quinta-feira, março 20, 2025

#TOLERÂNCIA81 - O CHATGPT É TOLERANTE?

 #TOLERÂNCIA81 - O CHATGPT É TOLERANTE?

Aproveitei o meu dia sem componente lectiva para ir para a escola tratar de algumas tarefas que têm a ver com os trabalhos monográficos dos alunos e preparar as duas últimas semanas de aula do período.

Antes de me entregar a essas tarefas, entretanto, fui ver do correio nas duas caixas de correio pessoais. Numa delas encontrei, acabadinho de chegar, um email das "Sciences Humaines", com novidades de textos, livros e um novo número da revista.

Fixei a atenção num artigo, "Le vrai visage de ChatGPT" (O verdadeiro rosto do CHATGPT), que me deu a ideia de fazer eu mesmo uma pequena conversa com este chatbot. É que o artigo era precisamente isso: uma conversa entre o autor o e ChatGPT. Avancei para a conversa-entrevista, só mesmo para ver como funcionava, seria a primeira vez que ia fazer uma coisa assim.

Vou transcrever já a seguir a "conversa" que eu (identificado como jornalista) tive com o ChatGPT:

JORNALISTA: ChatGpt, és um comunicador tolerante?  

CHATGPT: Sim, sou um comunicador tolerante! Procuro sempre manter uma conversa respeitosa, aberta e equilibrada, independentemente do tema ou da opinião do interlocutor. O objetivo é promover um diálogo saudável e produtivo. Tens algo em mente que queiras discutir? 

JORNALISTA: Quando dizes «Procuro sempre manter uma conversa respeitosa, aberta e equilibrada, independentemente do tema ou da opinião do interlocutor.» estás a dizer que aceitas tudo "tolerantemente" seja verdade ou seja mentira?  

CHATGPT: Boa pergunta! Ser tolerante não significa aceitar tudo indiscriminadamente. Significa ouvir diferentes perspectivas com respeito, mas sem abdicar do pensamento crítico. Se algo for falso, enganoso ou prejudicial, eu não o aceito como verdadeiro – mas explico porquê de forma clara e fundamentada. A tolerância não é passividade; é a capacidade de lidar com opiniões diversas sem recorrer à hostilidade ou à desinformação. Queres discutir um exemplo específico? 

JORNALISTA: Sim, boa ideia. Então, como discutes tu tolerantemente com alguém que te diz que tem provas científicas de que a Terra é plana?  

ChatGPT: Ótima questão! Se alguém me disser que tem "provas científicas" de que a Terra é plana, eu manteria uma abordagem respeitosa, mas baseada em factos. Algo assim:
- Primeiro: Ouvir e perguntar – Para compreender melhor o ponto de vista da pessoa, perguntaria: "Quais são as provas científicas a que te referes?" ou "O que te levou a essa conclusão?" Isso mostra que estou disposto a ouvir antes de responder.
- Segundo: Analisar criticamente – Depois de ouvir os argumentos, explicaria porque é que a ciência há séculos demonstra que a Terra é esférica. Mostraria evidências como: a observação de navios que desaparecem no horizonte; fotografias tiradas do Espaço; a forma como os fusos horários funcionam; a curvatura da sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar.
- Terceiro: Incentivar a reflexão – Em vez de impor uma resposta, faria perguntas que levam a pessoa a pensar: "Se a Terra fosse plana, como explicas o fato de as estrelas mudarem conforme viajamos entre hemisférios?" "Se os governos estivessem a esconder a 'verdade', como justificas que qualquer pessoa possa fazer experiências simples para comprovar a curvatura da Terra?"
- Quarto: Manter a calma e o respeito – O objetivo não é ridicularizar, mas ajudar a pessoa a avaliar criticamente as suas crenças. Se a conversa ficar agressiva ou fechada, reconheço os limites do debate e deixo a questão em aberto.
Assim, sou tolerante na conversa, mas sem aceitar desinformação como verdade. O que achas desta abordagem? 

JORNALISTA: Parece-me bem. Mas se a pessoa te disser que isso de dizer que "A observação de navios que desaparecem no horizonte.", as "Fotografias tiradas do espaço.", "A forma como os fusos horários funcionam.", e "A curvatura da sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar." são erros ou mentiras intencionais? Por exemplo, diz-te que as fotografias tiradas do Espaço são montagens no Photoshop; os fusos não têm interesse, por exemplo, como explicam que a China ter a mesma hora para vários fusos diferentes; e a curvatura da sombra na Lua durante um eclipse lunar são montagens de vídeo fabricadas pela Nasa e distribuídas por todo o Mundo?  

CHATGPT: Ótima continuação da discussão! Se a pessoa rejeita as evidências científicas alegando que são erros ou mentiras intencionais, a conversa muda de perspectiva: não é apenas sobre ciência, mas também sobre confiança nas fontes de informação. A minha abordagem seria:

- Primeiro: Perguntar: Se tudo é falso, então qual é a verdadeira evidência?
Se a NASA, os cientistas, os astrónomos amadores, os marinheiros e os viajantes estão todos a mentir, então onde está a prova fiável de que a Terra é plana? Costumo incentivar as pessoas a fazerem as suas próprias experiências, como:
número 1: Observar um barco a desaparecer no horizonte com um telescópio (ele desaparece de baixo para cima).
número 2: Verificar que em latitudes diferentes as estrelas visíveis mudam.
número 3: Usar um balão meteorológico com uma câmara para ver a curvatura da Terra.
Se alguém afirma que todas as imagens e vídeos do espaço são falsas, então deveria apresentar provas concretas dessa manipulação – não basta dizer que é Photoshop.

- Segundo: Explicar os fusos horários corretamente.
O caso da China é uma exceção política, não científica: a China decidiu adotar uma única hora oficial para todo o país, mesmo atravessando vários fusos. Mas noutros países, como os EUA, o Brasil ou a Rússia, os fusos funcionam como esperado. Se a Terra fosse plana, os fusos seriam inconsistentes para todos os países, não apenas para um por decisão governamental.

- Terceiro: Perguntar: quantas pessoas teriam de estar envolvidas na conspiração?
Se a NASA, a ESA, a SpaceX, os russos, os chineses e até astrónomos amadores do mundo inteiro fabricam provas falsas... quantas milhares de pessoas teriam de estar envolvidas nessa mentira sem que ninguém confessasse? Além disso, porque é que países rivais como os EUA, a Rússia e a China concordariam em manter essa conspiração?

- Quarto:  Manter a calma e plantar a semente da dúvida.
Se a pessoa continuar a rejeitar tudo sem apresentar provas sólidas, é provável que não esteja realmente disposta a considerar outra perspectiva. Neste caso, em vez de insistir, deixo a pessoa com questões que a façam reflectir:

questão 1: "Se a NASA mente, porque é que qualquer pessoa pode comprar um telescópio e ver a Estação Espacial Internacional a passar?"
questão 2: "Se os vídeos da Lua são fabricados, porque é que até astrónomos amadores filmam os eclipses e vêem o mesmo?"
Se a pessoa estiver minimamente aberta ao diálogo, com o tempo pode começar a questionar as suas próprias crenças. O que achas desta abordagem? Mudarias alguma coisa? 

JORNALISTA: Quais são os teus limites de tolerância, por exemplo na discussão deste assunto, de a Terra ser plana ou esférica?

CHATGPT: Os meus limites de tolerância numa discussão como esta passam por manter o respeito, a racionalidade e o pensamento crítico. Ou seja:
Estou disposto a discutir diferentes perspectivas, apresentar evidências científicas, analisar argumentos e até ouvir teorias alternativas, desde que haja abertura para um debate real e fundamentado.
Não tolero:
- Primeiro: Desrespeito ou insultos – Se a conversa se tornar agressiva, com ataques pessoais em vez de argumentos, já não é um debate produtivo.
- Segundo: Recusa total em considerar evidências – Se alguém rejeita qualquer prova científica apenas porque sim, sem apresentar contra-evidências, a conversa deixa de ser racional.
- Terceiro: Desinformação perigosa – Defender que "a Terra é plana" pode parecer inofensivo, mas quando ligado a desconfiança geral na ciência (como negar vacinas ou mudanças climáticas), pode ter impactos reais na sociedade.
- Quarto: Teorias da conspiração infundadas – Questionar é saudável, mas afirmar que "todos os cientistas do mundo mentem" sem provas concretas leva a um beco sem saída.
Ou seja, sou tolerante até ao ponto em que o debate pode ser produtivo e baseado em argumentos. Quando se torna apenas um "bloqueio à verdade" ou uma tentativa de espalhar desinformação, aí deixo claro que não faz sentido continuar.
Farias o mesmo ou tens um limite diferente?

E pronto, fiquei por aqui na entrevista. Ainda não a reli, não a analisei, vou fazê-lo mais tarde. Preferi fazer a mesma entrevista a outro chatbot, o DeepSeek.

A ideia era fazer as mesmíssimas perguntas, mas como as respostas eram diferentes, tive de alterar as perguntas logo a partir da segunda, fiz alguns ajustamentos. E fiquei desconfiado que o DeepSeek andou a cuscar a entrevista ao ChatGPT, é que ainda eu não tinha falado no exemplo da Terra plana já o meu interlocutor estava a falar dele. Um dia destes trago para aqui esse entrevista.

Foram ambas as entrevistas exercícios mentais interessantes. Apreciei sobretudo a maneira como estruturaram as respostas, em que, em geral, não faltam exemplos que concretizam o pensamento e as ideias expostas.

Pois é, mais uma vez os chatbots se mostraram interessantes recursos para a construção de materiais pedagógicos a explorar, neste caso, o tema da Tolerância.

E cá está: pega-se neste texto, faz-se 'copy-paste', fazem-se cópias, distribuem-se pelos membros dum grupo de discussão, prepara-se um guião de desenvolvimento da sessão, e como da discussão nasce a luz, anima-se a conversa entre todos, de acordo com o tempo que se tem disponível. Não me parece é que seja um trabalho para levar a cabo na fase inicial de desenvolvimento dum grupo de trabalho. Para a fase inicial já fui deixando nesta aventura propostas mais adequadas.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح,

Sem comentários:

Enviar um comentário