#TOLERÂNCIA87 - A ESCALADA SIMÉTRICA DA INTOLERÂNCIA (1.ª PARTE)
Aquilo a que chamo escalada simétrica da intolerância é ao processo dinâmico que acontece entre duas pessoas ou entre várias pessoas do mesmo grupo; ou mesmo entre dois grupos diferentes. Neste processo dinâmico produz-se um conflito (que pode disseminar-se depois em vários conflitos) que opõe as pessoas do par, do grupo ou dos grupos, conflito esse que é alimentado e expandido em resultado de atitudes e acções protagonizadas pelas pessoas envolvidas, num toma-lá-dá-cá de gestos, palavras, acções; insinuações e atribuições, em que, na maior parte das vezes, se perde a noção de quem começou, de como começou, quando começou e onde começou.
No ambiente escolar, essa dinâmica pode surgir entre alunos de uma mesma turma, transformando
pequeninas diferenças de opinião, rivalidades ou estereótipos em ciclos de hostilidade crescente.Qual é a matriz-padrão do conflito em escalada simétrica?
Número 1- OCORRÊNCIA-GATILHO: muitas vezes, uma ocorrência banal, aparentemente simples (uma “boca”, uma piada, um desabafo, dito de forma irreflectido ou tentando fazer humor), atinge inopinadamente a sensibilidade (duradoura ou circunstancial) dum colega.
Pode ser mesmo uma coisa simples, que começa como uma brincadeira mal interpretada, um desacordo sobre o trabalho em grupo que se está a fazer ou a expressão involuntária dum estereótipo, serve de rastilho. Ou pode mesmo um aluno fazer um comentário preconceituoso sobre a origem étnica de outro, gerando uma primeira reacção de indignação, reacção que pode expressada imediatamente ou guardar-se calada na forma de ressentimento e desejo de vingança.
Número 2 – REACÇÃO “NÃO FICAS SEM RESPOSTA”: o colega (alvo deliberado ou que se sente alvo) atingido ou ofendido responde imediatamente com igual ou maior hostilidade, ou então cala-se, vê crescer o ressentimento e o rancor dentro de si e imagina uma reacção a prazo, do tipo “a vingança serve-se fria”. Em ambos os casos, mais cedo ou mais tarde, há uma atribuição generalizadora da autoria da ofensa, do tipo «Tu e os da tua laia, são todos assim!». Esta reciprocidade negativa transforma o conflito individual numa disputa colectiva, juntando aos poucos aliados em ambos os lados.
Número 3 – POLARIZAÇÃO GRUPAL: Os alunos dividem-se em "grupos" antagónicos, a partir de afinidades (amizades de longa data; rapazes dum lado, raparigas do outro; opções clubísticas ou partidárias; bairros, nacionalidades ou etnias; etc.), e pouco a pouco cavam mais profundamente o fosso entre si, consolidando identidades dinâmicas (‘ad hoc’ ou de longa data) opostas. A turma passa a funcionar como um ecossistema de tensão, onde pequenos gestos (olhares, risadas, exclusão) são interpretados como provocações intencionais.
Número 4 – NORMALIZAÇÃO DA INTOLERÂNCIA: A hostilidade torna-se parte da cultura da turma (aberta ou velada). Insultos, apelidos ofensivos ou exclusão social passam a ser vistos como "normais", e os alunos (pelo menos alguns) hesitam em intervir por medo de se tornarem alvos de ataques ou represálias.
Número 5 – CICLO DE RETALIAÇÃO CONTÍNUA: cada nova acção gera uma reacção mais intensa. Por exemplo, se um grupo exclui o outro de uma actividade, a resposta pode ser uma sabotagem do trabalho alheio, perpetuando o ciclo.
Dizem os manuais que um dos principais factores que alimentam a escalada simétrica da intolerância é a falta de mediação do conflito. Sim, a passividade da acção dos professores (ou dos responsáveis da escola), ou mesmo a ausência total de qualquer acção dos professores (ou dos responsáveis da escola), é bastante nefasta. Essa acção, acontecendo logo no início, esvaziando à nascença a escala intolerante em embrião, é de poderoso efeito pedagógico e educativo.
Na 2.ª parte deste texto, que publicarei daqui a dias, muito em breve, procurarei enumerar outros factores que alimentam a escalada simétrica da intolerância; também as consequências da escalada na turma, nos alunos que a compõem; e, finalmente, como pode o ciclo vicioso da escalada da intolerância ser quebrado.
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