#TOLERÂNCIA89 - REAGIR COM TOLERÂNCIA AO ATAQUE DA RESPOSTA IMPULSIVA
Se digo "reagir com tolerância" é porque podemos reagir doutra
maneira, por exemplo, reagirmos também impulsivamente; ou reagirmos não
impulsivamente, mas intolerantemente.
Se digo ataque é porque sentimos que estamos a ser agredidos, abordados de
forma que contém algum grau de violência, violência essa que nos provoca
mal-estar.
Se digo resposta impulsiva é porque existem outros tipos de resposta, não
impulsivas, e que provavelmente esperaríamos que a resposta fosse uma dessas
outras, mas não a impulsiva.
Quando estou numa relação de consulta psicológica (psicólogo-consulente) ou
numa relação de aula (professor-turma), lido, em geral, com facilidade com as
respostas impulsivas. Sim, são possibilidades comunicacionais que fazem parte
do meu leque de expectativas-padrão. Tornou-se natural para mim lidar com elas
de forma empática, tolerante, sei que estas competências comunicacionais fazem
parte daquilo que faz um bom psicólogo e um bom professor. As reacções
impulsivas de que as minhas palavras e os meus actos são alvo são objecto de
crivo afectivo e cognitivo, e a carga agressiva que transportam são digeridas e
neutralizadas.
Se nalgumas pessoas estas competências comunicacionais se manifestam como um
dom natural, felizmente elas são para a generalidade dos psicólogos e dos
professores competências treináveis, que podem ser adquiridas e aperfeiçoadas
por aprendizagem; e podem ser mantidas por auto-observação e auto-análise
sistemáticas.
Quando é que estou em maior risco de eu próprio reagir impulsivamente ou
intolerantemente? É quando não estou em estado de alerta, quando não estou de
“prevenção” para o que aí possa vir, quando estou com a guarda abaixada.
Repito: quando estou mais em risco de reagir impulsivamente? Quando não estou
alerta, quando estou com a guarda abaixada, é nessas alturas que fico
vulnerável aos ataques das respostas impulsivas.
Geralmente, é quando estou de boa-fé, confiante na comunicação com o meu
interlocutor (um colega de trabalho, um familiar, um amigo), quando alivio o
controlo das coisas que digo (é verdade, o pensamento e o discurso mais
rigoroso pedem mais esforço, mais trabalho mental, para reduzir a ambiguidade,
o ruído e a inexactidão), que posso ficar surpreendido, apardalado, com
qualquer coisa que me seja dito.
Tenho de ter a humildade de admitir que, nesta mesma circunstância de
“guarda abaixada”, posso ser eu o interlocutor que responde impulsivamente,
quer dizer, o agressor sou eu.
É por isso que qualquer um de nós que esteja sensível para esta questão deve
cuidar de fazer a aprendizagem da reacção tolerante à resposta impulsiva; e
deve fazer também a aprendizagem da inibição da resposta impulsiva.
Entretanto, que fique claro: a resposta impulsiva não é sempre má, negativa
ou prejudicial! No âmbito da viagem que estamos a fazer no universo da
Tolerância, a resposta impulsiva pode ser o saudável e justo «Basta!» aos
comportamentos para os quais já se teve a Tolerância suficiente. Mas não é
desse tipo de resposta impulsiva que estou agora a falar.
Primeira receita: o muito velho e muito sábio princípio de contar até 10
antes de deixarmos sair qualquer coisa pela boca fora.
Segunda receita: observar os pensamentos que vêm por impulso e que palavras
os consubstanciam. Se for, por exemplo, «Isso é completamente absurdo!»,
tentar matizar o radicalismo, nem que seja, se não encontrarmos nada melhor,
substituir a forma exclamativa, peremptória, pela forma interrogativa, do tipo
«Ouve cá, nãos achas que isso é um bocadinho absurdo demais?» (Cá
está, na linguagem técnica diríamos que estamos a tentar uma formulação de
reestruturação cognitiva).
Terceira receita: não pôr o foco na pessoa, mas nas palavras. Um
exemplo: em vez de dizer «Que bruto estás a ser!», reagir dizendo «Ui,
o que estás a dizer é forte, não penso o mesmo que tu.»
Quarta receita: se contar até 10 não foi suficiente, desviar o olhar do
interlocutor (mesmo que a conversa seja ao telefone, a figura do interlocutor
está ali à nossa frente) e olhar para 3 ou 4 objectos que estejam ali à volta.
Olhar com atenção!, o primeiro… agora o segundo… agora o terceiro… o quarto.
Quinta receita: (Desculpem-me, eu tinha dito quatro. É que esta é diferente
das outras, que estão directamente ligadas ao momento em que a resposta
impulsiva é produzida. Este é para se ir fazendo) praticar sistematicamente
(uma a duas vezes por dia, em vários dias da semana) um pequenino exercício de
meditação. Os meus alunos dos últimos anos podem testemunhar que logo na
primeira ou segunda aula de cada ano lectivo lhes ensino um exercício de
meditação (treino do foco atencional), que podem praticar autonomamente,
bastando para tal usarem o metrónomo do telemóvel (que aluno hoje em dia não
anda com um telemóvel?) e contarem 74 batidas durante um minuto, de olhos
fechados, e estando sentados (não de pé nem deitados). Como lhes explico nas
aulas, o número de 74 batidas é egossintónica. Um minuto! Podem crer que o
efeito, a longo prazo, é poderoso. Podemos dizer que este exercício segue o
aviso que diz que não é em tempo de guerra que se limpam as armas.
As redes sociais e os telejornais estão cada vez mais cheios de respostas
impulsivas e de reacções impulsivas. Os debates entre governantes e oposições,
e entre deputados parlamentares, também. Temos todos de ir mais devagar.
Mais uma vez, a Pedagogia pode sugerir, a Educação pode realizar. E
conversemos muito com as nossas avós; e também com os avós.
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