#TOLERÂNCIA77 - TOLERÂNCIA E INCLUSÃO
Tão importante quanto a educação da Tolerância é a educação da Inclusão.
A educação da Inclusão parece-me ser mais sensível do que a educação da Tolerância, direi mesmo, muito mais sensível, quer dizer, muito mais sujeita a sensibilidades, sensibilidades de ordens que não estarão em jogo no que diz respeito à Tolerância.
Como certamente voltarei várias vezes ao lugar da Inclusão, não vou preocupar-me em escalpelizar e muito menos esgotar essas sensibilidades que a Inclusão desperta, nos dias de hoje, à flor da pele, quase instintivamente. Mas não é porque sejam mesmo instintivas ou automáticas, muitas delas foram, ou estão, a ser aprendidas pavlovianamente, tal é a intensidade de excitação criada por um caldo bem quente de estímulos, caldo esse que mistura informação e desinformação; rigor e distorção; motivações honestas e motivações perversas; ideais de equidade e defesa de privilégios; esforços de aproximação e salvaguarda de distanciamento.
Penso que vou ter de aprofundar a reflexão acerca do que é que a Tolerância tem a ver com a Inclusão e vice-versa. Algumas perguntas terei de me pôr. Por exemplo, será que a Tolerância é uma etapa no caminho da Inclusão? Ou será que a Tolerância pode ser usada como estratégia para atrasar ou mesmo impedir a Inclusão?
Não quero responder por agora a estas perguntas, prefiro antes começar por juntar outras. Não vou a correr para os tratados de Sociologia, de História, de Psicologia, Antropologia, ou outros que sejam, à procura de respostas. A minha prioridade é fazer o meu próprio entendimento sobre o assunto, clarificá-lo na minha cabeça e saber para onde quero caminhar a seguir.
Volto a dizer que um dos objectivos destes meus apontamentos é que eles possam ser imediatamente de alguma utilidade prática para quem os leia, que promovam imediatamente a criação de ideias ou projectos de acção, sejam por quem sejam, sejam onde sejam.
Na edição da revista da American Psychological Association de Jan/Feb 2025 (revista que assino há muitos anos), há um artigo, Sustaining EDI Efforts in a Chalenging New Normal (Manter os esforços de EDI num novo normal desafiante, em que EDI quer dizer Equidade, Diversidade, Inclusão), vêm dois parágrafos que me parecem bons avisos, sobretudo para ajudar a pensar e habilitar as pessoas de boa vontade (professores, educadores sociais, voluntários associativos; pais, autarcas e outros decisores políticos), já que nem sempre o que nos alivia a consciência é o que é mais correcto nas acções que levamos a cabo e, não me levem a mal lembrá-lo, de boas intenções está o Inferno cheio.
São estes os tais dois parágrafos:
A investigação dá suporte aos potenciais benefícios de enfatizar a inclusão de todos os grupos, mas isso deve ser feito com cuidado e ponderação. Quando bem feitas, as políticas inclusivas que apoiam tanto os membros do grupo dominante como os dos grupos marginalizados podem aumentar o apoio geral dos membros do grupo dominante às iniciativas de diversidade organizacional (Iyer, A., Social and Personality Psychology Compass, Vol. 16, N.º 5, 2022).
O enfoque na inclusão também pode desencadear reacções positivas por parte dos grupos marginalizados, mas o tiro pode sair pela culatra se não for executado de forma ponderada ou se parecer superficial ou performativo, como, por exemplo, fazer declarações públicas que não são apoiadas por acções concretas ou alterações de políticas. Há especialistas que advertem contra as iniciativas de EDI que implicitamente capitulam às preferências e ao conforto dos grupos dominantes em detrimento dos grupos não-dominantes. Não só fazem com que os grupos não-dominantes se sintam menos seguros, como também podem tornar-se menos eficazes em geral (Plaut, V. C., et al. in Thomas, K. M. [Ed.], Diversity Resistance in Organizations, Routledge, 2020).(2)
Quer dizer, vale o sábio aviso de não se darem passos maiores que as pernas. O pior que pode acontecer a quem tenta alguma coisa e não consegue (sem se dar conta de que o fracasso está não na intenção, mas na estratégia ou no processo) é concluir que não vale a pena, ou que eles não querem mesmo ser incluídos, e assim se resignam à Tolerância, quer dizer, a aguentarem, a suportarem.
Conclusão: devagar se chega ao longe. Há que fazer o esforço de envolver dominantes e não-dominantes (e marginalizados e em risco de exclusão) nas acções que visam promover a Inclusão. A Tolerância é uma preciosa ferramenta para essa promoção, só que, como todas as ferramentas, precisa de ser bem utilizada. Como diz o aviso, não se matam leões com fisga, nem moscas com carabina.(1)
Como eu disse antes, voltaremos a este lugar. No fundo, como tantas vezes fazemos com os lugares reais, a que voltamos outras vezes para conhecer melhor. E também como voltamos às obras artísticas. Um ocorrência de hoje, que me parece que vem a propósito: ia a caminho do Redondo para um encontro de amigos ao almoço. Na rádio, sintonizada na Antena 1, alguém dizia muito bem da cantora Márcia, das coisas que escrevia, que às vezes parecia que ela tinha escolhido maus caminhos, mas depois via-se, quando ela chegava ao fim, que tudo aquilo, afinal, estava certo e bem arquitectado; e a seguir disse que sempre ouviu Sérgio Godinho, e continua a ouvir porque continua a descobrir coisas novas, que nunca tinha pensado, nessas coisas que ele há muito tempo escreveu.
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(1) Sim, eu sei que não é politicamente correcto, nos dias que correm, falar em matar leões, disparar com carabinas, nem sequer matar moscas com fisgas. Cá está, quem sentir ferida a sua sensibilidade pessoal, deixo o pedido de que sejam tolerantes com a imagem idiomática dos leões e das moscas. O tempo se encarregará, espero eu, de arranjar outra mais em conformidade com os tempos que correm. Tome-se bem nota: o conhecimento, a cultura, a identidade e a alteridade necessitam muito das coisas simbólicas e das formulações idiomáticas, não se desdenhe delas.
(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
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