerância.
Como no dilema do Amigo de Infância, são dois jovens os protagonistas do dilema. Da aula até agora, dei um pequeno jeito aqui e outro jeito ali, é natural que o texto não me tenha saído logo com todas as coisas certinhas nos seus lugares.
Passo então a apresentar o Dilema da Raquel: Paixão ou Liberdade
Joana, uma jovem portuguesa, namora há seis meses com Charles, um inglês que conheceu numa viagem a Londres, foi quase amor à primeira vista, ela achou-o atraente e com forte presença social. Desde então, vivem uma relação intensa, cheia de momentos felizes e viagens entre os dois países. Joana sente que Charles é o amor da sua vida e faz tudo para o ver feliz.
Finalmente, certa noite, Charles convida Joana para sair com os seus amigos, amigos de longa data, ele quer apresentar-lhes a namorada, o encontro é num pub britânico tradicional. Todos adoram cerveja, e beber juntos faz parte da cultura do grupo. No entanto, Joana nunca gostou do sabor da cerveja, nem de bebidas alcoólicas, prefere outras bebidas. Assim que chegam ao pub, Charles pede uma rodada para todos e entrega-lhe um copo cheio.
— Bebe, amor. Vais gostar! — diz ele, rindo, enquanto os amigos incentivam.
— Não, obrigada, Charles. Sabes que não gosto de cerveja...
O sorriso de Charles desaparece. Com um olhar sério, ele aproxima-se dela e diz-lhe num tom frio, quase em segredo:
— Joana, todos os meus amigos bebem cerveja. Aqui, faz parte da tradição. Não quero namorar com alguém que não se encaixa no meu grupo. Se não bebes comigo hoje, acho que as coisas entre nós vão acabar mal.
O coração de Joana aperta. Ela está profundamente apaixonada por Charles e não quer perdê-lo. Mas, ao mesmo tempo, sente que está a ser forçada a fazer algo que não quer.
O que deve fazer Joana?
Alternativa 1: tolerar a exigência do namorado, beber a cerveja para lhe agradar e salvar a relação entre os dois, mesmo indo contra a sua vontade?
Alternativa 2: recusar, mantendo-se fiel a si mesma, aos seus gostos e à sua liberdade, mesmo que isso signifique perder o namorado de quem tanto gosta?
Eu sei o que aconteceu depois entre a Raquel e o Charles, e ainda bem que não disse aos alunos o que foi. Porquê? Porque eles foram capazes de aproveitar as dicas e sugestões que eu fui dando e criaram uma espécie de alternativa 3 em que era possível a todos salvarem a face: o Charles, aos olhos dos amigos; a Raquel, aos olhos do Charles; o grupo de amigos, aos olhos da Raquel.
Penso que os jovens estão muito necessitados de aprendizagem social, de muitos banhos de aprendizagem social; e, além disso, não é em tempo de guerra que se limpam armas. Esta situação, tal como a do outro dilemas, e muitas outras situações mais podem ser trabalhadas, porque não?, numa disciplina de "Literacia Sócio-Emocional", que ajude a prevenir a irrupção de desentendimentos e conflitos entre jovens, desentendimentos e conflitos marcados pela intolerância, o radicalismo de tomadas de posição e a incapacidade de negociar, de fazer cedências, de se tentar chegar a um entendimento.
No caso do Dilema da Raquel, é claro que aquele namoro ficou condenado ao fracasso, a intolerância do Charles não deu espaço à Tolerância da Raquel.
Embora a natureza dos dilemas clássicos seja a de eles nos obrigarem a pensar eternamente — como é o caso do Dilema de Sita, que tantas vezes uso em dinâmicas de grupo —, os dilemas que têm como substracto uma ocorrência factual real têm uma mais-valia especial, já que permitem confirmar que os dilemas não servem só para especular, por muito valor que a especulação, a reflexão e a discussão em grupo tenham.
Já agora, a bebida preferida da Raquel naquele tipo de ajuntamentos de amigos era o sumo de laranja.
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