#TOLERÂNCIA64 - TOLERÂNCIA E INCERTEZA
Não sou cinéfilo suficiente para estar sempre em dia quanto ao que a indústria cinematográfica vai pondo nas salas de cinema, sou mais de ir vendo ao retardador... Ontem, um oscarizado lamentou que o cinema em casa esteja a tomar a dianteira ao do das salas de cinema. Bem, em minha defesa alego que me tenho como pouco influenciável pelo ambiente de reacção emocional aos filmes das salas de cinema; isso sim, detesto o ambiente de pipocas e quejandos! Mas detesto mesmo! Ou seja, quando vou a uma sala de cinema, tolero as pipocas à custa da subida da tensão arterial, custo que só excepcionalmente estou disposto a pagar.
É claro, como já denunciei, dei alguma atenção à cerimónia dos óscares, mas, cá está, a posteriori, não sou pessoa para estar a ver em directo àquelas horas da noite, meu rico soninho!
No rescaldo que procurei já de manhã nas notícias, na atenção que fixei no filme candidato "Conclave"(1) encontrei este notável discurso do cardeal Lawrence (ao que parece, Lomeli no livro que deu origem ao filme), num dos momentos do conclave (vou passar por cima do que é dito em italiano e inglês):
«Caros irmãos em Cristo, no momento de grande incerteza, na história da Santa Igreja, devemos pensar em primeiro lugar no falecido Santo Padre, cujo brilhante pontificado foi um dom de Deus, agora devemos pedir a Nosso Senhor que nos envie um novo Santo Padre, através da solicitude pastoral dos padres cardeais. E devemos rezar a Deus por essa ajuda amorosa, e pedir-Lhe que nos guie para a escolha correta. Mas vós sabeis tudo isso.
»Deixai-me falar do coração por um momento. São Paulo disse: “Sujeitai-vos uns aos outros por reverência a Cristo”. Para trabalharmos juntos, e para crescermos juntos, temos de ser tolerantes. Nenhuma pessoa ou… ou facção, que procure dominar outra.
»E falando aos Efésios, que eram, naturalmente, uma mistura de judeus e gentios, Paulo recorda-nos que o dom de Deus à igreja… é a sua variedade. É esta variedade, esta diversidade de pessoas e de pontos de vista que dá à nossa Igreja a sua força. E ao longo de muitos anos ao serviço da nossa Mãe, a Santa Madre Igreja, deixai-me que vos diga que há um pecado que passei a temer acima de todos os outros: a certeza.
»A certeza é o grande inimigo da unidade. A certeza é o inimigo mortal da tolerância.(1) Mesmo Cristo não estava certo no final. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? ” gritou na sua agonia, à hora nona, na cruz.
»A nossa fé é uma coisa viva, precisamente porque anda de mãos dadas com a dúvida.(3) Se só houvesse certeza… e não houvesse dúvida… não haveria mistério… e, portanto, não haveria necessidade… de fé. Peçamos a Deus que nos conceda um Papa que duvide. E que nos conceda um Papa que peca e pede perdão, e que prossegue.»(4)
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(1) A novela original, de Robert Harris, com o mesmo nome do filme, é de 2016. Não fui ainda à procura das reacções críticas ao livro por parte dos sectores da Igreja Católica, mas nos que, quase à pressa, encontrei em relação ao filme, as críticas são muitas. Para mim, isso é bom, da discussão nasce a luz.
(2) Veio-me logo à cabeça a ficção bíblica de Eva a tentar Adão e assim pondo a risco a unidade com Jeová.
(3) Naturalmente, lembrei-me logo do que há há poucos dias trouxe para esta minha viagem: a ambiguidade. Quão importante é sermos capazes de suportar a ambiguidade, a dúvida, a incerteza. Da Verdade e do Conhecimento. «Só sei que nada sei.» Não não sou tão radical, prefiro dizer: «Estou seguro de algumas coisas que sei, e também sinto segurança na certeza das coisas que não sei, por isso tento ser humilde, paro, escuto, olho à minha volta.» Sinto uma confiança profunda no que posso aprender com os outros, gosto de ouvir quem sabe maios que eu, que me ensina, que me torna mais conhecedor. Talvez assim eu fique mais sábio.
Como que entrando em contradição comigo mesmo, sinto que o que tenho escrito acerca da Tolerância já alcança a dimensão dum seminário ou dum retiro de, no mínimo, 7 dias (é para puxar do tradicional "the magical number seven"); embora, em rigor, eu prefira as acções pedagógicas extensivas ao contrário das intensivas. Intensiva é a dinâmica própria dos congressos.
(4) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
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