domingo, março 09, 2025

#TOLERÂNCIA70 - ÀS VEZES, MENOS TOLERÂNCIA E MAIS PACIÊNCIA

 #TOLERÂNCIA70 - ÀS VEZES, MENOS TOLERÂNCIA E MAIS PACIÊNCIA

Há poucos dias, o documentário "No Other Land" [Nenhuma outra terra], uma realização israelo-palestiniana, feita a partir da amizade, inesperada, desenvolvida entre o palestiniano Basel Adra (que cresceu a ver a invasão — brutal e ilegítima à luz do Direito Internacional — da sua aldeia (Masafer Yatta, na Cisjordânia), e o jornalista israelita Yuval Abraham, venceu o óscar da Academia (Academy of Motion Picture Arts and Sciences (AMPAS)). É um documentário impressionante!

Não vou falar do documentário (talvez o faça, noutro contexto, numa espécie de apêndice da aventura da Tolerância. Hoje quero pôr o foco inteiramente num pequeno diálogo precisamente entre Basel e Yuval, que seguem de carro, à noite, depois de jantarem com a família de Basel.

Yuval: — Preciso de escrever algo sobre o protesto de hoje. Tenho de escrever mais. O artigo que escrevi sobre a mãe do Harun, não teve muitas visualizações.
Basel: — Está bem, é sempre assim, tu és…
Yuval: — O quê?
Basel: — Sinto que estás um pouco entusiasmado.
Yuval: — O quê?
Basel: — Sinto que estás entusiasmado.
Yuval: — O que queres dizer com isso?
Basel: — Queres que tudo aconteça rapidamente. Como se viesses para resolver tudo… em 10 dias, e depois voltar para casa. Isto está a acontecer há décadas. — O controlo na estrada obriga-o a parar o carro. — Temos de parar.
Yuval: — Achas mesmo que eu quero ir para casa em 10 dias?
Basel: — O quê?
Yuval: — Achas que quero ir daqui a 10 dias? Ir para onde?
Basel: — Não, tu és… Entusiasmado como se quisesses acabar com a ocupação em 10 dias. O artigo não teve visualizações suficientes… Queres que seja tudo rápido.
Yuval: — Ok, então como é que deve ser?
Basel: — Não sei, mas certamente não como tu pensas.
Yuval: — Eu não acho que vai acabar em 10 dias, sou estúpido?
Basel: — Estás entusiasmado.
Yuval: — E então? Qual é o problema?
Basel: — Não há problema, mas não vais conseguir. É preciso ter paciência. Habitua-te a falhar, és um falhado.(1)

Temos tendência a pensar que, se tivermos mais paciência, seremos mais tolerantes. É verdade, e é bom pensar assim. Fazer a Pedagogia e a Educação da Paciência ajuda-nos a sermos mais tolerantes. Só que não é sempre assim.

Como vemos neste caso — um caso bem real! Bem actual! —, o palestiniano Basel é intolerante desde criança, aprendeu a ser assim com o activismo social e político dos seus pais, da sua família. Aprendeu também que, para poder manter viva a defesa dos direitos políticos e históricos do seu Povo, tem de se manter intolerante e tem também de ser paciente. É um muito dramático exemplo de que a Paciência pode ser a arma mais poderosa ao serviço da justa Intolerância.

Repare-se: é quem sofre, quem está injustiçado, quem luta pelos direitos do seu Povo, quem está permanentemente em risco de morte, que recomenda a quem vive bem que modere a sua ânsia de denunciar, de ganhar adeptos para a causa palestiniana. Ele está seguramente a sentir agradavelmente o apoio, a compaixão, a solidariedade e o empenho activo, pessoal e profissional do jornalista israelita. Só que sabe (a curta vida, vinte e poucos anos, duramente já lho ensinou) que a ânsia, o entusiasmo, a empatia, o voluntarismo, se não forem temperados pela sabedoria e a prudência da Paciência podem deitar tudo a perder. É preciso resistir com estoicismo. É preciso continuar a ser intolerante, mas só a Paciência garante a oportunidade da acção na luta contra um invasor demasiadamente poderoso, como se fossem mil Golias contra apenas um David.

«É preciso ter paciência. Habitua-te a falhar.» Aprende e aceita que vais tentar e não vais conseguir; vais tentar outra vez, e outra vez não vais conseguir; e outra... e outra... e outra... Mas não desistas nunca. Nunca te resignes. Luta. Cai e levanta-te. Opõe-te e denuncia. Espalha a notícia da ocupação ilegítima. Espalha a notícia da brutalidade. Espalha a notícia da desumanidade. Nunca te entregues. Não toleres este estado de coisas. Não deixes de ser intolerante com o que se a passar e parece que só terá fim quando Israel acabar de vez com o Povo Palestiniano.

Precisamente este documentário, nesta altura, com a consagração e visibilidade mundial que conseguiu, é, ao mesmo tempo, uma tremenda vitória da Paciência e da Intolerância.

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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

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